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Cadernos do Arquivo Municipal

versão On-line ISSN 2183-2176

Cadernos do Arquivo Municipal vol.ser2 no.7 Lisboa jun. 2017

 

ARTIGO

 

No vão do quinto Arco das Águas Livres. Os azulejos da Fábrica do Rato para a Ermida de Nossa Senhora de Monserrate

In the fifth arc of the águas livres. The tiles of the royal pottery factory of Rato of the chapel our lady of Monserrate

 

Celso Mangucci*; Maria Alexandra Trindade Gago da Câmara**; Teresa Verão***

*CHAIA – Centro de História da Arte e Investigação Artística / Universidade de Évora, 7000-809 Évora, Portugal.

** UAb – Universidade Aberta, 1269-001 Lisboa, Portugal.

ARTIS – Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras / Universidade de Lisboa, 1600-276 Lisboa, Portugal.

CHAIA – Centro de História da Arte e Investigação Artística / Universidade de Évora, 7000-809 Évora, Portugal.

*** CHAIA – Centro de História da Arte e Investigação Artística / Universidade de Évora, 7000-809 Évora, Portugal.

 

 

RESUMO

A Ermida de Nossa Senhora de Monserrate, sagrada em 15 de agosto de 1768, dia de festa da padroeira, conserva, ainda hoje, o programa artístico original. Construída no espaço de um dos arcos do Aqueduto das Águas Livres, pelos fabricantes de seda, é parte integrante de um novo projeto urbanístico para o Bairro das Amoreiras. No seu interior, os azulejos, pintados a azul-cobalto sobre branco, uma encomenda de 1783, representam um dos raros conjuntos da produção da Real Fábrica da Louça do Rato, documentados e ainda em situ. O estudo do edifício, da forma de organização da Irmandade e a identificação do conjunto de gravuras que estiveram na origem dos azulejos com emblemas marianos é um contributo fundamental para o conhecimento da produção da Real Fábrica de Louça.

 

PALAVRAS-CHAVE

Azulejo / Artes decorativas / Real Fábrica de Louça do Rato / Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate

 

ABSTRACT

The Our Lady of Monserrate hermitage chapel, which construction began in 1761, was sacred on the 15th of August 1768, the patroness' feast day. It still preserves the essential of the original artistic program. The chapel was built inside one of the arches of the Águas Livres Aqueduct by the silk manufacturers in the context of the urban project of the quarter and of the Praça Nova das Fábricas. It is part of the large complex of the Real Fábrica das Sedas (Silk Royal Factory). In its interior, the blue and white tiles, which were ordered in 1783, represent one of the rare documented and in situ ensembles of the production of the Real Fábrica da Louça do Rato (Pottery Royal Factory of Rato). The study of the building, of the Brotherhood's organization and of the tiles with symbols of the Cult of the Virgin Mary is crucial for understanding the production of the Real Fábrica da Louça.

 

KEYWORDS

Tiles / Decorative arts / Royal Pottery Factory of Rato / Our Lady of Monserrate Brotherhood

 

 

1. O LUGAR DA CAPELA REAL DE NOSSA SENHORA DE MONSERRATE E A HISTÓRIA DO EDIFÍCIO

No belo desenho dos alçados e da planta da Mãe d'Água das Amoreiras [fig. 1]1, realizado em 1861, o autor, não identificado, prefere não representar a Ermida de Nossa Senhora de Monserrate e faz notar que “on n'á pas marquee cette Chapelle, et bien des petites maisons, et baraques construes sous les arches, comme étant des choses heterogénies au but, et a l'Architecture de l'Aqued.e. Com vista da Praça das Amoreiras, o desenho pretendia devolver o caráter monumental e original das arcarias da grandiosa obra joanina, que se julgava maculado pela introdução de outras construções espúrias e anacrónicas, onde se incluía a Ermida, construída no vão do arco central.

 

 

Se recuperarmos a cronologia das intervenções nessa nova área de expansão da cidade, consubstanciada nos desenhos do arquiteto Carlos Mardel, é evidente que existem dois tempos na definição do projeto urbanístico das Amoreiras. Um primeiro, monumental, se quisermos, marcado pela conclusão das obras do aqueduto, com o arco triunfal, as arcarias e a Mãe d'Água, representado em desenho de 1745 e, depois, um segundo, submetido a um caráter mais pragmático, com a definição da praça e da nova malha ortogonal do Bairro das Fábricas, cujas primeiras 60 moradias começam a ser construídas, por iniciativa estatal, após a terraplanagem2 ordenada em 1759.

A construção da Ermida, apesar da arquitetura singela e da sua localização pretensamente desagradável [fig. 2], integra-se nessa segunda fase. Foi possível graças aos donativos dos fabricantes de seda, que reuniram cerca de 727 mil reis3, e sustentaram o início das obras em 1761, ainda em vida do arquiteto Carlos Mardel que, como diretor das obras do Aqueduto, planeou e dirigiu as obras da praça e do novo bairro.

 

 

O templo estava concluído em 1768, e a imagem da Virgem de Monserrate, que se encontrava anteriormente numa capela de madeira, foi transferida com solenes festas em honra da padroeira, na presença da família real. Foi também nesse ano que D. José confirmou a doação do chão e das casas à Irmandade e isentou a Ermida de sujeição ao domínio eclesiástico da paróquia de Santa Isabel, ficando sob a sua direta proteção.4

 

2. A IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DE MONSERRATE E OS FABRICANTES DA SEDA

Como bem notou Walter Rossa5, a reforma manufatureira conduzida pelo marquês de Pombal conduziu também a uma reforma urbana [figura 3] seguindo de muito perto as ideias expostas pelo mestre Roberto Godin que, numa petição dirigida ao rei D. José, expõe as suas ideias para a revitalização das unidades fabris em Portugal:

Por este respeito as outras Naçoens não tem as suas Fabricas unidas em hum só Corpo de Caza, mas as conservão distribuídas pelas Cazas dos officiaes; e para esse fim os decretos dos Soberanos, e determinaçoens das Cidades, onde há estes estabelecimentos, obrigão, que as Cazas do povo em certos bayrros ás Fabricas determinados tenhão os últimos andares de uma certa largueza, tal altura, e tantaas genelas; o qual modo de estabelecimento hé tãobem mais útil aos officiaes, porque tendo os teares nas suas próprias Cazas assistem com mais comodid.e ao trabalho, e cazando como convem a Monarquia, são ajudados de suas milheres, e família, com que adiantão as obras, que se entregão, e sustentão luzidamente as suas casas(…)6.

De maneira um pouco surpreendente, o antigo proprietário e responsável da primeira fábrica das sedas do período joanino, era o novo arauto das novas políticas pombalinas e, contrariando o modelo da grande fábrica, propunha que o novo bairro fosse formado pelo aglomerado em quarteirões de pequenas unidades familiares que eram ao mesmo tempo residência e oficina dos mestres fabricantes. Apesar de utilizar um modelo tradicional, o programa respondia ao principal desiderato da Fábrica-Escola, que ao formar dezenas de aprendizes de cinco em cinco anos, necessitava de garantir ao mesmo tempo a multiplicação do modelo e a ampliação de novas unidades industriais. Para garantir o sucesso económico, o aumento da produção e a manutenção dos padrões de qualidade, os novos teares ficavam associados à Fabrica Real e gozavam dos mesmos privilégios, assumindo coletivamente a execução das encomendas.

Para além de formalmente pertencerem à Fábrica Real, os fabricantes de seda filiavam-se numa segunda estrutura social, e estavam congregados na Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate, uma outra solução tradicional de organização coletiva dos profissionais do mesmo ofício, com forte tradição em Lisboa, a exemplo dos pintores na Irmandade de São Lucas, dos carpinteiros e pedreiros na Irmandade de São José e dos escultores na Ordem Terceira da Penitência de São Francisco, em Mafra7.

Com pouca surpresa, Roberto Godin é o primeiro irmão da confraria de Nossa Senhora de Monserrate, registando--se em 1761. A confraria cumpria as habituais funções de reconhecimento profissional8, de comunhão de prática religiosa e de proteção social9, auxiliando os irmãos em caso de doença10. Nesse novo modelo urbano e industrial, podia desempenhar funções ainda mais específicas, como a responsabilidade pela manutenção das mais de três centenas de amoreiras plantadas na praça, em 1771, e ainda custear a criação de bichos da seda11.

No início, a irmandade era constituída apenas pelos fabricantes “de Seda do Largo(… )os primeiros que se offerecerão e obrigarão a erigir e sustentar esta Irmandade”. Mais tarde uniram-se a estes os fabricantes de “estreito”, das obras de seda mais correntes, e depois os artífices das novas fábricas criadas12. Em 1774, por exemplo, o pintor de azulejos e mestre da Fábrica da Louça, Sebastião de Almeida, inscreve-se entre os irmãos da confraria.

 

3- A ENCOMENDA DOS AZULEJOS

Basta comparar o desenho da planta e os alçados [fig. 4], muito provavelmente de autoria de Carlos Mardel, com o atual edifício da Ermida de Nossa Senhora de Monserrate, para notarmos algumas diferenças importantes com o projeto construído, que contou, após a morte do arquiteto, com o acompanhamento de Miguel Ângelo de Blasco. Toda a fachada avançou ligeiramente para fora dos arcos, ganhando-se alguma altura e fazendo a concordância com a arquitrave dos pilares do aqueduto. A abertura de um grande janelão central, em detrimento de duas janelas menores, acabou por impedir a definição da sanca e do frontão triangular, o que tornou a fachada sem graça. No interior, acrescentaram-se duas capelas colaterais, definindo claramente o espaço da nave. Mas, no essencial, para o plano geral da Praça das Amoreiras, manteve-se a ideia do arquiteto de Bratislava, com um passeio livre, a toda a largura da praça, ao lado das majestosas arcarias do Aqueduto, a verdadeira razão de ser da existência da praça.

 

 

 

 

As obras do templo decorreram a bom ritmo, sem sobressaltos, como demonstram os recibos de pagamento de oficiais de canteiro13, serradores14 e o fornecimento de materiais de construção, como tijolos15 e pedraria “ordinária”16.

O retábulo da capela-mor, de elegante recorte neoclássico, e os dois laterais, os castiçais e o sacrário são da autoria do conceituado mestre entalhador Silvestre Faria Lobo17. Já estariam prontos em setembro de 1766, quando se despendeu com as pinturas e dourados das “capellas e toda a mais igreja”, em “jornais e ouro e tintas”, catorze mil e seiscentos reis18.

Com a sagração da Igreja, as despesas elencadas passam a ser de outra natureza, e dizem respeito a alfaias e ornamentos. Em 1769, são doadas três lâmpadas de prata “huma para o altar de Nossa Senhora de Monserrate de valor de quatrocentos mil reis, e outra para o altar de Senhor Jesus colocado na mesma capella de valor de trezentos e cincoenta mil reis e outra para o altar do Senhor Sam José também colocado na mesma capela de valor de trezentos mil reis”19.

Encomendados em 1783 e, portanto, mais de uma década depois da sagração do templo, os painéis de azulejos, fabricados no Rato, parecem não ter feito parte do projeto decorativo original. Em azul e branco, com as suas teimosas cartelas rocaille dão conta de um gosto serôdio, em contraciclo com o próprio projeto do edifício.

No livro de receitas e despesas, os montantes despendidos fazem menção de um pagamento dividido em três parcelas: “(…) pelo que pertence á Fábrica a 14, 36$876/ 12 alizares, $60, 7$200/ pagou-ce ao pintor, a 13/ o valor de 34$242/ pagou-ce e ao ladrilhador 23$706”. O historiador Santos Simões transcreve um recibo com um registo ainda mais completo, com a assinatura do mestre da Fábrica, João Anastácio Botelho de Almeida:

Recebi do Senhor José Goncalvez, como Procurador da Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate a quantia de noventa e cinco mil quinhentos e quarenta e quatro reis importância do Azulejo que se fez nesta Real Fábrica de Louça para a dita Irmandade e por estar pago e satisfeito da dita quantia lhe passei o presente recibo. Lisboa 9 de Set.o de 1783. João Anastacio Bottelho de Almeida São 95$544rs20.

Embora seja relativamente consensual que a Fábrica de Louça tenha começado a produzir azulejos durante a gestão do pintor Sebastião de Almeida, é preciso relembrar que as encomendas mais complexas, de azulejaria figurativa com medidas específicas para um espaço arquitetónico, não faziam parte da gestão corrente da fábrica. É fácil perceber que para uma Fábrica-Escola, vocacionada para a produção de louça de mesa, era mais fácil introduzir a produção de azulejaria seriada, produzida seguindo um modelo pré-determinado pelo diretor artístico, exatamente como a restante produção cerâmica. Além do mais, toda a mercadoria, louça e azulejos, estaria disponível nos armazéns em quantidades variáveis, segundo a necessidade dos clientes, e facilmente disponíveis para exportação.

Mais importante, a Real Fábrica de Louça, como demonstra a documentação, formava oleiros e pintores de louça e o próprio Francisco de Paula e Oliveira, a quem Vandelli maldosamente imputa interesses no “negócio do azulejo”21, formado como oleiro e depois de uma aprendizagem na pintura de louça, faz questão de reclamar um aprendizado de desenho fora da Fábrica do Rato, fundamental para o seu estatuto de pintor de azulejos e para as suas pretensões como diretor da fábrica.

Mesmo a informação de Cirilo Volkmar Machado de que o pintor de azulejos Manuel António de Góis (1732-1790), teria sido contratado no tempo do marquês de Pombal como pintor de figura para a Real Fábrica do Rato22, não encontra correspondência documental. Essa ideia de “contratação”, ou seja, a existência de um vínculo estável com o aparelho produtivo da fábrica, parece pouco consentânea com o que conhecemos do modus operandi no Rato, decididamente apostada na produção de azulejaria seriada e onde as composições para a decoração de igrejas e palácios passava pelo tradicional circuito mestre ladrilhador-pintor, por força da necessária adaptação das composições a um espaço arquitetónico específico.

Demonstrando outra característica importante da produção da azulejaria figurativa, os emblemas representados nos azulejos da Ermida de Monserrate foram retirados da obra Innocentia Vindicata, de Celestino Sfondrati23, com gravuras de Gabriel Ehringer24, uma obra com edições sucessivas na primeira metade do século XVIII.

A obra do bispo do cantão suíço de St. Gallen apresenta uma qualidade gráfica assinalável, como é apanágio das impressões de Augsburgo, e está dividida em duas partes. A primeira, na melhor tradição escolástica, contém um longo comentário ao pensamento de São Tomás de Aquino, corroborando o dogma da conceção sem mácula no pensamento do doutor angélico; enquanto a segunda apresenta uma coleção portentosa de 42 emblemas ricamente emoldurados.

Do extenso conjunto de gravuras presentes nesta obra para justificar e comunicar todo o mistério da Imaculada Conceção de Maria foram escolhidos para representar nos azulejos, os símbolos da oliveira, com o lema "unica naufragio superest" [fig. 4], "vis fortior arcet" [fig. 5], a videira "intacta placet" [fig. 6], a serpente "inimicitias ponam" [fig. 7], o eclipse "noli me tangere" [fig. 8] e a pirâmide "umbra procul" [fig. 9].

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não deixa de ser curioso que o resultado de uma obra profundamente didática e decorativa apresente-se ontem como hoje, profundamente erudita e indecifrável. É que a relação desses símbolos, necessariamente metafórica e propositadamente poética com o tema da Mãe de Deus, são por sua vez explicados num pequeno texto que acompanha cada uma das gravuras, mas que obviamente não tem lugar nos azulejos.

A Ermida das Cruz das Almas, em Campolide, possui painéis de azulejos polícromos, com cartelas com simbologia idêntica, com origem na mesma obra, mas pelo menos com um emblema diferente. Provavelmente, tal como os de Monserrate, foram executados na Fábrica do Rato, nesse caso com um emolduramento neoclássico. Nessas duas obras é evidente a presença de um iconógrafo com erudição e responsabilidades catequéticas na escolha dos temas, com o pintor de azulejos a ficar responsável pelo programa ornamental.

 

4 - PEQUENAS OBRAS DE CONSERVAÇÃO E A NOVA PRAÇA

Se excetuarmos as constantes obras de ampliação das casas anexas, seja para residência do pároco, seja para serviço da confraria, poucas mudanças foram realizadas no edifício. O camarim para o trono da imagem da Nossa Senhora de Monserrate foi refeito em 1787, substituindo-se o tabique por obra de alvenaria, obra sinalizada com uma cruz de azulejos com o respetivo cronograma. Confirmando a manutenção das linhas originais do edifício, as poucas intervenções conduzidas nos dois séculos seguintes foram reduzidas, encontrando-se suficientemente documentadas. No século XIX, apenas duas campanhas de obras são dignas de menção, uma efetuada em 1821 e outra em 187825 ou 1879. Esta última motivou a realização de cerimónia solene de bênção e reabertura26 e deve estar associada ao programa da nova praça que, infelizmente, ditou a remoção das amoreiras, em 1863. É desse período e dessa vocação monumental e restauradora o desenho que mencionamos na abertura desse texto (1861) e, provavelmente, a demolição de alguns anexos da Ermida de Monserrate.

No século XX, a documentação do Arquivo Municipal de Lisboa confirma obras diminutas de manutenção e conservação. A primeira destas intervenções ocorre em 1928, com “limpezas e reparações interiores e exteriores, exceto pintar cantarias: reparações de canos de esgoto”27. O mesmo tipo de intervenções volta a surgir em 193228 e 193729. Em 1940 a irmandade é intimada pelo Serviço de Urbanização e Obras camarário a efetuar obras, sendo referida a limpeza da propriedade30 e, a que responde dizendo que em 1937 já tinha efetuado intervenções, argumentando que “esta capela vive somente de esmolas”31. Ainda assim, em 1942, procede-se à reparação do telhado e algerozes32.

Novas “beneficiações e limpezas” seguem-se em 195333, sendo que em 1956 é concedida uma licença para proceder à reparação do telhado da capela34.

Após mais uma intervenção efetuada em 196435, no ano seguinte é solicitada licença para reparações após os estragos provocados por temporal36, bem como autorização a aquisição de um anexo à capela37.

 

CONCLUSÃO

Marcada por uma conjuntura artística de transição e onde se definem mudanças tanto ao nível da arquitetura, como da sua respetiva decoração, a Ermida de Nossa Senhora acompanhou neste novo gosto num programa decorativo integrado destacando-se a encomenda dos azulejos à sua vizinha Fábrica do Rato.

Como exemplo característico da produção do Rato, entre os anos de 1780-1785, durante o período do mestre Manuel José do Nascimento, e gestão de João Anastácio Botelho de Almeida, este conjunto privilegia os painéis de cabeceiras recortadas com emolduramentos rococó.

Cirilo Wolkmar Machado, nas suas memórias sobre os pintores, refere que a depuração do vocabulário ornamental neoclássico foi principiada por Félix Salla38, um mestre estucador italiano, que teria com grande sucesso colaborado nas decorações do Palácio dos Condes de Farrobo, nas Laranjeiras:

Quando Joaquim Pedro Quintela fez o seu palacio nas Larangeiras debaixo da direcção de seu tio o Padre Bartholomeu Quintela da Congregação do Oratorio, fez João Paulo a maior parte dos tectos, por desenhos do mesmo Padre. Já quasi no fim da Obra appareceo o Salla; e o seu gosto de desenho, e modo de trabalhar agradou por estremo, ao dito Padre. Era elle discípulo do celebre Albertoli, Milanez, que renovou na Italia o gosto dos bellos ornamentos usados no tempo de Augusto, e dos Gregos.39

Bem informado, o nosso pintor historiador que interveio nessas decorações pictóricas, identifica a formação do estucador Félix Salla com o suíço Giacomo Albertolli (1761–1805), nascido na província de Ticino, terra natal de vários estucadores que se haviam fixado em Lisboa, na segunda metade do século XVIII. Por certo, Cirilo estava familiarizado com a obra do professor de desenho de ornato da Universidade de Pádua, impressa em vários manuais didáticos, e uma das mais influentes obras na renovação do vocabulário neoclássico europeu.

A profunda inserção dos pintores de azulejos no métier dos pedreiros, mestres ladrilhadores e estucadores ativos nas campanhas decorativas dos edifícios parece ser a origem da renovação do vocabulário ornamental também na azulejaria, mais uma vez corroborando a especial relação dos azulejos com o desenho de ornatos para a arquitetura, fonte primordial para a renovação da produção também da Real Fábrica de Louça do Rato.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Fontes

Fontes Manuscritas

Arquivo da Ermida de Nossa Senhora de Monserrate

Maços de 1761, 1764, 1766, 1769, 1772, 1775, 1776, 1777, 1779, 1787 e 1796.

Breve de estar fora do dominio da parrochia, esta real capella, 11 de agosto de 1786.

Livro dos Assentos da Irmandade de N. Senhora do Monserrate. Lisboa: Na Officina de Miguel Rodrigues, 1761.

Livro do Inventário de Todos os Bens desta Real Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate, 1772.

Livro de Despeza e Receita da Confraria de Senhor. Jesus da Agonia da Real Capela de Nossa Senhora de Monserrate, 1789.

Livro de Obrigações de cargo de Senhor Jesus da Agonia, s/d.

Livro de Receita e Depeza da Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate sita no Arco das Ágoas Livres na Praça dos Fabricantes, 1770, 1775.

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Livro de Receitas e Despezas de Nossos Irmãos Pobres da Irmandade de Nossa nhora de Monserrate, s/d.

Livro dos Termos de Nossa Senhora de Monserrate, 1773.

Pauta dos Mezarios que hão de servir na Meza de Nossa Senhora de Monserrate, 1817; 1821;1824 a 1866.

 

Arquivo Municipal de Lisboa

Alvará de D. José referente à doação do chão da ermida de Monserrate. de 17 de junho de 1768. Documentação avulsa sobre a administração municipal (1628-1887), f. 382-385.

Processo de obra n.º 35406.

Ermida de Nossa Senhora de Monserrate, fachada principal. Eduardo Portugal, PT/AMLSB/POR/ 056705.

 

Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Alvará fazendo pura, perpétua e irrevogável mercê, doação e esmola aos irmãos da Irmandade da Senhora de Monserrate do chão em que está fundada a Ermida da Senhora no vão do quinto arco das Águas Livres fora da praça das Sedas para a parte da estrada e do das casas do seu dote contíguas à mesma ermida, de 17 junho de 1768. Real Fábrica das Sedas, liv. 384, f. 170.

Decreto ordenando que nas ruas que fazem frente ao pórtico e largo das Águas Livres se mandem levantar sessenta edifícios na forma do plano e planta das mesmas ruas com outras proveniências, para estabelecimento dos fabricantes, de 14 de março de 1759. Real Fábrica das Sedas, liv.384, f. 8.

Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate da Nação Espanhola do Mosteiro de S. Bento de Lisboa, 1770. Desembargo do Paço, maço 2037, nº 33.

Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate da Nação Espanhola do Mosteiro de S. Bento da Saúde, rendimento que tinha em 1770. Desembargo do Paço, maço 2037, nº 33.

Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate de Lisboa Consulta e provisão sobre compromisso, 1784. Desembargo do Paço, maço 2116, nº 59.

Livro de Registo dos Estatutos, Alvarás, Decretos, Avisos e Informações pertencentes à Meza da Direcção da Real Fábrica das Sedas e suas dependências.

Plano da edificação do bairro das Águas Livres para o estabelecimento dos artífices que trabalham em sedas de matizes incorporados na Real Fábrica das Sedas, 4 de março de 1759. Real Fábrica das Sedas, liv. 384, f. 6v.

 

Biblioteca Nacional de Portugal

Reservados

Livro de algumas irmandades e suas indulgências, cód. 1204.

Relação de Milagres de Nossa Senhora da Penha de França, Monserrate, e Guadalupe em diferentes santuários de Portugal e Espanha e de várias imagens de Christo, Letra do século XVIII, I. vol., 159 f.

 

Museu Nacional de Arte Antiga

Gabinete de Desenhos

Planta e Alçado da Capela de N. S. de Monserrate; desenho do século XVIII, nº de inventário 1651.

Desenho do Plano do projeto do Bairro das Águas Livres da autoria de Carlos Mardel, 1759, nº de inventário 1648.

 

Fontes Impressas

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SEQUEIRA, Gustavo Matos – Depois do terremoto: subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1922.         [ Links ]

SILVA, J. Vieira da – O Arco e a Mãe de Água das Amoreiras. Boletim da Comissão de Fiscalização das Águas de Lisboa. Lisboa. 1948. Separata.         [ Links ]

SIMÕES, J. M. dos Santos – Rua das Amoreiras, Lisboa: Capela de Nossa Senhora de Monserrate, Ábside [Em linha]. In Colecção Santos Simões, inventário e estudos sobre azulejaria. Lisboa [Consult. janeiro de 2017]. Disponível na Internet: http://digitile.gulbenkian.pt.

WOHL, Helmut – Carlos Mardel and his Lisbon Architecture. Apollo. Londres. Nº 134 (Abril 1973), p. 350-359.         [ Links ]

 

Agradecimentos

Sandra Saldanha; Manuel Sommer Ribeiro (Arquivo da Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate); Museu de Lisboa-Palácio Pimenta; Arquivo Municipal de Lisboa; Alexandra Markl (Museu Nacional de Arte Antiga); Arquivo Histórico da Secretaria-Geral do Ministério da Economia e do Emprego

 

Submissão / submission: 08/02/2017

Aceitação / approval: 31/03/2017

 

 

NOTAS

* António Celso Hunyady Mangucci é historiador de Arte, e prepara atualmente a sua tese de doutoramento sobre a azulejaria Barroca dos colégios jesuítas, como bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia (SFRH/BD/101946/2014). Tem publicado textos em revistas especializadas sobre o património artístico e colaborado com o Museu Nacional do Azulejo em diversas exposições. É investigador convidado do Centro de História da Arte e Investigação Artística (CHAIA) da Universidade de Évora. Correio eletrónico: cmangucci@gmail.com

** Maria Alexandra Trindade Gago da Câmara é historiadora de Arte. É docente na Universidade Aberta onde se doutorou em 2002. É investigadora do Centro de História da Arte e Investigação Artística (CHAIA) da Universidade de Évora, e do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (ARTIS). Tem como principais áreas de trabalho os séculos XVII e XVIII nas Artes Decorativas, Iconografia, Cenografia, e também Arquitetura civil destacando-se a Azulejaria. Neste âmbito tem publicado diversos estudos e livros e realizado conferências no estrangeiro e em Portugal. Correio eletrónico: agagodacamara@sapo.pt

*** Maria Teresa Canhoto Verão, nascida em 1979, é licenciada em História e possui mestrado em História da Arte pela FCSH da Universidade de Lisboa na área da Azulejaria. Colaborou com diversas instituições de renome em projetos nos domínios da História e da História da Arte. Presentemente é bolseira de investigação do programa doutoral Heritas, no Centro de História da Arte e Investigação Artística CHAIA da Universidade de Évora. Correio eletrónico: teresaverao@gmail.com

1Elevation du château d'eau et de l'Aqueduc das Ágoas Livres des eaux libres du côté de la Place das Amoreiras. Arquivo Histórico do Ministério de Obras Públicas. Cota D 2614C. Publicado no Catálogo da exposição MOITA, Irisalva, dir. – D. João V e o abastecimento de água a Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal, 1990. vol. II, p. 84.

2Tal como refere o aviso de 22 de maio de 1759, do Ministério do Reino, assinado pelo monarca: “Por decreto de 14 de março do corrente anno, fui servido ordenar ao Dezembargador Pedro Gonsalves Cordeiro Pereira, do meu conselho, que serve de regedor, mandasse terraplenar a praça imediata aos Arcos das Aguas Livres, no sitio do Rato e desimpedir todo o mais terreno em que se hade edificar o novo bairro dos fabricantes de sedas, na forma da planta do Tenente-Coronel Engenheiro Carlos Mardel: E para que esta minha Real determinação, tenha logo o seu devido cumprimento, sou outrossim servido que a Junta do Comércio destes Reinos e seus domínios mande fazer a referida obra pela direcção do sobredito tenente-coronel Engenheiro (..)”. SEQUEIRA, Gustavo Matos – Depois do terremoto: subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1922. p. 167-168.

3Arquivo da Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate (AINSM), 1766 (maço). Veja-se a transcrição do documento, em anexo [doc.1].

4AINSM, Breve de estar fora do dominio da parrochia, esta real capella, 11 de agosto de 1786.

5ROSSA, Walter – Além da Baixa: indícios de planeamento urbano na Lisboa setecentista. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitetónico, 1998. p. 121.

6Apresentamos apenas um excerto do documento transcrito por ROSSA, Walter, op. cit., apêndice 13, p. 153.

7FLOR, Susana Varela; FLOR, Pedro – Pintores de Lisboa: séculos XVII-XVIII: a Irmandade de S. Lucas. Lisboa: Scribe, 2016 e COUTINHO, Maria João Pereira; FERREIRA, Sílvia – A Irmandade de Nossa Senhora da Doutrina da Igreja de São Roque. Lisboa: Editora do Caos, 2014. Agradecemos a Dr.ª Sandra Saldanha as informações referentes à Ordem Terceira de Mafra.

8Como se pode depreender por esse assento, a pertença na Confraria era obrigatória para os fabricantes de seda: "Lisboa 7 de Mayo de 1787 Dizem o Juiz, e mais Mezarios da Irmandade de Nossa Senhora do Monserrate, que esta Irmandade se erigio para nella se emcorporarem todos os Artifices das Corporaçoens das Reaes Fabricas, seguindo estes o exemplo de todas as Corporaçoens de Artistas, os quaes em suas diferentes claces, são rigorozamente obrigados a alistar se nas suas Irmandades, não lhe permetindo, sem esta circinstancia, exame, ou carta de aprovação; e assim formarão os supplicantes seu Compromisso, o qual foi aprovado e confirmado por sua Magestade Fidelicima, determinando na rua Regia Provizão, que sejão indespençavelmente Irmaos desta Irmandade todos os individuos que laborarem em teares de seda para que desta forma possa subsistir, e nestes termos." AINSM, 1787 (maço), 7 de maio de 1787.

9PENTEADO, Pedro – Confrarias portuguesas da época moderna: problemas, resultados e tendências de investigação. Lusitana Sacra. 2º Série Nº7 (1995), p. 15-52.

10AINSM, Livro de Receitas e Despezas dos nossos Irmãos Pobres da Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate.

11O início da arborização contou com a presença do marquês de Pombal que, em gesto simbólico, plantou a primeira amoreira. Ver SEQUEIRA, Gustavo Matos – Depois do terremoto: subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1922. p. 238 e 247.

12AINSM. Livro das Eleições de Nossa Senhora de Monserrate, Eleição dos Irmãos que andam a servir a Meza o ano de 1769 a 1770 e Pauta dos Mezarios que hão de Sevir na Meza de Nossa Senhora de Monserrate.

13AINSM, 1761 (maço), 12 de junho de 1761.

14Idem, 1764 (maço), 6 de dezembro de 1764.

15Idem, 1761 (maço), 16 de agosto de 1761.

16Idem, 1761 (maço), 18 de agosto de 1761.

17GUEDES, Natália Correia – O palácio dos senhores do Infantado em Queluz. Lisboa: Livros Horizonte, 1971. p. 339. Veja-se também a nota de pagamento: “pello que despendeu o nosso irmão thezoureiro para acabar de pagar a factura do sacrário a Silvestre de Faria L., como consta do seu recido de dezasseis mil reis.” Livro de Despesa de Nossa Senhora de Monserrate, f. 7, ano 1773.

18Idem, 1766 (maço), 6 de setembro de 1766.

19Idem, 1769 (maço), 11 de agosto de 1769.

20SIMÕES, J. M. dos Santos – Rua das Amoreiras, Lisboa: Capela de Nossa Senhora de Monserrate, Ábside [Em linha]. In Colecção Santos Simões, Inventário e Estudos sobre Azulejaria. Lisboa. [Consult. Janeiro de 2017]. Disponível na Internet:http://digitile.gulbenkian.pt.

21A prática de remuneração fora da contabilidade quotidiana manteve-se mesmo quando o pintor de azulejos é empregado da fábrica, e está na origem das acusações de António Vandelli sobre aproveitamento económico ilícito contra Francisco de Paula e Oliveira, no famoso “negócio dos azulejos”. PEREIRA, João Castel Branco – Notícias para a história dos azulejos na Real Fábrica de Louça. In PAIS, Alexandre Nobre; MONTEIRO, João Pedro; HENRIQUES Paulo, coord. – Real Fábrica de Louça, ao Rato. Lisboa: Instituto Português de Museus, Museu Nacional do Azulejo, 2003. p. 436-447.

22“Concedido por Sua Majestade, tive por meu Ajudante nas Obras Reais, de Mafra, e Ajuda, Bernardo António d'Oliveira Goes, filho de Manoel António de Goes, natural do lugar da Lobageira, Freguesia de São Domingos da Fanga da Fé, termo da Vila de Torres Vedras: seu pai também foi Pintor de figura empregado pelo Marquês de Pombal na fábrica dos azulejos, da qual se retirou para as Províncias por desgosto de intriga: pintou, em Torres Vedras na casa do Despacho da Irmandade dos Clérigos Pobres, na Igreja de São Pedro, os 4 Evangelistas, na Vila da Ericeira; e em Mortágua existem obras suas; porém depois que casou deu-se ao trabalho de cuidar nas suas fazendas, e em uma dizimaria que alcançou, por cujas ocupações, se deixou totalmente da Arte.” MACHADO, Cirilo Volkmar – Collecção de memorias, relativas às vidas dos pintores, e escultores, architetos, e gravadores portuguezes, e dos estrangeiros, que estiverão em Portugal. Lisboa: Imprensa de Victorino Rodrigues da Silva, 1823. p. 318.

23SFONDRATI, Celetino – Innocentia Vindicata. In Qua Gravissimis Argumentis Ex S. Thoma Petitis Ostenditur, Angelicum Doctorem Pro Immaculato Conceptu Deipar' Sensisse & Scripsissue de Celestino Sfondrati, S. Galli : Typis ejusdem Monasterij, excudebat Jacobus Müller, 1698.

24Gabriel Ehringer (1652-1736) um pintor e gravador ativo em Augsburgo, assina a primeira gravura antes da coleção dos emblemas. É provável que se apoie em desenhos de um artista não identificado, próximo de Sfondrati, que elaborou os emblemas e cada uma das cartelas.

25SEQUEIRA, op.cit., p. 244.

26A Junta das Obras Públicas reparou os telhados e a Irmandade de Monserrate procedeu às restantes intervenções. HENRIQUES, António José – Monographias historicas e descritivas das capellas de Nossa Senhora de Monserrate e Santo António de Lisboa, convento de Nossa Senhora do Desterro e hospital de Todos os Santos. Lisboa, Imprensa Nacional, 1904. p. 7, 8.

27Arquivo Municipal de Lisboa (AML), Processo de obra n.º 35406, pedido de licença para obras particulares de 27 de agosto de 1928. Igreja de Nossa Senhora de Monserrate.

28AML, Processo de obra n.º 35406, Pedido de licença para obras particulares de 30 de setembro de 1932. Igreja de Nossa Senhora de Monserrate.

29AML, Processo de obra n.º 35406, Requisição de licença para pequenas obras de 4 de setembro de 1937. Igreja de Nossa Senhora de Monserrate. Idem, Requisição de licença para limpeza de prédios de 8 de outubro de 1937.

30AML, Processo de obra n.º 35406, Informação de 7 de agosto de 1940, Processo n.º 4.ª/O/2385/1940.

31AML, Processo de obra n.º 35406, Processo n.º 40566/1940.

32AML, Processo de obra n.º 35406, Processo n.º 36131/1942.

33AML, Processo de obra n.º 35406, Processo n.º 31320/DAG/PG/1953.

34 AML, Processo de obra n.º 35406, Processo n.º 28551/PET/1956.

35 AML, Processo de obra n.º 35406, Processo n.º 15263/PET/1964.

36 AML, Processo de obra n.º 35406, Processo n.º 25877/PET/1965. Requerimento de 25 de outubro de 1965.

37AML, Processo de obra n.º 35406, Processo n.º 25877/PET/1965. Informação de 29 de dezembro de 1965.

38Sobre a colaboração entre o pintor português e o estucador em obras para o barão de Quintela, veja-se: BRAGA, Helena Sofia – “The council of Gods” from Cyrillo Volkmar Machado: analysis of the decorative painting in the ceiling of the ballroom from the barão de quintela palace (Lisbon). Artis on, Lisboa: Universidade de Lisboa. N.º 1 (2015), p. 100-112.

39MACHADO, Cirilo Volkmar – Collecção de memorias, relativas às vidas dos pintores, e escultores, architetos, e gravadores portuguezes, e dos estrangeiros, que estiverão em Portugal. Lisboa: Imprensa de Victorino Rodrigues da Silva, 1823. p. 271-272.

 

ANEXOS

Documento 1

Arquivo da Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate, s/ cota e a data é 1761.

[f. 1] Em o primeiro de Agosto de 1761 derão principio os Mestres Fabricantes de Sedas Largas que se achavão estabelecidos a nossa Capella de N. Senhora de Monserrate sita debaixo do quinto arco de Agoas Livres pera nella se venerar a mesma Senhora que se achava em huma barraca de madeira, que tinha sido dos Religiosos de N. Senhora do monte do Carmo, na qual tinhão prezestido por causa do terremoto do primeiro de setembro de 1755 em te o dia em que se colocou a dita barraca aos mesmos Religiosos sendo a dita Imagem feita por esmolas que derão varios devotos, e o darem principio à mesma obra, derão os mesmos Fabricantes, e mais pessoas anexas à mesma Fabrica, de esmola a quantia de setecentos vinte sete mil e duzentos reais, e pello Alvará que se alcançou o primeiro de Agosto de 1763 o qual se cha copiado no Compromisso a (?) em que S. Magestade foi servido que admitissem na sua Irmandade a que tinhão da do principio Irmãos de outra qualquer ocupação, e foram admitidos na forma do mesmo Alvara.

Findou a obra da nossa Capela em o primeiro de Agosto de 1768 e foi tresladada a Imagem de N. Senhora de Monserrate pera a nossa Capella no dia 15 do mesmo mes dia em que se venera a gloriossa Asunção.

A obra da nossa Capela [f. 2] E cazas em trinta e seis mil cruzados; forão continuando todos os Mestres Fabricantes oficiais pesoas da mesma Laboração com as suas esmolas e meio por sento que prometerão dar de todos os lucros das suas manufaturas the o dezemparo da dita obra ficando isentos de pagar anuais enquanto durase o dito emprestimo como consta do termo que se acha lansado esmola dos termos, e porque segundo a ordem e despuzição he preciso declarar no conhecimento do que tem dado os nossos Irmãos e devotos que são de outras ocupaçoins desde que thomou conta da obra por sua devoção o Nosso Irmão Theotonio Alexandre da Costa, mostrou se terem dado os nossos Irmãos Fabricantes dous contos de reis o Nosso Irmão Antonio de Carvalho 2.000000 reis

O Nosso Irmão Francisco Goncalvez Cosme 6.00000 reis

De vários devotos 6.00000 reis

O Nosso Theotonio Alexandre da Costa 9.200000 reis

De que se lhes fes escriptura somente de divida 3:347$700 e ao fazer escriptura de esmola da dita quantia de que se lhe fes escriptura pera tres alampedas de prata 8.050000 reis

E pera o Cofre dos pobres 207800 reis

Como consta da mesma escriptura que se acha na nossa Secretaria

 

Documento 2

Arquivo da Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate, 1787 (maço), 7 de maio de 1787

Lisboa 7 de Mayo de 1787

Dizem o Juiz, e mais Mezarios da Irmandade de Nossa Senhora do Monserrate, que esta irmandade se erigio pera nella se emcorporarem todos os Artifices das Corporaçoens das Reaes Fabricas, seguindo estes o exemplo de todas as Corporaçõens de Artistas, os quaes em suas diferentes claces, são rigorozamente obrigados a alistar se nas suas Irmandades, não se lhe premetindo, sem estar circunstancia, exame, ou carta de aprovação; e assim formarão os supplicantes seu Comprimisso, o qual foi aprovado e confirmado por sua Magestade Fidelicima, determinando na Sua Regia Provizão, que sejão indespençavelmente Irmaos desta Irmandade todos os individuos que laborarem em teares de seda para que desta forma possa subsistir, e nestes termos (...).

 

Documento 3

Arquivo Municipal de Lisboa, Documentação avulsa sobre a administração municipal (1628-1887), f. 382-385v.

[f. 384] Jrmida do Monserrate na Praça das Amoreiras

Publica forma Legal

Do Alvara d El Rey D. Joze datado do Palacio de Ajuda de 17 de Junho de 1768, com as formas seguintes

Hey por bem, e me apráz fazer para perpetua, e irrevogauel Merce, Doação, e Esmola aos Jrmãos da Senhora do Monsarrate do chão em que está fundada a mesma Jrmida no vão do 5.º arco das Aguas livres fora da Praça da Fabrica da seda para a parte da Estrada, e das cazas do seu Dotte, que estão contiguas á dita Jrmida, transferindo désde logo nos sobreditos Jrmãos, o pleno e inteiro Dominio, e posse do referido chão para que nunca se lhes possa tirar, nem alhear por qualquer Cauza o pretexto que seja, e o possuirem para sempre como Administradores da mesma Jrmida, e Cazas da sua Sacrestia, e fábrica em vertude deste Alvará que, quero, e Mando se cumpra e guarde tão inteiramente como nelle se conthem sem duvida, ou Embargo algum que lhe seja posto, agora, ou pelo tempo adiante para que assim hé muita Vontade, e Merce E valerá como Carta com effeito de muitos annos

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