SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.29 número3Atestados para carta de condução: visão crítica do Decreto-Lei n.º 138/2012A Interacção do Utente com a Plataforma de Dados em Saúde índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

versão impressa ISSN 2182-5173

Rev Port Med Geral Fam vol.29 no.3 Lisboa maio 2013

 

CARTA À DIRECTORA

Prevalência da cárie Dentária nas crianças observadas nas consultas de Exame global de saúde dos 5/6 anos e fatores associados - Estudo DENTEX

Prevalence of dental caries found on general examination of five and six year-old children - The DENTEX Study

Inês Dias,* Ana Raquel Gonçalves,** Luís Caldeira,*** Daniel Almeida Fernandes,*** João Portela Ribeiro*

*Médicos Internos de Medicina Geral e Familiar na USF + Carandá (Braga)

**Médica Interna de Medicina Geral e Familiar na UCSP Ponte da Barca

***Médicos Internos de Medicina Geral e Familiar na USF Aquae Flaviae (Chaves)

Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence


 

Nos últimos 20 anos, Portugal tem desenvolvido programas de promoção da saúde e prevenção das doenças orais, dirigidos prioritariamente à população infanto-juvenil, e cuja monitorização tem sido feita pela Direcção-Geral da Saúde. Estes programas baseiam-se numa estratégia global de intervenção que foca a promoção da saúde ao longo do ciclo de vida, em contexto familiar e nos ambientes específicos que as crianças frequentam, nomeadamente o jardim-de-infância e a escola. Apesar de uma evolução favorável (a percentagem de crianças livres de cárie dentária aos 6 anos passou de 10% em 1986 para 51% em 2006), existe ainda uma elevada prevalência de cárie. A meta estabelecida pela Organização Mundial de Saúde para a Região Europeia em 2020 é de 80% de crianças livres de cárie dentária aos 6 anos.1 Os hábitos alimentares e de higiene oral, o nível socioeconómico familiar e a história clínica da criança são fatores que podem influenciar a suscetibilidade para o desenvolvimento de cáries.2 Deste modo, os conhecimentos corretos e os comportamentos adequados são essenciais para reduzir estes riscos, já que a cárie e as doenças periodontais traduzem-se em elevada vulnerabilidade e cuja prevenção se traduz em custos económicos reduzidos e ganhos em saúde relevantes.1,2 O Médico de Família (MF) desempenha um papel privilegiado na prevenção ativa da cárie dentária, uma vez que há um acesso limitado às consultas de Estomatologia e Medicina Dentária. Por ser um dos responsáveis pelas consultas de vigilância de saúde infantil, o MF possui oportunidades de intervenção, que incluem a divulgação sistemática de medidas de educação alimentar com o objetivo de reduzir a exposição a fatores de cariogenicidade, a promoção de medidas de higiene oral, a adequação terapêutica nas situações de medicação crónica, a avaliação do risco individual de cárie e a orientação das lesões para tratamento diferenciado.3,4

O estudo DENTEX teve como objetivo a quantificação da prevalência da cárie dentária e a caraterização dos comportamentos em relação à saúde oral para identificar os principais determinantes de cárie dentária da população estudada. Consistiu num estudo transversal analítico, usando um questionário a cuidadores de crianças nascidas em 2006 e da observação da dentição das crianças e respetivos cuidadores de três Unidades de Saúde. Analisou-se a percentagem de crianças livres de cárie na dentição decídua e definitiva. Para a avaliação do estado da dentição utilizaram-se os índices de dentes cariados, perdidos e obturados na dentição decídua (cpod) e definitiva (CPOD).

A prevalência da cárie dentária nas crianças de 5/6 anos na consulta de Exame Global de Saúde na população estudada foi de 46,7% (53,3% livres de cárie dentária). O índice cpod foi de 0,19. Nas dez crianças que apresentavam dentição definitiva, o seu índice CPOD médio era de 0,02. A percentagem de crianças livres de cárie foi ligeiramente inferior à nacional e ainda muito abaixo da meta estabelecida pela OMS para 2020. Nesse sentido, as medidas preventivas da cárie dentária e de incentivo à higiene oral, assim como a observação dentária, devem ser sistematicamente reforçadas em todas as consultas de vigilância.

Encontraram-se diferenças estatisticamente significativas entre a ida ao dentista no último ano e maior prevalência de cárie, e entre o uso de fio dentário pelo cuidador e a menor prevalência de cárie. Não foram encontrados resultados estatisticamente significativos relativamente a outros hábitos de higiene oral da criança e do seu cuidador, antecedentes clínicos da criança, prevalência de cárie no cuidador e nível socioeconómico da família.

Mais do que respostas definitivas, este estudo reforça a importância da observação, orientação, ensino de hábitos de higiene oral à criança e da prevenção de cáries dentárias nesta faixa etária. As medidas preventivas da cárie dentária e de incentivo à higiene oral devem ser reforçadas desde a erupção dos primeiros dentes através do ensino dos hábitos de higiene oral adequados a toda a família.

Apesar da limitação técnica da observação dentária em Cuidados de Saúde Primários, esta deve estar presente em todas as consultas de vigilância, como forma de motivação da manutenção da higiene oral e diagnóstico precoce de cárie dentária. A utilização do cheque-dentista é um instrumento de articulação com a Medicina Dentária, permitindo contornar as limitações de observação e diagnóstico.

Será importante a realização de mais estudos, com uma população maior, para que se obtenham resultados estatisticamente significativos no que concerne à relação entre os determinantes da saúde oral e a prevalência de cárie dentária.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Portugal, Ministério da Saúde. Direcção-Geral da Saúde. Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais, Lisboa: DGS, 2008.

2. Portugal, Ministério da Saúde. Direcção-Geral de Saúde. Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral. Circular Normativa n.º 1/DSE, de 18/01/05.         [ Links ]

3. Melo P, Teixeira L, Domingues J. A importância do despiste precoce da cárie dentária. Rev Port Clin Geral 2006 Mai-Jun; 22 (3): 357-66.         [ Links ]

4. Portugal, Ministério da Saúde. Direcção-Geral de Saúde. Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral – Avaliação do Risco em Saúde Oral. Circular Normativa n.º 9/DSE, de 19/07.

 

Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence

Inês Magalhães Dias

Rua Américo Rodrigues Barbosa, n.º 20 R/C Dto

4710 – 007; S. Vicente - Braga

ines.m.dias@gmail.com

 

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não possuir conflitos de interesses.

Artigo escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons