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Cadernos do Arquivo Municipal

versão On-line ISSN 2183-3176

Cadernos do Arquivo Municipal vol.ser2 no.6 Lisboa dez. 2016

 

ARTIGO

A Casa Max Abecassis (1925-1932). Uma possibilidade moderna de continuidade na arquitetura doméstica de Raul Lino

The House Max Abecassis (1925-1932). A modern possibility of continuity in domestic architecture of Raul Lino

Paulo Alexandre Alves Barroso Manta Pereira *

 

RESUMO

No último terço de oitocentos, Isaac Conquy Abecassis (1840-1902), sua mulher Helena Nathan Bem Saúde (1852-1933) e seu pai, Fortunato (1799-1877), o primeiro Abecassis nascido em Tânger a fixar-se em Portugal, desembarcaram em Lisboa, vindos de Ponta Delgada, no rescaldo da crise da exportação da laranja. A metrópole coeva desenvolvia-se então para norte segundo traçado do engenheiro de ponts et chaussées Frederico Ressano Garcia (1847-1911), concebido na fleuma da flanne parisiense. O engenho burguês da terceira geração de Abecassis em Portugal servia bem o ímpeto progressista que nos desejava livrar do secularismo, na Lisboa da primeira metade do século XX. Naquela conjuntura de olvido, a casa que o arquiteto Raul Lino (1879-1974) projetou para Max Bensaúde Abecassis (1881-1969) na rua Castilho, n.º 24, entre 1925 e 1932, é (foi), síntese pertinaz de uma possibilidade moderna em continuidade com a tradição.

 

PALAVRAS-CHAVE

Raul Lino / Arquitetura / Casa / Modernidade / Continuidade

 

ABSTRACT

In the final third of eight hundred, Isaac Conquy Abecassis (1840-1902), his wife Helena Nathan Bem Saúde (1852-1933) and his father, Fortunato (1799-1877), the first Abecassises born in Tangier to settle in Portugal, landed in Lisbon, coming from Ponta Delgada, in the aftermath of the orange export crisis. The metropolis coeval was developing then towards North according outline of ponts et Chaussées engineer Frederico Ressano Garcia (1847-1911), conceived on the phlegm of Parisian flanne. The bourgeois ingenuity of the third generation of Abecassis in Portugal was serving well the progressive impetus that wanted to free us of secularism, in Lisbon of the first half of the twentieth century. In that context of oblivion, the house that architect Raul Lino (1879-1974) has designed to Max Bensaúde Abecassis (1881-1969) at rua Castilho, 24, between 1925 and 1932, is (was), pertinacious synthesis of a modern possibility in continuity with tradition.

 

KEYWORDS

Raul Lino / Architecture / House / Modernity / Continuity

 

 

[…] A modernidade é o transitório, o fugidio, o contingente, a metade da arte, cuja outra metade é o eterno e o imutável […].

Charles Baudelaire, O pintor da vida moderna, 1863

 

PREÂMBULO

“Tendo regressado a Lisboa quando ainda não tinha feito 18 anos, completei o meu curso livre autodidacticamente,”1 escreveu Raul Lino (1879-1974) na sua autobiografia, em novembro de 1969. Palavras escritas já na esteira da exposição retrospetiva da sua obra, a primeira de um arquiteto que, tido como defensor da tradição, foi inaugurada em novembro de 1970, no recém-inaugurado edifício da Fundação Calouste Gulbenkian (adiante Gulbenkian) à avenida de Berna, em 1969, entendido como pedra de fecho da “produção arquitectónica dos anos 50 na fidelidade aos princípios do Movimento moderno”2. Acontecimento catártico que foi de um amplo debate junto da comunidade profissional e científica sobre a história da arquitetura moderna em Portugal, que Pedro Vieira de Almeida (1933-2011) intentou com a sua releitura crítica inserta no catálogo da exposição3. Logrou-o adentro da ideia de Manfredo Tafuri (1935-1944) de que, “sem polémica, sem divergência, não há história”4 e que, não de somenos, conduziu a narrativa dos artigos de Raul Lino, crítica da ausência entre coetâneos de uma cultura arquitetónica que assentasse na retoma dinâmica da tradição a chave da permanente construção da modernidade.

 

ENTENDIMENTO DA ARQUITETURA MODERNA COMO DIALÉTICA DE CONTINUIDADE EM RAUL LINO

Desembarcado em Lisboa no ano de 1897, o jovem arquiteto trazia na sua bagagem três anos de estudos secundários num colégio católico em Inglaterra (1890-1893) e quatro de estudos superiores na Alemanha (1893-1897), passados entre a escola de Artesanato e Artes e Ofícios e o Instituto Superior Técnico de Hanôver. Na cátedra de história da arquitetura conheceu Albrecht Haupt (1852-1932), culto connoisseur e investigador sobre a arquitetura do renascimento em Portugal5, que lhe tutelaria também a prática de arquitetura no seu ateliê (1895-1897). Raul Lino regressa então a Portugal, convicto na ideia da transversalidade das artes, na Gesamtkunstwerk (obra de arte total) que é o influxo do Arts and Crafts, assentando-a na matriz do renascimento, estilo a partir do qual se deu a diferenciação nacional das artes. Gesta onde se vinculou a filiação culturalista6 da sua ulterior proposta, antitética do escol progressista7, que era o tradicionalmente trilhado pelos pensionistas do estado português na École des Beaux-Arts de Paris, como Ventura Terra (1866-1919) ou Norte Júnior (1878-1962).

Contava Raul Lino 20 anos (1899), quando realizou o seu primeiro trabalho profissional, um projeto que sujeitou ao concurso do pavilhão de Portugal no âmbito da Exposição Internacional de Paris de 1900, cujo mote era celebrar as conquistas da técnica e da ciência. Apresentou então uma casa do Arts and Crafts meridional, síntese harmoniosa e plausível gizada sobre as estruturas do renascimento português, pioneira possibilidade moderna concebida como dialética de continuidade, que será o sentido da sua obra de arquitetura doméstica na primeira metade do século XX.

 

Figura 1

 

 

A ARQUITETURA DOMÉSTICA URBANA COMO MOTOR DA “CAMPANHA PARA O APORTUGUESAMENTO DA NOSSA CASA”

Derrotada por Ventura Terra, a sua proposta de aroma tradicionalista não rendeu créditos junto da encomenda pública e da burguesia, que se via representada na linguagem dos figurinos franceses competentemente traduzida na obra dos arquitetos portugueses formados nas Beaux-Arts de Paris. Sem encomenda, Raul Lino começa a divulgar a sua proposta nos periódicos da especialidade e a casa urbana será o primeiro laboratório da “campanha para o aportuguesamento da nossa casa, da nossa arquitectura”, que em pedagógico intuito reduzirá a escrito n'A nossa casa (1918). O periódico quinzenal A construção moderna (1900-1919) é o primeiro veículo mediático da sua campanha e naquela revista publicou alguns projetos, visando conferir um estilo português à construção citadina que, então, conhece forte impulso na metrópole.

É bem claro ao nível dos alçados, o intuito de expressar “motivos architectonicos de antiga tradição portuguesa”8, indiciando já Raul Lino no seu primeiro projeto publicado9, o leit-motiv da organização do espaço da sua arquitetura doméstica, que centrada no estar irradia para os espaços anexos através de um largo e luminoso espaço distribuidor, que não o estreito e esconso corredor. Propósito que a planta da casa Monsalvat10 representa no espaço do “Átrio”, que é também o salão dos recitais de piano de Alexandre Rey Colaço. Neste projeto é evidente o caráter orgânico de uma conceção centrada no humano, no estar que procede do interior para o exterior e que comete na organização do espaço da arquitetura doméstica, i.e. na planta, a primeira dimensão do problema, pois como escreveu: “nunca se comece por pensar no aspecto exterior de uma casa (a não ser de um modo muito vago) antes de ser bem estudada a planta”11.

 

Figura 2

 

 

Figura 3

 

Entendemos a modernidade em Raul Lino na demanda da obra de arte total, síntese transversal de território, arquitetura e artes decorativas, que se revela segundo a tese de Nikolaus Pevsner12 (1902-1983), na obra dos Pioneiros do desenho moderno de William Morris (1834-1896) a Walter Gropius (1883-1969). A Casa foi (é) o laboratório da(s) modernidade(s) e a casa urbana em particular foi o veículo mediático da “campanha” de Raul Lino que, pese embora a falta de encomenda que lhe conferisse maior densidade crítica, foi (é) síntese pertinaz de uma possibilidade moderna de continuidade.

 

CIRCUNSTÂNCIA E ENCOMENDA

Não tendo sido localizadas fontes sobre a encomenda que o cliente forneceu a Raul Lino para projetar a sua nova casa na rua Castilho, n.º 24, em Lisboa, ora especulamos sobre a circunstância que, provavelmente a determinou. Max Bensaúde Abecassis (1881-1969) era o quinto filho de Isaac Conquy Abecassis (1840-1902), neto de Fortunato Bensaúde Abecassis (1799-1877) e fazia parte da terceira geração de Abecassis radicados em Portugal. Família judaica oriunda da diáspora tangerina de Marrocos com ramificações nos Açores e em Inglaterra13, os Abecassis deveram à inteligência, fina perceção do ambiente económico-financeiro e dinâmica capacidade de adaptação, a razão da fortuna familiar. Estabelecido em Lisboa no último terço de oitocentos, Isaac Abecassis assistiu à industrialização e transformação da metrópole que se expandia para norte, sob traçado do engenheiro Frederico Ressano Garcia (1847-1911). Diplomado na École Impériale des Ponts et Chaussées, em 1869, foi profundamente marcado pela transformação higienista de Paris e uma vez na chefia dos serviços da Repartição Técnica da Câmara Municipal de Lisboa, a partir de 1874, imprimiu semelhante cunho no planeamento da expansão da metrópole. Ressano Garcia desenvolveu vários estudos que, coligiu no “Plano geral dos melhoramentos da capital” (29 de novembro de 1903) e bem evidenciam uma ideia global de expansão e embelezamento da capital inspirada no progresso e na flanne parisiense.

Isaac Abecassis fixou a sua primeira residência em Lisboa, na rua do Alecrim, n.º 10, estabelecendo no mesmo prédio o seu negócio familiar, a casa Abecassis (Irmãos) e C.ª, dedicando-se à importação e comercialização de adubos químicos e orgânicos. Na antiga rua de Santos-o-Velho, n.º 26, 2.º, nasceu a sua prole de seis filhos, três de cada sexo, ficando o primogénito varão, Fortunato Bensaúde Abecassis (1875-1940), responsável pelo negócio comercial. Já na sua gestão, transferiu a sede para a praça do Município, n.º 32 e alargou o escopo das atividades à indústria14, sendo sócios os seus irmãos Frederico Bensaúde Abecassis (1878-1952) e Max Bensaúde Abecassis (1881-1969). Nesse papel e como cuidador do “rebanho” familiar que lhe cabia na tradição judaica, teve grande influência sobre os seus irmãos.

 

Figura 4

 

Apreciador de arte, Fortunato Abecassis juntou uma apreciável coleção, muito influenciada pelo gosto de Alfredo Bensaúde15 (1856-1941), com quem tinha laços familiares na diáspora micaelense. Por sua vez, este melómano do círculo wagneriano de Alexandre Rey Colaço, onde privava com Raul Lino, influenciou Fortunato Abecassis na escolha do arquiteto para elaborar os projetos de remodelação das suas casas na rua Saraiva de Carvalho, n.º 97, em Lisboa (1916-1926)16 e na avenida Sabóia, no Monte Estoril (1918)17. Influência que entendemos ter contaminado Frederico Abecassis na escolha do arquiteto para projetar a remodelação de uma casa que herdou numa quinta, na estrada do Paço do Lumiar, n.º 22-24 (1928-1929)18 e também Max Abecassis para lhe encomendar o projeto da sua nova casa, na rua Castilho, n.º 24.

À data do requerimento19 de construção da sua nova casa (13 de julho de 1925), Max Abecassis vivia com a sua mulher, Mary Annette Amzalak Abecassis (Merita), desde que casaram (23 de novembro de 1904), no segundo andar do n.º 17, na rua do Vale do Pereiro. A vida do cliente gravitava então entre aquela rua, a sinagoga Shaaré Tikva (Portões da Esperança) na rua Alexandre Herculano e a praça do Município onde ficava o negócio familiar. Com o projeto daquela moradia no elegante bairro Barata Salgueiro, apenas três quarteirões a nascente da sua antiga morada, Max Abecassis programava a continuidade da sua circunstância, no sentido de uma mundividência conforme com o estatuto social do ator no seio da alta burguesia e da comunidade judaica lisboeta.

 

A CASA MAX ABECASSIS. SÍNTESE PERTINAZ DE UMA POSSIBILIDADE MODERNA DE CONTINUIDADE

No ano de 1925 em que se iniciou a construção da casa na rua Castilho, era já sobejamente conhecida a “campanha para o aportuguesamento da nossa casa, da nossa arquitectura”20 de Raul Lino. Demanda que já acumulava alguns escritos, a primeira obra da sua pedagogia narrativa (A nossa casa: apontamentos sobre o bom gôsto na construcção das casas simples, 1918) e cento e quarenta e oito projetos de arquitetura doméstica21 (alteração/construção) realizados de norte a sul do país, dos quais, trinta e dois para a metrópole. A primeira casa que projetou para Lisboa foi a casa Ribeiro Ferreira na avenida Fontes Pereira de Melo, n.º 17 (1902) e dez anos depois, a casa Elisa Vaz (1912) na esquina da avenida da República com a Elias Garcia, conformavam as melhores casas citadinas da primeira fase da sua campanha (1900-1918). Em particular, a casa Elisa Vaz expressa uma escala e delicadeza formal atenta aos “aspectos variados a que as circunstâncias especiais de ambiente e época obrigam”22, através do emprego de uma semântica algo efémera, cuja fragrância Jugendstil é particularmente adequada à atmosfera de vaga densidade cultural das recém-construídas avenidas novas.

 

Figura 5

 

 

Figura 6

 

Naquela casa, como na globalidade da obra de Raul Lino, o alçado promove o concílio civilizador entre o espaço público e o privado, todavia, é na organização do espaço da arquitetura doméstica centrada no átrio, irradiando para os espaços anexos na direção do jardim, que radica o leitmotiv, o grande “motivo”23 da sua obra de arquitetura doméstica. Duas faces da mesma moeda, em que a síntese de Raul Lino logrou maior qualidade, quanto menor foi a cedência ao cliente, pois como escreveu na sua autobiografia, “quando não há entendimento, o resultado é defeituoso se não mesmo aleijado”24.

Expressão positiva desse “consórcio”25, na primeira fase da sua obra (1900-1918) e no plano da arquitetura doméstica urbana, foi, já aqui o aduzimos, a casa Monsalvat (1901) ou a casa Eliza Vaz (1912), a que Diogo Lino Pimentel se referiu como “irmã”26, da casa Max Abecassis (1925-1932). Conformação negativa desse “consórcio” foi o projeto da casa de Sacadura Cabral, que Raul Lino elaborou em 1923 para a rua Castilho, num prédio urbano recentemente constituído no quarteirão formado a norte da rua Braamcamp e cuja obra, concluída em 1930, mereceu naquele mesmo ano o Prémio Valmor. Ganhou-o todavia contra vontade, dado referir-se-lhe “com um carácter entre a ironia e uma certa crítica depreciativa, como uma bonbonniére27.

Coevas no espaço de Lisboa, da rua Castilho e no tempo da segunda década do século XX, com uma delonga de apenas dois anos, a casa Sacadura Cabral (1923-1930) e a casa Max Abecassis (1925-1932), que é o objeto de estudo do presente artigo, são casos paradigmáticos, respetivamente, para o pior e o melhor da sua produção. Coincidem também no longo período de sete anos que mediou entre a elaboração do projeto e a conclusão das respetivas obras de construção, o que entendemos dever-se à complexidade programática, construtiva e dimensão dos respetivos projetos.

 

Figura 7

 

 

Figura 8

 

No arco de tempo que decorreu entre a elaboração do projeto no ano de 1925 e a conclusão da obra, em 1932, Raul Lino desenvolveu sessenta e um projetos de arquitetura doméstica (alteração/construção) para o território nacional, entre os quais, vinte e quatro para Lisboa28. Coevo ao projeto da casa Max Abecassis, foi o projeto da casa António Sérgio (1925), síntese de “boas-maneiras”29 na continuidade que estabelece entre a construção e o meio, conformando harmoniosamente o gaveto entre a travessa do Moinho de Vento e a travessa Nova São Francisco de Borja, na Lapa, em Lisboa. Publicada em Casas portuguesas (1933), a sua morfologia é todavia distinta da casa em objeto de estudo, dado definir-se o plano da entrada no alinhamento do espaço público.

Consultados os arquivos conhecidos, o arquivo da família de Raul Lino e periódicos coevos, não se localizaram leituras de época sobre a casa Max Abecassis, surgindo a primeira análise crítica conhecida, por ocasião da exposição retrospetiva da obra de Raul Lino na Gulbenkian (1970). Acontecimento que inaugurou uma releitura crítica, ideologicamente descomprometida sobre a ação e obra do arquiteto, nos ensaios insertos no catálogo da exposição dos organizadores dos conteúdos da História, da Arquitetura e das Artes-Decorativas, respetivamente, José Augusto França (n. 1922), Pedro Vieira de Almeida (1933-2011) e Manuel Rio de Carvalho (1928-1944). Naquela ocasião foi justamente validada pelo próprio e pelo organizador dos conteúdos arquitetónicos, a qualidade intrínseca e relativa da Casa Max Abecassis no conjunto da produção do arquiteto, na proposta expositiva enviada por Diogo Lino Pimentel, em 1969, à administração da FCG30. Na sua polémica e lúcida releitura crítica, escreveu Pedro Vieira de Almeida que:

Depois de 25 e até 30, não há praticamente sobressaltos. Naturalmente surge como mais segura a Casa Max Abecassis (30) em Lisboa, e da produção média, pelo facto de ser organizada em volta de um atrium perfeitamente romano na articulação do conjunto31.

 

A CASA MAX ABECASSIS. DO SÍTIO

A fragrância cosmopolita do sítio, na orla poente da avenida da Liberdade, inaugurada em 1886 sobre os escombros do passeio público, era conforme com o estatuto social do cliente no seio da comunidade judaica e da alta burguesia lisboeta. A dinâmica progressista da transformação da cidade concretizar-se-ia adentro do século XX, expandindo-se o traçado urbano para norte, rebatendo-se para poente no eixo da rua Joaquim António de Aguiar e para nascente no eixo da avenida Fontes Pereira de Melo / avenida da República / rua do Campo Grande. Em 1925, aquela dinâmica pulsava na obra dos arruamentos que intersetavam a rua Castilho e nos quarteirões que se definiam entre a rua Braamcamp e a rua Joaquim António de Aguiar.

 

Figura 9

 

A rua Castilho configura no sistema urbano do bairro Barata Salgueiro, o Cardus (eixo norte-sul), a elegante boulevard onde se implantavam as moradias da alta burguesia lisboeta. Desenhou-se então uma representação à escala do quarteirão que permitisse uma leitura simultaneamente urbana e arquitetónica do problema através de uma planta que se limita a nascente pela rua Mouzinho da Silveira, a sul pela rua do Salitre, a poente pela rua Rodrigo Sampaio e a norte pela rua Alexandre Herculano. Lográmo-lo reconstituindo a situação existente no ano de 1925, data da entrada do requerimento de construção na CML, com base na informação da planta topográfica daquele ano, representando-se à cor amarelo os desaterros e demolições e à cor vermelho a nova construção, arruamentos e alinhamentos da edificação dos novos quarteirões.

O desenho do polígono do prédio urbano reflete a sua forma definitiva32 e foi originalmente destacado do prédio que o município cedeu à Sociedade Nacional de Belas Artes para construir a sua sede social e salão de exposições. Então conhecido como “Palácio das Belas Artes”, aquele edifício foi gizado ao estilo neorromântico pelo arquiteto Álvaro Augusto Machado (1874-1944) com a fragrância dos ecletismos então em voga, tendo sido inaugurado em 15 de maio de 1913.

 

A CASA MAX ABECASSIS. DO PROJETO

Os alçados do projeto dão justa réplica ao propósito civilizador da sua arquitetura, o segundo dos “dois pontos mais importantes”33 na estrutura narrativa de A nossa casa (1918), e que, como escreveu, trata “do modo decoroso por que [a casa] deve ser realizada, – se não para maior satisfação do seu dono, pelo menos por respeito à sociedade em que vivemos”34. Respeita o primeiro daqueles dois pontos, à “melhor disposição da casa para conveniência dos seus moradores”. E este cumpre-se na organização do espaço da arquitetura doméstica, pois como logo esclareceu: “nunca se comece por pensar no aspecto exterior de uma casa (a não ser de um modo muito vago) antes de ser bem estudada a planta”35.

 

Figura 10

 

 

Figura 11

 

Há uma hierarquia intrínseca à conceção de Raul Lino cuja primeira dimensão reflete-se na planta do projeto, que articula o elenco programático do cliente numa síntese atenta a virtudes espirituais menos precisas e materiais mais objetivas, como a topografia, exposição solar e proteção dos ventos. Em segunda ordem, os alçados expressam o propósito de integração da arquitetura na sua circunstância que é também, construção de paisagem.

Relevam com particular acento na organização da planta, as condições topográficas do terreno que, como já aqui referimos, sobejou da construção da sede social e salão de exposições da Sociedade Nacional de Belas Artes que, inaugurada em 1913, definiu no negativo da sua ocupação a parcela da construção. Constituído em 1925, o prédio urbano confronta a sudeste com o “Palácio das Belas Artes”, a sudoeste com a rua Castilho, a noroeste com a rua Rosa Araújo e a nordeste com a rua Mouzinho da Silveira. Decorrente da urbanização do bairro Barata Salgueiro e da implementação da malha regular dos arruamentos projetados pela repartição técnica da CML (1886), em terreno particularmente declivoso, resulta a diferença altimétrica que Raul Lino aproveitou, evitando desaterros assinaláveis na construção. Circunstância que determinou a distribuição vertical do programa, segundo um esquema que assenta como uma luva no propósito da casa-salão e anseio de mundividência implícito à mudança de Max Abecassis, da discreta rua do Vale do Pereiro para a luminosa rua Castilho. Representa-se de seguida nas figuras 12, 13 e 14 e pela ordem do piso de menor cota para o de maior cota altimétrica, uma interpretação das três plantas do projeto da casa em razão da nomenclatura dos espaços e do mapeamento dos usos, como chave para descodificar a organização do espaço da arquitetura doméstica.

Na diferença altimétrica que releva entre a cota de soleira do piso térreo (rua Castilho) e o solo no interior da parcela, evidenciada no “corte segundo a linha A-B” do projeto, distribuem-se os dois pisos correspondentes à “planta do subsolo” e “planta da caixa-de-ar”. Desnível que facilita a separação entre o espaço privado e de serventia, irrigado este pela rampa que promove o acesso entre a rua Rosa Araújo e o pátio de serviço, a partir do qual se processa o acesso de serviço à casa, através da escadaria de tiro adoçada ao alçado nordeste. Nesta planta do subsolo, os espaços privados são de circulação e recreativos, designadamente de “Recreio” e “Bilhar”, orientando-se para os quatro quadrantes, sendo que os espaços de serventia estão fisicamente separados daqueles e confinados em restrito quadrante do nordeste. Aquela planta do subsolo revela pois uma separação entre a vivência privada da família e o serviço doméstico, cuja organização espacial Raul Lino cartografou, atentando aos acessos a partir dos arruamentos públicos, exposição solar, aos ventos e argumentos outros, elencados na sua pedagogia, segundo o propósito que melhor serve os desejos do cliente. Mapeamento de usos cuja geografia se mantém nos três planos habitáveis da construção do subsolo, rés-do-chão e primeiro andar, e cujos fluxos são irrigados por dois núcleos de acesso vertical, designadamente, uma escadaria principal e outra de serviço, em conformidade harmoniosa com o modus vivendi que é o da casa salão. Ao nível dos alçados, é completamente desafogado o do nordeste (alçado da “traseira”) e com dois pisos acima do solo, os dos quadrantes do noroeste (rua Rosa Araújo) e do sueste (SNBA), sendo que o largo fosso projetado entre o alçado do sudoeste (rua Castilho) e o muro de contenção garante a ventilação transversal, necessária à utilização dos espaços de recreio.

Através da rua Castilho acede-se ao plano nobre do piso térreo com o surpreendente efeito cénico do largo fosso que se perceciona na separação física entre o plano vertical da construção, no alçado do sudoeste e a rua. Aquele que foi argumento técnico de ventilação necessário à vivência salubre dos espaços de recreio no subsolo é, à cota da rua, elemento de encantamento e surpresa, imaginando-se o efeito que terá sido entrar na casa como se castelo fosse, franqueando-se a ponte-alpendre com “largueza” e pitoresco efeito. Uma vez passada a entrada e percorrido o vestíbulo, estreito, chega-se, lateralmente, ao “Átrio”, que em boa verdade, é o leitmotiv da sua conceção, pois como escreveu no âmbito da carta que endereçou a Pedro Vieira de Almeida no horizonte da exposição retrospetiva da sua obra na Gulbenkian (novembro de 1970):

Querendo concretizar-se podemos dizer que os motivos que mais influência manifestam nos meus trabalhos de arquitectura doméstica foram a eliminação do Corredor e a sua substituição por quaisquer divisões adequadas a estabelecer ligação entre as partes da habitação sem terem de ser canalizadas por meio de um Corredor. […] insisti sempre em que se desse a este recinto de comunicação ou ligação entre as partes da casa o nome latino de Átrio, quanto a mim, lógica, filológica e arqueologicamente de aplicação perfeita36.

O “Átrio” é na conceção de Lino, como o House place na gesta do pioneiro britânico M. H. Baillie Scott, o núcleo, o coração da casa, a partir do qual se procede, ao nível do plano do piso térreo para os espaços anexos do “estar” e verticalmente, através da escadaria principal, aos espaços recreativos no subsolo e aos espaços íntimos no primeiro andar. O desenho daquele elemento dinâmico na organização do espaço da arquitetura doméstica é particularmente bem-sucedido em termos de conforto, na correta e harmoniosa relação que se verifica entre a dimensão do espelho e do cobertor dos degraus. Todavia é proporcionalmente bem mais relevante o seu acento cenográfico, ou seja a sua presença majestática na perceção do todo, em consonância com o estatuto social do cliente e o anseio de protagonismo mundividente que o arquiteto, competentemente, soube conformar. Ao nível da planta térrea, a vivência familiar irradia organicamente a partir do Átrio, para o exterior em osmose fluida com os espaços anexos do “estar”, na direção dos espaços recreativos do logradouro, a saber, para o jardim culminando na casa de fresco, na direção do sueste (SNBA) e do terraço, para o noroeste (rua Rosa Araújo). Já a vivência serviçal está limitada e contida em restrito quadrante do nordeste, na projeção horizontal da geografia dos mesmos usos nas três plantas habitáveis.

Após percorrida a larga e confortável escadaria principal chega-se ao nível da “Planta do primeiro andar” onde se distribuem os espaços íntimos de repouso, contabilizando-se um total de sete quartos. Releva na planta a dimensão relativa do “Quarto principal” que Raul Lino projetou para o cliente, como elemento central num conjunto de espaços de serventia privada, designadamente o “Toucador” e o corredor de acesso ao “Banho e Retrete” e “Armários”. Sem novidades, o elenco dos espaços íntimos privados e de serventia congregam-se nesta, como nas plantas dos pisos inferiores em torno das respetivas escadas de acesso vertical.

A Casa de Max Abecassis gizada por Raul Lino em 1925, sete anos depois da publicação de A nossa casa (1918) e oito anos antes da publicação de Casas portuguesas (1933), aconteceu a meio curso da publicação das duas obras pedagógicas. E longe de tratar-se da casa simples sobre a qual envidou os esforços da sua pedagogia narrativa, não deixou todavia de seguir os seus preceitos, proporcionando-os de acordo com a circunstância do cliente. Complexidade que se reflete no prazo da obra, decorrida durante mais de sete anos entre o requerimento de aprovação do projeto de arquitetura37 de 13 de julho de 1925 e o requerimento de vistoria de habitação38 datado de 26 de dezembro de 1932. Nesse arco de tempo e dois anos após o requerimento inicial, em 22 de setembro de 1927, foram requeridas alterações à obra em curso39 cujo projeto enfocou na organização e desenho do logradouro, introduzindo melhorias sensíveis no jardim, entre o alçado sudoeste e o muro confinante com o palácio das Belas Artes. O desenho da casa que se sobrepôs à escala, na planta editada sobre o modelo digital da CML reconstituindo a situação existente em 1925, reflete a forma definitiva do projeto (1927).

A complexidade deste projeto no conjunto da obra de Raul Lino está bem documentada no espólio do arquiteto na Biblioteca de Arte da Gulbenkian40 que, para além das peças desenhadas do projeto de licenciamento existente no volume de obra do Arquivo Municipal de Lisboa, concentra 35 desenhos de pormenor produzidos no âmbito do projeto de execução, num total de 43 desenhos. É ao nível do desenho de pormenor que melhor percecionamos a transversalidade do projeto de arquitetura de Raul Lino, que extravasando a mera definição do espaço – palavra nunca utilizada no léxico do arquiteto – visa construir ambientes. Ideia que a perceção das ilustrações acima representadas evidenciam, seja no rigoroso desenho das cercaduras de buchos, na precisa indicação das espécies arbóreas e arbustivas que integram o “Projecto de Jardim para o Ex.º Sr. Max Abecassis”, prova de (incomum) competência técnica na área de paisagismo. Ideia igualmente presente no “Esboço” da casa de fresco, que desenvolveu a toda a largura do jardim, numa versão que foi reduzida nos desenhos finais da obra. Propósito que Raul Lino assentou na honestidade a que aludiu John Ruskin (1819-1900) em Seven Lamps of Architecture (1849), empenhando-se na produção da obra artística com o mesmo deleite que empregavam os artífices medievais na construção das catedrais, como bem se intui nos seus desenhos. Virtude espiritual bem presente no desenho de pormenor intitulado “Anteprojecto na escala 1:20”, relativo a um lambrim de madeira, que é lareira, armário, prateleira e que, fundindo-se na parede, é indestrinçável da arquitetura.

 

Figura 15

 

 

Figura 16

 

 

Figura 17

 

 

A CASA MAX ABECASSIS. DA VIVÊNCIA, DECLÍNIO E MORTE

De acordo com informação dos peritos da vistoria de habitação da CML realizada no dia 29 de dezembro de 1932, a obra ficou concluída de acordo com o projeto aprovado e nesse mesmo dia completou-se o vínculo entre o arquiteto Raul Lino e o cliente. Doravante é a história privada de Max Abecassis, dos seus descendentes, de quem lá serviu e de quem frequentou a casa, que poderá validar, ou não a sua adequação ao “estilo de vida” e de acordo com o testemunho de quem lá nasceu e a habitou durante dezoito anos, a casa na rua Castilho n.º 24 serviu bem o seu objetivo.

No seu depoimento, Isabel Maria Abecassis Empis41 (Bila) começa por lembrar a sua imagem da casa de paredes amarelas e telhado preto com o fosso da entrada e uma palmeira enorme junto à entrada na rua Castilho. Sobre a fotografia da casa, indica a janela do quarto onde nasceu, em 24 de março de 1949, a primeira da esquerda no primeiro andar no alçado sobre a rua Castilho, tendo assistido ao parto o pediatra Salvador da Cunha e as criadas Adelaide e Júlia, que eram os dois pilares da casa. O seu nascimento aconteceu dezassete anos após ocupação da casa pelo seu avô Max Bensaúde Abecassis (51 anos), sua avó Merita (49 anos) e sua mãe Cecília (14 anos), que era a filha mais nova. Continuou Bila narrando que, naquela casa, conviveram duas comunidades, a da família constituída pelos seus avós, pais e com ela mais os seus dois irmãos, e a segunda, que era a da criadagem com doze a treze funcionários, sendo sete residentes em permanência. Ao todo conviviam cerca de vinte pessoas naquela casa, num clima de grande humanidade e informalidade da família no trato para com os trabalhadores que asseguravam as tarefas domésticas. Na sua opinião, o critério que levou Max Abecassis a escolher o local da construção da casa foi o da proximidade da rua Castilho à sinagoga na rua Alexandre Herculano, o que permitia a obrigatória deslocação a pé no Sabath (sábado) em confortável passeio. Salienta também que naquela casa festejaram-se todas as festas do calendário judaico assim como as do católico concorrendo no sentido da assimilação entre as duas tradições que se verificariam apenas numa geração, pois a sua mãe assim como os seus tios e tias casar-se-iam com católicos.

 

Figura 18

 

 

Figura 19

 

A história da casa como coisa viva, lida na perspetiva da história dos atores que a habitaram foi palco de acontecimentos marcantes na história moderna de Portugal e da cidade de Lisboa, em particular. Sete anos depois da sua construção, em 1939, iniciou-se a segunda grande guerra mundial e até à rendição da Alemanha nazi, em 1945, decorreram seis anos que marcaram indelevelmente a sua história. De facto a pertença à comunidade judaica de Max Abecassis, a sua nacionalidade inglesa, a tradição da diáspora e as suas ligações com a Inglaterra e a América, bem como o estatuto social da sua família no seio da comunidade judaica obrigavam-no ao acolhimento dos judeus em trânsito da Europa do Holocausto para a América libertária. Naquela casa viveu-se uma vida muito internacional, havia sempre família dos Açores, da Madeira ou do estrangeiro, amigos e relações de negócios misturavam-se numa atmosfera muito cosmopolita. Recorda-se em particular, quando jovem adolescente, de ver uma vez ao pé da lareira e deitada ao lado de sua mãe num canapé, a atriz irlandesa ruiva de olhos verdes Maureen O'Hara (1920-2015), tendo ficado especada com a beleza que emanava daquela mulher. No fim do seu depoimento, assinala Bila a coincidência da entrevista com o seu propósito de escrever a história da casa da rua Castilho n.º 24, cuja responsabilidade lhe cometeu a comunidade familiar enquanto sua narradora “oficial”.

Acontecimento definitivo na história da casa, à semelhança dos organismos que nascem e crescem, foi a subsequente morte. O prenúncio da fatalidade deu-se com um requerimento datado de 25 de abril de 1961, solicitando à CML “informação sobre a construcção e número de pisos que poderá levar a efeito no referido local, depois de demolida a moradia existente”42. Em resposta de 12 de julho do mesmo ano, informava o chefe da terceira repartição de arquitetura da CML, arquiteto António do Couto Martins que, “uma vez demolida a propriedade existente no local, pode ser levada a efeito nova edificação com uma altura de 7 pisos – 23 metros de cércea”43. Mais de oito anos decorreriam até à demolição da casa na rua Castilho n.º 24, que requerida pelo então proprietário do prédio urbano, em 5 de fevereiro de 1969, verificou-se concluída, em vistoria datada de 15 de dezembro de 196944. A demolição desta paradigmática obra de arquitetura doméstica de Raul Lino, de assinalável volumetria – invulgar no parco conjunto dos projetos realizados para casas citadinas –, aconteceu por força do inexorável movimento de terciarização da cidade de Lisboa, cuja voragem determinou a capitulação desta, como inúmeras outras obras do arquiteto e coetâneos. Interpretou-se através da figura 20 esse processo de transformação na área que entendemos relevar para uma perceção do sítio, representando-se à cor amarelo as construções a demolir e à cor vermelho, os polígonos das construções projetadas em sua substituição, de acordo com a planta a que se refere o artigo 91.º do Plano Diretor Municipal de Lisboa (1970-1983).

 

EPÍLOGO

Ao intuito do olvido, da tabula rasa com a história que os seus coetâneos modernistas firmavam na arquitetura e no urbanismo em Portugal na primeira metade do século XX, contrapôs Raul Lino a síntese pioneira e pertinaz de uma possibilidade moderna de continuidade, fazendo concorrer tradição e inovação numa obra de arte total, transversal a território, arquitetura e artes decorativas. Tal propósito dialético entre a arquitetura e a circunstância repousa(ou) placidamente, entre outras, na casa que projetou entre 1925 e 1932 para o cliente Max Bensaúde Abecassis na rua Castilho, 24. Pensamento que o arquiteto-artífice Peter Zumthor (n. 1943) e outros prosseguem no entendimento da “arquitectura como espaço envolvente”45, fazendo-nos crer que a problemática de Raul Lino tem todo o sentido na hipermodernidade contemporânea.

 

FONTES E BIBLIOGRAFIA

Fontes

 

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Biblioteca de Arte/Fundação Calouste Gulbenkian

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Conservatória do Registo Predial de Lisboa

Descrição n.º 1822, livro n.º 5

 

FONTES ORAIS

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submissão/submission: 23/02/2016

aceitação/approval: 25/03/2016

 

 

NOTAS

* Licenciado pela FAUTL (1991) é arquiteto na Câmara Municipal de Lisboa (desde 2000). Pós-graduado com parte escolar de mestrado em Desenho Urbano pelo ISCTE (1999) e Doutor em Arquitetura e Urbanismo na especialidade de Arquitetura pelo ISCTE-IUL (set. 2013) com a tese Raul Lino – Arquitetura e paisagem (1900-1948). Tem reverberado e aprofundado problemas e interpretações contidos na investigação em comunicações apresentadas junto da comunidade científica. Correio eletrónico: paabmp1964@gmail.com

1 LINO, Raul - Raul Lino visto por ele próprio. Vida mundial. Lisboa: Sociedade Nacional de Tipografia. N.º 1589 (21 Novembro 1969), p. 29.

2 TOSTÕES, Ana - Em direcção a uma nova monumentalidade: a obra da sede e museu da Fundação Calouste Gulbenkian. AAVV - Revista de história da arte: Lisboa espaço e memória. Lisboa: Instituto de História da Arte. N.º 2 (2006), p. 206.

3 ALMEIDA, Pedro Vieira de - Raul Lino: arquitecto moderno. In Raul Lino: exposição retrospectiva da sua obra. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1970.

4 Cf. TAFURI, Manfredo - For a historical history: Pietro Corsi interviews Manfredo Tafuri. Casabella. Milano: [s.n.]. N.º 619-620 (Janeiro e Fevereiro 1995), p. 151 [tit. or. Architettura: per una storia storica, Abr. 1994], trad. livre de Paulo Manta.

5 HAUPT, K. Albrecht - Die baukunst der renaissance in Portugal von den Emmanuel's dis glucklichen bis zu dem schlusse spanischen herrschaft. Frankfurt: Henrich Keller, 1895. vol. 2.

6 CHOAY, Françoise - L'urbanisme: utopies et réalités. Paris: Seuil, 1965. p. 257-293.

7Idem, p. 207-256.

8 Fachada de estylisação tradicional portuguesa. A construção moderna. Lisboa: [s.n.]. Ano I. N.º 6 (16 de Abril de 1900), p. 3.

9 Idem, p. 1.

10 Casa de estylização portuguesa do sr. Rey Collaço. A construção moderna. Lisboa: [s.n.]. Ano II. N.º 18 (16 de Março de 1901), p. 1.

11 LINO, Raul - A nossa casa: apontamentos sobre o bom gôsto na construção das casas simples. Lisboa: Atlântida, 1918. p. 10.

12 PEVSNER, Nikolaus; MONTEIRO, João Paulo, trad. - Pioneiros do desenho moderno. Lisboa: Ulisseia, 1964. [ed. or. Londres, 1936].

13 ABECASSIS, José Maria Bensaúde - Genealogia hebraica: Portugal e Gibraltar (sécs. XVII a XX). Lisboa: Liv. Férin, 1990. vol. 1. [todas as referências ulteriores à família Abecassis são desta obra].

14 É conhecido o investimento de Fortunato Abecassis na Lusalite: Sociedade Portuguesa de Fibrocimento, em fábricas conserveiras, etc. e para além disso na sociedade de perfumarias Nally, tendo sido ainda primeiro acionista da Companhia de Seguros A Mundial. Cf. ABECASSIS, José Maria, op. cit., p. 50.

15 Idem, ibidem.

16 AML, consultada a Obra n.º 11763, existem projetos de alteração e ampliação realizados por Raul Lino em 1916 (Processo n.º 3787/1.ª REP/PG/1916), em 1917 (Processo n.º 650/1.ª REP/PG/1917) e 1926 (Processo n.º 380/SEC/PET/1926). Autoria sancionada por consulta ao espólio de Raul Lino na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (BA/FCG), através da cota: RL 38.

17 Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Cascais (AH/CMC), existe um requerimento de projeto de ampliação assinado por Fortunato Abecassis (14 de janeiro de 1918). Autoria foi sancionada por consulta ao espólio de Raul Lino na BA/FCG, através da cota: RL 37.

18 AML, consultada a Obra n.º 37148, existem projetos de alteração e ampliação realizados por Raul Lino em 1928 (Processo n.º 16119/SEC/PG/1928) e em 1929 (Processo n.º 23044/SEC/PET/1929; 24899/SEC/PET/1929. Autoria confirmada por consulta ao espólio de Raul Lino na BA/FCG, através da cota: RL 255.

19 AML, consultada a Obra n.º 1181, existe o requerimento do projeto de arquitetura assim como as peças desenhadas e escritas foram assinadas pelo construtor e engenheiro civil Luís Teixeira Beltrão com a data de 13 de julho de 1925 (Processo n.º 12489/1925) e a vistoria de habitação requerida por Max Abecassis em 26 de dezembro de 1932 (Processo n.º 2871/1932). A autoria de Raul Lino está todavia confirmada na consulta ao seu espólio na BA/FCG, através do projeto com a cota: RL 281.

20 LINO, Raul - Raul Lino visto por ele próprio, op. cit., p. 32.

21 Biblioteca de Arte [Em linha]. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. [Consult. 27 de janeiro de 2016]. Disponível em http://www.biblartepac.gulbenkian.pt/ipac20/ipac.jsp?session=1H506S4612361.3376576&profile=ba&menu=search&submenu=subtab15&ts=1350634619893#focus.

22 LINO, Raul - A nossa casa: apontamentos sobre o bom gôsto na construção das casas simples. Lisboa: Atlântida, 1918. p. 60.

23 LINO, Raul - Para o Senhor Arqto Pedro Vieira de Almeida, op. cit. [Carta, 1970].

24 LINO, Raul - Raul Lino visto por ele próprio, op. cit., p. 31.

25 Idem, ibidem.

26 PIMENTEL, Diogo Lino - Depoimento. São Pedro de Sintra (26 de setembro de 2015).

27 PEDEREIRINHO, José Manuel - História do prémio valmor. Lisboa: D. Quixote, 1988.

28 Nos 24 projetos realizados para Lisboa, entre 1925 e 1932, quatro foram-no em 1925, três em 1926, quatro em 1927, quatro em 1928, quatro em 1929, três em 1930 e dois em 1931. Biblioteca de Arte [Em linha]. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. [Consult. 1 de março de 2016]. Disponível em http://www.biblartepac.gulbenkian.pt.

29 Escreve Raul Lino no artigo Maneiras (Diário de Notícias, 30 de Janeiro de 1950), que “«As maneiras boas e más na Arquitetura» […] e na urbanização refletem qualidades e defeitos de qualquer povo, o seu civismo, a sua cultura, as suas maneiras”. Conceito que o arquiteto explora a partir do livro de EDWARDS, Arthur Trystan - Good and bad manners in architecture. London: Philip Allan, 1924.

30 Figura, nomeadamente no “Catálogo geral”, sendo elencada como item n.º “122, Casa Max Abecassis (1930)”.

31 ALMEIDA, Pedro Vieira de - Raul Lino: arquitecto moderno. In Raul Lino: exposição retrospectiva da sua obra. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1970. p. 166.

32 Conservatória do Registo Predial de Lisboa (CRPL), de acordo com a descrição nº 1822 do livro n.º 5 da freguesia de Coração de Jesus, o prédio urbano inicial com a área de 1.777,87m2 foi destacado do prédio urbano n.º 1821 (Ap. 20 de outubro de 1925) que foi cedido pelo município à Sociedade Nacional de Belas Artes (escritura de 23 de março de 1907). Na sua configuração definitiva o prédio urbano de Max Abecassis ficou com a área de 1.113,87m2, correspondendo ao somatório das áreas de 116m2 de garagem, 350m2 da casa e 647,87m2 de logradouro (Ap. 9 de fevereiro de 1967).

33 LINO, Raul - A nossa casa. op. cit., p. 10.

34 Idem, ibidem.

35 Idem, ibidem.

36 LINO, Raul - Para o Senhor Arqto Pedro Vieira de Almeida, op. cit., [Carta, 1970].

37 AML, Obra n.º 1181, Processo n.º 12489/DAG/PG/1925.

38 Idem, Processo n.º 2871/1932.

39 Idem, Obra n.º 1181, Processo n.º 14915/DAG/PG/1927.

40 Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (BA/FCG), Espólio Raul Lino, RL 281.

41 Neta de Max Bensaúde Abecassis (1881-1969) e Mary Annette Amzalak Abudarham (1883-1956), nasceu na casa da rua Castilho n.º 24, em 24 de março de 1949, e lá viveu até cerca de 1967, durante dezoito anos, com a sua mãe Cecília Raquel Abudarham Abecassis (1918-1988) e seu pai Eduardo Ernesto Empis (1916-1996).

42 Requerimento submetido pela filha de Max Abecassis, Esther Helena Abecassis de Moser (1907-1979) na qualidade de proprietária do prédio urbano. Cf. AML, Obra n.º 1181, Processo n.º 21288/DAG/PG/1961.

43 AML, Obra n.º 1181, Processo n.º 21288/DAG/PG/1961.

44 Idem, Processo n.º 5068/DAG/PG/1969, f. 5v.

45 ZUMTHOR, Peter - Atmosferas. Barcelona: Gustavo Gili, 2009. p. 64-65.

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