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Cadernos do Arquivo Municipal

versão On-line ISSN 2183-3176

Cadernos do Arquivo Municipal vol.ser2 no.12 Lisboa dez. 2019

 

DOCUMENTA

Bairro Social do Arco Cego: imagens de uma utopia

Nuno Martins

 

Muito antes do chalet

Antes do prédio

Antes mesmo da antiga

Casa bela e grave

Antes de solares palácios e castelos

No princípio

A casa foi sagrada -

Isto é habitada

Não só por homens e por vivos

Mas também pelos mortos e por deuses

Isso depois foi saqueado

Tudo foi reordenado e dividido

Caminhamos no trilho

De elaboradas percas

Porém a poesia permanece

Como se a divisão não tivesse acontecido

Permanece mesmo muito depois de varrido

O sussurro de tílias junto à casa de infância1

 

 

Inaugurado em 1935, o Bairro Social do Arco do Cego constitui-se nos dias de hoje como uma ilha residencial que contrasta com o bulício de uma cidade capital contemporânea. Mas, se a imagem que se projeta no imaginário e no sentir de todos aqueles que residem, trabalham ou apenas por entre as suas ruas transitam no decurso da azáfama quotidiana, reflete um certo bucolismo e serenidade nas sombras que os edifícios e moradias projetam nas ruas e o arvoredo nos seus parques, a concretização material do bairro foi tortuosa e demorada, estendendo-se por um período de tempo e numa cronologia de sobressaltos, indefinições, tumultos e profundas transformações políticas.

Decorridos cem anos do início da construção, em 1919, o Bairro Social do Arco do Cego teve na sua génese utópica um projeto de bairro com habitação destinada à população operária, desfavorecida e carente de meios económicos, num tempo em que a privação de habitação condigna, por contraponto à proliferação de aglomerados clandestinos, insalubres e degradados, ganhava algum espaço no planeamento urbanístico mercê das inquietações produzidas pelo pensamento filosófico coevo sobre a cidade.

Contudo, fruto da força motriz dos acontecimentos que se sedimentam na história, o Bairro Social do Arco do Cego acabou por albergar um segmento da população – sobretudo funcionários do Estado, militares, agentes das forças de segurança, e elementos do sindicalismo corporativo – que se viu perante a possibilidade inédita de acesso à habitação numa zona que, à época, na década de 1930, não possuía ainda o atrativo que hoje exibe. Encaixado entre vias de saturação viária e bairros de elevada densidade demográfica exponenciada pelo crescimento da habitação em altura e pela oferta de serviços e comércio, determinados pela lógica economicista moderna, emerge com uma ilha num mar de alvenaria e alcatrão.

É este carácter insular – urbano, arquitetónico e delicado – que, apesar das transformações, adaptações e renovações que lhe foram operadas por sucessivas gerações de moradores no ajuste às comodidades e possibilidades coevas, resistiu à perversidade das mudanças irreversíveis, e onde “a poesia permanece / Como se a divisão não tivesse acontecido”, que se mostra neste percurso visual temático construído com base numa seleção do acervo fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa.

 

CONSTRUÇÃO

 

Visita durante a construção das casas, negativo de gelatina e prata em vidro, autor não identificado, 9 x 12 cm, entre 1919-192-. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/NEG/003295.

 

Construção das casas do Bairro do Arco Cego e as ruínas da Fábrica de Cerâmica, negativo de gelatina e prata em vidro, autor não identificado, 9 x 12 cm, 1919-192-. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/NEG/003296.

 

Terrenos entre a alameda D. Afonso Henriques, Avenida Almirante Reis e o Bairro do Arco Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Eduardo Portugal, 6 x 9 cm, 1938. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/EDP/001320.

 

Terrenos entre a alameda D. Afonso Henriques, Avenida Almirante Reis e o Bairro do Arco Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Eduardo Portugal, 6 x 9 cm, 1938. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/EDP/001323.

 

EDIFÍCIOS MULTIFAMILIARES

 

Bairro do Arco Cego, avenida Magalhães Lima e Liceu D. Filipa de Lencastre, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, João Artur Goulart, 6 x 6 cm, 1962. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AJG/004066.

 

Bairro do Arco Cego, edifício do Arquivo Municipal de Lisboa na esquina das ruas Nunes Claro e Ladislau Piçarra, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Arnaldo Madureira, 35 mm, 1969. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/ARM/006634.

 

Bairro do Arco do Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Artur João Goulart, 6 x 6 cm, 19-. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AJG/003795.

 

Edifício multifamiliar no Bairro do Arco Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, João Hermes Cordeiro Goulart, 6 x 6 cm, 1970. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JHG/004513.

 

Bairro do Arco do Cego, negativo cromogéneo em acetato de celulose, João Goulart, 6 x 6 cm, 1970. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JHG/004423.

 

EDIFÍCIOS UNIFAMILIARES

 

Rua Vilhena Barbosa no Bairro do Arco Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Augusto de Jesus Fernandes, 6 x 6 cm, 1964. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AJF/001394.

 

Edifícios unifamiliares no Bairro do Arco do Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Artur João Goulart, 6 x 6 cm, 1962. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AJG/004059.

 

Edifícios unifamiliares no Bairro do Arco Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, João Hermes Cordeiro Goulart, 6 x 6 cm, 1970. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JHG/004322.

 

Edifícios unifamiliares no Bairro do Arco do Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, João Hermes Cordeiro Goulart, 6 x 6 cm, 1970. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JHG/004323.

 

Edifícios unifamiliares no Bairro Social do Arco Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, João Hermes Cordeiro Goulart, 6 x 6 cm, 1970. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JHG/004298.

 

ESPAÇOS PÚBLICOS

 

Bairro do Arco do Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Artur João Goulart, 6 x 6 cm, 19-. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AJG/003803.

 

Rua Stuart Carvalhais no Bairro do Arco Cego, Artur João Goulart, 19-. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AJG/004056.

 

Mercado de Levante no Bairro Social do Arco Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Arnaldo Madureira, 6 x 6 cm, 1960. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/ARM/000819.

 

Largo na entrada do Bairro Social do Arco Cego, com a avenida Magalhães Lima e o liceu D. Filipa de Lencastre ao fundo, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Artur João Goulart, 6 x 6 cm, 1962. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AJG/004067.

 

EQUIPAMENTOS

 

Visita dos vereadores da CML às obras dos blocos escolares no Bairro Social do Arco Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Armando Maia Serôdio, 9 x 12 cm, 1954. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/SER/000795.

 

Escola primária no Bairro Social do Arco do Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Armando Maia Serôdio, 9 x 12 cm, 1956. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/SER/001238.

 

Casa de arrumação da CML no Bairro Social do Arco Cego, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Artur João Goulart, 6 x 6 cm, 1960. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AJG/000487.

 

Quarteirão entre as ruas Reis Gomes e Nunes Claro, diapositivo de gelatina e prata em acetato de celulose, Arnaldo Madureira, 35 mm, 1969. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/ARM/006633.

 

Local destinado à construção da igreja de São João de Deus com o Bairro Social do Arco do Cego em fundo, negativo de gelatina e prata em nitrato de celulose, Judah Benoliel, 6 x 6 cm, ant. 1953. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/004571.

 

Vista aérea do Bairro Social do Arco Cego, vendo-se as habitações, o liceu D. Filipa de Lencastre, a antiga Fábrica de Cerâmica Lusitânia e terrenos adjacentes, negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, Mário de Oliveira, 9 x 12 cm, 195-. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/MAO/000466.

 

Fotografia aérea do Bairro do Arco Cego com a praça de Londres e a avenida de Roma, prova em papel de revelação baritado, Abreu Nunes, 1953. Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/ABR/01/001623.

 

 

NOTAS

1 Habitação. In ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner – Ilhas. Lisboa: Texto Editora, 1989. p. 33.

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