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Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

versão impressa ISSN 2182-5173

Rev Port Med Geral Fam vol.35 no.5 Lisboa set. 2019

https://doi.org/10.32385/rpmgf.v35i5.12630 

ESTUDOS ORIGINAIS

PRACI - Perceção dos utentes sobre antibioterapia, Resistência a Antimicrobianos e Controlo de Infeção

PARIC - Patients’ perception on antibiotic use, Antimicrobial Resistance and Infection Control

Nuno Miguel Parente*
https://orcid.org/0000-0002-4198-243X

*Médico interno do 4º ano da formação específica em Medicina Geral e Familiar. USF Viver Mais, ACeS Maia/Valongo

Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence


 

RESUMO

Objetivo: Caracterizar os conhecimentos dos utentes sobre práticas inerentes à antibioterapia, concetualização de resistência a antimicrobianos (RAB), controlo de infeção e averiguar a existência de relação entre a informação sobre RAB e restantes variáveis.

Tipo de estudo: Estudo observacional, transversal e analítico.

Local: USF Viver Mais.

População: Utentes inscritos na USF Viver Mais com 18-69 anos (n=6.952).

Métodos: Questionário anónimo aplicado a uma amostra de 365 utentes. Incluiu variáveis demográficas como idade, sexo e escolaridade, presentes na Parte I, e 15 perguntas de escolha simples na Parte II sobre conceito e funcionamento do antimicrobiano (AB), atitudes relativas ao AB, adequação do AB a determinados sintomas e doenças, práticas de controlo de infeção, fonte de informação sobre RAB, definição e dimensão da RAB.

Resultados: Houve maior representatividade do sexo feminino (61,9%), do grupo com 45-54 anos e escolaridade ≥ 12º ano. A maioria reconheceu o papel dos AB nas infeções víricas e mais de 70% identificou os AB como fármacos anti-piréticos e anti-inflamatórios. A principal indicação para AB foi a odinofagia com duração ≥ 5 dias e aproximadamente 89% concordou em utilizar AB de familiares/amigos. Cerca de 50% considerou importante a higienização das mãos após contacto com uma instituição de saúde e 69,4% após contacto com secreções respiratórias. O reconhecimento do conceito da RAB constatou-se em 58,1% dos utentes, em que 50% a percecionou como problema pessoal e familiar. Mais de 88% conceptualizou a RAB como uma falha de resposta do corpo aos AB.

Verificou-se relação entre a informação sobre RAB do doente e as seguintes variáveis: escolaridade; conhecimento sobre o efeito negativo do AB na flora autóctone; importância do AB no tratamento da constipação, gripe e odinofagia; autossuspeição do utente da necessidade de tratamento com AB; decisão de antibioterapia gerida pelo médico e confiança no médico não-prescritor de AB (p<0,05).

Conclusões: Em geral, os utentes demonstraram baixo conhecimento nas diversas áreas, apesar de sobreponível à literatura. Deste modo, o médico de família pode dirigir as suas ações para a informação adequada do conceito de RAB e implicações no ecossistema.

Palavras-chave: Resistência a antimicrobianos; Antibióticos; Controlo de infeção; Literacia em saúde.


 

ABSTRACT

Objective: To characterize the knowledge about practices inherent to antibiotics, the conceptualization of antimicrobial drug resistance (ADR), infection control and to ascertain the existence of a relationship between the information on ADR and remaining variables.

Type of study: Observational, transversal and analytical.

Location: USF Viver Mais.

Population: Patients enrolled in USF Viver Mais with 18-69 years (n=6,952).

Methods: Anonymous questionnaire applied to a sample of 365 patients. It included demographic variables as age, sex, and schooling, present in Part I, and 15 simple choice questions in Part II.

Results: There was greater representation of the female sex (61.9%), the group with 45-54 years and schooling ≥ 12th year. Most recognized the role of antimicrobials (AB) in viral infections and more than 70% identified AB as antipyretic and anti-inflammatory drugs. The primary indication for AB was sore throat with a duration ≥ 5 days and nearly 89% agreed to use AB from family/friends. About 50% considered it important to hand hygiene after contact with a health institution and 69.4% after contact with respiratory secretions. The recognition of ADR was verified in 58.1% of the patients, in which 50% perceived it as a personal and family problem. Over 88% conceptualized RAB as a failure of the body’s response to AB.

There was a relationship between information on ADR and schooling; knowledge about AB effect on autochthonous flora; adequacy of AB to cold, influenza and sore throat; the suspected need for AB by the patient; the decision to initiate AB by the physician and confidence in the non-prescribing physician (p<0.05).

Conclusions: In general, the patients showed low knowledge in several areas, although it is overlapping with the literature. In this way, the family doctor can direct his actions to adequate information about the concept of RAB and implications in the ecosystem.

Keywords: Bacterial drug resistance; Anti-bacterial agents; Infection control; Health literacy.


 

Introdução

Atualmente, a resistência aos antimicrobianos (RAB) é um dos problemas de saúde pública mais preocupantes a nível global, com ameaça de regresso à era pré-antibiótico.1 Na Europa, o impacto das infeções por bactérias resistentes reflete-se anualmente em aproximadamente 33.110 mortes e 874.541 anos de vida ajustados para incapacidade.2 Relativamente ao custo, na União Europeia sabe-se que a infeção por bactérias resistentes leva a gastos anuais na ordem dos 1,5 biliões de euros em despesas de saúde e perda de produtividade.3 A variação do nível de RAB é ampla e dependente da estirpe bacteriana, uso local de antimicrobianos (AB) e região geográfica; contudo, é transversal o seu aumento desmedido.4 À imagem da Europa, Portugal apresenta como problema principal as bactérias do grupo ESKAPE (Enterococcus faecium, Staphylococus aureus, Klebsiella pneumoniae, Acinectobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e Enterobacter spp.) e enterobacteriáceas produtoras de ß-lactamases de largo espectro ou carbapenemases.5 De acordo com a Rede de Vigilância Europeia de Resistência aos Antimicrobianos, de 2016 para 2017 obteve-se uma evolução favorável do nível de resistência aos diferentes grupos de AB, à exceção do aumento da resistência da E. Coli aos carbapenemos e da resistência global da K. pneumoniae.6 O contínuo aumento da RAB à escala mundial, na ausência de abordagem síncrona e eficaz face a este problema, prevê 10 milhões de mortes/ano associadas a infeções por bactérias resistentes e gastos na ordem dos 60-100 triliões de dólares até 2050.7

O consumo de AB de forma inadequada é o fator modificável e mais frequentemente implicado na indução de RAB.8 Em Portugal, o consumo de AB na comunidade, expresso em dose diária definida por 1.000 habitantes por dia, aumentou de 19,6 para 20,3 entre 2013 e 2017.9

De acordo com as orientações do Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Infeções e Resistências aos Antimicrobianos, a estratégia global de intervenção visa a informação e educação da população com dinamização de campanhas de sensibilização para o uso prudente dos AB. São exemplos a colaboração com o Ministério da Educação no projecto e-Bug e futuramente na implementação do projecto PORCAUSA, dirigido à literacia da população.10 De facto, o uso inadequado de AB depende de fatores intrínsecos e extrínsecos ao profissional de saúde, dos quais se salientam o conhecimento, atitude e comportamento do cidadão, o perfil prescritor, a subvalorização da existência de RAB e a vontade de corresponder às expectativas do doente e/ou família.6,11-13 Um aspeto fundamental é que a sobreprescrição de AB leva o doente a requerer um comportamento de prescrição semelhante numa consulta futura, perpetuando o ideal de necessidade falsa de tratamento com AB.14 É igualmente transversal que o conhecimento da doença e opções terapêuticas, crenças sobre o balanço benefício-dano das mesmas e expectativas relativas ao resultado, são variáveis que influenciam a adesão e, por conseguinte, o sucesso do tratamento.15

Tendo por base que na Europa 80-90% dos AB são prescritos nos cuidados de saúde primários (CSP),16 o autor pretende com este trabalho caracterizar os conhecimentos sobre práticas inerentes à antibioterapia, concetualização de RAB e controlo de infeção numa população dos CSP e averiguar a existência de relação entre a informação sobre RAB e as restantes variáveis.

Métodos

Foi conduzido um estudo transversal, descritivo e analítico, entre 1 de agosto de 2018 e 31 de janeiro de 2019, numa Unidade de Saúde Familiar (USF) da zona norte de Portugal.

O autor concebeu um questionário de autopreenchimento e adaptado de bibliografia já publicada,17-22 anónimo, que foi aplicado após estudo piloto. O questionário incluiu variáveis demográficas: idade (variável qualitativa ordinal), sexo (variável qualitativa nominal) e escolaridade (variável qualitativa ordinal), presentes na Parte I; e quinze perguntas de escolha simples na Parte II (Anexo I). Nesta última secção, as perguntas referiam-se à perceção do uso de AB (indicações, reações adversas, condições de acesso, adequação a determinadas doenças/sintomas e decisão de iniciação do regime terapêutico), de medidas de controlo de infeção e de RAB (existência, definição, fonte de informação, dimensão problemática, indução e prevenção).

A população incluiu utentes com idade entre 18-69 anos, inscrição ativa na USF em estudo e consulta agendada no período de recolha de dados. Foram excluídos utentes com agendamento de consulta de saúde infantil e visita domiciliária; os utentes incapazes de compreender linguagem portuguesa, oral e escrita; e os que não preencheram o questionário na totalidade. A população em estudo totalizou 6.952 utentes. Foi selecionada uma amostra de conveniência com base nos utentes que, aquando da efetivação da inscrição para consulta, foram convidados a participar no estudo pelo secretariado clínico, o qual teve uma sessão de formação prévia com o autor, de forma a uniformizar o guião do convite. No caso de aceitação foi entregue o questionário que incluía, em preâmbulo, a explicação do propósito do estudo e o consentimento informado. Os questionários foram recolhidos em caixa fechada e selada para o efeito.

O tamanho amostral foi determinado considerando um intervalo de confiança de 95% e um nível de precisão de 5%, perfazendo um total de 364 participantes. Considerando o ajuste para perda de amostra de aproximadamente 20%, assumiu-se 455 participantes como tamanho amostral final.

Os dados foram submetidos a uma análise descritiva com recurso aos programas Microsoft Excel 2010® e SPSS® v. (64 Bit) 21 e avaliação de associação entre as variáveis categóricas, utilizando o teste do Qui-quadrado.

Foram utilizadas as linhas de orientação Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE) para a elaboração do presente artigo.

A realização deste estudo foi aprovada pelo ACeS Maia/Valongo e mereceu parecer favorável por parte da comissão de ética da Administração Regional de Saúde do Norte.

Resultados

Foram incluídos 365 utentes, o que resultou numa taxa de participação de 80,2%. A população teve um predomínio do sexo feminino (61,9%), da faixa etária dos 45-54 anos (23,6%) e escolaridade igual ou superior ao 12º ano (23,6%) (Quadro I).

 

 

Dados demográficos

Relativamente à questão número 1, a maioria dos participantes completou o último curso de AB há mais de 12 meses (34,2%) e 31,2% não se recordou da última toma. Na questão número 2, 80% da população afirmou que o AB é útil no tratamento de infeções causadas por bactérias; contudo, 56,7% referiu também indicação do mesmo para o tratamento de infeções víricas. Uma proporção considerável dos utentes (73,2-74,8%) considerou o AB um medicamento semelhante à classe dos anti-inflamatórios e útil na resolução de quadros de febre. Em relação à questão número 3, entre 75,3 e 78,9% dos utentes consideraram que o AB tem efeitos adversos e pode dar origem a reações alérgicas graves. No entanto, 40,5% não atribuíram ao AB a capacidade de «matar bactérias boas presentes no corpo». No que concerne à questão número 4 foi averiguado o perfil de condições de acesso aos AB (Figura 1). Na questão número 5 foi avaliada a perceção do utente quanto à utilização do AB como tratamento primário de determinados sintomas e doenças (Figura 2).

 

 

 

Na questão número 6, 50,4% dos doentes assumiu ter capacidade para suspeitar do momento em que é necessário tratamento com AB. Perante a possibilidade de decidir e iniciar antibioterapia por iniciativa própria, 82,7% respondeu «não sei» e 12,6% tê-lo-á feito no passado. Porém, 95,3% demonstrou que a decisão para início de antibioterapia deve partir do médico. No que concerne à relação médico-doente, 87,9% revelou ter confiança no médico prescritor de AB, enquanto 73,2% mantém a confiança se a atitude não resultar em prescrição antibiótica.

Na questão número 7 verificou-se que foram reconhecidas, como medidas protetoras contra a contaminação por microorganismos, a lavagem das mãos em 93,7% e a ventilação natural em 68,8%. Para além disso, 92,9% concordou que a lavagem das mãos é obrigatória após contacto com secreções respiratórias e 71,8% concordou que o braço serve de proteção perante acesso de tosse. Relativamente à lavagem das mãos antes do abandono de qualquer instituição de saúde, 50,1% e 38,4% concorda e discorda, respetivamente, com esta prática.

Relativamente à questão número 8, 58,1% dos doentes demonstraram-se informados sobre a existência de RAB. A caracterização da fonte de informação foi avaliada na questão número 9 (Figura 3). Na questão número 10, referente à concetualização da RAB, 88,7% concordaram que assenta no facto de o corpo não responder a determinado AB e 56,6% que se deve à perda da sensibilidade da bactéria a um ou mais AB. Trinta e três por cento afirmaram que as bactérias portadoras de RAB são transmissíveis de pessoa para pessoa e 62,3% reconheceram que as infeções causadas por estas bactérias são mais difíceis de tratar. Na questão número 11 verificou-se que 86,8% dos doentes não recusaram/adiaram a toma de algum AB por medo relacionado com a RAB.

 

 

Na questão número 12, 68,9% declarou que a RAB é um problema mundial e causa de morte cada vez mais frequente. Relativamente à ocorrência da RAB de forma restrita a nível hospitalar, 6,6% concordaram com a afirmação e 84,4% responderam «não sei». Aproximadamente 50% dos doentes admitiram a RAB como um problema afeto ao seu ambiente familiar. Na questão número 13, referente a ações benéficas a tomar no combate ao aumento da RAB, 25,7% referiu a diminuição do uso de herbicidas na agricultura, 25,4% o maior rigor no uso de AB pelo veterinário e 23,5% a criação de novos AB. Na questão 14, 64,2% dos doentes afirmou que a RAB resulta do uso incorreto do AB e 42,0% revelou que o AB utilizado de forma desnecessária numa determinada região pode ser prejudicial para os seus residentes. Para além disto, 83,5% considerou o cumprimento das indicações médicas como fundamentais à prevenção da RAB, enquanto 48,1% valorizou o papel da prescrição tardia.

Verificou-se relação entre a informação sobre RAB do doente e as seguintes variáveis: escolaridade; conhecimento sobre o efeito negativo do AB na flora autóctone; importância do AB no tratamento da constipação, gripe e odinofagia; autossuspeição do utente da necessidade de tratamento com AB; decisão de antibioterapia gerida pelo médico e confiança no médico não-prescritor de AB (Quadro II).

 

 

Discussão

De uma forma global, os resultados mostram um conhecimento deficitário no que diz respeito à antibioterapia, RAB e controlo de infeção. Comparando com a literatura verifica-se que, apesar de 40% da população reconhecer os vírus como agentes primários de infeções das vias aéreas superiores,23 47,8% acredita que o AB tem papel no tratamento.18 Este último valor é inferior ao encontrado (56,7%) e poderá ser explicado pela população estudada ser holandesa e, portanto, detentora de um maior nível de literacia em saúde e menor taxa de prescrição antibiótica.24 Este padrão de desconhecimento é dependente da região estudada e, por isso, na Malásia a proporção de doentes que identificam o AB como tratamento de infeções víricas pode ascender aos 83,7%.25 É também interessante um estudo realizado numa farmácia comunitária da Malásia, com 408 utentes, em que 43,1% identifica erradamente o paracetamol como AB, 65,9% identifica erradamente a aspirina como pertencente à nova geração de AB e 46,6% acredita que o AB funciona como anti-pirético.26 Estes valores mais baixos relativamente ao encontrado (73,2-74,8%) podem dever-se ao facto de 96,8% dos utentes terem, de escolaridade, pelo menos o ensino secundário.26

Os doentes veem o AB como uma opção muito segura;27 contudo, neste estudo a maioria reconhece o AB como fonte de efeitos adversos e possíveis reações alérgicas graves. Na Itália, um estudo com 1.247 pais de crianças entre 0-14 anos demonstrou que 92,6-94,8% acredita que os AB são causadores de efeitos adversos e reações alérgicas.19 Estes números assemelham-se aos obtidos; contudo, o facto de a amostra ser exclusivamente constituída por pais pode acarretar sobrevalorização. Ainda referente aos efeitos adversos dos AB, um estudo transversal no Reino Unido, com 7.120 indivíduos, verificou que 43% desconhecem o efeito do AB na flora da pele e intestino e, portanto, semelhante ao encontrado (40%).28 A clarificação e discussão deste efeito e dos anteriores são fundamentais na modelação da expectativa e adoção de atitude mais reticente pelo doente.23,29

No que concerne o acesso ao AB, dois estudos, na Suécia (n=747) e no Japão (n=3.390), demonstraram, respetivamente, que 7,6% e 11,7% dos utentes admitem guardar excedente de AB em casa.21,30 Porém, o valor encontrado (90,7%) é claramente superior e assemelha-se a outros países, como Brasil (84,1%) ou China (90,0%).31 É importante esclarecer que a população sueca, no campo das práticas com AB, tem um conhecimento elevado e consistente ao longo do tempo32 e que no estudo japonês mais de 96,6% tinha escolaridade ≥ 10º ano, pertencendo unicamente 7,5% a um meio rural. Este resultado superior pode significar que a amostra se enquadra nas ideologias de reutilização do AB, presente em 50% dos doentes, e vontade de reclassificação do AB para medicamento não sujeito a receita médica.31 De facto, este excedente de AB pode resultar da sobreprescrição e/ou de menor adesão terapêutica. A falta de adesão correlaciona-se com o número de tomas/dia do AB (27,0% se ≥ 3), duração do curso (71,0% se ≥ 6 dias), menor qualidade do serviço médico e personalidade do doente (crítico).33 Para além disto, são também influentes a política nacional de dispensa do AB, nomeadamente, a necessidade de prescrição médica, o fornecimento de embalagem completa34 e a disponibilização de informação sobre a indicação e posologia do AB que podem reduzir em 14,2% o risco de guardar AB excedente.31 Dos AB não sujeitos a prescrição médica, a proporção com origem em familiares e amigos, dependendo da região europeia, pode variar entre 32-81%.35 Este cenário permite enquadrar o valor encontrado (88,5%) e teorizar no modo como os doentes valorizam o autodiagnóstico. Efetivamente, em 24,9-37,4% há a crença de que um sintoma/doença tratado com AB num determinado momento será submetido ao mesmo tratamento no futuro, sugerindo a perceção de «inevitabilidade».23 Esta perceção pode advir das propriedades atribuídas ao AB e, deste modo, um estudo qualitativo com 5.379 doentes mostrou que em 51-87% o AB é associado a ideias de «cura certa», «potência elevada» e «estatuto de salvador».36

Neste estudo, 10% e 35% da população revelou a constipação e gripe, respetivamente, como indicações principais para tratamento com AB. Na literatura a distinção entre estas duas entidades é imprecisa semanticamente; contudo, os valores são semelhantes e indicam que 18,9-49,7%12,21,23,26,37-38 dos doentes julgam o binómio constipação/gripe como razão para prescrição de AB. Especificamente, até 30,2% caracteriza a prescrição de AB na gripe como «boa atitude».21 Relativamente às outras possíveis indicações para AB, um estudo na Arábia Saudita (n=1.966) reconheceu igualmente a odinofagia (48,8%) como prevalente,37 enquanto outro trabalho aponta também a bronquite aguda (59,6%) e a pneumonia (90,9%) como indicações reportadas.18 Por oposição, a odinofagia surge com mais peso na amostra, o que está em concordância com um estudo português em que a amigdalite foi o principal motivo para toma de AB entre 282 indivíduos.38

Existe uma «necessidade» de prescrição com AB por parte do doente sendo que, no Qatar, 28,1% espera tratamento com ATB23 e, no Japão, 10,2% formaliza um pedido por consulta.30 Um estudo transversal na Holanda, com 935 participantes, obteve resultados semelhantes. Cerca de 37% admitem capacidade de suspeição para tratamento com AB e 92,9% acreditam que a decisão de iniciar AB deve ser tomada pelo médico, valores inferiores aos encontrados, 50,4% e 95,7%, respetivamente.18 Neste estudo é esta elevada percentagem de transferência da decisão para o médico que inibe provavelmente a promoção do autodiagnóstico e, portanto, resulta em 12,6% de automedicação com AB. Na maioria dos casos, esta «carência» cega transportada no AB assenta nos mitos de recuperação acelerada e prevenção de agravamento do quadro.12 Além disso, em situações agudas, 49,6% transmite insatisfação com ausência de prescrição de AB e 31,6% procura essa prescrição noutra instituição.23 No que diz respeito à confiança depositada no médico, em função de o resultado ser a presença/ausência de prescrição de AB, um estudo referido previamente demonstrou maior confiança no médico com menor volume de prescrição antibiótica.30 Este resultado é contrário ao verificado na amostra e noutro trabalho32 e pode espelhar a dificuldade da população portuguesa na modificação de atitudes em relação ao AB, constatando-se ainda ideologias «embrionárias» e falsas e, consequentemente, também um determinado grau de insatisfação para com o médico não-prescritor. Relativamente à automedicação, o valor encontrado está de acordo com outros estudos em Portugal (4,0-17,1%).37,39 Na Europa pode variar até os 21% em países do Leste, relacionando-se de forma direta com a idade jovem, escolaridade superior e presença de doença crónica.40 Num contexto de países em desenvolvimento, a prevalência de automedicação com AB pode ascender aos 38,8%, maioritariamente com fonte em farmácias comunitárias e associada a baixa condição socioeconómica, experiência prévia positiva e severidade dos sintomas.41

No que concerne a práticas de controlo de infeção, um estudo na Coreia com 877 participantes demonstrou que 56,9% utilizam o braço como proteção perante um acesso de tosse e 69,4% compreende a lavagem das mãos como importante após contacto com secreções respiratórias, valores inferiores aos encontrados no estudo, respetivamente, 71,8% e 92,9%.42 A valorização da lavagem das mãos antes de abandonar uma instituição de saúde para a prevenção de infeções futuras reportou-se a 50% dos doentes e vem reforçar o facto de só 10% utilizar efetivamente a higienização das mãos.43 Contudo, mais de 76% dos utentes consideraram importante a política de higienização das mãos na escolha do hospital ao qual recorrer e tinham interesse em aprender mais sobre este tópico.44 Isto pode significar que os utentes compreendem a higienização das mãos como um comportamento essencial, têm disponibilidade para aprofundar o conhecimento, mas ainda é definido como hospitalo-cêntrico e aparentemente sem impacto na incidência de infeções futuras e hetero-proteção.

No que concerne ao reconhecimento do conceito de RAB, o valor encontrado (58,1%) é sobreponível a um estudo prévio (59,4%)11 e a fonte de informação mais citada é o médico.30 No estudo sobressai o poder da comunicação social e das campanhas em saúde. Estes resultados são paradoxais, visto afirmarem uma maior predisposição da população para informação em saúde através de profissionais de saúde e iniciativas de órgãos médicos, em detrimento de outras fontes; porém, é ainda possível atentar à supremacia dos meios de comunicação social, mais frequentemente com transmissão de informação não cuidada.

No que diz respeito ao mecanismo de RAB, a literatura mostra-nos que 84,7-88% dos doentes acreditam que se deve à ausência de resposta do nosso corpo ao AB21,45 e 59,4% que advém perda da sensibilidade natural pela bactéria, deste modo, valores sobreponíveis aos encontrados.25 São também concordantes as proporções dos doentes que percecionam a dificuldade no tratamento das bactérias resistentes e sua possibilidade de transmissão, respetivamente, 68% e 27,1% em comparação com 62,3% e 33,0% na amostra.25,45

Relativamente à perceção da dimensão problemática inerente à RAB, no Reino Unido 79% dos doentes reconhecem a sua presença nos cuidados de saúde hospitalares.28 Na amostra 6,6% assumiu esta realidade; no entanto, 84,6% afirmou não ter informação sobre o assunto. Isto pode significar que apesar de haver a noção de RAB a nível hospitalar, a capacidade de a população perceber a migração de doentes e, consequentemente, das bactérias entre diferentes níveis de cuidados de saúde é baixa. Um estudo numa clínica de dermatologia, com 512 participantes, demonstrou resultados superiores em que 50,7% acredita que a RAB é «um dos maiores problemas que o Mundo enfrenta» e 86,3% que é um «assunto que pode afetar a família».46 No entanto, 73,5% tinham escolaridade equivalente ao ensino superior, o que pode explicar a maior sensibilização para o possível impacto da RAB na família. O valor obtido foi superior na apreciação da RAB como «problema mundial» e pode dever-se ao papel mais preponderante dos meios de comunicação social na maior compreensão da RAB como problema grave de saúde pública. Contudo, é fundamental relevar que os meios de comunicação social levam a desinformação relativamente à RAB e que pode ser agravada com a frequência de utilização, criação e partilha pessoais de conteúdos e interação com mensagens de fatalismo.47

No campo das ações com benefício para a RAB, a maioria responde corretamente. Porém, 18,8% consideraram a atualização do plano nacional de vacinação e 6,6% a interrupção do tratamento AB, aquando da melhoria, como duas medidas potencialmente favoráveis. Um estudo em Vizela38 comprovou que 84% completa o tratamento com AB o que poderá explicar a baixa incidência da medida relacionada com a interrupção, que é também sobreponível a outros estudos.19,21

Em relação à indução e prevenção de RAB, 60,6% e 70% dos doentes em dois trabalhos diferentes mostram que estes acreditam que a RAB advém do uso incorreto de AB,20,45 o que se assemelha à proporção de 64,2% encontrada. Entre 82-96,4% dos doentes cumprem as indicações posológicas do médico relativamente à toma do AB, o que está de acordo com o valor encontrado (83,5%), apesar de ser difícil concluir que compreendem a medida como preventiva de RAB.25,37 O papel das prescrições tardias como prevenção de RAB foi aceite por 48,1% da amostra e apresenta-se concordante com a literatura (37,4%).18 Cinquenta e oito por cento não reconheceu o efeito de propagação regional da RAB e realmente parece haver uma perceção pessoal de risco baixo quanto à RAB, assumindo risco elevado em caso de internamento e tratamento prolongado com AB.45

Dois estudos transversais portugueses estudaram algumas das ideias relacionadas com práticas de antibioterapia.38-39 Contrariamente, este estudo acrescenta valor no campo da perceção da RAB e controlo de infeção.

Como limitações deste estudo apontar a técnica de amostragem por conveniência, subjacente a maior exequibilidade e gestão limitada de recursos, mas que pode ter incluído utentes hiperfrequentadores dos CSP e excluído utentes mais utilizadores do setor médico privado. Considerar também a ausência de estudo de validação do questionário para a população portuguesa, apesar do teste piloto e da base bibliográfica, e a constituição da amostra quanto ao predomínio dos jovens, distribuição do sexo e escolaridade que não permite validar externamente os dados.

Como pontos fortes focar o tamanho amostral, significativamente representativo da população da USF entre os 18-69 anos, o questionário baseado na literatura e o facto de o convite partir do secretariado clínico e não da equipa médica.

A maioria dos estudos estabelece um sistema de pontuação global para o questionário utilizado e avalia a associação entre essa pontuação e diferentes variáveis.18-19,21-22,28,32 Há evidência de que uma maior perceção sobre o conceito de RAB tem associação com fonte de informação médica, menor interrupção de tratamento com AB e melhor conhecimento das suas indicações.37 Para além do acima referido, neste estudo o conhecimento do conceito de RAB pelos utentes associou-se significativamente à escolaridade ≥ 7º ano, à maior perceção do efeito nocivo do AB na flora autóctone, à melhor informação quanto ao papel do AB no tratamento da constipação, gripe e odinofagia, ao menor autodiagnóstico de necessidade de AB em determinado momento, à maior delegação na decisão de iniciar antibioterapia para o médico e à maior confiança no médico não-prescritor de AB.

Este estudo, segundo o conhecimento do autor, é pioneiro na obtenção de informação proveniente dos utentes relativamente à RAB e controlo de infeção, para além de aprofundar também as questões das atitudes e crenças para com o AB nos CSP em Portugal. O âmbito do estudo foi a população entre os 18 e 69 anos, portanto, a aplicabilidade dos dados terá de ser dirigida a estas faixas etárias, considerando-se ainda relevante a predominância de jovens na amostra. É possível constatar que mesmo existindo um bom nível de escolaridade, 46,9% dos utentes tinham completado pelo menos o 10º ano (dos quais 23,6% detinham a atual escolaridade obrigatória), o conhecimento sobre antibioterapia, RAB e controlo de infeção foi insuficiente. Contudo, é exatamente na população jovem que deve haver investimento formativo para evitar o agravamento da RAB. O estudo mostra que um utente jovem e informado relativamente à RAB está mais frequentemente apto a perceber o impacto negativo da toma de AB no seu organismo e o quão infrutífera é a atividade do AB nas infeções predominantemente víricas. Para além disso, pode ainda compreender-se que esta informação sobre a RAB pode influenciar a predisposição do utente para autossuspeição da necessidade de AB, possivelmente através da desmistificação de alguns conceitos, permitindo de igual forma uma maior racionalização do uso do AB, através da delegação da decisão para o médico e aceitando mais facilmente o comportamento de não-prescrição, sem afetação da confiança na relação médico-doente. No entanto, é fulcral integrar a consciencialização sobre a RAB como um fenómeno bidirecional e cuja relação com o comportamento não é proporcional. Deste modo, profissionais de saúde com elevada perceção da RAB podem não restringir o consumo de AB, mas dispensar mais frequentemente opções de 2ª linha e ter contextos de desconhecimento do padrão local de resistências aos AB.48 Por outro lado, utentes participantes em sessões de educação para a saúde podem manter as atitudes prévias porque a experiência pessoal, a incerteza depositada no sistema de saúde e o aconselhamento dos familiares são, por vezes, fatores dominantes.49

Conclusão

O conhecimento desta população dos CSP relativamente a práticas de antibioterapia, RAB e controlo de infeção revelou-se baixo e sobreponível a estudos internacionais. De realçar a elevada proporção de doentes com facilidade em dispor de AB através de familiares/amigos e ferramentas para um autodiagnóstico de «necessidade» de AB com exercício de eventual pressão no médico. Apesar de não ser possível atribuir causalidade, é essencial referir a preponderância da comunicação social como fonte de informação preferencial dos utentes, frequentemente difusora de mensagem com teor alarmista e a ausência de noção na população da importância da higienização das mãos após contacto com uma instituição de saúde, provavelmente por autoperceção de baixo risco de RAB. É fundamental a maior promoção de atualização científica nesta área, por exemplo, através dos grupos coordenadores locais do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos de cada ACeS, visando a capacitação dos médicos e enfermeiros de família neste campo. Assim sendo, é fulcral o médico de família, em sincronia com os outros profissionais de saúde dos CSP, dirigir as atividades de informação para a população jovem relativamente ao conceito de RAB e suas implicações no ecossistema, dado até 84% dos doentes querer discutir este tópico45 e a desinformação estar associada a ideologias falsas que podem constituir perigo para a saúde. De acordo com o relatório de 2018 do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos da Direção-Geral da Saúde, em julho de 2019 iniciar-se-á a campanha PORCAUSA com o objetivo de promover a utilização segura do AB na população nacional.10 Em consonância com este projeto poder-se-ão planear ações de educação ao nível dos CSP, visando a mudança de comportamento e trabalhando em conjunto na literacia da população.

 

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Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence

Nuno Miguel Parente

E-mail: nunomiguelpm@gmail.com

 

Agradecimentos

A participação de todos foi indispensável.

Conflito de interesses

O autor declara não ter quaisquer conflitos de interesse.

Comissão de ética

Estudo realizado após parecer favorável da Comissão de Ética para a Saúde da ARS Norte.

 

Recebido em 14-06-2019

Aceite para publicação em 11-08-2019

 

Anexo 1

 

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