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Cadernos do Arquivo Municipal

versão On-line ISSN 2183-3176

Cadernos do Arquivo Municipal vol.ser2 no.8 Lisboa dez. 2017

 

ARTIGO

 

Abastecimento e consumo de pescado – alguns aspetos do quotidiano na Lisboa dos séculos XIV e XV

Supply and fish consumption – some aspects of daily life in Lisbon of the 14th and 15th centuries

Maria Manuela Catarino*

*IEM – Instituto de Estudos Medievais, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / Universidade NOVA de Lisboa, 1069-061 Lisboa, Portugal.

 

RESUMO

A grande cidade precisa de abastecimentos para sua sobrevivência, sabem-no bem os habitantes e, mais do que todos, os responsáveis políticos a quem cabe tomar decisões sobre tal matéria.

Em Lisboa, ribeirinha do Tejo que avista já o mar, um dos produtos que faz parte do quotidiano é, naturalmente, o pescado. Peixes de rio e de mar, e também marisco, sujeitos a diferentes formas de captura, cujas técnicas, aprendidas ao longo de gerações, asseguram o consumo nos dias de comer magro, mas também nos demais, quando a bolsa ou a condição social não chegam para garantir o acesso aos alimentos desejáveis.

Em tempos de abundância e sobretudo em momentos de penúria é fundamental garantir que a quantidade e qualidade dos alimentos que chegam aos locais de venda estejam asseguradas. Superintender as condições de distribuição e penalizar práticas abusivas, zelando pela saúde e higiene públicas, constituem prioridades de que as fontes documentais medievas fazem eco.

 

PALAVRAS-CHAVE

Alimentação / Pescado / Lisboa tardo medieval / Livro dos pregos / Livro das posturas antigas

 

ABSTRACT

The big city needs supplies for its survival. This is known by its inhabitants and, above all, by its political leader who are responsible for making decisions on this matter.

In Lisbon, planted next to the Tejo in plain sight of the sea, one of the products of its daily life is naturally the fish. Fish of the river and of the sea, and also shellfish, subject to different forms of capture with techniques learned over generations, assuring nourishment in meat-free days and in all the others, when the lack of money or social status doesn't suffice to guarantee the access to the desirable foods.

In times of abundance and especially in times of shortage, it is fundamental to ensure that the quantity and quality of food arriving at the places of sale are assured. Superintending the conditions of distribution, penalizing abusive practices for public health and hygiene are priorities that mediaeval document sources echo.

 

KEYWORDS

Feeding / Fish / Late medieval Lisbon / Livro dos pregos / Livro das posturas antigas

 

 

Abastecer de pescado a grande cidade nas centúrias de trezentos e quatrocentos implica que todos os contributos – do mar e do rio – devam ser considerados. Naturalmente que essa aportação consubstancia as condições da respetiva captura. Peixe do meio fluvial e o do oceano, para além das naturais contingências climatéricas, exigem técnicas diferentes, apetrechos especializados, e até barcos de formatos e capacidades desiguais. Aos homens que o procuram requer-se natural afoiteza nos rios e ribeiros, mas um maior afinco e temeridade nas águas do mar largo1.

 

BARCAS QUE CHEGAM… BARCAS QUE PARTEM

Pela foz, chega variedade de pescado da costa atlântica2, de portos tão diversos quanto Aveiro, Buarcos, Atouguia3. E de Lisboa, por terra, almocreves com seus animais4, ou navegando o rio Tejo, pelo menos até Santarém5, se garante a redistribuição desse alimento que as gentes do interior consomem ao longo do ano6.

No cais da Ribeira, o lugar de acostagem, conhecido pela experiência dos que fazem dele quotidianas partidas e chegadas, é garantido “des a estaca que esta porta Junto Co a porta da rribeira atee a portagem”7, devendo estar desimpedido de outras embarcações8 e acautelado de lixos9 e entulhos que interfiram nas diárias descargas do pescado. Certamente algo que as autoridades, apesar das prevenções camarárias, não terão facilidade em assegurar10.

O constante movimento das barcas atiça o voo das gaivotas. Em gestos temperados pelo sal e pelo costume os homens alijam as cargas. Vazios, e logo cheios, os cestos de pescado resgatado ao fundo mar mas também o obtido nas águas fluviais11. À vez, chegam outrossim à Ribeira barcas dos lados de Santarém12 e da outra banda, de Alcácer13, que transformam o cais ribeirinho num mosaico único de escamas, formas e cheiros.

É conhecida a importância económica que assumiu a Lisboa tardo medieval quer nos circuitos internos quanto nos internacionais14 e o peso das transações do pescado não deixa de constituir uma mais-valia nesse setor, que nem o poder régio15 nem o concelhio se atrevem a desdenhar16. Cumprindo as normas estabelecidas, é preciso solver os valores que sobre ele impendem e o controlo na portagem17 de todo o pescado a dizimar18 deve ser feito na sequência da sua chegada ao cais19.

Os oficiais do município, com as atribuições devidas20, zelam para que tudo se cumpra sem dano a quem de direito, procurando evitar-se abusos de quem usufrui especial estatuto21 – como no exemplo do alcaide-mor da cidade que pretendia tomar “pescado que ha mester por meos o terço do que uall dizendo que o ouuerom assi os alcaides que ataa ora foram de custume”22, e a quem o rei D. João I proíbe terminantemente que o faça.

Já aos pescadores pouco se perdoa. Não lhes basta a aspereza da labuta, o temor de naufrágio ou o receio de outras adversidades, também lhes não são consentidos subterfúgios para se eximirem às regras impostas. Veja-se o caso das barcas que chegam à noite ou ao serão, acostando ao cais de Alfama para se refugiarem de momentos de tempestade; no outro dia, era permitido que levassem o pescado, em cestos, ao açougue para a venda. Porém, tendo sido arrendados os direitos da portagem, os pescadores queixam-se que perdem a barca e o pescado quando tal acontece23.

Isenta-se de dízima, no entanto, o peixe para sustento dos que o pescam bem como o que “derem jgualmente a algum seu amigo”24. A família do pescador poderá, deste modo, ter na sua mesa pescado fresco para consumo no decorrer dos dias. Mas, e só, se a necessidade de o vender não for mais premente…25

O bulício no cais da Ribeira não termina, porém, com a descarga do pescado. Das barcas, dos apetrechos de pesca26, é necessário cuidar. O êxito de nova e proveitosa pescaria também depende da sua boa condição. O pescador sabe que o peixe de anzol tem maior procura no mercado27. Por isso, boias28, linhas, anzóis e engodos devem ser revistos em pormenor. Quanto às redes, consoante a sua natureza29, esforçadas pelo ímpeto dos cardumes e outros excessos de captura, precisam ser repassadas malha a malha. Homens e mulheres, novos e velhos, consertam nelas o labor de toda uma vida, remendando-as por suas mãos.

Também sobre estas atividades o concelho está vigilante: as pescadas que "matam nas rredes" não podem ser misturadas com as que "matam a linha", nem sequer misturadas no açougue, sendo apartado o espaço para a sua venda30. Está em causa a qualidade do abastecimento e os consumidores citadinos não têm sempre em muito boa conta os pescadores.

Preocupações de outro tipo vão-se acentuando nos tempos baixo medievos no que diz respeito à atividade piscatória, tanto no mar quanto no rio. E as vozes levantam-se com queixas que chegam aos ouvidos régios. Em 1409, D. João I proíbe que se usem redes para “pescar com ellas os pescados quea essa Çidade ouuerem de trager”31, dado que “queymam o mar” de tal sorte que os pescadores de linha não acham nele espécies em abundância. Queixas certamente repetidas que levam, em 1470, D. Afonso V a reforçar a proibição aos pescadores para que usem “Redes meudas senom pella guiza [que] athegora uzarom”32.

No que ao peixe do rio Tejo se regista, as dificuldades prendem-se com o tipo de direitos exercidos sobre as águas por algumas “pessoas de grande condiçom”. Conhecida a grande disponibilidade de peixe que as águas taganas desde sempre ofereceram33 e da qual Lisboa também usufrui34, em 1433 queixam-se os povos de que não podem pescar os tão apreciados sáveis por estar o rio coutado por esses outros senhores35. D. Duarte, ainda que salvaguardando os direitos de pesca do seu irmão D. Henrique e os seus próprios, acaba por permitir a todos que “quiserem hir pescar sauees ao dicto Ryo que possam pescar desembargadamente com suas auargas e Redes per honde lhes prouguer saluo nos dictos tres corredoyros”36.

Em situações excecionais Lisboa vê-se na contingência de recorrer a peixe de fora. Assim acontece durante os dias terríveis do cerco castelhano no verão de 1384, em que a frota saída do Porto acorre a Cascais trazendo, entre outros mantimentos, pescado37, possivelmente salgado. Sabe-se que não supriu as carências alimentares, mas constituiu uma hipótese de abastecimento, quando a cidade não podia usar os recursos do seu cais ribeirinho38.

Melhor fortuna havia, porém, sorrido aos habitantes no mês de fevereiro desse mesmo ano. Pela foz do rio, tinham aparecido navios da Galiza carregados de farinha e mantimentos, cuidando que Lisboa estava já cercada pelos castelhanos. Acompanhavam-nos outros transportando peixe seco para Aragão39. Apresados pelas forças fiéis ao mestre de Avis, garantiram à cidade o cumprimento das imposições alimentares na Quaresma, que então se aproximava, permitiram que se pagasse “aos fidalgos e aas outras gemtes o solldo em elle”, apesar de algumas vozes requererem que lhes “vemdesse aquelle pescado, pera o levarem fora do rregno, pollo gramde gaanho que em ell semtiam”, argumentando que seria em serviço da causa40.

Em outros momentos, a falência de pescado se faz sentir para o espaço urbano, se bem que não em cenário tão dramático. Como no ano de 143141, em que “nom morerom ser dinhas neessa çidade. E que faziam grande mingua as Jentes dessa çidade pera sseu mantimento e pera adubarem seus bens”42, sendo autorizado aos que providenciarem o aprovisionamento que não paguem a dízima nova. Podendo existir várias ordens de razões para a escassez ou dificuldade na obtenção de pescado no século XV português43, decerto que à cidade essa quebra, por mais curta ou demasiado longa, não só traz implicações como afeta inevitavelmente os preceitos do consumo44.

Em suma, a grande cidade dos séculos tardo medievos recebe “por uma tríplice via, de mar, rio e terra”45 as provisões de que carece e por essa mesma as reconduz a todo o reino e para fora dele. O pescado, sob diferentes formas de conservação, integra esse comércio de forma tão intensa quanto a necessidade dos mercados. Da Ribeira, partem tantíssimas barcas46 e navios que carregam mercadores naturais e estrangeiros47, garantindo o fornecimento piscícola a cidades como Aragão e Sevilha48 e outras mais49, num ininterrupto movimento das gentes que imprime a sua vida nas horas e nos dias da Lisboa ribeirinha50.

 

COMPRAR E VENDER NO MERCADO

A barca carrega no ventre um mar de prata. Miríades de pontos luminosos faíscam quando a claridade da lua incide sobre ela. Cheira a mar intenso. Às redes não se emaranharam os longos cabelos das algas mas a elas se entregou a enorme manta de sardinhas. Soltas sobre o chão, num último sufoco de vida, confundem-se os dorsos, rebrilhando de reflexos molhados, cordas, água e as mãos destras dos pescadores.

Restos de azul profundo salpicam a esteira da barca num jogo de espumas. Curvados, à voz do mestre, os homens irmanam-se aos remos. Adivinham-se silhuetas longínquas da cidade na neblina que se suspende em farrapos…

Logo bem cedo anima-se a zona ribeirinha51. Os dias em que o céu plúmbeo se derrama sobre as águas do Tejo contrastam com aqueles outros em que o sol se esbraseia em luz pelo cais. E sempre, em todos, o grito das gaivotas abre a manhã. Os compradores distinguem-se pelo poder da sua bolsa. Mas, a qualquer um o mesmo fito: conseguir um bom peixe fresco, seco, salgado ou o tão apreciado peixe defumado.

Porque a venda dos produtos à cidade deve ser repartida em justo preço52 pelos seus habitantes, é entendimento do poder régio que se faça cumprir a regra já conhecida, mas nem sempre acatada, de que “rregateira nem rregatam nom [possam] comprar carnes pescados nem outros nenhuus mantjmentos ataa ora da terça porque atee entom pode ho pouoo aveer ssua prouissam”53.

No açougue do pescado54, as mulheres dispõem sobre os poiais55 a sua oferta. Olhos brilhantes, escamas luzidas de frescor, peixes maiores e menores apelam aos que os procuram. Ainda que, no decorrer da manhã, as mãos da vendedeira façam uso da proibida gamela de água56 para lhes garantir, com uns salpicos, a cor e a viveza.

Atrair a atenção dos fregueses concita para cada uma a experiência herdada de gerações antigas, que se não deixará de expressar nos pregões e bastas vezes nas altercações com as companheiras de profissão57. A isso estarão bem atentos os oficiais concelhios assim como aos regulamentos a fazer cumprir: que as regateiras não se misturem com as mulheres dos pescadores, negociando o pescado apenas onde estão os marcos58 e se respeite o lavadeiro da marca da cidade59, por exemplo.

Devem garantir a aplicação dos cuidados de higiene exigíveis à venda deste tipo de produto e as posturas municipais são bem claras quanto à sua especificação. O peixe grosso – “de cuytelo” – tem lugar próprio para ser amanhado60; as vísceras e escamas resultantes do preparo e o próprio escalar dos espécimes61 não podem sujar as ruas citadinas62 . Não se permite que a prática da salga conspurque praças e outras artérias63, sobretudo com particular atenção que não se faça salga de sardinhas nem de pescado nas sacadas sobre as ruas64. O que numa cidade tão perto do rio será custoso de erradicar…

O método da salga, mais favorável à íntegra manutenção da qualidade e sabor do peixe, garante-se pelo menor tempo que medeia entre a captura e seu envolvimento pelo sal. Essa técnica ocorre normalmente no local de descarga ou em espaços próprios a tal reservados. Mas nem sempre é assim. A salmoura que escorre e enche o ar de “maaos odores” propaga-se de tal forma pela cidade que é necessário fazer impor a força da lei – “que nam seJa nehuu tam ousado que faça salga de sardinha nas praças da cidade nem da rribeira des a dicta porta do mar ataa ponte do rrego que esta as privadas e quallquer que o fezer que perca a sardinha pera o Concelho//”65.

Para que todo o processo se concretize, o sal, ingrediente primeiro, deve ser de qualidade. Cuida-se pois que essa condição se não viole. Achando-se pela prática que as vendedeiras procuram, ao engano, misturar sal “preto e maao com o branco poendo o preto em fumdo das loJeas e masseiras em que o asy vendem e o branco em çyma delle e cobrem o preto todo do branco e os que comprom cuidam que he todo aluo”66, postulam-se as coimas que em último caso podem ser agravadas de “oyto dias na cadea”.

Quanto à secagem, tempos houve em que se fazia no “quanpo que sta a cabo d oira”67. Porém, D. Afonso IV, em 1329, autoriza que a edilidade de Lisboa aí construa casas, com boas ruas e espaços de lazer junto ao mar, de modo a acabar com as “cousas que sse em el fazem […] muj danjnhas [...] aos que em ella moram e aos outros que ueem das outras partes per rrazom dos pescados que em el secam e por outras cousas que hj lançam”68. Os desperdícios, os cheiros e a própria cura feita ao sol de peixes estendidos sobre estacas69, que motivam as queixas referidas, não impedem que esta prática de conservação se continue posteriormente a realizar, em outro local. Assim o exige o seu largo consumo dentro e fora de Lisboa.

Também as mulheres que vendem o peixe seco estão debaixo da alçada do município. É-lhes vedado que o molhem indevidamente70, numa garantia de que o comprador adquire o peixe nas melhores condições, curtido pelo calor dos meses de verão, e não um produto adulterado. E, nos finais do século XV, o espaço para a transação deste tipo de alimento surge delimitado pela intervenção régia, “nenhuua Regateira que qujser vender pescado sseco ho nom possa vender em nenhuua parte da Ribeira saluo des a fonte dos açougues da carne ataa os açougues da verçaria […] E bem se podera vender o dito pescado seco dos muros adentro da cidade onde quer que qujserem”71.

Separado do peixe fresco72, evitam-se contaminações e más práticas de manuseamento. A higiene e defesa do consumidor são preocupações que o concelho continua a ter relativamente às gentes da sua cidade73.

De eleição é o peixe defumado, em particular a sardinha74. Processo mais trabalhoso, pois implica uma primeira salga e só depois a exposição ao fumo durante bastante tempo75, parece estar espalhado pelos vários cantos da urbe. Tanto assim que, já em 1394, a vereação da câmara de Lisboa tendo conhecimento que algumas pessoas faziam novamente “fumeiros de sardinhas na dicta çidade em lugares que os numca ouuera e que eram muy perigosos aa dicta çidade” decide proibir a sua construção e preconiza ainda que “os fumeiros que Ja ssom antjgamente fectos que os nam façam mayores”76.

A venda do peixe ocupa as gentes naturais da cidade, mas também homens e mulheres de fora77, que nesta atividade garantem todo ou parcialmente o seu sustento e da família. Contudo, aos olhos da época, o papel das mulheres solteiras neste contexto não lhes é favorável78. São bem assertivas quanto a isso, ainda que nem sempre respeitadas, as posturas municipais: “nam seJa nenhua molher solteira que per ssy vyva que aJa de ser rregateira de nenhuua Coussa que aJa de vender saluo se for cassada ou vyuua que viva honestamente”79.

Na Lisboa ribeirinha, ainda assim, o trabalho feminino assume uma presença assídua e determinante. As próprias mulheres dos pescadores iniciam o dia vendendo, a quem as procura, o peixe descarregado80. São outras, que a elas se misturam para obter o pescado com que nas horas permitidas81 praticam a regatia. Outras mais, "comtadeiras"82, "escamadeiras"83, asseguram as rotinas necessárias ao consumo urbano. Enquanto as mais idosas ou já impossibilitadas de dar o seu contributo para a azáfama comum deambulam pelas ruas e açougue apelando à solidariedade por migalhas do seu sustento.

Em uma zona tão movimentada quanto esta não se pode esperar que sejam apenas os humanos a estar presentes. O intenso cheiro a peixe decerto não deixa de atrair os gatos que pululam na grande urbe. Alguns talvez tenham sorte nos sobejos caídos dos cestos, mas há sempre a tentação do poial, que um movimento mais ágil pode premiar com algo de substância. A não ser que o felídeo, bem negro e retinto, suscite um atempado esconjuro e nada mais lhe reste do que bater em retirada para salvar uma das suas preciosas sete vidas…

Habituados a lidar com a fúria dos elementos, no mar quanto no rio, os pescadores nem sempre escapam à hostilidade dos homens que com eles coabitam o espaço urbano. Um exemplo dessa oposição está presente nas cortes de Santarém, em 1418, quando os representantes da cidade de Lisboa pedem ao monarca que autorize “nom conprem pescado nenhuum ataa çertos messes ou çerto tempo pera conuerter a maldade dos pescadores / ou lhes mandasemos que os vendam a pesso por preço çerto segundo fazem em euora e em santarem e em outros lugares que d outra guissa querem os dictos pescadores escarnar os homen84.

A resposta régia é lapidar: que se faça o “que sobre ello emtenderem por prol cumunal”. O interesse da cidade deve prevalecer sobre os ganhos individuais. As autoridades responsáveis certificam-se da aferição correta dos pesos e medidas a serem usados nos espaços de venda85. As múltiplas posturas que regulam as transações e os agentes económicos nelas envolvidos visam garantir que o consumo na cidade respeite o bem de todos os que aí se acolhem e querem usufruir da fartura que ela lhes promete.

 

QUANDO A CIDADE COME PEIXE…

Ao contrário da carne, alimento que potencia a energia do corpo humano e equivale a uma mesa de abundância86, o consumo de pescado para o homem medievo pode assumir uma postura de humildade87, de sacrifício88, que em casos mais extremos se aproxima de um percurso em busca da santidade89. Abster-se de ingerir carne significa "comer magro", ajustando aos dias do calendário90 as regras no que à religião diz respeito. Porém, esse tipo de prática não implica "comer peixe" unicamente, já que se permite o consumo de “substitutos” como legumes, queijo e ovos91.

Certamente que a ingestão de peixe na alimentação quotidiana mais uma vez será diferente quanto às posses económicas de cada indivíduo. Uma mesa régia, ou senhorial, tem sempre ao seu dispor boas quantidades e variedades piscícolas, independentemente dos preceitos religiosos a cumprir. Já o mesmo não ocorre com as de baixa condição social, onde aquelas, necessariamente bem mais reduzidas, devem bastar para cumprir o que a Igreja a todos preceitua92.

Não sendo igual para todos os habitantes do reino o acesso a este tipo de alimento93 também o não é para os que vivem na grande cidade. Há que articular as características próprias das espécies, a sazonalidade da sua captura, os preços estabelecidos com as leis da oferta e da procura, dentro do possível, às naturais preferências dos consumidores. E, no caso de Lisboa, alcandorada sobre um rio já quase mar, a ingestão de peixe constitui um recurso a não desperdiçar desde sempre94.

No topo da escala estão os peixes gordos, os mais apreciados, sejam de alto mar ou de águas de média profundidade, que vão guarnecer as mesas das elites95: “euos96 alcapetores arrayas caçõoes huJas97 e congros pargos”, considerados “pescado grosso de cuytello”98. Já a pescada (peixota), com largo consumo no quotidiano99, acompanha os que se nomeiam “vesugos E carapaaos e solhas”100, classificados como “peixe meudo”101.

Da pesca costeira, por vezes nas águas da foz, se obtêm espécies piscícolas que chegam à mesa citadina102. Sabores e texturas diferentes que os comensais não podem deixar de aproveitar e que lhes permite uma refeição menos dispendiosa. Quanto aos cetáceos – baleias103, golfinhos e toninhas – também podem constar da dieta alimentar urbana104, ainda que nas fontes que utilizamos eles não estejam diretamente especificados.

Abundantes referências, nestes séculos XIV e XV, merece a sardinha105. Ainda petinga, ou já adulta e gorda, o seu consumo liga-se intensamente à vida dos habitantes de Lisboa. Desde que é descarregada no cais da Ribeira, até ser levada para o açougue do peixe, vendida posteriormente por regatões e regateiras, de mil e uma maneiras é aproveitada.

Salga-se por todo o lado106. Nas lojas dos mercadores portugueses e estrangeiros, nas casas dos habitantes107, procurando garantir-lhe qualidade na posterior transformação culinária. As mulheres, que a contam e a acamam, fazem dessa tarefa, devidamente regulamentada108, mais uma expressão do seu quotidiano109.

Mas é a de fumeiro que ganha maior procura, não só entre os nacionais mas também nos de fora. O gosto específico que o fumo de lenha consegue imprimir-lhe, torna-a não apenas um peixe de vulgar consumo mas fá-la atingir o patamar de uma experiência gustativa para os apreciadores. Disso bem sabem os mercadores, que ao "tempo da ssardinha" a adquirem em grandes quantidades para o seu negócio110.

Em fresco, desde logo apetecível pelo odor característico que exala aquando do preparo para a refeição ao ser assada no braseiro: aquele espalha-se, incorporando-se nas ruas, praças e casas, de uma forma tão mais persistente do que o de qualquer outro peixe. Igualmente é estimada se frigida em azeite, como é prática corrente para o demais pescado111. Simplesmente cozida alimenta todos os ventres. E os mais desfavorecidos bem o sabem112.

Dado que o consumo da sardinha integra os quesitos da alimentação "magra" medieva, não se estranha, nos anos em que o mar propicia cardumes generosos, a sua ampla captura. De outra feita, a sua míngua ou inexistência no mercado é sobejamente sentida e determina o recurso às compras em outros centros piscatórios113. Ela própria é fundamental para o isco114 com que os homens do mar preparam a captura de outros pescados e pode constituir-se, enquanto salgada, uma parte do aprovisionamento dos mareantes que demandam a costa portuguesa115.

Se obter bom peixe, ou pelo menos com alguma qualidade, está à disposição do consumidor citadino, as técnicas da sua confeção não são praticadas de forma idêntica em todos os lares116. Genericamente, cozer peixe constitui a forma mais simples de o consumir. No entanto, nem todos os peixes nessas circunstâncias são suscetíveis de agradar ao paladar humano. Acrescentar-lhe algum acidulante no prato pode melhorar a sua ingestão117. Mas o trivial é a fritura em azeite118. Até porque assim a carne ganha uma textura enriquecida, não apenas ao paladar como também à vista. E o olhar também se compraz na refeição.

Em mesas mais desmunidas, não podendo aspirar a peixes inteiros ou a quantidades mais desejáveis, certamente que as mulheres da casa não podem variar muito a ementa no que ao pescado diz respeito. Em situações de intensa penúria, será preciso repartir o que há por todos os comensais e cada quinhão não satisfará quanto baste. Não admira que se recorra a peixes de qualidade inferior, ou partes deles, e que até as sibas119que andam à tona de água possam encontrar quem delas faça algum proveito120.

Todavia, adquirir peixe e marisco cozinhado121 é opção fácil para os habitantes da Lisboa tardo-medieval. Garante-se o acesso a “ameJeas berbeguões camgreJos que vijerem da parte daalem”122, mas também a lagosta, santola, camarão, em proporções variáveis123 e a preços inferiores ao demais pescado, o que nos permite supor que o marisco seja uma espécie de parente pobre da alimentação quotidiana124.

Quanto às ostras provindas das águas salgadas e do excelente fornecedor que é o Tejo, sabe-se que à mesa de Afonso V são consumidas. Neste caso em concreto, talvez por um particular prazer gastronómico, sujeitas a uma preparação culinária além da simples cozedura. Para outras bolsas, menos prósperas, facilmente se conseguem no mercado dado o seu baixo preço de custo125.

Moluscos, como lulas, polvos e chocos, também chegam às cozinhas e mesas da cidade. Com apetências culinárias para fazer variar o gosto do demais pescado podem eventualmente não ser, para o homem medievo, o alimento preferido. Mas asseguram a quem os consome a provisão quotidiana se outros peixes não estão presentes e, a quem os captura, mais um dia de sobrevivência. Assim as águas corram de feição.

Atraídas para o ar livre, as gentes circulam mais e mais pelos becos, vielas e praças na cidade que cresce. Aumenta a sua grandeza e formosura, de que se orgulham os naturais e muito apreciam os estrangeiros. Estancia nela cada vez mais o rei e a corte. O cais da Ribeira de Lisboa continuará tempos fora a chamar os pescadores. Alimentar a imensa urbe, trazer-lhe os mimos do rio, os frutos do mar, é a sua sina. Mesmo quando a cidade, senhoreando inimagináveis lonjuras, neles acender o desejo de dominar outras ondas, novos oceanos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FONTES

Impressas

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submissão/submission: 18/09/2017

aceitação/approval: 14/11/2017

 

 

NOTAS

*Mestre em História Medieval pela FCSH/UNL. Licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Docente de História no Ensino Secundário. Correio eletrónico: pjcpferreira@gmail.com

1 Cf. COELHO, Maria Helena da Cruz – A pesca fluvial na economia e sociedade portuguesa. Cadernos Históricos. VI (1995), p. 90. MARREIROS, Maria Rosa Ferreira – Os proventos da terra e do mar. In SERRÃO, Joel; MARQUES, A. H. de Oliveira, dir. – Nova História de Portugal: Portugal em definição de fronteiras do Condado Portucalense à crise do século XIV. Lisboa: Editorial Presença, 1996. vol. III, p. 443-451.

2MARQUES, A. H. de Oliveira – Portugal na crise dos séculos XIV e XV. In SERRÃO, Joel; MARQUES, A. H. de Oliveira, dir. – Nova História de Portugal. Lisboa: Editorial Presença, 1986. vol. IV, p. 109-110. COELHO, Maria Helena da Cruz – Portugal, um reino “Plantador de Naus”. Revista Portuguesa de História. T. XLIII (2012), p. 80-81.

3MARQUES, João Martins da Silva, ed. – Descobrimentos portugueses: documentos para a sua história. Lisboa: Instituto para a Alta Cultura, 1944. Suplemento ao vol. 1, doc. 42, p. 53 (adiante referido como DP).

4MORENO, Humberto Baquero – A acção dos almocreves no desenvolvimento das comunicações inter-regionais portuguesas nos fins da Idade Média. In COLÓQUIO PAPEL DAS ÁREAS REGIONAIS NA FORMAÇÃO HISTÓRICA DE PORTUGAL, Lisboa, 1975 – Actas do colóquio. Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1975. p. 185-239.

5“De todo pescado E sardinhas que vierem pella foz posto que ho nom vendam em lixbõa mais que ho leuem pera santarem ou pera outros logares ham de pagar dizima” – DP, Suplemento ao vol. 1, doc. 42, p. 57.

6TAVARES, Maria José Ferro – As pescas: uma riqueza em extinção?. In Olhares sobre a História: estudos oferecidos a Iria Gonçalves. Lisboa: Caleidoscópio, 2009. p. 639-651.

7Livro das posturas antigas. Lisboa: Câmara Municipal, 1974. p. 7 (doravante referido LPA).

8Nomeadamente das barcas de carreto, as quais descarregadas sejam logo “tiradas e leuadas e leixem o dicto lugar pera os pescadores assy da sardinha como do pescado pera se poer no dicto loguo” – Idem, p. 7-8.

9Conforme a Ordenaçom que se não lance esterco nem azeuel onde descarregam as barcas o pescado Ibidem, p. 28.

10Como bem assinala GONÇALVES, Iria – Posturas municipais e vida urbana na baixa Idade Média: o exemplo de Lisboa. In GONÇALVES, Iria – Um olhar sobre a cidade medieval. Cascais: Patrimonia, 1996. p. 83.

11Cf. COELHO, Maria Helena da Cruz – A pesca fluvial…, p. 81-102.

12Livro dos pregos. Lisboa: Câmara Municipal/Arquivo Municipal, 2016. doc. 98, p. 211 (passará a ser referido LP).

13PEREIRA, Maria Teresa Lopes – Alcácer do Sal na Idade Média. Lisboa: Edições Colibri, 2007. p. 140-142.

14Cf. o que diz respeito à circulação dos produtos por via fluvial, marítima e terrestre sintetizada por MARQUES, A. H. de Oliveira – Portugal na crise…, p. 123-180.

15As tributações régias sobre as atividades portuárias da cidade e naturalmente sobre o pescado foram do interesse dos monarcas já nos finais do século XII – Cf. FARELO, Mário – Tributos sobre o espaço e sobre os homens em Lisboa ao tempo das Inquirições de D. Afonso II. In ANDRADE, Amélia Aguiar; FONTES, João Luís Inglês, ed. – Inquirir na Idade Média: espaços, protagonistas e poderes: séculos XII-XIV: tributo a Luís Krus. Lisboa: IEM, 2015. p. 225-245; Direitos régios que no século XVI serão objeto de doação a senhores laicos ou eclesiásticos exatamente pela importância económica de que se revestem – Cf. SILVA, Francisco Ribeiro da – A pesca e os pescadores na rede dos forais manuelinos. In SILVA, Francisco Ribeiro da – Quinhentos/Oitocentos (ensaios de História). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2008. p. 211-244.

16Relembre-se como a “obra da pescaria” aduzia “muitos benefícios para a fazenda pública na medida em que se cobravam os direitos estabelecidos”, o que favorecia a intensa atividade piscatória e mercantil como elucida no seu estudo MORENO, Humberto Carlos Baquero – A navegação e a actividade mercantil no Entre-Douro e Minho. Revista da Faculdade de Letras [Em linha]. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Vol. 9 (1992), p. 9-24. [Consult. em 02/07/2017]. Disponível na Internet: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2179.pdf Sobre arrecadação de rendas, direitos e serviços que incidem sobre as pescas fluvial e marítima Cf. COELHO, Maria Helena da Cruz – A pesca fluvial…, p. 81-89.

17Cf. TORRES, Ruy d'Abreu – Dízima. In SERRÃO, Joel, dir. – Dicionário de História de Portugal. Porto: Livraria Figueirinhas, 1981. vol. II, p. 326-327.

18“[...] Os pescadores moradores na cidade de lixboa de todo o pescado e serdinhas que lhe deos der ham de pagar a el Rej a dizima / E por a uenda que fazem ham d auer de doze huum que he chamada rredizima E esto que ham de doze huum he pera mantimento d albergarias e spitaes E ora depois que a portagem foy rrendada dezimam o pescado. E tomam pera El Rey a dizima em pescado E mais as serdinhas E outro pescado que vendem ham sua Redizzima//” – LP, doc. 98, p. 213.

19“[...] he de Costume que os dictos pescadores quando veem com suas barcas em que tragem sseu pescado Os homens d el Rey da dicta portagem scripuam pella guisa que sse uendija e dauam Recado ao scripuam da pescaria da dicta portagem que o posessem em rrecadaçom [...]"– Idem, p. 214.

20Cf. TORRES, Ruy d'Abreu – Almotacé. In SERRÃO, Joel, dir. – Dicionário de História de Portugal. Porto: Livraria Figueirinhas, 1981. vol. I, p. 121.

21Sobre alguns rendimentos da alcaidaria obtidos por meios menos legais. Cf. MARTINS, Miguel Gomes – A alcaidaria e os alcaides de Lisboa durante a Idade Média: 1143-1433. Lisboa: Câmara Municipal/Arquivo Municipal, 2006. p. 67.

22LP, doc. 278, p. 370-371.

23Em 1381 – Idem, doc. 98, p. 214.

24Ibidem, p. 215; No entanto, também se acautela que se alguém enviar aos moradores de Lisboa “em amor e em graça posto que seiam cousas em que aia dizima nom paguem saluo se for pescado seco ou sardinhas ou as cousas que asi enujassem viessem per a foz nom escusariam de pagar direto” – Ibidem, p. 205.

25Em 1498 se reforçava o direito de vender o peixe fresco prioritariamente “ho pescador que ho pesca/o quall ho poderá vender per sy ou per sua molher ou per outra qualquer pessoa de sua cassa” – LPA, p. 220.

26Cf. MARREIROS, Maria Rosa Ferreira – Os proventos da terra…, p. 450.

27“porquanto o pescado da rrede sse acontece que he muyto podre e maao e o vendem por pescado da linha que he mjlhor” – LPA, p. 14.

28Os pescadores moradores em Lisboa estavam isentos de dízima sobre a cortiça que usassem nas suas barcas – DP, suplemento ao vol. 1, doc. 42, p. 59.

29Cf. os tipos de redes apresentados por MARQUES, A. H. de Oliveira – Portugal na crise…, p. 111; Sobre artes de redes usadas especificamente na pesca fluvial vejam-se os exemplos aduzidos por COELHO, Maria Helena da Cruz – A pesca fluvial…, p. 92; CONDE, Manuel Sílvio Alves – Uma paisagem humanizada: o médio Tejo nos finais da Idade Média. Cascais: Patrimonia, 2000. vol. I, p. 270-272.

30Em 1415, esse espaço localizava-se “na ferraria escomtra ho muro aalem dos sinaaes que lhes Ja ssom postos” – LPA, p. 14.

31LP, doc. 261, p. 360-361.

32LPA, p. 219.

33Cf. o que a este propósito já deixámos dito em CATARINO, Maria Manuela – Na margem direita do baixo Tejo: paisagem rural e recursos alimentares. Cascais: Patrimonia, 2000. p. 125-130.

34 Relembre-se a dízima cobrada sobre os sáveis do Tejo, pescados no Alqueidão, que devia ser paga na portagem de Lisboa – LP, doc. 261, p. 373-374.

35Algo que ocorre no reino português para a maioria dos espaços fluviais e a partir do século XIV, no regime de “parcerias ou sociedades de estrangeiros em regime de monopólio” no que diz respeito à pesca marítima, como exemplifica MARQUES, A. H. de Oliveira – Portugal na crise…, p. 111-112.

36LP, doc. 330, p. 474.

37CATARINO, Manuela – A fome e a abundância: Lisboa cercada na prosa de Fernão Lopes. In CONGRESSO A NOVA LISBOA MEDIEVAL, 1, Lisboa, 2002 – Actas. Lisboa: Edições Colibri, 2005. p.112.

38O bloqueio naval do Tejo pelo impedimento da chegada de géneros alimentícios à cidade constituía uma das manobras de guerra a ter em conta pelos contendores – Cf. MARTINS, Miguel Gomes – Lisboa e a guerra: 1367-1411. Lisboa: Livros Horizonte, 2001. p. 110-111.

39Como pescadas, congros, polvos, sardinhas de fumo e de pilha. CATARINO, Manuela – A fome…, p. 120.

40Como judiciosamente salienta LOPES, Fernão – Cronica Del Rei Dom Joham I de boa memoria e dos Reis de Portugal o decimo, parte primeira. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1973. p. 119.

41Tal ocorre de novo em 1437 – Cf. MARQUES, A. H. de Oliveira – Hansa e Portugal na Idade Média. 2ª edição. Lisboa: Editorial Presença, 1993. p. 75.

42LP, doc. 301, p. 396.

43Problemas como o assoreamento de algumas zonas do litoral atlântico, alterações dos ecossistemas marítimos e a própria redefinição da geoestratégia marítima do reino, como assinala ANDRADE, Amélia Aguiar – A estratégia régia em relação aos portos marítimos no Portugal medieval: o caso da fachada atlântica. In ENCUENTROS INTERNACIONALES DEL MEDIEVO, Nájera, 2005 – Ciudades y villas portuarias del atlántico en la Edad Media: actas. Logroño: Instituto de Estudios Riojanos, 2005. p. 57-81.

44A não ingestão de carne nos dias prescritos pela Igreja implica um aumento do consumo de peixe, como adiante se dará nota.

45Cf. MARQUES, A. H. de Oliveira – Portugal na crise…, p. 150.

46Sobre tipologias de embarcações para a pesca fluvial e marítima Cf. MARREIROS, Maria Rosa Ferreira – Os proventos da terra…, p. 449.

47É por demais conhecida a referência que Fernão Lopes faz às “mujtas e desvairadas gentes” que nela desenvolviam as atividades de comércio internacional, já no reinado de D. Fernando – citado por GONÇALVES, Iria – Na ribeira de Lisboa, em finais da Idade Média. In Um olhar sobre a cidade medieval. Cascais: Patrimonia, 1996. p. 61-62.

48“quando no tempo da ssardinha compram barcas de serdinhas” – LP, doc. 98, p. 212.

49Levavam-no para Itália, Inglaterra e Flandres, entre outras regiões – Cf. MARQUES, A. H. de Oliveira – Portugal na crise…, p. 169; Sobre o pescado português que chega a Madrid – Cf. PUÑAL FERNÁNDEZ, Tomás – El mercado de los alimentos en Madrid en la Edad Media. ENCUENTROS INTERNACIONALES DEL MEDIEVO, Nájera, 2008 – Alimentar la ciudad en la Edad Media: actas. Logroño: Instituto de Estudios Riojanos, 2009. p. 207.

50Cf. GONÇALVES, Iria – Um dia na cidade medieval. Media Aetas. Cadernos de Estudos Medievais. II Série Vol. 3 (2008/2009), p. 9-32.

51Veja-se o belíssimo retrato da Ribeira medieva composto por GONÇALVES, Iria – Na Ribeira de Lisboa…, p. 61-75.

52Cf. GONÇALVES, Iria – Defesa do consumidor na cidade medieval: os produtos alimentares: Lisboa séculos XIV-XV. In GONÇALVES, Iria – Um olhar sobre a cidade medieval. Cascais: Patrimonia, 1996. p. 97-116.

53Às nove horas da manhã, quando tocam os sinos da Sé – LPA, p. 54-55.

54“na rribeira ante o açougue do pescado .s. des a portajem ataa em direito da fomte noua da dicta rribeira” de acordo com uma postura de 1434 – LPA, p. 21.

55Semelhantemente ao que era preceituado para as marisqueiras – “que nom vendam fora dos poiaes das verçeiras” – Idem, p. 10.

56 Ibidem, p. 118.

57Conhece-se, de um autor anónimo do séc. XVI, o saboroso diálogo entre duas mulheres Isabel Botelha e Catarina Tisnada que se desmascaram reciprocamente enquanto más vendedoras, intrujando a mais não poder, quem compra o pescado e pão que vendem – Auto das Padeyras, Chamado da Fome ou do Centeo & Milho, em que entram as figuras seguintes… [Em linha]. Lisboa: [impresso] por Antonio Alveres, [1636?]. [Consult. 12/06/2017]. Disponível na Internet: http://purl.pt/11794, p. 4-7.

58Para tal decidem “poer marquos de pedra na calçada honde se vende o ssall” – LPA, p. 151.

59 “e os dictos cestos lhe serom dados per os rrendeiros da dicta çidade que pelos tempos forem sem leuando dello preço alguu” – Idem, p. 34.

60“E tenham os talhos e messas na rribeira fora do muro ao longo do muro e hi talhem os peixes grossos de cujtello como susodicto he e tenham hy cestos em que lancem todas as tripas e escamas e çuJidade que sayr dos dictos peixes E ho vãao lançar na rribeira em lugar que nam seJa coymeiro" – Ibidem, p. 9-10.

61 Ibidem, p. 29-30.

62O próprio pescado de “coyro” não pode ser aberto e manuseado senão em locais adequados – Ibidem, p. 28.

63Em 1462, uma postura determina, apesar da proibição existente, que cada um “posa fazer salgua E escala em sua loja […] contamto que a salmoura nom corra per a rrua ou praça nem acostada a muro da çidade majs que seJa lançada per canos ou em sumjdoyros ou leuada aa rribeira” – Ibidem, p. 30.

64Ibidem, p. 130.

65 LPA, p. 120.

66 Idem, p. 122.

67Junto à porta da Oura, “onde havia de ser construído o Arsenal da Marinha” – Cf. GONÇALVES, Iria – Na Ribeira de Lisboa…, p. 70, nota 63.

68LP, doc. 43, p. 95.

69 CUNHA, Rosalina B. da Silva – Subsídios para a história da conservação do peixe em Portugal do século XII ao XVI. Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra. Coimbra: Universidade de Coimbra. Vol. XXIX (1972), p. 35. Separata.

70LPA, p. 118.

71 Posturas datadas de janeiro de 1498 – LPA, p. 221.

72Definido o espaço para a venda do peixe seco, ordena-se claramente que “E que nenhuu pescado fresco se vemda demtro do dito limjte” – Ibidem.

73Cf. GONÇALVES, Iria – Posturas municipais…, p. 82-84.

74“E de costume que sse os dictos mercadores que comprarem as dictas sardínhas frescas e defumarem […] E este defumar que contam aas sardinhas que defumarem he porque ualem mujto mais as sardinhas de fumo que as de pilha” – DP, suplemento ao vol. 1, doc. 42, p. 57.

75CUNHA, Rosalina B. da Silva – Subsídios para a história…, p. 35.

76 LPA, p. 123-124.

77 Idem, p. 102.

78Cf. GONÇALVES, Iria – Regateiras, padeiras e outras mais na Lisboa medieval. In KRUS, Luís; OLIVEIRA, Luís Filipe; FONTES, João Luís, coord. – Lisboa medieval: os rostos da cidade. Lisboa: Livros Horizonte, 2007. p. 11-12.

79 Assim se postula em 1434 – LPA, p. 54.

80 LP, p. 213.

81 Cf. nota 53 supra.

82 "Comtadeiras" de sardinhas, não devendo ser moças solteiras, como se refere em 1453 – LPA, p. 89.

83Também existiriam na Ribeira de Lisboa mulheres que escamavam o peixe, à semelhança daquelas que cuidaram do que foi comprado para a mesa de D. Afonso V em 1474 – SANTOS, Maria José Azevedo – O peixe e a fruta na alimentação da corte de D. Afonso V: breves notas. In A alimentação em Portugal na Idade Média: fontes-cultura-sociedade. Coimbra: [s.n.], 1997. p. 1-33.

84 LP, doc. 284, p. 377-378.

85Por ordenação de 1436, apenas se podem usar “pessos de ferro ou darame marcados da marca nova que ora fezerom” – LPA, p. 10.

86Cf. por exemplo, GRIECO, Allen J. – Alimentação e classes sociais no fim da Idade Média e no Renascimento. In FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo, dir. – História da alimentação 2: da Idade Média aos tempos actuais. Lisboa: Terramar, 2001. p. 83-93; outras referências bibliográficas sobre o consumo da carne Cf. CATARINO, Maria Manuela – Na margem direita…, p. 109-112.

87 “A captura de peixe pelas artes da pesca era uma actividade popular, própria dos humildes, no mundo antigo. Será entre estes homens simples, Pedro, André, Tiago e João, que Jesus inicia o seu chamamento, na Galileia, dizendo-lhes que deles fará «pescadores de homens»” – DIAS, Paula Barata – O peixe para os judeus e para os cristãos: leituras de um símbolo à luz da cultura greco-romana. Humanitas [Em linha]. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. V 62 N 62 (2010), p. 161. [Consult. 02/05/2017]. Disponível na Internet: https://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/humanitas62/09_o_peixe_para_os_judeus.pdf

88Cf. MONTANARI, Massimo – L'uomo di fronte al mondo animale nell'alto Medioevo. In Settimane di Studi del Centro Italiano di Studi sull'Alto Medioevo 31. Spoleto: CISAM, 1985. t. I, p. 651-652.

89 “Peixe, comida de monges, alimento de paz, quase sacralizado. […] O peixe, na sua indissolúvel ligação à água, é frio, magro, branco. Algo triste, é calmante e puro. Ideal para quem se penitencia numa ascese até Cristo” – COELHO, Maria Helena da Cruz – A pesca fluvial…, p. 100.

90Cerca de um terço do ano (110-120 dias) segundo MANE, Perrine – Images médiévales de la pêche en eau douce. Journal des Savants [Em linha]. V 3 N1 (1991), p. 227. [Consult. 30/04/2017]. Disponível na Internet: http://www.persee.fr/doc/jds_0021-8103_1991_num_3_1_1548; durante 140 a 150 dias propõe STOUFF, Louis – La table provençale: boire et manger en provence à la fin du Moyen Age. Avignon: Éditions A. Barthélemy, 1996. p. 144; Cerca de 146 dias, apoiando-se em Raymond Delatouche, indica COELHO, Maria Helena da Cruz – A pesca fluvial…, p. 97-98.

91CATARINO, Maria Manuela – Na margem direita…, p. 125.

92Cf. GONÇALVES, Iria – Um dia na cidade…, p. 17. COELHO, Maria Helena da Cruz – A pesca fluvial…, p. 98-99.

93V. o que antes dissemos sobre o abastecimento.

94Relembrem-se alguns títulos dos documentos, concedidos pelos reis à cidade de Lisboa, em que o pescado é referido – Do reinado de Afonso Henriques: “da dizima dos pescadores” e “do pescado que uem de fora” – LP, p. 23; do reinado de Afonso II: “Carta sobre a praça do pescado fresco / Carta sobre a praça do pescado seco” e “Carta per que nom sequem pescado aa porta d ooyra” – Idem, p. 25 e p. 26 respetivamente.

95Na tragicomédia Cortes de Júpiter, que Gil Vicente apresenta pela celebração do casamento da filha de D. Manuel com o duque de Sabóia, figuram peixes de variadas espécies, associados a pessoas da corte, como assinala TAVARES, Maria José Ferro – As pescas…, p. 639.

96Também designados “chernos” – MATTOSO, José; KRUS, Luís; ANDRADE, Amélia Aguiar – O castelo e a feira: a terra de Santa Maria nos séculos XI a XIII. Lisboa: Estampa, 1989. p. 89.

97Chamado “uge, peixe-rato” – Cf. GOMES, Sandra Rute Fonseca – Territórios medievais do pescado do reino de Portugal [Em linha]. Coimbra: [s.n.], 2011. p. 39 e nota 212. Dissertação de Mestrado em Alimentação – Fontes, Cultura e Sociedade, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. [Consult. 30/04/2017]. Disponível na Internet: https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/18460/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Sandra%20Gomes.pdf

98LPA, p. 9.

99Na variedade fresca, mas também seca ou salgada, a encontramos a circular no comércio internacional, principalmente em tempo de Quaresma – ESTEVAN, María Luz Rodrigo – Fresco, frescal, salado, seco, remojado: abasto y mercado de pescado en Aragón: siglos XII-XV. In ENCUENTROS INTERNACIONALES DEL MEDIEVO, Nájera, 2008 – Alimentar la ciudad en la Edad Media: actas. Logroño: Gobierno de la Rioja – Instituto de Estudios Riojanos, 2009. p. 561-562.

100LPA, p. 34.

101 Idem, p. 9.

102Cf. os exemplos aduzidos por MARQUES, A. H. de Oliveira – Portugal na crise…, p. 110.

103 pesca da baleia está atestada, para antes do século XIII, entre a costa da Estremadura e o litoral algarvio sendo usados a sua carne e o óleo – Cf. MARREIROS, Maria Rosa Ferreira – Os proventos da terra…, p. 449; Deve ser pago na portagem, o direito do “pescado E balea e sardinhas E arenques” quer venham do reino ou de fora dele – DP, suplemento ao vol. 1, doc. 42, p. 53.

104“da ballea que vier do alguarue E da aTouguja per mar ou per terra também vezinhos come os que nom som vezinhos paguam dizima posto que a tragam pera seu comer nom escusam. E outro sy da ballea que carregarem pera en frandes E outros logares paguam /dizima” – Idem, p. 58.

105E não apenas no reino português – Cf. FERNÁNDEZ, María Álvarez – Abastecimiento y consumo de pescado en Oviedo a finales de la Edad Media. In La pesca en la Edad Media [Em linha]. Madrid: Sociedad Española de Estudios Medievales-Editum-Xunta de Galicia, 2009. p. 81-82. [Consult. 20/04/2017]. Disponível na Internet: http://www.academia.edu/5106746/Abastecimiento_y_consumo_de_pescado_en_Oviedo_a_finales_de_la_Edad_Media

106V. nota 63 supra.

107Relembre-se a aplicação da coima de "çem liuras" para quem ao fazer salga de sardinhas, nas sacadas sobre as ruas, permita que se sujem com salmoira as “rroupas que os homens e molheres trazem vestidas” – LPA, p. 120.

108"Ordenaçom das camas da sardinha nas praças da çidade E na rribeira" – Idem, p. 120.

109Cf. COELHO, Maria Helena da Cruz – A mulher e o trabalho nas cidades medievais portuguesas. In Homens, espaços e poderes: séculos XI-XVI. I-notas do viver social. Lisboa: Livros Horizonte, 1990. p. 41-42.

110Fazem-no tanto os mercadores do reino como os catelãaesLP, p. 102.

111Cf. GONÇALVES, Iria – A alimentação. In MATTOSO, José, dir. – História da vida privada em Portugal: a Idade Média. Lisboa: Círculo de Leitores, 2010. p. 245.

112De pescado e sardinhas se alimentavam as “albergarias e spitaes”. Fornecidos pelos pescadores moradores na cidade de Lisboa através do pagamento da redizima – LP, p. 215.

113Cf. nota 41 supra.

114O que acontece ainda nos dias que correm. Dela se alimentam várias espécies de golfinhos (toninha), peixes como a pescada e o atum e até aves marinhas, como a gaivota – PORTUGAL. Instituto Português do Mar e da Atmosfera - Sardina pilchardus [Em linha]. Lisboa: IPMA, 2017.[Consult. 03/07/2017]. Disponível na Internet: http://www.ipma.pt/pt/pescas/recursos/sardinha/index.jsp.

115Certamente faria parte do pescado seco que traziam os navios, que acostavam no Restelo, para seu mantimento, ou que o compravam antes da partida – DP, suplemento ao vol. 1, doc. 42, p. 55-56; “Uma nau com 62 tripulantes levava 50 dúzias de peixe salgado e 60 quilos de peixe seco; de sardinha para isco carregava 30 quilos e em viagem de três meses o mantimento de 70 pessoas, em peixe, era de 599 espécies” – Cf. CUNHA, Rosalina B. da Silva – Subsídios para a história…, p. 34.

116Obviamente que nas cozinhas de maior prestígio o pescado poderia estar sujeito a técnicas elaboradas. Por exemplo, rechear-se os peixes, de melhor qualidade, “eventualmente, voltados ao invés, com a pele para o interior, a fim de melhor se aproveitar a sua camada de gordura subcutânea” – Cf. GONÇALVES, Iria – A alimentação…, p. 249; Também se podiam fazer empadas recheadas de peixe, como salmonetes – Cf. SANTOS, Maria José Azevedo – O peixe e a fruta…, p. 7-8.

117Cf. GONÇALVES, Iria – A alimentação…, p. 246.

118O próprio Afonso V, em 1474, não desdenha de assim se alimentar. O peixe destinado à sua mesa é frito, envolto em “farinha do Alentejo” – Cf. SANTOS, Maria José Azevedo – O peixe e a fruta…, p. 7.

119Concha interna dos moluscos cefalópodes (choco) – Grande Dicionário da Língua Portuguesa. MACHADO, José Pedro, coord. Alfragide: Ediclube, 1990. vol. XI, p. 151.

120“das ssibas escabeçadas que apanhauam que andam per çima da agua nom pagauam na portagem direto dellas a el Rey E sse nom sam escabeçadas pagam portagem honde quer que as tomem” – LP, p. 213; “Mas se fossem pescadas vivas pagariam direitos como se fossem outro pescado” – SILVA, Francisco Ribeiro da – A pesca… p. 235.

121 Em 1498 se determina que “quem quyser ho pode vender” – LPA, p. 220.

122 Idem, p. 220.

123Consoante o tipo de apanha – para consumo próprio ou venda – Cf. MARREIROS, Maria Rosa Ferreira – Os proventos da terra…, p. 451.

124Cf. SILVA, Francisco Ribeiro da – A pesca…, p. 234.

125Cf. SANTOS, Maria José Azevedo – O peixe e a fruta…, p. 5-6.

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