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Da Investigação às Práticas

On-line version ISSN 2182-1372

Invest. Práticas vol.9 no.1 Lisboa Mar. 2019

https://doi.org/10.25757/invep.v9i1.190 

EDITORIAL

As pedagogias participativas – instituindo os direitos das crianças

 

Júlia Oliveira Formosinho

 

Para as pedagogias participativas a criança é um sujeito – autor e ator, agente e partícipe. Sujeito individual e sujeito social, pessoa e cidadão, utilizador e criador de artefactos culturais. Esta criança é um indivíduo autónomo, cooperativo e competente, com direitos e deveres, reflexivo e crítico, ativo e participativo, que se relaciona com o mundo e as pessoas, com as coisas e o conhecimento. Esta criança pensa, sente e questiona, aceita e rejeita, diz sim e não; possui uma identidade relacional que participa onde pertence, na expetativa de respeitar e ser respeitada. Esta criança, utilizando o conceito de Malaguzzi, expressa-se com cem linguagens (Malaguzzi, 1998, 2006).

Quando as sociedades falam de bebés muito novos, tendem a conceituá-los como seres que ainda não o são. As pedagogias participativas dizem que os bebés são seres curiosos, seres que querem experimentar e explorar o mundo, a natureza, os objetos, as pessoas com sentidos inteligentes e inteligências sensíveis (Oliveira-Formosinho & Formosinho, 2012) e possuem a capacidade de comunicar e compartilhar as suas explorações e experiências através de processos comunicativos plurais que criam relação, conhecimento e significado. A documentação ajuda a compreender esta agência precoce das crianças.

Será esta uma criança fácil para uma cultura tradicional e para uma educação transmissiva? Esta é uma criança que traz surpresas para o processo de educação, cria situações emergentes e coloca questões imprevisíveis, algumas vezes cria problemas… Esta é uma criança que exige dos educadores a capacidade e a vontade de lidar com a surpresa, com o desconhecido, com o não planeado… Esta é uma criança que tem muitas coisas interessantes para nos dizer se quisermos ouvir o que ela tem para dizer e não o que queremos que ela diga… Se nós, como profissionais, aprendermos a gostar de ser surpreendidos com assuntos, temas, interrogações emergentes e aprendermos a envolver-nos em jornadas de aprendizagem negociadas com as crianças, contribuiremos para o desenvolvimento de pessoas e cidadãos participativos que constroem saberes e poderes.

Nas pedagogias participativas a educação torna-se um desafio complexo, um projeto cívico gratificante, que não pode ser alcançado com objetivos e atividades pré-definidos. O fluir dos processos participativos é menos previsível; o que não significa dizer que seja um processo caótico, mas sim que não é um processo linear nem totalmente programável. Envolve a complexidade de reunir crianças competentes e professores competentes, uns e outros tendo o direito de expressar os seus propósitos para as situações educativas, para as atividades e projetos. Envolve os desafios de comunicar, de negociar o estabelecimento de compromissos para a planificação da experiência educativa e o seu desenvolvimento na ação. Envolve a reflexão compartilhada sobre a documentação do cotidiano e a avaliação sustentada na documentação da aprendizagem experiencial.

A documentação da voz da criança escutada é central para reconstruir o papel da criança no fluir pedagógico quotidiano, permitindo o encontro de propósitos educacionais. É um instrumento central para instituir os direitos da criança à participação.

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