SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.ser2 número7As dinâmicas decorativas de Cyrillo Volkmar Machado (1748-1823) no Palácio de Jacinto Fernandes Bandeira“O Pavilhão do Mar”: a Nau Portugal da Exposição do Mundo Português (1940) ou a arte da talha ao serviço da cenografia política índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Cadernos do Arquivo Municipal

versão On-line ISSN 2183-2176

Cadernos do Arquivo Municipal vol.ser2 no.7 Lisboa jun. 2017

 

ARTIGO

A Arte Nova em Lisboa

Art Nouveau in Lisbon

 

António Francisco Arruda de Melo Cota Fevereiro*

 

RESUMO

A Arte Nova foi um movimento estilístico internacional que ocorreu em vários países, entre eles, Portugal. Na cidade de Lisboa os primeiros registos deste movimento surgiram no domínio da ilustração. Influenciou gradualmente outros modos de expressão artística, em particular o azulejo, o vitral, a pintura a fresco e a pintura sobre vidro. Neste artigo debruçar-nos-emos sobre as influências estrangeiras na criação destas obras em Lisboa, suas especificidades e originalidade no panorama da Arte Nova.

 

PALAVRAS-CHAVE

Arte Nova / Arquitetura / Azulejo / Pintura a fresco / Vitral

 

ABSTRACT

Art Nouveau was an international stylistic movement developed in several countries, including Portugal. The first records that appeared in the city of Lisbon were several illustrations and it gradually influenced other artistic creations, partculary the tiles, fresco painting, stained glass and painting on glass. In this article we will focus on these works made in Lisbon, its foreign artistic influences, its characteristics and originality in the Art Nouveau panorama.

 

KEYWORDS

Art Nouveau / Architecture / Tile / Fresco painting / Stained glass

 

 

INTRODUÇÃO

No início do século XX, a Arte Nova influenciou a obra de vários artistas lisboetas, o que levou à criação de obras em azulejo, em vitral, em pintura e em vidro, especificamente encomendadas. As obras aqui reunidas foram escolhidas, entre outras, devido à sua qualidade e originalidade, as quais valorizam e caracterizam a Arte Nova portuguesa.

 

A ARTE NOVA

No ano de 1895, foi inaugurada em Paris, a Maison de l'Art Nouveau pelo alemão Siegfried Bing, cujo nome comercial definiu uma corrente estilística em oposição ao academismo nos objetos que comercializou. A Arte Nova privilegiou as formas orgânicas, de plantas e de flores, e influenciou as artes decorativas, as artes gráficas e os objetos de uso quotidiano1, entre outras manifestações artísticas. O gosto pelas linhas sinuosas, gradualmente, influenciou diversos países como a Bélgica, a Itália, o Reino Unido e a Alemanha, entre outros. Neste último país o estilo é denominado por Jugendstil, onde se exploraram, além das linhas curvilíneas, as figuras geométricas. O mesmo gosto pela geometria foi desenvolvido na Áustria onde o movimento é denominado Secession.

No campo da arquitetura, entre outras características, os projetistas franceses exploraram o uso de tijolos policromos em frisos, em cercaduras e noutros motivos, assim como os revestimentos cerâmicos2, como por exemplo duas habitações projetadas pelo arquiteto Hector Guimard. Nelas foram integradas peças em cerâmica especificamente desenhadas por ele e realizadas na manufatura Émile Müller. A primeira foi construída para o fabricante de luvas e espartilhos Camille Roszé, em 1891, na rue Boileau. O desenho arquitetónico ao estilo italianizante foi complementado pelo uso de tijolos polícromos, elementos construtivos em pedra e superfícies em cerâmica. A segunda pertenceu ao negociante Louis Jassedé, em 1893, na rue Chardon-Lagache. O arquiteto explorou a assimetria e o uso dos mesmos materiais referidos3. Este último projeto é considerado uma das suas primeiras obras ao gosto da Arte Nova.

A Arte Nova foi-se assim generalizando, tendo sido preponderante a proliferação dos catálogos de diversas manufaturas de cerâmica, nomeadamente das francesas Gilardoni fils & Cie e Hautin-Boulenger & Co em Choisy le Roi.

O uso da azulejaria e peças em cerâmica também influenciou o trabalho do arquiteto austríaco Otto Koloman Wagner, num dos seus mais famosos projetos a Majolikahaus4, construída de 1898 a 1899 em Viena. Também o arquiteto austríaco Joseph Maria Ölbrich usou o azulejo em faixa na sua moradia, construída em 1901 na cidade alemã de Darmstadt, unificando assim as fachadas5. Todavia, o uso das superfícies em cerâmica teve maior expressividade no trabalho dos arquitetos belgas, como, por exemplo, no de Ernest Delune em Bruxelas. No trabalho que desenvolveu há pelo menos dois projetos onde a arquitetura foi realçada pela cerâmica6. São duas habitações construídas na boulevard Général Jacques, em 1895, ao gosto oitocentista e com peças em cerâmica da manufatura belga Vermeren-Coché de Arte Nova. Uma tem a fachada totalmente revestida e a outra, uma faixa na cimalha7. O arquiteto Gustave Strauven, em 1906, também recorreu a revestimentos cerâmicos para um edifício de habitação e comércio na avenue Louis Bertrand8. Além destes dois edifícios há pelo menos mais dezasseis onde foram empregues superfícies azulejares9. Neste período, os arquitetos belgas tiveram uma predileção especial pela técnica decorativa denominada sgraffito (esgrafito). Este recurso foi de novo utilizado no período Arte Nova, numa grande percentagem dos edifícios construídos, então, em Bruxelas e noutros países europeus. Estes foram decorados com painéis, com faixas e com outros enquadramentos onde empregaram esta técnica.

O mesmo recurso foi também utilizado em alguns edifícios na cidade de Roma, como num edifício para habitação Arte Nova na Via dei Gracchi. A cimalha, de grande dimensão, foi decorada com estilizações de flores em esgrafito10.

São todas estas influências que deverão ter sido fonte de inspiração para o trabalho dos artistas portugueses no período Arte Nova, como iremos abordar.

 

A EVOLUÇÃO DO AZULEJO DO SÉCULO XIX PARA O INÍCIO DO SÉCULO XX EM LISBOA

Na segunda metade do século XIX, os azulejos foram muitas vezes utilizados para cobrir fachadas ou um determinado piso. Desta forma, as superfícies azulejares adaptavam-se às formas arquitetónicas. Dois dos principais pintores deste período foram Luís António Ferreira da Silva, mais conhecido por Luiz das Taboletas (1806-1873)11, e José Maria Pereira Júnior, ou Pereira Cão (1841-1921), que reavivaram esta arte.

Outro modo de utilizar o azulejo foi o revestimento total de fachadas com motivos padronizados, como nos projetos da autoria do arquiteto António José Dias da Silva, datados de 1888 a 1889, para a senhora Dona Feliciana Maria da Luz. Estes projetos foram para a habitação da proprietária, ladeada por dois edifícios ditos de rendimento, num lote de gaveto em Lisboa12. Efetivamente, temos vindo a verificar que na grande maioria dos desenhos técnicos consultados, elaborados por vários projetistas, não encontramos quaisquer referências a superfícies azulejares nesta época13. Uma das primeiras referências à utilização do azulejo, como parte integrante no projeto de arquitetura, é a da Casa Conde de Castro Guimarães no pátio do Torel, da autoria do arquiteto José Luís Monteiro, em 1885 14. Os desenhos técnicos apresentam uma malha, a sugerir uma faixa azulejar, como remate superior nas fachadas do torreão15.

 

 

Outra abordagem ao uso da azulejaria em painéis ou em faixas, foi utilizada nas habitações de veraneio. Na praia da Granja, a Villa Amelia, que pertenceu à família Burnay, tinha pelo menos dois painéis nas fachadas16. Esta abordagem em painel foi também explorada noutra estância balnear, nomeadamente nos Estoris. No Monte Estoril foi construído o Chalet Montrose na avenida de Sabóia, por volta de 1890, assim como outros pela Companhia Mont'Estoril. Desconhecendo-se o projetista, foi logo adquirido pela família Reynolds. No ano de 1892 hospedou a rainha Dona Maria Pia17 que, no ano seguinte, adquiriu um chalet que viria a ser o Paço do Estoril18. Nas fachadas ao nível do primeiro andar havia faixas azulejares, emolduradas por baixo da cimalha, já desaparecidas.

Outro edifício relevante com azulejaria é o Chalet Grinalda, em São João do Estoril, que em 1895 pertencia a John Watts Garland. A composição volumétrica é hierarquizada pelo enquadramento exterior. O volume da torre e determinados vãos possuem faixas em azulejo. Estas estão emolduradas por frisos em reboco19.

Na mesma época, residia em Paris o arquiteto Miguel Ventura Terra que regressou a Portugal em meados da década de noventa. Dos primeiros projetos realizados em Lisboa, em 1896, destacamos duas moradias construídas na freguesia da Lapa. A primeira pertenceu ao conde de Nova Goa e a segunda ao engenheiro Alfredo Bensaúde. Nestes projetos, o arquiteto explora o uso do tijolo em frisos, dispostos em ângulo, conjugados com a cantaria dos vãos, emoldurando as faixas azulejares. Estas integram-se nas formas arquitetónicas tendo sido traçadas por Ventura Terra nos desenhos técnicos20. O uso do tijolo e do azulejo tem semelhanças com o trabalho de outros projetistas franceses. Importa aqui realçar a interpretação que Ventura Terra fez dessa conjugação, adaptando-a ao gosto português. Este arquiteto compreendeu a vantagem do azulejo como recurso decorativo, como material resistente às intempéries, cuja pintura não se deteriora facilmente e tem boa durabilidade. Esta abordagem foi posteriormente seguida por outros projetistas como veremos.

 

3. A INTERPRETAÇÃO DA ARTE NOVA EM LISBOA, OS ILUSTRADORES, A CRIAÇÃO DE AZULEJARIA E OS PROJETISTAS

Um dos primeiros registos de Arte Nova realizados em Lisboa é o grafismo do semanário satírico O Berro, em 1896, da autoria do ilustrador e caricaturista Celso Hermínio de Freitas Carneiro21. Em 1899 colaborou também nas publicações Brasil-Portugal (quinzenal) e O Branco e Negro: semanario ilustrado22.

Outras publicações lisboetas com grafismo de excelência são: o Boletim Photographico (1900-1912); o Album Açoriano (1903-1909) com ilustrações da autoria de Joaquim Guilherme Santos Silva, conhecido pelo pseudónimo Alonso; as capas da renovada publicação Serões em 1904 23; a Illustração Portugueza em 1906, onde também trabalhou Alonso, assim como os ilustradores Cândido e MCespis.

Os primeiros registos de Arte Nova em azulejaria, ainda que ténues, foram realizados para a habitação e as cocheiras/cavalariças do conde de Sabrosa, de 1899 a 1901, na praça Marquês de Pombal. O autor do projeto foi o arquiteto Miguel Ventura Terra. A azulejaria foi especificamente executada, enquadrada por elementos arquitetónicos, tendo sido pintadas estilizações de flores-de-lis e folhagens.

O arquiteto Ventura Terra utilizará o mesmo recurso à azulejaria no edifício para habitação de Manuel Gomes Barroso24, construído na avenida da Liberdade, entre 1899 e 1903. Para cada piso foram utilizados quatro motivos padronizados, de acordo com a sua proporção e altura, enriquecendo cromaticamente o alçado principal. Pelo menos três dos motivos parecem-nos ter sido da Fábrica das Devesas25, sendo um deles nitidamente Arte Nova. Todos estes azulejos foram fabricados em série, eram acessíveis e é vulgar encontrarmos exemplares em vários edifícios. O que os torna únicos neste projeto é a forma sofisticada como foram utilizados, perfeitamente integrados na arquitetura.

No ano de 1903, o edifício para habitação de Miguel Ventura Terra, na rua Alexandre Herculano, foi galardoado com o Prémio Valmor. O emprego do azulejo foi elogiado, por ser um produto nacional e foi especificamente colocado segundo o projeto do mesmo arquiteto26. Os azulejos têm sido atribuídos à já mencionada manufatura das Devesas27.

 

 

Em 1902, o arquiteto José Alexandre Soares explorou a azulejaria na arquitetura conjugando-as com a pintura decorativa. Tratou-se de um projeto para a moradia de Domingos de Sousa Andrade28 que, por se ter ausentado para o estrangeiro, a vendeu ao comendador e empresário do Coliseu dos Recreios, António dos Santos. O desenho arquitetónico foi inspirado em motivos clássicos e complementado por azulejaria. Nela foram representados motivos de tulipas e suas folhas Arte Nova, sobre fundo escuro. Os motivos foram desenhados por José Alexandre Soares e os azulejos fabricados na Fábrica das Devesas29. Os janelões foram decorados pelo pintor Domingos Maria da Costa. Eram pinturas de rostos femininos enquadrados por flores ao estilo Arte Nova, semelhantes às ilustrações do checo Alfons Mucha30. No mesmo estilo, aquele pintor, decorou com ramagens e flores os janelões do vestíbulo. A voluptuosidade dos traços foi assim alcançada, cujas proporções foram adaptadas aos elementos arquitetónicos. Este tipo de pintura exterior parece ter sido o primeiro de que temos registo, tendo sido, posteriormente, seguido por outros projetistas e artistas. O projeto para a moradia de Domingos de Sousa Andrade foi o mais significativo, senão o único, do arquiteto José Alexandre Soares com decorações Arte Nova.

Temos vindo a mencionar a famosa manufatura das Devesas como presença constante em alguns projetos construídos em Lisboa, o que nos coloca várias questões: as manufaturas lisboetas não se dedicavam à encomenda específica de conjuntos azulejares? Os preços praticados nas Devesas eram mais aliciantes? A qualidade seria superior às manufaturas de Lisboa? A manufatura estaria melhor equipada para responder a determinado tipo de exigências?

É curioso verificar-se que por esta altura surgiram vários ateliers na cidade de Lisboa, cujos proprietários eram pintores, a maioria dos quais frequentou a então Real Academia de Belas Artes de Lisboa e enveredou pela Arte Nova. O seu papel foi fundamental e complementar na arquitetura, tendo realizado um conjunto considerável de obras nesse estilo para vários projetistas e clientes.

Um dos primeiros projetos Arte Nova construídos em Lisboa, datado de 1902, é o da remodelação e ampliação do Café/Restaurante/Cervejaria Imperial31, na rua 1.º de Dezembro, que se expressou no desenho dos vãos, das guarnições e dos painéis em azulejo, com pinturas de flores e folhas estilizadas. Todo este conjunto era de grande qualidade estética e plástica mas, infelizmente, não conhecemos os seus autores.

No mesmo ano, publicou-se o projeto da Casa Júlio César de Mouta e Vasconcelos, para ser construída em Benfica, do arquiteto Álvaro Augusto Machado. A modernidade foi expressa na manipulação dos volumes consoante a sua importância e relações que estabelecem entre si. Nas fachadas, o arquiteto desenhou painéis em azulejo, onde propôs um motivo padronizado, emoldurado por frisos32. O trabalho desenvolvido posteriormente é um dos mais originais em termos da volumetria e integração de elementos de Arte Nova. Temos observado uma influência francófona no seu trabalho, além do gosto pelas formas geométricas do Jugendstil. Uma percentagem razoável dos seus projetos foi decorada com azulejaria realizada pelo pintor José António Jorge Pinto, como iremos abordar.

 

 

Outro arquiteto a desenvolver de forma inovadora a volumetria, novas vivências espaciais e o recurso a azulejaria Arte Nova foi Raúl Lino da Silva. Raúl Lino estudou no Reino Unido e na Alemanha antes de se instalar definitivamente em Portugal. Um dos primeiros projetos realizados em Lisboa foi a Casa Joaquim de Jesus Ferreira, terminada em 1905 na avenida da República33, um dos seus projetos mais originais, no qual chegou a propor um motivo padronizado ao gosto Jugendstil34. A grande maioria da sua obra com azulejaria, nesta época, encontra-se fora da cidade de Lisboa35.

O construtor civil Rafael Duarte de Melo também explorou a volumetria conjugando-a com a azulejaria. A grande maioria foi realizada no atelier do pintor Joaquim Luís Cardoso, também aqui abordado.

O desenvolvimento da volumetria foi igualmente explorado pelo arquiteto Manuel Joaquim Norte Júnior. O recurso à Arte Nova é visível nas ferragens e em muitos elementos arquitetónicos36. Umas das primeiras obras realizadas em Lisboa é a habitação que pertenceu ao pintor José Malhoa, tendo sido galardoada com o Prémio Valmor de 1905. Foi decorada com pinturas a fresco exteriores37 e parece ter sido a segunda, com este recurso decorativo empregue séculos antes na arquitetura e reavivado no início do século XX em Lisboa. Nos projetos que desenvolveu posteriormente recorreu frequentemente à pintura a fresco, estando documentada a participação do pintor Gabriel Mateus Constante, cujo papel iremos focar.

Na cidade de Lisboa instalou-se o construtor civil espanhol José Rodriguez Prieto que realizou vários projetos Arte Nova38, como o edifício para habitação Abel José da Cruz39, na avenida da República, construído entre 1906 e 190740. Foi decorado com pinturas a fresco exteriores e pinturas em vidro nos vãos Arte Nova.

A pintura a fresco foi também um recurso decorativo nas moradias geminadas do arquiteto italiano Nicola Bigaglia, construídas na rua das Taipas41. Estas representavam vinhas e cachos de uva de linhas sinuosas e estilizadas em Arte Nova, que se complementavam com a arquitetura42. Contudo, temos de mencionar um projeto de sua autoria que é o da remodelação integral da Ourivesaria In Arte Laetitia43 ao gosto Arte Nova, em 1903, na rua Garrett44.

O trabalho destes projetistas, inevitavelmente, apoiou-se nos artistas mencionados, os quais iremos abordar em seguida.

 

 

 

4. OS ARTISTAS LISBOETAS QUE ENVEREDARAM PELA ARTE NOVA, AZULEJARIA, PINTURA A FRESCO, VITRAL E PINTURA SOBRE VIDRO

4.1. PINTURA EM AZULEJO

4.1.1. JOSÉ ANTÓNIO JORGE PINTO (1875-1945)

Um dos principais pintores de azulejo Arte Nova foi José António Jorge Pinto45. Teve formação em pintura decorativa e enveredou, a partir de 1893, para a cerâmica. Teve o seu atelier na freguesia da Ajuda, onde residiu e onde cozia as suas obras46. Participou, entre outras, nas exposições promovidas pelo Grémio Artístico e pela Sociedade Nacional de Belas Artes, tendo sido galardoado. Era sobrinho do pintor Manuel Henrique Pinto, grande amigo do pintor José Malhoa47.

A primeira grande obra documentada que o pintor executou em azulejo, em 1904, foi a dos painéis para o Jardim de Inverno do Sanatório de Sant'Anna, na Parede. Os desenhos foram de sua autoria, do pintor Ricardo Ruivo Júnior e do ilustrador Miguel da Torre do Vale Queriol. A representação dos espécimes botânicos, entre outras estilizações, é ao gosto Arte Nova48. Este gosto pelas linhas curvilíneas, nomeadamente da Arte Nova francófona, foi explorado de forma inovadora no seu trabalho. Um dos melhores exemplos é o grande painel com o nome comercial da garagem Auto-Palace, terminado em 1907, cujas molduras se adaptaram aos elementos arquitónicos.

No mesmo registo pintou a azulejaria do edifício Doutor Guilherme Augusto Coelho, na avenida Almirante Reis, projetado pelo arquiteto Arnaldo Redondo Adães Bermudes, tendo sido galardoado com o Prémio Valmor de 1908. Nos painéis, o pintor explorou tons quentes e contrastantes. Representou aves em diferentes cenários ligados à natureza, tendo sido incluído um cupido com a sua seta, transmitindo assim uma mensagem de amor. Todo este conjunto anima o “movimentado” desenho arquitetónico. Curiosamente este tipo de pintura, temas e estilizações têm semelhanças com conjuntos azulejares da cidade de Bruxelas e da manufatura francesa Hautin-Boulenger & Co49. Na altura, o pintor foi considerado um fervoroso adepto do ressurgimento desta arte em cerâmica50, constando o seu nome na lista dos principais artistas51.

No mesmo ano terminou o revestimento para a fachada da leitaria A Camponeza, segundo projeto do construtor civil Domingos de Almeida Pinto. Marcadamente Arte Nova, foi assim intensificado pelo entrelaçar sinuoso de papoilas e suas folhas, em azul sobre fundo branco, que acompanharam o desenho dos vãos. No interior, a sanca dos tetos tem um motivo padronizado polícromo, cujas estilizações o pintor repetirá no Estoril.

No Estoril participou em três projetos do arquiteto Álvaro Machado, cuja obra conjunta é um dos melhores exemplares da Arte Nova portuguesa. Tratam-se das moradias geminadas que pertenceram ao referido arquiteto, da moradia para o médico psiquiatra José Caetano de Sousa Pereira de Lacerda e o Bairro das Roseiras, que não foi concluído52. Nas moradias do arquiteto, o pintor mesclou formas geométricas com um certo gosto pelo trabalho do pintor austríaco Gustav Klimt53. No motivo padronizado do vestíbulo de entrada, o pintor ter-se-á inspirado no trabalho do arquiteto escocês Charles Rennie Mackintosh, ao representar as rosas. Esta representação também foi seguida pela manufatura alemã Grohner Wandplattenfabrik e pela Villeroy & Boch54. Em Bruxelas existe este tipo de rosas em esgrafito, nomeadamente: num edifício na rue des Eburons, datado de 1898, e na fachada principal da casa do arquiteto Paul Cauchie, construída em 190555.

 

 

No ano de 1909 terminou a azulejaria do edifício para habitação do doutor Fortunato Jorge Guimarães, projetado pelo arquiteto Adolfo António Marques da Silva, na avenida Duque de Loulé, e galardoado com a menção honrosa do Prémio Valmor desse ano. Entre os vãos havia painéis emoldurados com flores estilizadas56. A cimalha tinha uma faixa com um motivo padronizado de flores que curiosamente apresentava semelhanças com azulejaria corrente produzida por manufaturas nacionais57 e estrangeiras. Esta cimalha adaptava-se e envolvia superiormente uma escultura feminina, da autoria do escultor José Isidoro de Oliveira de Carvalho Neto58.

Um dos últimos registos de Arte Nova francófona é o conjunto azulejar do edifício para habitação António Tomás Quartin. Foi projetado por Ventura Terra e construído na rua Alexandre Herculano, tendo recebido o Prémio Valmor de 1911. Os motivos são de flores, de folhas e de outras estilizações abstratas, cujos tons opacos revelam grande qualidade.

José António Jorge Pinto foi dos poucos artistas a explorar o gosto pelo Jugendstil, além dos arquitetos Álvaro Machado e Raúl Lino, acima referidos. O primeiro trabalho realizado neste estilo foi para o Colégio Roussel, projetado pelo arquiteto Álvaro Machado ao gosto românico59 e construído na avenida da República, entre 1904 e 1905. O pintor criou seis motivos padronizados polícromos para as fachadas exteriores. A fonte de inspiração também é o românico60 mas estilizado ao gosto Jugendstil. O motivo padronizado da varanda coberta sugere movimento devido à sobreposição dos motivos geométricos. No interior criou um dos mais belos lambris em azulejo, até agora identificados, para a antiga sala de jantar, cujas estilizações se aproximam da Arte Nova francófona. São representações de frutas e que se coadunam com a função inicial do espaço. O recurso a frutas é pouco comum no período.

O mesmo gosto pelo Jugendstil é visível nas faixas e painel que realizou para a Casa Viscondessa de Valmor, construída na avenida da República, segundo projeto de Ventura Terra, e galardoada com o Prémio Valmor de 1906. O motivo é composto por ziguezagues, figuras geométricas e flores estilizadas, cujos tons se enquadram com a cor das esculturas e cantarias.

Esta predileção foi repetida nas faixas azulejares dos Armazéns Casa do Povo d'Alcântara onde sugeriu um certo dinamismo intensificado pela sobreposição das figuras geométricas. O painel no cunhal da fachada tem um rosto feminino emoldurado por flores abstratas em Arte Nova61.

A mesma sugestão de movimento e sobreposição de figuras é visível nos painéis colocados no edifício das massas alimentícias, do então complexo fabril A Napolitana em Alcântara em 190962.

A maestria de José António Jorge Pinto no uso de cores, dos seus tons e técnicas comprova o engenho que tinha na arte da cerâmica. A capacidade notável em reinterpretar as diversas influências estrangeiras foi expressa num variado conjunto de azulejaria, o que o torna num dos pintores mais profícuos e originais deste período. Parte do seu trabalho encontra-se em edifícios que foram contemplados pelo Prémio Valmor.

Também se dedicou à pintura a óleo, à aguarela, ao desenho e à pintura decorativa.

 

 

 

 

 

4.1.2. JOAQUIM LUÍS CARDOSO (1868-1967)

Na mesma altura, outro pintor, aluno da Real Academia de Belas Artes de Lisboa do curso de desenho, dedicou-se à azulejaria. Trata-se de Joaquim Luís Cardoso63 com atelier na travessa Nova de São Domingos e posteriormente, após o seu casamento, em 1906, na rua Tomás Ribeiro. Participou em várias exposições e parece ter enveredado, a partir de 1906, pela azulejaria. Efetivamente, na sua obra, temos vindo a constatar uma influência da Arte Nova francófona e o gosto pela época da Renascença (em voga no início do século XX), nomeadamente na azulejaria produzida pelas já referidas manufaturas Hautin-Boulenger & Co e Maison Helman. Explorou o constraste entre cores, o emprego de tons lustrosos e outras características muito peculiares. Não parece ter trabalhado diretamente com uma única manufatura mas cozido em várias oficinas, as suas obras em azulejo64.

 

 

Uma das primeiras intervenções datadas, até hoje estabelecidas, é a azulejaria para o Chalet Malvina, pertencente a Manuel Ferreira dos Santos, no Monte Estoril. Foi construído na avenida Sanfré, de 1907 a 1908, segundo projeto do construtor civil Rafael Duarte de Melo. A volumetria do edificio foi realçada por um conjunto notável de azulejaria, em faixas e em painéis, prevista pelo projetista. O pintor criou diversos motivos, consoante a sua dimensão e colocação, onde explorou tons sedosos e contrastantes. A fonte de inspiração foi a época da Renascença e a Arte Nova, ao representar flores, animais, cercaduras, entre outros motivos. Curiosamente há um motivo padronizado, no cunhal da fachada sul, que tem semelhanças com motivos padronizados ingleses ao gosto Arts and Crafts.

A primeira obra documentada em Lisboa é a azulejaria, entretanto desaparecida, da Casa Agnelo Augusto Teixeira Barbosa na rua da Palmeira. Foi projetada pelo arquiteto Leonel Gaia, ficou terminada em 1910, e a azulejaria foi prevista nos desenhos técnicos65. A cimalha emoldurava-a, adaptando-se às formas arquitetónicas. O pintor criou um motivo padronizado, com fundo em dégradé, de flores e folhas estilizadas66.

Na rua Cidade de Liverpool foi projetada por Rafael Duarte de Melo uma moradia para José Braz Simões de Sousa, no bairro que promoveu, e teve a menção honrosa do Prémio Valmor de 191467. Foi construída num promontório, com escadaria exterior de desenho sinuoso, em planta e ferragens Arte Nova. Na fachada principal o pintor criou um motivo padronizado de flores polícromas. Estas emolduram um leão representado de forma realista. A originalidade deste conjunto é sublimada pelas estilizações Arte Nova, cujos tons denotam uma certa fantasia.

Na obra de Joaquim Luís Cardoso encontramos referências ecléticas e Arte Nova, eximiamente exploradas. O traço e o rigor no desenho são de qualidade excecional, além de dominar a técnica das cores durante a cozedura. Também desenvolveu, de forma original, o contraste e dégradés cromáticos, conseguindo assim um certo efeito de luz e fantasia nas composições criadas.

 

4.1.3. OUTROS PINTORES COM OBRA RELEVANTE

Os dois pintores, José António Jorge Pinto e Joaquim Luís Cardoso, tiveram a oportunidade de desenvolver um trabalho consistente em azulejaria ao gosto Arte Nova. Na mesma altura, outros artistas enveredaram pelo mesmo estilo, embora com menor número de obras, nomeadamente o já citado Miguel da Torre do Vale Queriol68. São de sua autoria os desenhos para os painéis do Anymatographo do Rossio, inaugurado em 1907, compostos por duas mulheres que seguram candeeiros elétricos, envoltas por uma atmosfera sonhadora e esfuziante. Não conseguimos ainda averiguar se os desenhos foram baseados numa ilustração, visto em Bruxelas existir um painel em cerâmica com características semelhantes69.

Na mesma altura o estabelecimento comercial Julio Gomes Ferreira & C.ª foi remodelado na rua Áurea. Foi um dos fornecedores da Casa Real e de canalização para água, luz elétrica e gás. Na fachada foi colocado um painel em azulejo da autoria do pintor Júlio Adolfo César da Silva70. Ao centro tem uma figura feminina a andar sobre o globo terrestre e na mão segura um candeeiro elétrico. Os traços enfatizam o esvoaçar dos tecidos e do corpo feminino ao gosto Arte Nova.

 

 

O pintor António Luís de Jesus71 fundou a Fábrica da Rua de Campo de Ourique em 1905. Teve uma predileção pela época da Renascença italiana na obra produzida. Este estilo revelou-se nas estilizações empregues, na modelagem das peças e nas cores72. Todas estas influências são visíveis na conceção do conjunto azulejar que recobre a fachada do antigo estabelecimento comercial Manuel Alves Ferreira Callado & C.ª no largo do Corpo Santo73, nomeadamente no uso do azul e do amarelo. As cercaduras são vincadamente Arte Nova e com pequenas molduras ao centro.

O pintor Jorge Rey Colaço também enveredou pelas estilizações Arte Nova. No ano de 1910 promoveu uma exposição no seu atelier, na qual expôs um conjunto notável de painéis Arte Nova para uma casa de banho denominados por Phantasia sobre motivos mythologicos74.

 

 

No ano seguinte ficou terminada uma das mais originais fachadas Arte Nova na avenida Almirante Reis em Lisboa. O seu autor foi o pintor Alfredo António Pinto75, existindo ainda o projeto de sua autoria76. O pintor criou uma cercadura Arte Nova, com grinaldas de flores ao gosto ortodoxo, para o primeiro andar. Na cimalha há duas faixas de flores ao gosto Arte Nova. O restante revestimento integral do edifício é em azulejaria de fabrico corrente, estendendo-se aos elementos arquitetónicos, pouco comum na cidade.

O último pintor de azulejaria que focaremos neste estudo é Benvindo António Ceia, colega de curso de José António Jorge Pinto. Em 1913, finaliza um significativo conjunto de azulejos para a habitação de veraneio do arquiteto Tertuliano Marques77. O desenho arquitetónico tinha semelhanças com edifícios construídos em Itália, no período Arte Nova, sobretudo a cimalha. Esta foi decorada com estilizações ao estilo renascentista, assim como os vãos.

 

4.2. PINTURAS A FRESCO

4.2.1. GABRIEL MATEUS CONSTANTE (1876-1950)

O uso do azulejo foi sendo gradualmente interpretado de variadas maneiras pelos artistas mencionados, em parceria com os projetistas com quem trabalharam.

Na mesma época a pintura a fresco foi reavivada, talvez, pelo pintor Domingos Maria da Costa, como já referimos. Todavia este recurso teve maior expressividade na obra do pintor Gabriel Mateus Constante78. Foi aluno na Real Academia de Belas Artes de Lisboa, enveredou pela pintura a óleo, azulejaria e pintura a fresco. Neste último recurso decorativo desenvolveu uma vasta obra, sobretudo em projetos do arquiteto Manuel Joaquim Norte Júnior. O primeiro registo, até agora identificado, é o da Casa António Pinto da Fonseca Mota, na rua Pinheiro Chagas, construída em 190879. Na fachada principal criou vários motivos padronizados de flores, nomeadamente rosas, lírios e nenúfares. Um deles tinha uma cercadura estilizada. Estes extraordinários motivos foram descritos como "imitação dos azulejos em pintura a fresco"80.

Outro projeto com pintura decorativa Arte Nova é o edifício de Amélia Augusta Pereira Leite, mãe do já citado António da Costa Correia Leite. Ficou terminado em 1910 e tinha dois apartamentos81. O pintor criou um conjunto impressionante de vários motivos, onde representou flores (lírios, jacintos e dálias?) e as suas folhas. Na fachada da entrada principal havia estilizações de flores com laços pendentes82.

 

 

 

 

No ano de 1912 ficaram terminados pelo menos dois projetos do arquiteto. O primeiro era a Vila Catatau e ficava na estrada de Benfica83. As pinturas decorativas e os estuques foram de Gabriel Constante e de Manuel Viegas84. O segundo projeto obteve a menção honrosa do Prémio Valmor e foi construído para Nuno Pereira de Oliveira, no gaveto da praça Duque de Saldanha85. O dinamismo sugerido pela arquitetura foi complementado pela pintura a fôsco de Gabriel Constante. Estas eram em faixa na cimalha, tinha dois medalhões com rostos femininos e rosas enlaçadas. Na fachada para a praça foram pintadas flores enlaçadas por fitas86.

O último trabalho de Gabriel Constante, neste período, foi a decoração do edifício para habitação de José Malheiros Nogueira87. O proprietário era primo do arquiteto Miguel José Nogueira Júnior, ao qual encomendou o projeto. Foi construído na rua das Picoas de 1911 a 1913. As pinturas foram realizadas pelo pintor, onde explorou de novo estilizações Arte Nova, ao representar cercaduras e flores88.

O trabalho de Gabriel Constante é marcadamente influenciado pela Arte Nova francófona. A abordagem estilística que fez com a pintura a fresco tem semelhanças com a que foi realizada em esgrafito na cidade de Bruxelas, nomeadamente as flores estilizadas89 e as cercaduras90. A forma fluida, não sobrecarregada, das formas orgânicas dos espécimes botânicos representados são de uma originalidade ímpar. O pintor soube criar vários motivos, de acordo com a sua escala, para os integrar nos edifícios.

 

 

 

4.3. VITRAL

O papel de Cláudio Augusto de Azambuja Martins91 neste período é importante por ter reavivado a arte do vitral e pela sua interpretação da Arte Nova92. O seu atelier era na rua da Escola Politécnica n.º 225 a 229.

Um dos primeiros registos em vitral, que temos conhecimento, foi realizado para a Casa António da Costa Correia Leite (Mário de Artagão), em 1906 e projetada por Norte Júnior93. A parceria em projetos do arquiteto foi profícua e fez, em 1908, os vitrais para a Casa José Cândido Branco Rodrigues94 e Casa António Pinto da Fonseca Mota. Nestes dois trabalhos explorou a representação de aves, borboletas e flores, envoltas por uma certa fantasia95. No edifício de Amélia Augusta Pereira Leite, acima referido, fez os vitrais do grande janelão da escadaria, já desaparecidos. Eram estilizações Arte Nova que se adaptaram ao desenho da caixilharia96. No ano de 1912 terminou os vitrais para a Vila Catatau e finalizou, no mesmo ano, outros para a Casa Nuno Pereira de Oliveira. No ano de 1907 terminou vários vitrais para a mencionada garagem Auto-Palace. O grande janelão tinha estilizações Arte Nova, atualmente desaparecidos. As duas janelas laterais ainda conservam os dois vitrais, nos quais representou automóveis com os seus ocupantes. As cercaduras e toda a ambiência transmitida são ao gosto Arte Nova97.

Infelizmente a maioria da sua obra inicial desapareceu. Nos vitrais, além de outras estilizações, explorou a flora e a fauna, indo ao encontro do projeto arquitetónico e das proporções dos vãos.

 

4.4. PINTURA SOBRE VIDRO

4.4.1. DOMINGOS MARIA DA COSTA (1867-1954)

Na mesma época, trabalhou o pintor Domingos Maria da Costa98 que foi um dos mais extraordinários intérpretes da Arte Nova. O seu atelier era na rua Ivens n.º 9, 4.º andar. Foi aluno da Real Academia de Belas Artes de Lisboa e dedicou-se à pintura decorativa, aguarela, pintura a óleo, azulejaria e à difícil pintura em vidro99. O pintor ter-se-á tornado um especialista neste último tipo de pintura, tendo sido solicitado para decorar vários estabelecimentos comerciais na baixa100 ao gosto Arte Nova101, o que coincidiu com uma grande vaga de remodelações de estabelecimentos comerciais, em Lisboa. Para esse fim, foram criadas especificamente para cada ramo de negócio, alegorias, reclamos e ornamentações.

 

 

 

 

Um dos primeiros trabalhos é o da decoração da Camisaria Santos, que ficava na rua Áurea, em 1902. O projeto é do construtor civil Joaquim António Vieira102 e no interior havia pequenos painéis em vidro, no topo das prateleiras, com pinturas Arte Nova, assim como no exterior103.

No ano de 1904, o pintor decorou o Armazém de Novidades João Cardozo na rua Nova do Carmo n.º 64. Na fachada existia um painel com uma figura feminina ao centro, cuja sensualidade era intensificada por ter na mão uma estatueta feminina nua. Esta casa comercial vendia peças em vidro, cerâmica e metal, utilitárias e decorativas104. O interior também foi decorado com pinturas na parede e candeeiros de suspensão para gás, todos em Arte Nova. Na mesma rua, o pintor fez pelo menos três painéis para o estabelecimento pertencente a Joaquim Gonçalves Costa, ao estilo Arte Nova, com molduras de grande qualidade plástica, flores e outros motivos como fundo105. Nos restantes painéis foram pintadas alegorias ao Chá e ao Café, compostas por figuras femininas em corpo inteiro, com as vestes dos respetivos países de origem das bebidas, segurando taças e outras peças em cerâmica.

Nestes trabalhos podemos constatar a elevada qualidade do pintor, não só no engenho em criar estilizações Arte Nova, como na perfeição com que retratava a figura humana, ao nível do corpo, da sensualidade e da expressividade dos rostos. No seu trabalho também há uma clara influência da Arte Nova francófona, sobretudo das ilustrações de Alfons Mucha e de Henri Privat-Livemont.

Além destas obras em vidro, o pintor decorou uma sala no palácio Sotto Mayor106 e fez vários painéis para a pastelaria Foz107.

 

CONCLUSÃO

O estudo da Arte Nova realizada em Lisboa tem vindo a ser apoiado nos exemplares sobreviventes, o que nos parece redutor face a outros que entretanto foram desaparecendo, na primeira metade do século XX. Um certo menosprezo pelo período contribuíu, inevitavelmente, para que não fosse devidamente valorizado.

Os primeiros registos Arte Nova portugueses apareceram poucos anos depois de esta corrente estética florescer na Europa central. Teve início no grafismo e, gradualmente, foi fonte de inspiração para outras manifestações artísticas. No campo da arquitetura vários projetistas exploraram a volumetria e integraram recursos decorativos como o azulejo, a pintura a fresco, o vitral e a pintura sobre vidro. Efetivamente, em determinados projetos, foi integrada azulejaria especificamente executada, o que levou a uma procura deste tipo de decoração. Para esse fim, foram criados ateliers por uma nova geração de pintores académicos. O conhecimento das técnicas, o traço e a forma de pintar a óleo foram empregues na azulejaria. No entanto, é fundamental focarmos a reinterpretação que os pintores fizeram de diversas influências artísticas estrangeiras. Esta assimilação foi expressa em variados conjuntos azulejares de grande originalidade, cuidadosamente apreendidas e adaptadas ao gosto nacional. Toda esta produção artística é original e única no mundo. Outro recurso decorativo exterior empregue na arquitetura foi a pintura a fresco, cuja maioria dos exemplares foram realizados em Lisboa. Constata-se ainda que a maioria dos edifícios decorados desta forma pertenceu a portugueses que estiveram no Brasil.

Outro ponto relevante foi a arte do vitral ter sido reavivada neste período. A pintura sobre vidro também teve grande expressão, sobretudo nas decorações de vários estabelecimentos comercais.

A Arte Nova criada na cidade de Lisboa reflete um conhecimento do que se passava no estrangeiro. Foi especificamente encomendada por um grupo social culto e cosmopolita. Os artistas que enveredaram por esta corrente reinterpretaram-na sabiamente em variadas obras de grande qualidade estética. Toda esta obra, realizada nos variados ateliers, deverá ser difundida e valorizada.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Fontes

Arquivo Municipal de Lisboa

Alberto Carlos Lima. Tabacaria Marécos. PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/0041/LIM/001050.

LEILÃO SOARES E MENDONÇA. Autor não identificado, Palacete onde residiu D. Maria Pia. PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/LSM/000909.

Paulo Guedes. Rua Pinheiro Chagas. PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/PAG/000664.

Processos de obra n.º 87, 1871, 7251, 9435, 10213, 11315, 12193, 12448, 18844, 21377, 24310, 27280, 27356, 28086, 30052, 32052, 32067, 35023, 41462, 44543, 45155.

 

Estudos

A Architectura Portugueza. Lisboa. 1908, 1909, 1910, 1911, 1913, 1914.         [ Links ]

A Construcção Moderna. Lisboa. 1901, 1904, 1905, 1906, 1912, 1917.         [ Links ]

BAPTISTA, António – Album açoriano. Lisboa: Oliveira & Baptista, 1903.         [ Links ]

BÉLGICA. Région de Bruxelles-Capitale – Inventaire du patrimoine architectural [Em linha]. Bruxelas: Boulevard Général Jacques 27, 29, 31, 2011 a 2013 [Consult. 01.01.2017]. Disponível na internet: http://www.irismonument.be/fr.Ixelles.Boulevard_General_Jacques.27.html.         [ Links ]

BORSI, Franco; WIESER, Hans – Bruxelles capitale de l`Art Nouveau. Braine-l'Alleud: J. M. Collet, 1996.         [ Links ]

Branco e Negro: Semanario Illustrado. Lisboa. 1896.         [ Links ]

COSTA, Bernardino Camilo Cincinnato da – Exposição Nacional no Rio de Janeiro em 1908: Bellas Artes: Secção Portugueza. Lisboa: Typographia «A Editora», 1908.         [ Links ]

FEVEREIRO, António Francisco Arruda de Melo Cota – Álvaro Augusto Machado, José António Jorge Pinto e o movimento Arte Nova em Portugal. Lisboa: [s.n.], 2011. Dissertação de mestrado em Arquitectura apresentada à Universidade Lusíada de Lisboa.         [ Links ]

FEVEREIRO, António Francisco Arruda de Melo Cota; ANTUNES, Alexandra Paula de Carvalho – Casas Álvaro Machado, no Alto do Estoril, e a azulejaria de José António Jorge Pinto: resumo biográfico e obra. Revista Arquitectura Lusíada [Em linha]. N.º 4 (1.º semestre 2013). [Consult. 03.01.2017]. Disponível na internet: http://repositorio.ulusiada.pt/handle/11067/464?locale=pt.         [ Links ]

FEVEREIRO, António Francisco Arruda de Melo Cota – Genealogia, dados biográficos e obra de arquitetos, artistas e construtores civis portugueses do século XIX e XX. Raízes e Memórias. Lisboa: Associação Portuguesa de Genealogia. N.º 29 (2012).         [ Links ]

FEVEREIRO, António Francisco Arruda de Melo Cota – The Art Nouveau tiles as frames to architecture in Lisbon. ARTis ON - Special issue [Em linha]. N.º 2 (2016). [Consult. 05.01.2017]. Disponível na internet: http://artison.letras.ulisboa.pt/index.php/ao/issue/view/7/showToc.         [ Links ]

FRANÇA, Patryst – La culture à la carte [Em linha]. Neuilly-sur-Seine: Villa Jassede, 2009 a 2012 [Consult. 01.01.2017]. Disponível na internet: http://www.patryst.com/fr-FR/curiosities/3404-villa-jassede.         [ Links ]

Illustração Portugueza. Lisboa: Empreza do Jornal O Seculo. 1906, 1910, 1911.         [ Links ]

Occidente: Revista Illustrada de Portugal e do Extrangeiro. Lisboa. 1891, 1892.         [ Links ]

PAMPLONA, Fernando de – Dicionário de pintores e escultores portugueses ou que trabalharam em Portugal. Lisboa: Livraria Civilização Editora, 1987-1988.         [ Links ]

QUEIROZ, Francisco – Os catálogos da Fábrica das Devesas. Lisboa: Chiado Editora, 2016.         [ Links ]

QUEIRÓS, José – Ceramica portugueza. Lisboa: Typographia do Annuario Commercial, 1907.         [ Links ]

SANTOS, António Maria dos Anjos – Para o estudo da arquitectura industrial na região de Lisboa (1846-1918). Lisboa: [s.n.], 1996. Dissertação de mestrado em História de Arte Contemporânea apresentada à Universidade Nova de Lisboa. vol. II.         [ Links ]

SAPORITI, Teresa – Azulejaria de Luís Ferreira, o “Ferreira das tabuletas”, um pintor de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal, 1993.         [ Links ]

SEMBACH, Klaus-Jürgen – Art Nouveau. Köln: Benedikt Taschen Verlag GmbH, 1996.         [ Links ]

UNIVERSIDADE DE LISBOA. Faculdade de Belas-Artes – Museu Virtual [Em linha]. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2015. Coleção desenho [Consult. 01.01.2017]. Disponível na internet: http://museuvirtual.belasartes.ulisboa.pt/desenho/index.php.         [ Links ]

VELOSO, António Barros; ALMASQUÉ, Isabel – O azulejo português e a Arte Nova. Lisboa: INAPA, 2000.         [ Links ]

XARDONÉ, Tereza; COSTA, Rui; RUFINO, Maria de Lurdes, coord. – Arquitecto Ventura Terra (1866-1919). Lisboa: Assembleia da República, 2009.         [ Links ]

 

Submissão / submission: 31/01/2017

Aceitação / approval: 19/05/2017

 

 

NOTAS

* Natural de Lisboa, é mestre em Arquitetura pela Universidade Lusíada. Tem vindo a dedicar-se ao estudo da arquitetura, azulejaria, obra e biografias de arquitetos, construtores civis, desenhadores e artistas portugueses da segunda metade do século XIX e início do XX. Tem levantado informação inédita nos artigos publicados e na participação em colóquios. Recentemente apresentou um estudo sobre os candeeiros da Casa Real Portuguesa. Correio eletrónico: antoniofranciscocotafevereiro@gmail.com

1 No decurso de uma investigação em torno dos candeeiros da Casa Real, iniciada em 2015, tivemos acesso a inúmeros catálogos franceses, ingleses e alemães do início do século XX. Verificamos que, em 1901 o número de objetos Arte Nova era reduzido. Em 1912 este número já era considerável. O declínio da Arte Nova acentua-se a partir desta data e gradualmente desaparece a partir de 1914.

2Esta prática era recorrente na segunda metade do século XIX em França, como por exemplo, as fachadas da fábrica de chocolates Menier em Noisiel. O gosto pela cerâmica continuou durante a fase Arte Nova naquele país, embora com outro tipo de estilizações.

3FRANÇA, Patryst – La culture à la carte [Em linha]. Neuilly-sur-Seine: Villa Jassede, 2009 a 2012 [Consult. 01.01.2017]. Disponível na internet: http://www.patryst.com/fr-FR/curiosities/3404-villa-jassede.

4SEMBACH, Klaus-Jürgen – Art Nouveau. Köln: Benedikt Taschen Verlag GmbH, 1996. p. 209.

5Idem, p. 146-147.

6Os projectos são de três habitações, nos números 27, 29 e 31 da Boulevard Général Jacques. O edifício com o número de porta 27 não tem revestimentos cerâmicos e foi construído com tijolos polícromos.

7 BORSI, Franco; WIESER, Hans – Bruxelles capitale de l'Art Nouveau. Braine-l'Alleud: J. M. Collet, 1996. p. 281. BÉLGICA. Région de Bruxelles-Capitale - Inventaire du patrimoine architectural [Em linha]. Bruxelas: Boulevard Général Jacques 27, 29, 31, 2011 a 2013 [Consult. 01.01.2017]. Disponível na internet:http://www.irismonument.be/fr.Ixelles.Boulevard_General_Jacques.27.html.

8BORSI, Franco; WIESER, Hans – Op. cit., p. 159-163.

9BORSI, Franco; WIESER, Hans – Op. cit., p. 349-353. Os azulejos e peças em cerâmica empregues nos edifícios belgas são de várias manufaturas, tais como as belgas Maison Helman, Manufacture de céramiques décoratives de Hasselt, Le Glaive e Manufactures Céramiques d'Hemixem, Gilliot Frères. De manufaturas alemãs há exemplares da Tonwerk Offstein e da Ernst Teichert. A britânica Minton Hollins também tem azulejos empregues nos edifícios bruxelenses.

10 O rés do chão do edifício tem peças relevadas em cerâmica nos pilaretes, assim como nas molduras dos vãos. Na Lungotevere de Cenci há outro edifício Arte Nova mas só com decorações em sgraffito. Outro edifício com decorações Arte Nova fica na Via Marco Minghetti. Sobre os janelões das sobrelojas do rés do chão, as mísulas das varandas foram decoradas com flores e folhagens sinuosas.

1111 Foi um dos artistas que reavivou a arte do azulejo no século XIX. O seu trabalho reflete o gosto oitocentista pelas formas inspiradas na Natureza, onde também mesclou influências exóticas e de épocas anteriores. No presente estudo apresentamos, pela primeira vez, dados biográficos sobre a vida e obra do pintor Luís António Ferreira da Silva * Lisboa, Santa Engrácia 03.06.1806 † Lisboa, São Paulo 28.04.1873 (Luiz das Taboletas). Era filho de Francisco Ferreira da Silva, sargento de brigada, e de Teresa de Jesus Iria. Casou em Lisboa, Anjos, 05.11.1827, com Maria Carlota do Pilar Reboredo.

Nas anotações biográficas que se seguem o símbolo * significa nascimento e † morte, seguidos da sede de concelho e freguesia.

12Palacete no gaveto das ruas José Estêvão e Pascoal de Melo: Arquivo Municipal de Lisboa (AML), Processo de obra n.º 9435, processo n.º 6705/1.ª REP/PG/1888, f. 1. Ficou terminado em 1890 e foi demolido em 1971. Edifício na rua José Estêvão: AML, Processo de obra n.º 10213, processo n.º 65/1.ªREP/PG/1889, f. 1. Foi demolido em 1967. Edifício na rua Pascoal de Melo: AML, Processo de obra n.º 12193, processo n.º 66/1.ªREP/PG/1889, f. 1. COLLARES, E. Nunes – Casa da ex.ma sr.ª D. Feliciana Maria da Luz: no bairro Estephania: Cunhal formado pelas ruas José Estêvão e Pascoal de Mello, na frente do Jardim Constantino: Architecto, sr. Antonio José Dias da Silva. A Construcção Moderna. Lisboa. Anno II N.º 43 (1 de novembro de 1901), p. 1-3. Só os edifícios de rendimento foram revestidos a azulejo nas fachadas principais, cobrindo-as na totalidade com um motivo padronizado relevado, fundo branco, em tons de amarelo e azul.

13Temos vindo a fazer um levantamento sistemático de vários projetos datados da segunda metade do século XIX e início do XX. Estas obras têm vindo a ser localizadas nos arquivos de Lisboa, Cascais e Oeiras.

14AML, Processo de obra n.º 45155, processo n.º 543/1.ªREP/PG/1885, f. 1.

15CARVALHEIRA, Rosendo Garcia de Araújo – Casa de habitação do Sr. Dr. Manuel de Castro Guimarães: Architecto Sr. José Luiz Monteiro. A Architectura Portugueza. Lisboa. Anno II N.º 1 (1909), p. 1-4.

16Localiza-se na rua da Estação e rua Quinta do Bispo. No ano de 1891 hospedou a rainha Dona Maria Pia durante a época de banhos. SILVA, Caetano Alberto da – Chronica Occidental. Occidente: Revista Illustrada de Portugal e do Extrangeiro. Lisboa: Empreza do Occidente. Anno 14 Volume 14 N.º 459 (1891), p. 209.

17SILVA, Caetano Alberto da – Chronica Occidental. Occidente: Revista Illustrada de Portugal e do Extrangeiro. Lisboa: Empreza do Occidente. Anno 15 Volume 15 N.º 496 (1892), p. 217-218. O historiador de arte Manuel Rio de Carvalho em 1986 salientou o desinteresse da Corte e da alta aristocracia pela Arte Nova. No trabalho sobre os candeeiros da Casa Real verificamos que a rainha Maria Pia tinha peças relevantes Arte Nova: uma mesa da autoria de Louis Majorelle no guarda-roupa (vendida em leilão); uma estante no Atelier (não localizada); um álbum com o projeto Castel Béranger de Hector Guimard; um álbum com interiores denominado L'Art Nouveau – Decoration et Ameublement; dois candeeiros elétricos do escultor François-Raoul Larche representado a dançarina americana Loie Fuller; figurinhas em porcelana de Sèvres representando a mesma dançarina; almofadas; tecidos e outras peças. No interior do palácio da Ajuda sobreviveram vários candeeiros de teto Arte Nova. No arrolamento dos Paços, iniciado em novembro de 1910, os inventariantes descreveram várias peças de Arte Nova, o que comprova o conhecimento em Portugal desta corrente estética.

18MARQUES, Henrique – O Chalet da Rainha D. Maria Pia, no Estoril. Branco e Negro: Semanario Illustrado. Lisboa: António Maria Pereira. Anno 1 N.º 31 (1896), p. 74-75.

19No rés do chão os parapeitos de duas janelas têm, cada uma, dois painéis emoldurados. O motivo padronizado consiste em ramos com folhas, sobre fundo azul e parece ser da manufatura belga Royal Boch La Louvière. No volume da torre há faixas em azulejo, não emolduradas, com um motivo padronizado. O motivo é composto pela interseção de círculos com estilizações vegetalistas polícromas, em tons de vermelho e verde. Este parece ser da Fabrica Ceramica e de Fundição das Devezas, mais conhecida por Fábrica das Devesas. QUEIROZ, Francisco – Os catálogos da Fábrica das Devesas. Lisboa: Chiado Editora, 2016. p. 85.

20As duas moradias ficaram terminadas em 1897. A primeira situa-se na rua do Prior e a segunda na de São Caetano.

21De acordo com a investigação, por nós efetuada, foi esta a data mais recuada que conseguimos apurar até agora. No semanário O Berro publicou-se um anúncio aos gravadores Pires Marinho & C.ª, cujos traços denunciam um certo gosto pela Arte Nova. Na Brasil-Portugal, o ilustrador fez um desenho nitidamente Arte Nova para a capa do número 4, que foi sendo impresso nos números seguintes.

22Na última publicação mencionada também colaboraram o pintor António Tomás da Conceição e Silva, Jorge Rey Colaço, A. Campos e o arquiteto Manuel Joaquim Norte Júnior.

23Algumas das capas propostas foram inspiradas nas publicações francesas, com candeeiros para petróleo e figuras femininas a ler, intensificando assim os contrastes de luz e sombra. Foram publicadas no número 1 da 2.ª série e infelizmente não indicam os seus autores, só o vencedor, que foi o pintor Alfredo Roque Gameiro.

24SANTOS, António Maria dos Anjos – Para o estudo da arquitectura industrial na região de Lisboa (1846-1918). Lisboa: [s.n.], 1996. Dissertação de mestrado em História da Arte Contemporânea. vol II, p. 162. AML, Processo de obra n.º 28086, processo n.º 2525/1.ªREP/PG/1900, f.1. O edificio foi construído pela Vieillard & Touzet e foi demolido em 1974.

25O motivo padronizado da sobreloja tem sido atribuído à referida manufatura. Tem fundo azul, estilizações de flores brancas e suas folhagens em verde ao estilo Arte Nova. O motivo do andar nobre parece ter sido o número 67 da manufatura gaiense. O motivo do segundo andar não foi identificado e do terceiro é o número 70, da manufatura mencionada.

26COLLARES, E. Nunes – Casa que obteve o premio Valmôr, na rua Alexandre Herculano, junto ao largo do Rato: Architecto e proprietario, sr. Ventura Terra. A Construcção Moderna. Lisboa. Ano II N.º 135 (20 de junho de 1904), p. 115.

27XARDONÉ, Tereza; COSTA, Rui Costa; RUFINO, Maria de Lurde – Arquitecto Ventura Terra (1866-1919). Lisboa: Assembleia da República, 2009. p. 435.

28AML, Processo de obra n.º 87, processo n.º 1644/1.ªREP/PG/1903, f.1. O projeto está assinado pelo arquiteto e datado de março de 1902 mas só foi entregue nos serviços camarários, no ano seguinte. A moradia foi construída em 1902 e demolida em 1961.

29CARVALHEIRA, Rosendo Garcia de Araújo – Casa do Sr. Commendador António Santos: na Avenida Antonio Augusto d`Aguiar, 58: Architecto J. Alexandre Soares. A Architectura Portugueza. Lisboa. Ano I N.º 11 (novembro de 1908), p. 41.

30Os rostos femininos pintados por Domingos Costa tinham como brincos, flores, semelhantes a um cartaz desenhado por Alfons Mucha para a atriz Sarah Bernhardt em 1896. A representação de rostos femininos, envoltos por flores, teve grande expressividade na Arte Nova. Na cidade de Bruxelas há painéis em azulejo e em esgrafito com o mesmo tema. Foi também um tema recorrente nos catálogos, nas ilustrações e noutras manifestações artísticas.

31AML, Processo de obra n.º 11315, processo n.º 2415/1.ªREP/PG/1902, f. 1. Ficava nos números 124A e 126 do referido arruamento. O edifício foi demolido em 1951.

32FEVEREIRO, António Francisco Arruda de Melo Cota – The Art Nouveau tiles as frames to architecture in Lisbon. ARTis ON - Special issue [Em linha]. 2 (2016), p. 63. [Consult. 03.01.2017]. Disponível na internet: http://artison.letras.ulisboa.pt/index.php/ao/issue/view/7/showToc

33AML, Processo de obra n.º 41462, processo n.º 3135/1.ªREP/PG/1904, f.1. O edifício foi demolido em 1962.

34COLLARES, E. Nunes – Casa do ex.mo sr. J. J. Ferreira: na Avenida Ressano Garcia: projecto do architecto, sr. Raul Lino. A Construcção Moderna. Lisboa. Ano V N.º 136 (1 de julho de 1904), p. 121-123.

35Os projetos mais significativos encontram-se em Cascais, Estoril e Sintra.

36No ano de 2014 participamos no colóquio Norte Júnior ou o Triunfo do Eclectismo, em Lisboa, sobre a vida e obra do arquiteto, com a comunicação: Norte Júnior, o desenvolvimento volumétrico e a intemporalidade da sua obra. (atas no prelo)

37Manuel Joaquim Norte Júnior desenhou uma grelha em determinadas superfícies para serem revestidas a azulejo. Essa intenção foi substituída por pinturas a fresco, cujos desenhos foram da autoria de Malhoa e do pintor António Ramalho, os quais foram executados pelo pintor Eloy Ferreira do Amaral.

38Temos vindo a levantar a obra do construtor, a qual ainda é inédita, e a identificar uma quantidade de projetos Arte Nova. São projetos de edifícios, moradias e estabelecimentos comerciais.

39COLLARES, E. Nunes – Casa do sr. Abel José da Cruz: na Avenida Ressano Garcia: projecto e execução do constructor civil, sr. J. R. Prieto. A Construcção Moderna. Lisboa. Ano VII N.º 202 (20 de outubro de 1906), p. 73-74.

40AML, Processo de obra n.º 27356, processo n.º 4992/1.ªREP/PG/1906, f. 1.

41Nicola Bigaglia, além da profissão de arquiteto, era construtor civil, inscrito segundo o n.º 91 na Câmara Municipal de Lisboa. AML, Processo de obra n.º 32052, processo n.º 3503/1.ªREP/PG/1906, f. 1.

42Nicola Bigaglia inspirou-se nos edifícios então construídos em Itália. Temos vindo a verificar que os arquitetos italianos se inspiraram na arquitetura renascentista mas estilizada ao gosto Arte Nova, como os edifícios que encontramos na cidade de Roma, por exemplo.

43COLLARES, E. Nunes – Frente de estabelecimento. A Construcção Moderna. Lisboa. Ano VI N.º 170 (1 de julho de 1905), p. 107. Os intervenientes foram: Cardoso Dargent & C.ª (peças metálicas), Germano José de Salles & F.os (cantaria), João José Vaz (pinturas decorativas) e os mosaicos vieram de Veneza.

44No ano de 1914 foi remodelada de novo e tornou-se na Ourivesaria Aliança. AML, Processo de obra n.º 12448, processo n.º 1134/1.ªREP/PG/1903, f. 1.

45A sua obra encontra-se espalhada por vários edifícios em Portugal continental. No Museu de Lisboa foram salvaguardados alguns dos seus painéis em azulejo. No Museu Nacional do Azulejo há dois azulejos e um painel. A nível de coleções particulares temos conhecimento de pelo menos quatro azulejos, um dos quais nos pertence. O filho Pedro Jorge Pinto foi aluno da Academia de Belas Artes de Lisboa. Foi pintor a óleo e também enveredou pela cerâmica, tendo criado painéis em azulejo e peças decorativas. Nas diversas fontes é mencionado que nasceu em 1900, não se sabia o local, o dia e o mês que são aqui apresentados pela primeira vez. José António Jorge Pinto * Lisboa, Lapa 20.09.1875 † Lisboa, Santa Maria de Belém 09.09.1945. Casou em Lisboa, Santa Isabel 11.06.1900 com Maria da Piedade Aparício, filho: Pedro Jorge Pinto * Lisboa, Alcântara 10.11.1900.

46No início da carreira trabalhou na manufatura das Janelas Verdes (Constância) e posteriormente na de Campolide. Pintou sobre azulejos fabricados por estas manufaturas e nos da Real Fábrica de Louça de Sacavém. A partir de 1910 pintou sobre azulejos fabricados na manufatura Arcolena (em Lisboa na freguesia de Santa Maria de Belém), na das Devesas e fabricados por si.

47FEVEREIRO, António Francisco Arruda de Melo Cota – Genealogia, dados biográficos e obra de arquitetos, artistas e construtores civis portugueses do século XIX e XX. Raízes e Memórias. Lisboa: Associação Portuguesa de Genealogia. N.º 29 (dezembro de 2012), p. 241-292.

48Os desenhos dos azulejos exteriores são do pintor Ricardo Ruivo Júnior e pintados por Carlos Alberto Nunes. Carlos Alberto Nunes foi discípulo de José Maria Pereira Júnior ou Pereira Cão, os quais restauraram os azulejos do canal do Palácio de Queluz. Carlos Alberto Nunes * Lisboa, Ajuda 24.03.1877 † Lisboa, Anjos 25.02.1955. Era filho de João Maria Nunes, empregado na Casa Real, e de Inês Maria da Conceição dos Reis. Casou em Lisboa, Santa Maria de Belém 28.08.1899 com Guilhermina Maria de Oliveira. Ricardo Ruivo Júnior foi um dos alunos promissores da então Real Academia de Belas Artes de Lisboa, cuja obra foi elogiada pelos seus mestres. Participou em exposições, tendo sido galardoado, e teve uma bolsa do Prémio Valmor para estudar em Paris. Nessa cidade adoeceu e acabou por morrer. Ricardo Ruivo Júnior * Coimbra, Santa Cruz 15.09.1877 † Paris 07.1910. Era filho de António Ruivo Júnior e de Maria do Rosário.

49BORSI, Franco; WIESER, Hans – Op cit. p. 349-351. O lado naturalista das representações das aves e dos espécimes botânicos também tem semelhanças com a azulejaria produzida em França. A representação, em alguns casos, é realista e realçada por molduras estilizadas ao gosto Arte Nova.

50FEVEREIRO, António Francisco Arruda de Melo Cota – Álvaro Augusto Machado, José António Jorge Pinto e o movimento Arte Nova em Portugal. Lisboa: [s.n.], 2011. Dissertação de mestrado em Arquitectura apresentada à Universidade Lusíada de Lisboa. p. 575-580.

51QUEIRÓS, José – Ceramica portugueza. Lisboa: Typographia do Annuario Commercial, 1907. p. 245. As manufaturas e pintores mencionados na região de Lisboa foram: Fábrica da rua de Campo de Ourique, Lisboa, do pintor António Luís de Jesus; na Real Fábrica de Louça em Sacavém trabalhou o pintor Jorge Rey Colaço; na Fábrica Viúva Lamego o pintor José Maria Pereira Júnior ou Pereira Cão, e seu genro José Estevão Cacela de Victoria Pereira e a Fábrica de Campolide, onde trabalhava José António Jorge Pinto. Os pintores Benvindo António Ceia, Enrique Casanova e Joaquim Luís Cardoso não estavam associados a uma só manufatura, cozendo em várias, os seus trabalhos em azulejo.

52FEVEREIRO, António Francisco Arruda de Melo Cota; ANTUNES, Alexandra Paula de Carvalho – Casas de Álvaro Machado, no Alto do Estoril, e a azulejaria de José António Jorge Pinto: resumo biográfico e obra. Revista Arquitectura Lusíada [Em linha]. N.º 4 (1.º semestre 2013), p. 51-60. [Consult. 03.01.2017]. Disponível na internet: http://repositorio.ulusiada.pt/handle/11067/464?locale=pt.

53VELOSO, António Barros; ALMASQUÉ, Isabel – O azulejo português e a Arte Nova. Lisboa: INAPA, 2000. p. 77.

54Nomeadamente a azulejaria produzida na unidade fabril de Mettlach na Alemanha. Na cidade de Lisboa havia um importador direto de azulejos e mosaicos alemães, era a C. Mahony & Amaral, sediada na rua d`El Rei número 73. A Goarmon & C.ª vendia azulejos nacionais e estrangeiros. A Casimiro Jose Sabido também importava azulejos estrangeiros em 1905. O pintor em 1906 começou a trabalhar na manufatura de Campolide, também pertencente a Casimiro José Sabido.

55BORSI, Franco; WIESER, Hans, Op. cit., p. 222-230.

56A representação das flores tinha características semelhantes com as que foram pintadas para as casas de Álvaro Machado, leitaria A Camponeza e uma moradia em Esgueira (1909). No ano de 1906 o arquiteto Álvaro Machado desenhou estilizações de flores Arte Nova no projeto para a nova Muralha do Carmo, as quais são semelhantes às que foram pintadas por José António Jorge Pinto. Todavia, é curioso notar-se que estas representações de flores têm parecenças com as que foram pintadas na fachada principal da Boulangerie Timmermans e do projeto do arquiteto belga Paul Hankar, em 1896, na cidade de Bruxelas. Encontramos novamente a mesma representação das flores no trabalho de Mucha, nomeadamente no cartaz F. Champenois Imprimeur de 1898. O trabalho de Mucha parece ter sido inspirador para as cercaduras da azulejaria, na rua da Junqueira em Lisboa, atribuídas ao pintor, nomeadamente as que aparecem no cartaz alusivo à Dança (1898), à Pintura (1898) e à Poesia (1898) de Mucha. BORSI, Franco; WIESER, Hans, Op. cit., p. 54.

57A Real Fábrica de Louça em Sacavém produziu um padrão semelhante. As flores são enlaçadas por fitas azuis.

58O edifício foi totalmente demolido em 1965.

59Os suportes dos algerozes têm semelhanças com um portão em ferro românico que está na Sé de Lisboa. Na mesma época, o gosto pelo românico foi a fonte de inspiração para muitos arquitetos europeus e americanos.

60Efetivamente alguns dos motivos parecem inspirados nas iluminuras do mosteiro do Lorvão.

61Este painel é encimado por um arco com tijolos polícromos e fecho em pedra. Esta solução também foi empregue na cidade de Bruxelas. Os painéis na capital belga, em esgrafito, também são de figuras femininas envoltas por flores. Este enquadramento também tem semelhanças com os painéis em azulejo produzidos pela manufatura belga Maison Helman, ao gosto da Renascença.

62As cores escolhidas remetem-nos para a bandeira de Itália. Para mais informação sobre as obras em azulejo referentes aos edifícios com obra do pintor ver: FEVEREIRO, António Francisco Arruda de Melo Cota, Op. cit., p. 65-71. [Consult. 03.01.2017]. Disponível na internet:http://artison.letras.ulisboa.pt/index.php/ao/issue/view/7/showToc

63O pintor também enveredou pela pintura a óleo. Participou nas exposições do Grémio Artístico (1892) e do Porto (1893). Na Sociedade Nacional de Belas Artes expôs, nas exposições de 1903, 1904, 1905 e 1906. Nesta última, levou pintura a óleo e pela primeira vez, trabalhos em azulejo. Na exposição do Rio de Janeiro, em 1908, expôs telas a óleo e painéis em azulejo sous couverte (que significa pintura antes de ser vidrada), tendo sido galardoado com a medalha de prata. No decurso da investigação identificamos vários azulejos para a igreja de São Sebastião em Lisboa. No interior, o pintor realizou os painéis do baptistério, em 1939, e o painel do confessionário, em 1945. No exterior há um painel que representa Nossa Senhora do Carmo, datado de 1950, em tons de azul. Até agora, só encontramos a sua assinatura nestes painéis.

64QUEIRÓS, José, Op. cit., p. 245.

65AML, Processo de obra n.º 18844, processo n.º 2596/1.ªREP/PG/1909, f. 1.

66MOREIRA, Alberto – Casa do Sr. Agnello Barbosa: na rua do Abarracamento de Peniche : Architecto – Leonel Gaia. A Architectura Portugueza. Lisboa. Ano III N.º 8 (Agosto de 1908), p. 32.

67AML, Processo de obra n.º 35023, processo n.º 5703/1.ªREP/PG/1912, f. 1.

CORREIA, Sousa – Casa do Ex.mo Sr. José Braz Simões: no bairro Braz Simões, à Avenida Almirante Reis: arquitecto sr. Rafael Duarte de Mello. A Architectura Portugueza. Lisboa. Ano VII N.º 6 (junho de 1914), p. 21-23. Na documentação consultada não mencionam o autor da azulejaria mas, de acordo com a investigação, deverá tratar-se de mais um trabalho do pintor.

68Aluno da Real Academia de Belas Artes de Lisboa, no curso geral de Desenho. Foi desenhador, professor de desenho e ilustrador. Miguel da Torre do Vale Queriol * Lisboa, São José 05.05.1873. Filho de António Maria Ferreira de Gouveia Pimentel Franco Queriol, empregado público, e de Júlia Emília Ciríaca de Almeida Lobo da Torre do Vale. Casou em Lisboa, Alcântara 26.08.1896 com Amélia Augusta Gomes.

69O ilustrador belga Henri Privat-Livemont fez pelo menos dois cartazes para bicos de gás com camisa incandescente. Um para o Bec Liais, em 1904, e outro para Bec Auer, em 1896. Estes últimos queimadores eram comercializados em Lisboa, visto terem existido duas lojas Bico Auer, uma na rua Garrett e outra na rua da Prata. Vendiam candeeiros, queimadores para gás, globos e chaminés. O artista fez uma ilustração, para a citada A Construcção Moderna, em 1905, cujas estilizações têm semelhanças com o trabalho de Mucha, sobretudo o arco com decorações estilizadas e a figura feminina.

70O pintor foi aluno na Real Academia de Belas Artes de Lisboa, tendo-se dedicado à pintura a óleo e à aguarela. Na altura foi considerado um pintor histórico e foi o autor da azulejaria da Fabrica de Cerveja Germania, que alterou o nome para Portugália depois da Primeira Grande Guerra. Júlio Adolfo César da Silva * Lisboa 11.11.1872 † Lisboa, São Jorge de Arroios 17.12.1962. Era filho de António Rodrigues da Silva, professor de desenho, e de Maria da Luz. Casou na 4.ª Conservatória de Lisboa 21.05.1896 com Sara Bensliman.

71A fábrica foi fundada pelo pintor no mês de abril. Além da fachada mencionada, foi autor de outra, na rua da Âlfandega, em Lisboa. O pintor e José Maria Pereira Júnior ou Pereira Cão foram dois restauradores de azulejaria antiga, tendo recuperado muitos conjuntos em vários edifícios. O pai do pintor foi o ceramista António Manuel de Jesus, filho de outro que era Manuel Joaquim de Jesus. O avô foi aprendiz na Real Fábrica de Louça ao Rato, de desenho e modelação, tendo-se distinguido. Terminou o curso em cinco anos e foi nomeado oficial pintor de louça (matriculado no dia 15 de abril de 1801). Manuel Joaquim de Jesus * Lisboa, Santa Isabel 17.01.1790. Casou em Lisboa, Santa Isabel 11.04.1812 com Maria José, filho: António Manuel de Jesus * Lisboa, Santa Isabel 12.03.1816. Casou em Lisboa, Anjos 30.06.1839 com Henriqueta Maria do Espírito-Santo, filho: António Luís de Jesus * Lisboa, Anjos 19.06.1844 (pintor de louça, como vem referido no seu casamento). Casou em Lisboa, Santa Isabel 23.07.1864 com Mariana das Dores.

72QUEIRÓS, José, Op. cit., p. 102-104.

73Idem, p. 243.

74DIAS, Carlos Malheiro – A Exposição Jorge Collaço. Illustração Portugueza. Lisboa: Empreza do Jornal O Século. 2ª Série N.º 227 (27 de junho de 1910), p. 823.

75A obra do pintor Alfredo António Pinto é pouco conhecida. Existe um projeto para a decoração da igreja de São Mamede, em Lisboa, datado de 1922. Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), D-356-A. Alfredo António Pinto * Setúbal, Nossa Senhora da Anunciada 04.11.1874. Era filho de Manuel Severino Pinto e de Maria da Conceição de Barros Coutinho. Casou em Lisboa, Santa Catarina 09.09.1897 com Leonor Vitorina da Conceição Santos.

76O desenho a guache encontra-se no espólio do Museu Nacional do Azulejo. MNA, inventário n.º MNAz 1 Proj.

77Foi construída na avenida Marques Leal n.º 34, em São João do Estoril, e foi demolida. RIBEIRO, Almeida – Chalet “Tertuliano”: em S. João do Estoril: Arquitecto, sr. Tertuliano de L. Marques. A Architectura Portugueza. Lisboa. Ano VI N.º 9 (setembro de 1913), p. 36.

78O pintor também enveredou pela cerâmica, nomeadamente os painéis decorativos da casa de José Luís Vinagre na avenida da República, datados de 1912. A moradia foi projetada pelo construtor civil Fernando Vitorino dos Santos Soares. No lote adjacente, a esta moradia, o mesmo proprietário, dois anos antes, mandou construir um edifício para habitação projetado pelo arquiteto Manuel Joaquim Norte Júnior (AML, Processo de obra n.º 30052, processo n.º 3723/1.ªREP/PG/1909, f. 1. O edifício foi demolido em 1959). Tinha duas esculturas na fachada principal e pinturas decorativas (MOREIRA, Arnaldo – Predio do Sr. José Luiz Vinagre: Architecto: Norte Junior. A Architectura Portugueza. Lisboa. Ano IV N.º 3 (março de 1911), p. 11-12). Estas eram de laços, urnas e flores ao estilo renascentista. Tinham parecenças com a obra desenvolvida pelo pintor. Gabriel Mateus Constante * Seixal, Arrentela 15.05.1876 † Lisboa, Camões 04.04.1950. Era filho de José Mateus Constante, carpinteiro, e de Esperança Maria. Casou Lisboa, Beato 30.01.1902 com Maria Amélia Pinheiro.

79AML, Processo de obra n.º 44543, processo n.º 3770/1.ªREP/PG/1908, f. 1.

80LACERDA, Heitor de – Casa do Sr. Antonio Pinto da Fonseca Motta: na rua Pinheiro Chagas: architecto Norte Junior. A Architectura Portugueza. Lisboa. Ano III N.º 2 (fevereiro de 1910), p. 6.

81AML, Processo de obra n.º 24310, processo n.º 4506/1.ªREP/PG/1908, f. 1.

82MENDONÇA, Hugo de – Casa da Ex.ma Sr.ª D. Amélia Augusta Pereira Leite: nas Avenidas Ressano Garcia e Martinho Guimarães: Architecto – Norte Junior. A Architectura Portugueza. Lisboa. Ano III N.º 3 (março de 1910), p. 11.

83AML, Processo de obra n.º 1871, processo n.º 4115/1.ªREP/PG/1910, f. 1.

84COLLARES, E. Nunes – Villa Catatau: propriedade da Ex.ma Sr. ª D. Elvira Augusta Correia de Freitas Rosa: em Santo Antonio da Convalescença, estrada de Bemfica: Architecto, sr. Norte Junior. A Construcção Moderna. Lisboa. Ano XII N.º 369 (5 de maio de 1912), p. 65-66.

85AML, Processo de obra n.º 21377, processo n.º 2546/1.ªREP/PG/1910, f. 1.

86MATTOS, Mello de – Casa do Ex.mo Sr. Nuno P. de Oliveira: na Praça Duque de Saldanha tornejando para a Avenida Praia da Victoria: Arquitecto sr. Norte Junior. A Architectura Portugueza. Lisboa. Ano VI N.º 1 (janeiro de 1913), p. 4. Nos registos de pintura a fresco que temos vindo a identificar são raras as representações de figuras humanas.

87AML, Processo de obra n.º 32067, processo n.º 6832/1.ªREP/PG/1912, f. 1. A moradia foi demolida em 1969.

88ALMEIDA, Ribeiro de – Casa do Ex.mo Sr. José Malheiros Nogueira: na Avenida Cinco de Outubro tornejando para a Rua das Picôas: Arquitecto, sr. Miguel José Nogueira Junior. A Architectura Portugueza. Lisboa. Ano VII N.º 3 (março de 1914), p. 11.

89No estrangeiro e em Portugal houve uma predileção por lírios, papoilas, girassóis e nenúfares.

90Os arquitetos belgas que utilizaram o esgrafito nos seus projetos foram Paul Hankar, Édouard Pelseneer, Léon Sneyers, Ernest Blerot, Albert Roosenboom e Henri Jacobs. Na maioria, houve uma predileção pelas flores e suas folhas. Também foram representadas figuras femininas, os astros (o sol, a lua e as estrelas), animais (como galos, morcegos e corujas) e outros motivos em menor número. BORSI, Franco; WIESER, Hans, Op. cit.

91Além da pintura vitralista, também se dedicou aos esmaltes e aos mosaicos. Teve como aprendiz Ricardo Leone, que continuou à frente do atelier após a sua morte. Cláudio Augusto de Azambuja Martins * Lisboa, Lapa 11.04.1879 † 1919 (vitralista). Era filho natural de Augusto António Soares Martins, oficial do Exército e viúvo, e de Maria Eduarda de Azambuja.

92Temos vindo a registar vitrais de origem estrangeira em edifícios construídos em Lisboa, no período correspondente à segunda metade do século XIX e início do XX. Nos catálogos, sobretudo, dos grandes armazéns, podiam ser especificamente encomendados vitrais de acordo com as medidas enviadas.

93A moradia foi demolida e nas fotografias existentes pode-se observar que eram folhas estilizadas.

94Foi construída na avenida da República, teve a menção honrosa do Prémio Valmor de 1908 e foi demolida em 1950.

95As representações têm semelhanças com os vitrais produzidos em França.

96Nas fotografias existentes podemos constatar que eram estilizações de árvores e flores. No interior da escadaria foi fotografado, em 1910, parte de um painel com vitrais ao gosto do Jugendstil.

97A representação dos automóveis tem semelhanças com os anúncios publicitários da Sociedade Portugueza de Automoveis, proprietária da garagem Auto-Palace. Estes, por sua vez, foram inspirados nas ilustrações francesas. A cercadura tem semelhanças com a obra desenvolvida por Charles Rennie Mackintosh, como Manuel Rio de Carvalho sugere. Todavia encontramos as mesmas estilizações no trabalho do arquiteto belga Paul Cauchie.

98Neste estudo mencionamos as pinturas sobre vidro conhecidas do pintor. No entanto sabe-se que decorou outros estabelecimentos comerciais em Lisboa mas, infelizmente, não sabemos quais foram. O gosto pela Arte Nova foi marcante na cidade, expresso num conjunto significativo de painéis decorativos e publicitários. Todavia o pintor é mais conhecido pela sua obra em pintura decorativa, em aguarela e a óleo. Também pintou azulejos, nomeadamente vários painéis para a igreja matriz de Barcelos. Domingos Maria da Costa * Campo Maior, Nossa Senhora da Expectação Matriz 27.08.1867 † Lisboa, São Sebastião da Pedreira 13.02.1954. Era filho de António Joaquim da Costa, artista, e de Ana José dos Santos. Casou com Maria Júlia Mendonça de Freitas.

99A qual é realizada no reverso, para se poder expôr no exterior e ser vista do lado oposto.

100COSTA, Bernardino Camilo Cincinnato da – Exposição Nacional no Rio de Janeiro em 1908: Bellas Artes: Secção Portugueza. Lisboa: Typographia «A Editora», 1908. p. 42.

101DIAS, Carlos Malheiro – O pintor decorador Domingos Costa. Illustração Portugueza. Lisboa: Empreza do Jornal O Século. 2.ª Série N.º 264 (13 de março de 1911), p. 350-352.

102AML, Processo de obra n.º 27280, processo n.º 3662/1.ªREP/PG/1902, f. 1. Ficava nos números 112 a 116.

103COLLARES, E. Nunes – Interior e exterior d`um estabelecimento commercial: proprietarios os ex.mos srs. Sebastião M. dos Santos & C.ª: projecto do sr. Joaquim Antonio Vieira. A Construcção Moderna. Lisboa. Ano V N.º 124 (1 de março de 1904), p. 25-27. O mobiliário, trabalhos de marcenaria e de carpintaria foram feitos nas oficinas do construtor.

104Temos vindo a identificar diversas peças Arte Nova, de fabrico alemão e francês, que têm aparecido à venda no mercado nacional e marcadas para esta casa comercial.

105COSTA, Bernardino Camilo Cincinnato da – Exposição Nacional no Rio de Janeiro em 1908: Bellas Artes: Secção Portugueza. Lisboa: Typographia «A Editora», 1908. p. 132.

106DIAS, Carlos Malheiro – As novas construcções de Lisboa I O Palacio Sotto Maior. Illustração Portugueza. Lisboa: Empreza do Jornal O Século. 2ª Série N.º 3 (12 de março de 1906), p. 91.

107COLLARES, E. Nunes – A Pastelaria da Foz e o seu anexo “A Abadia” na P. dos Restauradores em Lisboa: Arquitecto, sr. Rozendo Carvalheira. A Construcção Moderna. Lisboa. Ano XVII N.º 496 (25 de agosto de 1917), p. 119-120.

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons