SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.ser2 issue12Bairros de Lisboa: perspetivas da história e desafios futurosSaint Joseph of Lisbon: a counterrreformation neighbourhood author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

Related links

  • Have no similar articlesSimilars in SciELO

Share


Cadernos do Arquivo Municipal

On-line version ISSN 2183-3176

Cadernos do Arquivo Municipal vol.ser2 no.12 Lisboa Dec. 2019

 

ARTIGO

Bairro: reverberações de uma ideia numa Lisboa em movimento

Neighbourhood: reverberations of an idea in a moving Lisbon

Marluci Menezes*

*Marluci Menezes, LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 1700-066 Lisboa, Portugal. marluci@lnec.pt

 

RESUMO

O artigo aborda a noção de ’bairro’ como um importante recurso simbólico da construção do imaginário de Lisboa na atualidade, não só confirmando a continuidade transformativa de que a cidade é “uma cidade de bairros”, mas também influenciando a realidade quotidiana destes lugares-bairro. Para o efeito, realiza-se uma revisitação da noção de bairro na literatura. Seguidamente exemplifica-se, através de determinados casos, alguns recursos à noção de bairro e respetiva resignificação do conceito, procurando observar algumas das problemáticas contemporâneas da cidade e, como tal, dos seus bairros.

 

PALAVRAS-CHAVE

Bairro / Continuidade / Mudança / Resignificação/ Cidade

 

ABSTRACT

The article addresses the notion of ’neighbourhood’ as an important symbolic resource of the imaginary of Lisbon today, not only confirming the transformative continuity that the city is “a city of neighbourhoods”, but also influencing the everyday reality of these neighbourhood places. For this purpose, a re-visitation of the notion of neighbourhood in literature is carried out. It is then exemplifies, through certain cases, some resources to the neighbourhood notion and its re-signification of the concept, seeking to observe some of the contemporary problems of the city and, as such, its neighbourhoods.

 

KEYWORDS

Neighbourhood / Continuity / Change / Re-signification / City

 

DOS BAIRROS E DA CIDADE (LISBOA): PRETEXTO DE REFLEXÃO

A combinação dialético-reflexiva das palavras ’bairro’ e ’cidade’ expressa no incessante dito de que “Lisboa é uma cidade de bairros”, transparece a não presença de uma incisão clara entre o que pode ser uma e outra noção. Este princípio de entendimento representa uma continuidade híbrida, entretanto complexificada face ao sentido plural decorrente da singularidade com que cada bairro faz a cidade ser Lisboa. Esclareça-se, todavia, que a incontestável proeminência dos bairros típicos e tradicionais no delinear de um campo de significações imaginárias da cidade, não enfraquece o campo mais amplo abrangido pelo elo bairro-cidade. Presumivelmente, a par da construção ideológico-popular da cidade a partir destes bairros1, este relevo atribuído aos bairros típicos procede da inscrição de uma expressividade ampliada das suas formas simbólico-culturais no mapa social da cidade e, como tal, do seu imaginário. De volta ao dito que introduz esta reflexão, este permite sugerir, à partida, que a ininterrupta combinação híbrida entre a cidade e seus bairros é indicativa de que nem a cidade persiste sem os seus bairros, nem tão pouco estes existem sem Lisboa.

Mas, numa sociedade urbana e identificada com o imperativo da comunicação, mobilidade e globalização, do fluxo espacial a conflituar com o lugar do bairro, da instantaneidade temporal a embater com o tempo vital do quotidiano, pode o bairro ser tomado como um referencial expressivo de entendimento do viver (n)a cidade?

Na sociologia francesa, por exemplo, destacam-se posições particularmente distintas relativamente à pertinência do bairro na sociedade contemporânea. Por exemplo, Donzelot e Authier consideram que o bairro, ainda que possa não ser central na vida das pessoas, mantém-se enquanto importante porto de abrigo do modo de vida dos seus moradores2. Outros autores questionam o sentido nostálgico e purista desta perspetiva, observando que a proximidade inicialmente associada ao bairro perdeu interesse, na medida que as relações sociais entre vizinhos e atividades próximas espartilharam-se numa escala que se coloca entre a residência e a cidade3. Estas perspetivas podem, todavia, resultar num certo extremismo. Isto porque não só se observa que existem continuidades relacionadas com os bairros, ruturas e interrupções nessa constância; como se observa também o desenhar de novas e diferentes configurações socio-espaciais e simbólico-culturais de significação do conceito e da realidade dos bairros.

A par da complexidade do viver urbano dos nossos dias e que, com certeza, engloba Lisboa, parece-me, todavia, importante reter que a representação coletiva associada aos bairros da cidade “não estando refém de um património histórico, vai ganhando novos contornos ao longo dos tempos”4. É sobre alguns destes novos contornos que esta reflexão se debruça.

Portanto, assente que os bairros são um recurso simbólico significativo na construção do imaginário cidade, interrogo-me sobre como este recurso é, no presente urbano, acionado e significado, influenciando a realidade quotidiana. Na realização deste exercício reflexivo retenho-me, sobretudo, na área histórica de Lisboa, procurando inicialmente percorrer alguns dos significados de bairro no âmbito de uma literatura mais vocacionada para as ciências sociais.

 

O QUE SE DIZ SOBRE O ’BAIRRO’: BREVES CONSIDERAÇÕES

A natureza da palavra bairro, independente da língua em que é expressa, não só é reveladora da rica e arrojada aventura que é caminhar através da sua etimologia5, como desvela o sentido escorregadio e polissémico que a expressão abrange e pode vir a abranger. Um possível caminho para o seu entendimento, muito provavelmente, pode traçar-se a partir da feliz associação que Gato estabelece entre o termo bairro e a ideia de “palavras- -contentor” – conforme avançada por Bourdin6. Isto porque, como sublinhado por Gato, as “palavras-contentor” auxiliam a ultrapassar as incertezas subjacentes a determinados conceitos, sendo a comunicação viabilizada a partir de um contínuo ajustamento das apreciações realizadas.

Mas, não obstante a plasticidade inesperada com que a noção de bairro é, em modo contínuo, conotada, dir-se-ia que o contentor de significados que a salvaguardam permite considerar um sentido cumulativo no recurso feito a determinadas lógicas interpretativas. Isto é, a expressão bairro alude a uma constância relativamente ao conceber, demarcar, apropriar, particularizar, representar, imaginar, qualificar e significar um dado contexto socio-espacial, sem esquecer, claro, a influência da história e das temporalidades que enformam essas lógicas. Na verdade, a par da polémica natureza da palavra bairro e da sua multiplicidade de significados, um denominador comum sobressai: a relação entre bairro e a expressividade assumida pelo fenómeno urbano.

Transformada em categoria de análise da questão urbana, a palavra bairro engloba uma incessante aglutinação de entendimentos. Por exemplo, para a Escola de Chicago, nomeadamente através dos trabalhos de Robert Park, o bairro é abordado como algo que se encontra entre uma região natural e uma região moral7. Lynch considera que o bairro é uma área homogénea, reconhecida internamente pela sua continuidade e externamente como sendo descontínua8. Para Lefebvre, o bairro é o maior dos menores grupos sociais, a par de ser o menor dos grandes grupos sociais9.

Mas vários outros significados e associações se manifestam, inundando o contentor de bairro com um sortido de significações, como por exemplo: aldeia urbana, micro sociedade, comunidade de vizinhos, espaço vivido em comunidade, área técnico-administrativa de gestão da cidade, território de sociabilidade e conviabilidade, parcela individualizada do espaço urbano, unidade territorial de vida coletiva, lugar urbano, escala apreciada para uma abordagem participativa e uma gestão de proximidade, território de democracia participativa, lugar entre a casa, a rua e a cidade10. O contentor de ideias de bairro aglutina ainda um conjunto de qualificações politizadas, popularizadas e mediatizadas, tais como: sensível, vulnerável, crítico, formal, informal, social, cultural, étnico, operário, popular, histórico, tradicional, degradado, bairro em dificuldade (…). Nesta ótica, o bairro emerge como:

(…) símbolo em contextos onde se pretende destacar determinados valores considerados positivos, como as relações primárias, a tradicionalidade, a autenticidade, a pertença aos bairros populares, a solidariedade, a virilidade; ou negativos como a vulgaridade, a baixa categoria ou a promiscuidade informativa (a fofoca), entre outros. Também se considera o não ser do bairro, mais do que esse ou aquele bairro. Valores, crenças e identificações ao redor das quais se chega até a debater que bairro é mais bairro e quem é mais bairro.11

Um outro qualificativo de bairro refere-se à sua transmudação em área residencial, de onde emerge a discussão se uma dada zona residencial é ou não é bairro12. Na verdade, enquanto cenário de relações sociais, o bairro não é um conceito neutro, pois, enquanto entidade criada (e que se vai criando) no decorrer do processo socio-histórico, decorre de constituintes macroestruturais da urbanização que, entretanto, interferem na vida quotidiana. O que, por um lado, infere o interesse em observar como a reprodução dos elementos que definem a macroestrutura impactuam e transformam a realidade expressa na microescala13; e, por outro lado, implica admitir que ao bairro associam-se lógicas de fragmentação, de segregação e desigualdade.

Para Gravano, o conceito de bairro reúne três dimensões: funcional, simbólica e cultural14. A dimensão funcional reporta sobretudo ao seu atributo de posição intermédia, entre a unidade doméstica, as instituições, o espaço público, o universo mais abrangente da cidade, o privado e o público. Já a dimensão simbólica respeita ao significado e à identidade, observando um processo de redobramento simbólico entre significados internos e externos15. Nesta ótica, a identidade de bairro é construída a partir do sentimento de fazer parte do bairro, e não propriamente por frequentar um bairro. O que permite ao autor sugerir o interesse em se reaver os valores de significação simbólica, cultural e vivencial do bairro a partir das pessoas que nele ’vivem’, e não apenas lá ’residem’, conforme representada através da ótica de projeto arquitetónico-urbanístico e pensada do exterior. Na verdade, como observado por Gato, os bairros são feitos pelas pessoas16 e, como referido por Castells, “não são descobertos, tal como se vê um rio”, já que os bairros “são construídos”17.

De volta a Gravano, como dimensão cultural o autor assinala o prosseguimento histórico do que considera as tradições de quem vive nos bairros tidos como marginais, observando as consequências comportamentais e os recursos de adaptação que os seus moradores têm de recorrer para susterem-se. Neste sentido, o autor aponta os riscos de uma perspetiva culturalista, principalmente quando associada ao discurso da cultura ou subcultura da pobreza18.

Todavia, em trabalho anterior, Gravano considera três significantes de entendimento do conceito de bairro, nomeadamente: bairro social, bairro identitário e bairro cultural19. O bairro social refere-se à sociabilidade interpessoal ligada aos valores que sustentam a conviabilidade. O bairro identitário realiza-se enquanto uma realidade que reciprocamente constrói identidades sociais e espaciais, onde “a identidade do bairro é construída, assumida pelo sujeito e por quem o observa, por quem a auto-atribui e por quem a adjudica”20. Por bairro cultural, Gravano evoca a posição assumida enquanto símbolo e que, ideológica e vivencialmente constituída, alude a uma representação elaborada pelos atores sociais que, entretanto, adquire densidade a partir de determinados valores21.

Portanto, com o livro “El barrio en la teoria social” que constitui um importante compêndio analítico-reflexivo acerca de como o conceito bairro tem sido abordado na teoria social por uma variedade de disciplinas, Gravano sistematiza alguns aspetos centrais da ideia de bairro: (i) a recorrência com que esta noção é feita pelo senso comum; (ii) a sua centralidade no entendimento do parcelamento do território urbano e da cidade, (iii) a noção associada à construção de representações de autonomia, de homogeneidade e de simbologias; (iv) o amplo debate enquanto categoria de análise e fenómeno urbano promovido sobretudo pelas ciências sociais22.

Na complexidade multiforme e de geometria variável que vai cobrindo as perspetivas de abordagem contidas no conceito de bairro, é ainda de realçar o que Gato e Ramalhete consideram como ideias-chave associadas ao termo. Para as autoras, o conceito de bairro infere:

(i) “representações socialmente localizadas, tendencialmente homogéneas e com dimensões de quotidiano”; (ii) “territórios sem definição político-administrativa expressa, mas que correspondem a uma representação espacial com algum grau de consenso”; (iii) “unidades de observação e análise onde se cruzam escalas espaciais, vivenciais e identitárias, conferindo ao bairro uma ambiência própria (…)”23.

Interessantemente, a prolífera, ambígua e diversa manifestação de interpretações de bairro, parece ter sido resolvida com a definição que se segue, conforme descrita na revista municipal “Lisboa” em número especial dedicado aos bairros da cidade. Vejamos:

A noção de bairro remete para uma área relativamente homogénea, em um ou mais dos seguintes aspetos materiais: configuração urbanística, características arquitetónicas, separação do restante tecido da cidade. Mas, também resulta do processo histórico da sua formação e desenvolvimento, da estrutura económica e das afinidades culturais e afetivas criadas nas relações entre vizinhos.24

Porém, olhando ao caso de Lisboa por comparação a outras cidades, a par de verificar-se a “(…) produção de um corpus bibliográfico sobre si própria, auto identificado como olisipografia” e que estuda e valoriza a especificidade da cidade desde o século XIX 25, a maior parte da bibliografia produzida sobre os seus bairros realizou-se nas últimas três décadas26. Observando-se ainda, tal como também notado por Gravano, o predomínio de uma bibliografia oriunda da área das ciências sociais27. Gato e Ramalhete, neste sentido, realizam uma interessante e sintética sistematização das principais características subjacentes a esta literatura mais específica que, para a presente reflexão, interessa recuperar alguns dos seus aspetos-chave28. Assim, de entre as abordagens ao tema do bairro, duas lógicas distintas entre si predominam: uma mais analítica e outra mais operativa (relacionada com os problemas socio-urbanísticos e a intervenção urbana)29. Relativamente a uma linha mais analítica são significativos os estudos ligados à temática da história da cidade e do urbanismo. Nesta temática encontram-se os de cunho socio-antropológico em que, a par da emergência (em crescendo) de novas abordagens, se observa a prevalência dos estudos sobre os bairros tidos como típicos e o que as autoras consideram como os “territórios multiculturais e de bairros camarários ou degradados”30. Relativamente aos estudos mais centrados no que se convencionou designar como bairros típicos, são destacadas duas principais abordagens: os bairros como (i) “espaços de práticas sociais urbanas com especificidades próprias e forte cunho identitário”; (ii) “territórios que constituem repositórios de práticas sociais que se entrecruzam e constroem a imagem do bairro”.

Mas, presumivelmente, como um guia de abordagem do bairro, pelo menos enquanto perspetiva de uma antropologia do bairro, seja de reter o seguinte:

(…) o bairro aparece como realidade tangível e material e como parte do imaginário; como prática e como representação, como valor cultural, identidade coletiva, especificidade espacial, polo de disjunção ideológica e sede social das mais variadas relações e dinâmicas.31

O que, de acordo com Gravano, permite reunir três sentidos de compreensão do bairro: i) como constituinte da reprodução material da sociedade, o que infere à ideia de que faz parte da cidade e faz juz à sua dimensão como espaço físico; ii) como identidade social, diretamente associada aos atores sociais e por eles atribuída; iii) enquanto símbolo e um conjunto de valores socialmente enquadrados e compartilhados32.

Na verdade, no quadro de uma análise compreensiva, estou mais vocacionada para interrogar os significados simbólico-culturais e socio-espaciais que instigam a construção da ideia de ’bairro’, do que ir ao encontro de uma definição33. No entanto, é procedente admitir que uma aproximação ao ’bairro’ implica sempre uma dada escala territorial, bem como de ação e representação. Como observado por Cordeiro e Figueiredo, a noção de bairro é indeterminada e variável, refletindo espaço, ubiquidade e ambiguidade. Mas, compreender o significado de bairro é como ir ao encontro de “espaços mais amplos (metrópole, cidade), mais reduzidos (ruas, largos, etc.), ou semelhantes (outros bairros)”34.

 

O VIRTUOSO RECURSO AO BAIRRO NUMA LISBOA DO SÉCULO XXI

A intensidade da vida de rua tem sido, com alguma frequência, utilizada para retratar o ambiente social dos bairros típicos da cidade. Essa imagem é tão apelante que uma descrição de finais da década de 20 do século XX pode, circunstancialmente e com as devidas adaptações, servir aqui para retratar a Lisboa do século XXI. Veja-se:

Os bairros antigos onde o gentio pobre habita, população mais rica de côr e mais bizarra de costumes do que nenhuma outra, marcam na cidade uma nota de grande pitoresco. A criançada – porque a gente miserável é prolífica – vomitada para a rua pela estreiteza das casas (…). A rua é a sua varanda, o seu quintal e o seu terraço. Junte-se a isto o formigar dos vendilhões, o tráfego dos bairristas, a ingressia do mulherio, e ter-se-há a nota global do efeito da comparsaria e dos actores na comédia movimentada dos arruamentos velhos.35

Portanto, mantendo-se a “comédia movimentada dos arruamentos” antigos da cidade, na Lisboa do século XXI, o ’velho’ transforma-se, pouco a pouco, em ’reabilitado’ através de um proliferar animado e incansável de obras. A ’estreiteza das casas’ transforma-se, com as obras, em unidades hoteleiras e de alojamento de charme. O ’formigar de vendilhões’ transfigura-se num enxamear de lojas, lojinhas e grandes lojas, mercados gastronómicos, restaurantes e esplanadas. Um ’formigar’, entretanto agitado por um intenso tráfego de tuk tuks e patinetes que, a par de conviver com modos mais tradicionais de locomoção dos ’bairristas’ de sempre, trafegam pelas ruas na qualidade de novos bairristas: turistas, moradores provisórios e mais nobilitados.

Lisboa acentua o seu caráter de cidade-rede global e, alguns dos bairros da área histórica, como que transformados em commodities, parecem apenas ser mais um dos pontos da cidade. Pontos da cidade que, entretanto, se entrecruzam numa ampla teia urbana, onde, através de uma economia criativa e imaterial, dos eventos e da arte, da comunicação e tecnologias digitais, da indústria turística, a vida quotidiana parece, cada vez mais, estetizada e culturalizada, sendo proficuamente virtualizada pelo marketing urbano. Paralelamente, acelerados e crescentes processos de recomposição sociodemográfica, gentrificação e turistificação sucedem-se nos bairros da cidade. Enfim, um conjunto de aspetos, entre outros, que colaboram para resignificar a ’comédia dos arruamentos’ antigos e, como tal, o mundo social que nela se inscreve e a define como cidade.

Este animado cenário antes descrito repercute uma certa imagem da atualidade socio-simbólica e espacial da cidade e seus bairros, de modo algum expondo a complexidade de uma cidade em movimento36. Todavia, colabora para aqui enquadrar algumas das atuais expressões que se associam aos bairros e ao recurso feito aos mesmos na agitada fábrica de fazer a cidade de Lisboa. Com este propósito, seguidamente discuto algumas aproximações ao bairro no presente da cidade. Para o efeito, recorro a um conjunto de casos exemplares. Saliente-se que os exemplos aqui discutidos são particularizados separadamente apenas por uma questão de sistematização analítico-compreensiva, pois os mesmos interagem entre si, bem como com uma variedade de outras condicionantes não abordadas no contexto desta reflexão. Portanto, na sequência destacam-se os seguintes casos exemplares:

O bairro.com relacionado com as múltiplas oportunidades de participação cívica, democrática e de ciber-vizinhança, entretanto criadas a partir de iniciativas cidadãs e associativas, bem como pela municipalidade37. Ao bairro online liga-se ainda uma variedade de portais que informam sobre a história e urbanismo dos bairros, tal como sobre determinadas manifestações culturais locais. Não menos relevante é a importância destes portais digitais para a investigação, inclusivamente, tornando-se um essencial meio de pesquisa e divulgação sobre os bairros, também contribuindo para o contentor de significados de bairro.

Mas, paralelamente, observa-se uma tematização das formas culturais e simbólicas destes lugares, entretanto estilizadas e transformadas em marca dos lugares-bairro, onde, julgo que a citação abaixo reproduzida, muito embora se reporte mais diretamente ao Bairro da Mouraria, exemplifica a ideia subjacente à repercussão mais abrangente do bairro no universo digital:

(…) das ideias de bairro tradicional – repercutidas nas formas culturais e simbólicas ligadas ao fado, bairrismo, festas populares, procissão, pitoresco, etc. –, e de bairro multicultural e multiétnico – associadas à expressão local de formas culturais e simbólicas associadas às diferentes culturas imigrantes, ressoando em gastronomia, vestuário, festas, odores, etc. – fala-se, cada vez mais, no património local (imaterial e material, embora com mais destaque para o seu património intangível). Aprimoradas pelo design e as possibilidades do digital, estas formas simbólico-culturais respondem a determinadas modas e estilos, dinamizando o bairro numa ótica de economia criativa e/ou cultural.38

Refira-se ainda que esta tematização dos bairros em ambiente digital alia-se a uma crescente publicitação especulativa e imobiliária dos bairros.

O bairro cultural, diferentemente da abordagem de Gravano39, associa-se aqui a uma cultura efémera de eventos artísticos, às vezes, com preocupações de intervenção urbana vocacionada para a participação e a revitalização através da arte40. Todavia, é sobretudo relevante a reinvenção do ’bairro’ como realidade “cool”, onde de entre os “bairros mais cool no mundo”, Lisboa aparece com o ’Bairro de Arroios’41. Mas o sentido “time out” de bairro aparece ainda como “bairro pop-up”, entretanto relacionado com a zona de Santa Apolónia42. No entanto, o Príncipe Real, que já ficou no “5.º lugar como o bairro mais cool do mundo”43, também tem vindo a ser descrito como “bairro do momento” e “bairro da moda”.

As áreas da cidade que se tornam ’bairro’ e que, em geral, são áreas com proximidade a bairros (tradicionalmente assim reconhecidos) ou que, sendo zonas mais abrangentes e não necessariamente com uma identidade demarcada, podem integrar bairros há mais tempo socialmente identificados como tal. Nestas situações tenho vindo a observar que, de um ou outro modo, estas áreas têm sido afetadas por obras de reabilitação (ou somente no edificado ou de cariz mais urbano), pela gentrificação e pelo turismo. A título de exemplo, destacam-se as atuais resignificações da zona de Arroios, também nome de freguesia administrativa e que, de zona com ligação ao Bairro da Mouraria, Bairro das Olarias, Bairro das Colónias, mais recentemente é reivindicada como ’Bairro de Arroios’; e na sua adjacência a invenção do B.I. (’Bairro do Intendente’) que, na sequência de uma intervenção urbana ali protagonizada, de área problema da cidade também se transformou num ’bairro da moda’. Um outro exemplo é a recém transformação do Príncipe Real em bairro, já que, à partida, é uma área englobada pelo Bairro Alto, mas sem um efetivo reconhecimento social como bairro. Um exemplo interessante é o caso da área em contiguidade próxima com o Convento das Trinas e de rua de igual designação que, de área ambígua, já que tanto podia fazer parte do Bairro da Madragoa como do Bairro da Lapa, mas não reconhecida como bairro44, tem vindo a ser resignificada como ’Bairro das Trinas’45. Este último exemplo é particularmente curioso porque, embora julgue que essa alteração também esteja associada às dinâmicas associadas à economia cultural, ao turismo e à gentrificação, o que nutre esta resignificação da área em bairro tem a ver com a sensibilização para a conservação do património e das pessoas enquanto habitantes quotidianos do lugar, entretanto tornado ’Bairro das Trinas’.

Estabelecimentos com a expressão bairro na sua designação é algo que muito recentemente me tem despertado a atenção, como se ao englobar a palavra ’bairro’, certos valores positivados relativamente a esta expressão (por exemplo: tradição, proximidade, autenticidade, sociabilidade…) fossem instantaneamente integrados no serviço fornecido, qualificando-o. Tenho observado este fenómeno em cafés, restaurantes, mercearias, através da curiosa proliferação de ’café de bairro nome do estabelecimento’, ’pastelaria de bairro nome do estabelecimento’ (…).

 

AFINAL LISBOA ESTÁ COM MAIS BAIRROS!

As metáforas e as imagens do ’bairro’ revelam diversidade, heterogeneidade, mas também revelam fenómenos de exclusão, segregação e de desigualdade, ecoando numa espécie de ’polifonia de bairros’ integradora do conhecimento da cidade. Uma ’cidade polifónica’ que se revela a partir da sua representação como “cidade de bairros”.

Numa cidade de bairros e, ao que parece, com cada vez mais ’bairros’, colocam-se muitos desafios. Um deles é o necessário reconhecimento quotidiano das pessoas que nele habitam, de modo a garantir que Lisboa continue uma cidade de bairros e, reciprocamente, os bairros contribuam para que a cidade continue em movimento. Um outro desafio pode ser ir um pouco mais além das plataformas de bairro em muito associadas aos negócios e, neste sentido, criar uma verdadeira plataforma-rede de produção de conhecimento, registo, divulgação e interação, contribuindo para valorizar os bairros de Lisboa. Afinal, Lisboa vale a pena!

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ESTUDOS

ABBADIE, Lucía [et al.] – Del barrio a las territorialidades barriales: revisitando categorias desde experiencias de trabajo en cuatro barrios de Montevideo. In AGUIAR, Sebastián [et al.], coord. – Habitar Montevideo: 21 miradas sobre la ciudad [Em linha]. Montevideo: La Diaria Editorial, 2019. p. 273-303. Disponível na Internet: https://cerejas-do-uruguai/fileadmin/user_upload/Habitar_Montevideo.pdf.         [ Links ]

ASCHER, François – La fin des quartiers? In Haumont, D. Nicole, dir. – L’urbain dans tous ses états: faire vivre, dire la ville. Paris: L’Harmattan, 1998. p. 183-201.

ASCHER, François; GODARD, Francis – Vers une troisième solidarité. Esprit. Nº 258 (11) (Novembre 1999), p. 87-114.         [ Links ]

AUTHIER, Jean-Yves; BACQUÉ, Marie-Hélène; GUÉRIN-PACE, France – Le quartier: enjeux scientifiques, actions politiques et pratiques sociales. Paris: La Découverte, 2006.         [ Links ]

BOURDIN, Alain – O urbanismo depois da crise. Lisboa: Livros Horizonte, 2011.         [ Links ]

CARNEIRO, Luís Miguel – Bairros de Lisboa. Lisboa: da Cidade para os Lisboetas [Em linha]. Nº 26 (2019), p. 4-9. Disponível na Internet: https://issuu.com/camara_municipal_lisboa/docs/revista_lisboa_26.         [ Links ]

CASTELLS, Manuel – La cuestión urbana. Madrid: Siglo XXI, 1974.         [ Links ]

CONCEIÇÃO, Margarida Tavares da – A polissemia da palavra bairro. Estudo Prévio: Revista do Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa [Em Linha]. Nº 4 (2013). Disponível na Internet: http://www.estudoprevio.net/artigos/29/dossier-bairros-margarida-tavares-da-conceicao-.-a-polissemia-da-palavra-bairro.         [ Links ]

CORDEIRO, Graça Índias – Olhar a cidade. In CORDEIRO, Graça Índias; BAPTISTA, Luís Vicente; COSTA, António Firmino da, org. – Etnografias urbanas. Oeiras: Celta Editora, 2003. p. 9-30.         [ Links ]

CORDEIRO, Graça Índias – Entre a rua e a paisagem. Ler História. Nº 52 (2007), p. 57-72.         [ Links ]

CORDEIRO, Graça Índias; FIGUEIREDO, Tiago – Intersecções de um bairro online: reflexões partilhadas em torno do blogue Viver Lisboa. In MENDES, Maria Manuela; FERREIRA [et al.], coord. – A cidade entre bairros. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2012. p. 9-20.

COSTA, Pedro; LOPES, Ricardo – Dos dois lados do espelho: diálogos com um bairro cultural através da intervenção urbana. Etnografia. Vol. 22 Nº 23 (2018).         [ Links ]

Di MÈO, Guy – Epistémologie des approches géographiques et socio-anthropologiques du quartier Urbain. Annales de Géographie. T. 103 Nº577 (1994), p. 255-275.         [ Links ]

DONZELOT, Jacques – La nouvelle question urbaine. Esprit. Nº 258 (11) (Novembre 1999), p. 87-114.         [ Links ]

ESTÈBE, Philippe – L’usage des quartiers: action publique et géographie dans la politique de la ville (1982-1999). Paris: L’Harmattan, 2004.

COSTA, António Firmino da – Sociedade de bairro: dinâmicas sociais da identidade cultural. Oeiras: Celta Editora, 1999.         [ Links ]

GATO, Maria Assunção – São as pessoas que fazem o bairro. Estudo Prévio: Revista do Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa [Em Linha]. Nº 4 (2013). Disponível na Internet: http://www.estudoprevio.net/artigos/28/dossier-bairros-maria-assuncao-gato-.-sao-as-pessoas-que-fazem-o-bairro.         [ Links ]

GATO, Maria Assunção; RAMALHETE, Filipa – Bairros na Lisboa contemporânea. Estudo Prévio: Revista do Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa [Em Linha]. Nº 4 (2013). Disponível na Internet: http://www.estudoprevio.net/artigos/30/dossier-bairros-filipa-ramalhete-maria-assuncao-gato-bairros-na-lisboa-contemporanea.         [ Links ]

JOSEPH, Isaac; GRAFMEYER, Yves – L´École de Chicago: naissance de l´écologie urbaine. Paris: Flammarion, 2004.         [ Links ]

GRAVANO, Ariel – Antropología de lo barrial: estudios sobre la producción simbólica de la vida urbana. Buenos Aires: Espacio Editorial, 2003.         [ Links ]

GRAVANO, Ariel – El barrio en la teoría social. Buenos Aires: Espacio Editorial, 2005.         [ Links ]

LEFEBVRE, Henri – Quartier et vie de quartier. Paris: [s.n.], 1967. p. 9-12.         [ Links ]

LEFEBVRE, Henri – O direito à cidade. Lisboa: Letra Livre, 2012.         [ Links ]

LYNCH, Kevin – A imagem da cidade. Lisboa: Edições 70, 2009.         [ Links ]

MARTÍNEZ, Graciela – El barrio, un ser de otro planeta. Bifurcaciones: Revista de Estúdios Culturales Urbanos [Em Linha]. Nº 1 (2004), p. 1-20. Disponível na Internet: http://www.bifurcaciones.cl/bifurcaciones/wp-content/uploads/2004/12/bifurcaciones_001_GMartinez.pdf.         [ Links ]

MENDES, Manuela Maria [et al.] – A cidade entre bairros. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2012.         [ Links ]

MENEZES, Marluci – Espaço: manutenção, mudança e representação na Madragoa: ITECS 34. Lisboa: LNEC, 2002.         [ Links ]

MENEZES, Marluci – Digital in action in a neighbourhood in transformation: notes from Mouraria in Lisbon. In MENEZES, Marluci; SMANIOTTO, Carlos Costa, ed. – Neighbourhood & city: between digital and analogue perspectives. Lisboa: Edições Universitárias Lusófona, 2019.         [ Links ]

NAVEZ-BOUCHANINE, Françoise – Le quartier des habitants des villes marocaines. In AUTHIER, Jean-Yves; BACQUÉ, Marie-Hélène; GUÉRIN-PACE, France, dir. – Le quartier: enjeux scientifiques, actions politiques et pratiques sociales. Paris: La Découverte, 2007. p. 163-173.         [ Links ]

NOSCHIS, Kaj – Signification affective du quartier. Paris: Méridiens, 1984.         [ Links ]

NEL.LO, Oriol – A cidade em movimento: crise social e resposta cidadã. Lisboa: Tigre de Papel, 2018.         [ Links ]

PEREC, George – Espéces d’espaces. Paris: Galilée, 1974.

SEQUEIRA, Gustavo de Matos – Os bairros antigos e a comédia das ruas. In Portugal – Lisboa: exposição portuguesa em Sevilha. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1929.         [ Links ]

TISSOT, Sylvie – L’Etat et les quartiers: genèse d’une catégorie de l’action publique. Paris: Seuil, 2007.

TOPALOV, Christian [et al.] – L’Aventure des mots de la villae à travers le temps, les langues, les sociétés. Paris: Robert Laffont, 2010.

TOPALOV, Christian [et al.] – A aventura das palavras da cidade, das línguas e das sociedades. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2014.         [ Links ]

VIEILLARD-BARON, Hervé – Les banlieues: des singularités françaises aux réalités mondiales. Paris: Hachette, 2001.         [ Links ]

WELLMAN, Barry; LEIGHTON, Barry – Networks, neighborhood and communities: approaches to the study of the community question. Urban Affairs Quarterly. Vol. 14 Nº3 (March 1979), p. 363-390.         [ Links ]

WHYTE, William Foote – Street Corner Society: la structure sociale d’un quartier italo-américain. Paris: La Découverte, 1996.

YOUNG, Michael; WILLMOTT, Peter – Le village dans la ville. Paris: Centre Georges Pompidou, Centre de Création Industrielle, 1983.         [ Links ]

 

WEBGRAFIA

https://www.timeout.com/coolest-neighbourhoods-in-the-world

https://www.publico.pt/2019/09/17/fugas/noticia/arroios-bairro-cool-mundo-top-internacional-time-out-1886917.

https://www.timeout.pt/lisboa/pt/noticias/em-outubro-santa-apolonia-transforma-se-num-bairro-pop-up-sustentavel-090619?fbclid=IwAR20bpKumAGJgkKLUnyCdY37K58jTMYCn1aKmVHgb-jjqsawLZLFRxBFbFo.

https://viagemparalisboa.com/principe-real-em-lisboa/

https://aprupp.org/2019/02/07/visita-comentada-ao-bairro-das-trinas-lisboa-homenagem-a-jose-sarmento-de-matos-23-de-fevereiro/.

 

 

NOTAS

1 GATO, Maria Assunção; RAMALHETE, Filipa – Bairros na Lisboa contemporânea. Estudo Prévio: Revista do Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa [Em Linha]. Nº 4 (2013). Disponível na Internet: http://www.estudoprevio.net/artigos/30/dossier-bairros-filipa-ramalhete-maria-assuncao-gato-bairros-na-lisboa-contemporanea.

2 DONZELOT, Jacques – La nouvelle question urbaine. Esprit. Nº 258 (11) (Novembre 1999), p. 87-114 e AUTHIER, Jean-Yves; BACQUÉ, Marie-Hélène; GUÉRIN-PACE, France – Le quartier: enjeux scientifiques, actions politiques et pratiques sociales. Paris: La Découverte, 2006.

3 Ver, por exemplo: ASCHER, François – La fin des quartiers? In HAUMONT, D. Nicole, dir. – L’urbain dans tous ses états: faire vivre, dire la ville.

Paris: L’Harmattan, 1998. p. 183-201; ASCHER, François; GODARD, Francis – Vers une troisième solidarité. Esprit. Nº 258 (11) (Novembre 1999), p. 87-114.

4 GATO, Maria Assunção; RAMALHETE, Filipa, Op. Cit., 2013.

5 TOPALOV, Christian [et al.] – L’Aventure des mots de la villae à travers le temps, les langues, les sociétés. Paris: Robert Laffont, 2010; TOPALOV, Christian [et al.] – A aventura das palavras da cidade, das línguas e das sociedades. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2014; CONCEIÇÃO, Margarida Tavares da – A polissemia da palavra bairro. Estudo prévio: Revista do Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa [Em Linha]. Nº 4 (2013). Disponível na Internet: http://www.estudoprevio.net/artigos/29/dossier-bairros-margarida-tavares-da-conceicao-.-a-polissemia- -da-palavra-bairro.

6BOURDIN, Alain – O urbanismo depois da crise. Lisboa: Livros Horizonte, 2011.

7 JOSEPH, Isaac; GRAFMEYER, Yves – L´École de Chicago: naissance de l´écologie urbaine. Paris: Flammarion, 2004.

8 LYNCH, Kevin – A imagem da cidade. Lisboa: Edições 70, 2009.

9 LEFEBVRE, Henri – Quartier et vie de quartier. Paris: [s.n.], 1967. p. 9-12; LEFEBVRE, Henri – O direito à cidade. Lisboa: Letra Livre, 2012.

10 Ver, por exemplo: WHYTE, William Foote – Street Corner Society: la structure sociale d’un quartier italo-américain. Paris: La Découverte, 1996; YOUNG, Michael; WILLMOTT, Peter – Le village dans la ville. Paris: Centre Georges Pompidou, Centre de Création Industrielle, 1983; WELLMAN, Barry; LEIGHTON, Barry – Networks, neighborhood and communities: approaches to the study of the community question. Urban Affairs Quarterly. Vol. 14 Nº 3 (March 1979), p. 363-390; NOSCHIS, Kaj – Signification affective du quartier. Paris: Méridiens, 1984; Di MÈO, Guy – Epistémologie des approches géographiques et socio-anthropologiques du quartier urbain. Annales de Géographie. T.103 Nº 577(1994), p. 255-275; VIEILLARD-BARON, Hervé – Les Banlieues: des singularités françaises aux réalités mondiales. Paris: Hachette, 2001; CORDEIRO, Graça Índias – Olhar a cidade. In CORDEIRO, Graça Índias; BAPTISTA, Luís Vicente; COSTA, António Firmino da, org. – Etnografias urbanas. Oeiras: Celta Editora, 2003. p. 9-30; ESTÈBE, Philippe – L’usage des quartiers: action publique et géographie dans la politique de la ville (1982-1999). Paris: L’Harmattan, 2004; NAVEZ-BOUCHANINE, Françoise – Le quartier des habitants des villes marocaines. In AUTHIER, Jean-Yves; BACQUÉ, Marie-Hélène; GUÉRIN-PACE, France – Le quartier: enjeux scientifiques, actions politiques et pratiques sociales. Paris: La Découverte, 2007. p. 163-173; TISSOT, Sylvie – L’Etat et les quartiers: genèse d’une catégorie de l’action publique. Paris: Seuil, 2007; MENDES, Manuela Maria [et al.] – A cidade entre bairros. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2012; MENEZES, Marluci – Digital in action in a neighbourhood in transformation: notes from Mouraria in Lisbon. In MENEZES, Marluci; SMANIOTTO, Carlos Costa, ed. – Neighbourhood & city: between digital and analogue perspectives. Lisboa: Edições Universitárias Lusófona, 2019.

11 GRAVANO, Ariel – Antropología de lo barrial: estudios sobre la producción simbólica de la vida urbana. Buenos Aires: Espacio Editorial, 2003. p. 3.

12 Ver: MARTÍNEZ, Graciela – El barrio, un ser de otro planeta. Bifurcaciones: Revista de Estúdios Culturales Urbanos [Em Linha]. Nº 1 (2004), p. 1-20. Disponível na Internet: http://www.bifurcaciones.cl/bifurcaciones/wp-content/uploads/2004/12/bifurcaciones_001_GMartinez.pdf; ABBADIE, Lucía [et al.] – Del barrio a las territorialidades barriales: revisitando categorias desde experiencias de trabajo en cuatro barrios de Montevideo. In AGUIAR, Sebastián, coord. – Habitar Montevideo: 21 miradas sobre la ciudad. Montevideo: La Diaria Editorial, 2019. p. 273-303. Disponível na Internet: https://www.fes-uruguay.org/fileadmin/user_upload/Habitar_Montevideo.pdf .

13 ABBADIE, Lucía [et al.], Op. Cit., 2019.

14 GRAVANO, Ariel – El barrio en la teoría social. Buenos Aires: Espacio editorial, 2005.

15 Neste sentido, é particularmente profícua a reflexão que Firmino da Costa realiza sobre a dinâmica de construção de uma “sociedade de bairro” para o caso do Bairro de Alfama, em Lisboa. COSTA, António Firmino da – Sociedade de bairro: dinâmicas sociais da identidade cultural. Oeiras: Celta Editora, 1999.

16 GATO, Maria Assunção – São as pessoas que fazem o bairro. Estudo Prévio: Revista do Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa [Em Linha]. Nº 4 (2013). Lisboa. Disponível na Internet: .

17 CASTELLS, Manuel – La cuestión urbana. Madrid: Siglo XXI, 1974. p. 128.

18 GRAVANO, Ariel, Op. Cit., 2005.

19 GRAVANO, Ariel,Op. Cit., 2003.

20 ABBADIE, Lucía [et al.], Op. Cit., 2019. p. 281.

21 GRAVANO, Ariel, Op. Cit., 2003.

22 GRAVANO, Ariel, Op. Cit., 2005.

23 GATO, Maria Assunção; RAMALHETE, Filipa, Op. Cit., 2013.

24 CARNEIRO, Luís Miguel – Bairros de Lisboa. Lisboa: da cidade para os lisboetas [Em linha]. Nº 26 (2019), p. 4-9. Disponível na Internet: https://issuu.com/camara_municipal_lisboa/docs/revista_lisboa_26 p. 8.

25 CORDEIRO, Graça Índias – Entre a rua e a paisagem. Ler História. Nº 52 (2007), p. 57.

26 GATO, Maria Assunção; RAMALHETE, Filipa, Op. Cit., 2013.

27 GRAVANO, Ariel, Op. Cit., 2005.

28 GATO, Maria Assunção; RAMALHETE, Filipa, Op. Cit., 2013.

29 GATO, Maria Assunção; RAMALHETE, Filipa, Op. Cit., 2013, todavia, esclarecem que uma abordagem mais operativa, de modo algum significa desconsiderar a componente analítica em muitos destes estudos.

30 A reflexão desenvolvida por GATO, Maria Assunção; RAMALHETE, Filipa, Op. Cit., 2013, enquadrou-se num projeto mais amplo – Bairro em Lisboa – em que, de entre as várias componentes e características de estudo desenvolvidas pela equipa de projeto, se salienta a relacionada com o trabalho de campo. Isto porque, interessantemente, o mesmo se desenvolveu em bairros que nem são os tidos como típicos, nem tão poucos sociais, o que, a nosso ver, enriquece o corpus da bibliografia olisipográfica relativamente à temática dos bairros da cidade.

31 GRAVANO, Ariel, Op. Cit., 2003. p. 43.

32 GRAVANO, Ariel, Op. Cit., 2003.

33 Ver, por exemplo: PEREC, George – Espéces d’espaces. Paris: Galilée, 1974; GRAVANO, Ariel, Op. Cit., 2003; MENEZES, Marluci,Op. Cit., 2019.

34 CORDEIRO, Graça Índias; FIGUEIREDO, Tiago – Intersecções de um bairro online: reflexões partilhadas em torno do blogue Viver Lisboa. In MENDES, Maria Manuela, coord. – A cidade entre bairros. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2012. p. 20.

35 SEQUEIRA, Gustavo de Matos – Os bairros antigos e a comédia das ruas. In Portugal – Lisboa: exposição portuguesa em Sevilha. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1929. p. 19.

36 Neste sentido, ver: NEL.LO, Oriol – A cidade em movimento: crise social e resposta cidadã. Lisboa: Tigre de Papel, 2018.

37 Ver: CORDEIRO, Graça Índias; FIGUEIREDO, Tiago, Op. Cit., 2012; MENEZES, Marluci, Op. Cit., 2019.

38 MENEZES, Marluci, Op. Cit., 2019. p. 30.

39 GRAVANO, Ariel, Op. Cit., 2003, 2005.

40 Ver, por exemplo: COSTA, Pedro; LOPES, Ricardo – Dos dois lados do espelho: diálogos com um bairro cultural através da intervenção urbana. Etnografia. Vol. 22 Nº 3 (2018).

41 Ver: (i) https://www.timeout.com/coolest-neighbourhoods-in-the-world; (ii) https://www.publico.pt/2019/09/17/fugas/noticia/arroios-bairro-cool-mundo-top-internacional-time-out-1886917.

42 Ver: https://www.timeout.pt/lisboa/pt/noticias/em-outubro-santa-apolonia-transforma-se-num-bairro-pop-up-sustentavel-090619?fbclid=IwAR20bpKumAGJgkKLUnyCdY37K58jTMYCn1aKmVHgb-jjqsawLZLFRxBFbFo.

43 Ver: https://viagemparalisboa.com/principe-real-em-lisboa/

44 Neste sentido, ver: Menezes, Marluci, Op. Cit., 2002.

45 Ver: https://aprupp.org/2019/02/07/visita-comentada-ao-bairro-das-trinas-lisboa-homenagem-a-jose-sarmento-de-matos-23-de-fevereiro/.

Creative Commons License All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License