SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.8 número2Legislações e documentos brasileiros sobre a atenção à criança e suas implicações para o monitoramento do desenvolvimento infantilQuando sou mãe e quando sou educadora! Comparando Mães e Educadoras (com os seus filhos ou com outras crianças) numa tarefa colaborativa com a criança índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Da Investigação às Práticas

versão On-line ISSN 2182-1372

Invest. Práticas vol.8 no.2 Lisboa set. 2018

https://doi.org/10.25757/invep.v8i2.155 

ARTIGOS

 

Estilos de mediação do uso de tecnologias digitais por crianças até aos 6 anos

 

Mediation styles in the use of digital technology by children up to 6 years old

 

Styles de médiation de l'utilisation des technologies digitales par les enfants jusqu'à l'âge de 6 ans

 

Estilos de mediación del uso de tecnologías digitales por niños hasta los 6 años

 

Rita Brito

Centro Interdisciplinar de Estudos Educacionais, Escola Superior de Educação de Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa, Catolica Research Centre for Psychological, Family and Social Wellbeing, Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica Portuguesa

 

Contacto

 

Resumo

As crianças cada vez utilizam mais as tecnologias e numa idade cada vez mais jovem. Os pais têm o papel primordial de as guiar numa utilização segura e relevante em aprendizagens. O objetivo deste trabalho foi perceber como o as perceções dos pais sobre tecnologias se relacionam com o estilo de mediação parental na utilização tecnológica pelos filhos. Deste modo, foram entrevistadas 15 famílias com, pelo menos, uma criança até aos 6 anos, de modo a conhecer as suas práticas familiares com tecnologias, as suas perceções sobre estas e o estilo de mediação parental realizada.

Após análise dos dados, verificou-se que a mediação parental realizada aos filhos está diretamente relacionada com as perceções dos pais sobre as tecnologias: os pais que têm mais experiência e boas perceções sobre as tecnologias tendem a adotar um estilo autoritativo, guiando os filhos nesta utilização, fazendo uma co-utilização esporádica e confiando nas práticas dos filhos; os pais com perceções negativas tendem a realizar uma mediação autoritária, impondo regras rígidas, nomeadamente de tempo de utilização, desvalorizando a utilização das tecnologias pelos filhos.

Palabras clave: mediação parental, crianças 0-6 anos, tecnologias.

 

Abstract

Children are increasingly using technology at an ever-younger age. Parents have the primary role of guiding children in safe and relevant technology use for their learning. The objective of this research was to understand how parents perceive technology in relation to the parental mediation style when it comes to children using technology. Fifteen families with at least one child up to 6 years of age were interviewed in order to know their family practices and perceptions on technology and the parental mediation style performed. After analyzing the data, it was verified that the parental mediation is directly related to the parents' perceptions of technology: the parents with more experience and better perceptions on technology tend to adopt an authoritative style, guiding children in this sporadic co-use and relying on their children's practices; parents with negative perceptions tend to carry out authoritarian mediation, imposing rigid rules, namely time-of-use, devaluing children's use of technology.

Keywords: Parental mediation, 0-6 children, family, technology.

 

Résumé

Les enfants utilisent de plus en plus la technologie à un âge de plus en plus jeune. Les parents devraient les guider pour l'utiliser d'une manière sûre et pertinente dans l'apprentissage. L'objectif de ce travail est de comprendre comment les perceptions des parents à l'égard des technologies sont liées au style de médiation parentale dans l'utilisation technologique par les enfants. Ainsi, 15 familles ayant au moins un enfant de moins de 6 ans ont été interrogées afin de connaître leurs pratiques familiales avec les technologies, leurs perceptions à leur sujet et le style de médiation parentale effectuée. Après l'analyse des données, il a été vérifié que la médiation parentale exercée sur les enfants est directement liée aux perceptions que les parents ont des  technologies: les parents qui ont plus d'expérience et de bonnes perceptions des technologies ont tendance à adopter un style faisant autorité, guidant leurs enfants dans cette utilisation,  faisant une  co-utilisation sporadique et en s'appuyant sur les pratiques de leurs enfants; les parents ayant des perceptions négatives ont tendance à mener une médiation autoritaire, imposant des règles rigides, à savoir le temps d'utilisation, dévalorisant l'utilisation de la technologie par les enfants.

Mots-clés: Médiation parentale, enfants de 0 à 6 ans, famille, technologie.

 

Resumen

Los niños cada vez utilizan más las tecnologías y en una edad cada vez más joven. Los padres tienen el papel primordial de guiarlos en una utilización segura y relevante en aprendizajes. El objetivo de este trabajo fue percibir cómo las percepciones de los padres sobre tecnologías se relacionan con el estilo de mediación parental en la utilización tecnológica por los hijos. De este modo, fueron entrevistadas 15 familias con al menos un niño hasta los 6 años, para conocer sus prácticas familiares con tecnologías, sus percepciones sobre estas y el estilo de mediación parental realizado. Después del análisis de los datos, se verificó que la mediación parental realizada a los hijos está directamente relacionada con las percepciones de los padres sobre las tecnologías: los padres que tienen más experiencia y buenas percepciones sobre las tecnologías tienden a adoptar un estilo autoritativo, guiando a los hijos en esta utilización, haciendo una co-utilización esporádica y confiando en las prácticas de los hijos; los padres con percepciones negativas tienden a realizar una mediación autoritaria, imponiendo reglas rígidas, en particular de tiempo de utilización, desvalorizando la utilización de las tecnologías por los hijos.

Palabras-clave: Mediación parental, niños de 0 a 6 años, familia, tecnología.

 

INTRODUÇÃO

Em todo o mundo tem havido alterações sociais, económicas e tecnológicas desde o final do século XX, resultando em mudanças na infância das crianças. A maioria das crianças, em países desenvolvidos, vive num ambiente “digitalmente fluente” (Palaiologou, 2014) desde muito jovem, quer nas suas casas (Plowman, 2014), quer nas casas de familiares mais próximos. Inclusivamente, crianças com menos de 1 ano estão expostas a ecrãs, tendo acesso a tablets, smartphones, consolas e outros dispositivos com ligação à Internet (Connell, Lauricella & Wartella, 2015; Dias & Brito, 2017), usando-os diariamente (Sanders et al., 2016). As crianças, inclusivamente as mais jovens, demonstram confiança e competência nesta utilização (Zevenbergen & Logan, 2008), sendo ávidas utilizadoras de tecnologias no seu ambiente familiar, em casa.

O contacto com as tecnologias proporciona às crianças novas oportunidades de aprendizagem, verelando-se benéfico na promoção do reconhecimento de letras e melhoria das capacidades de leitura e da linguagem oral (Neumann, 2016), assim como de conhecimentos matemáticos (Kermani & Aldemir, 2015). Cognitivamente, o comtacto com as tecnlogias promove benefícios ao nível da inteligência visual e desenvolve capacidades psicomotoras(Kermani & Aldemir, 2015). Não obstante, também coloca as crianças em situações que podem originar inquietações sociais relacionadas com a sua privacidade e segurança. Ou seja, se, por um lado, as crianças que mais contactam com as tecnologias são aquelas que maior partido delas tiram, explorando diferentes oportunidades, por outro são também aquelas que protagonizam maiores situações de exposição a potenciais danos (Dias & Brito, 2017).

Poucos são os estudos que focam a utilização das tecnologias e o estilo de mediação parental, principalmente no que se refere a crianças tão jovens. Esta componente de fácil acesso e mediação dos pais relativamente às tecnologias subleva uma série de questões que urge analisar, nomeadamente ao nível da mediação parental VS regras de utilização de tecnologias. À medida que estes dispositivos estão cada vez mais presentes na vida familiar, é provável que as crenças dos pais possam influenciar a forma de mediação de utilização de tecnologias pelas crianças.

Pretende-se assim com este trabalho perceber o modo como o estilo parental e as perceções de um grupo de pais sobre tecnologias se relacionam com o estilo de mediação parental na utilização tecnológica pelos filhos. Para tal, foram entrevistadas 15 famílias com, pelo menos, uma criança até aos 6 anos, de modo a conhecer as suas práticas familiares com tecnologias, as suas perceções sobre estas e a mediação parental realizada.

 

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Pais, filhos e tecnologias

Geralmente as crianças são “apresentadas” às tecnologias pelos pais, sendo esta primeira exposição cada vez mais cedo, normalmente na infância (Media, 2013; Zimmerman, Christakis, & Meltzoff, 2007). A teoria da aprendizagem social confirma este facto, afirmando que as crianças são muito perspicazes relativamente às atividades dos seus pais e modelam os seus comportamentos e atitudes tecnológicas para estarem em conformidade com a utilização feita pelos pais (Bandura, 1977).

O modelo parental é definido como um processo de aprendizagem observacional em que o comportamento dos pais atua como um estímulo para o comportamento semelhante do seu filho (Berger & Riojas-Cortez, 2012). As crianças mais jovens desenvolvem competências digitais através da imitação dos seus pais no uso de vários dispositivos tecnológicos, por isso, a educação parental e a modelação de comportamentos torna-se um fator crítico para a regulação da utilização segura destes dispositivos (Van den Bulck & Van den Bergh, 2000; Wu et al., 2014). Neste sentido, Livingstone e Bober (2004) apontam para a necessidade da responsabilidade “simbólica” e “material” dos pais de modo a desenvolver crianças “e-maduras” (e-mature). A responsabilidade “material” relaciona-se com a compra de tecnologias e disponibilização do acesso à Internet. O papel “simbólico” relaciona-se com o estabelecimento de regras de utilização das tecnologias em casa: falar com seus filhos sobre a web (Valkenburg, 2002), instalar filtros nos dispositivos (Delver, 2003), acompanhar as crianças enquanto acedem à web (Eastin, Greenberg, & Hofschire, 2006), aplicar regras de utilização da web (Barkin et al., 2006) ou “navegarem” juntos (Eastin, Yang, M., & Nathanson, 2006). A adoção destas responsabilidades simbólicas e materiais pretende promover a educação de ciber-cidadãos responsáveis (Beebe, Asche, Harrison, & Quinlan, 2004).

Fatores que podem influenciar os estilos parentais na utilização das tecnologias

Vários estudos têm sido desenvolvidos recentemente com o intuito de perceber que fatores podem influenciar a mediação parental realizada por pais a crianças na utilização das tecnologias digitais, no entanto as opiniões por vezes opõem-se. Connell, Lauricella e Wartella (2015) questionaram 2,326 pais de crianças americanas até aos 8 anos, sobre este tema, e concluíram que o nível académico dos pais não parece ser um forte preditor de co-utilização entre pais e filhos dos meios digitais. Os pais com menor nível académico eram mais propensos a co-utilizar a televisão com os filhos do que os pais com nível académico mais elevado. Os pais, cujo nível académico era o ensino secundário ou menos, eram significativamente mais propensos a co-utilizar jogos de vídeo do que os pais com educação superior. Por outro lado, o estudo de Pauwels, Bauwens, e Vleugels (2008) refere o nível académico dos pais como fator influenciador do estilo de mediação parental no uso das tecnologias, observando-se que os pais com maior grau de escolaridade controlam e refletem mais controlo afetuoso parental, mediado por conhecimentos detidos e experiência sobre tecnologias, contrariamente a pais com menor grau de escolaridade, com menos experiências tecnológicas. Outros estudos corroboram a opinião de Pauwels, Bauwens, e Vleugels (2008), referindo que os pais com conhecimentos base de tecnologias estão mais conscientes no que se refere a riscos, considerando o apoio e suporte de elevada importância (Walrave, Lenaerts, & De Moor, 2008; Wang, Bianchi, & Raley, 2005). Por outro lado, os pais com menos competências tecnológicas espelham menos atividades de controlo e orientação (Walrave, Lenaerts, & De Moor, 2008).

O tempo de utilização de tecnologias pelos pais pode também ser um preditor significativo do seu comportamento de co-utilização com os seus filhos relativamente ao uso dos dispositivos. É possível que os pais que utilizam meios digitais mais frequentemente possam ter atitudes mais positivas em relação a estes e possuam um maior nível de conforto na sua utilização, tornando-os mais propensos a ensinar a seus filhos a usá-las (e.g., Barron et al., 2009; Hollingsworth, Mansaray, Allen, & Rose, 2011) e, portanto, mais propensos a envolverem-se com a criança enquanto ela utiliza os dispositivos. Além disso, quanto mais tempo os dispositivos forem usados em conjunto, mais oportunidades surgem para a co-utilização de tecnologias. O tempo despendido a jogar jogos de vídeo com a família foi também associado ao aumento de laços familiares (Padilla-Walker, Coyne, & Fraser, 2012). Em relação à co-utilização do computador, estudos sugerem que o auxílio dos pais na utilização do computador pode influenciar a autoeficácia e experiência das crianças (e.g. Barron et al., 2009; Eynon & Malmberg, 2012; Livingstone, Haddon, Gorzig, & Ólafsson, 2011). Os resultados de outro estudo indicam que as crianças que passaram tempo a jogar jogos de vídeo com os pais demonstraram maior ligação com estes, maior socialização e menos problemas de autoestima do que aqueles que não jogaram com os pais (Coyne, Padilla-Walker, Stockdale, & Day, 2011).

Alguns estudos revelam que a mãe tende a adotar um estilo autoritativo, ou seja, embora controle o comportamento do filho na utilização tecnológica, promove igualmente a responsabilidade e o diálogo, comparativamente ao estilo autoritário, que impõe determinado comportamento, mais característico do pai (Aunola, Stattin, & Nurmi, 2000). Por sua vez, os pais (pai e mãe), no geral, tendem a adotar uma atitude de controlo mais forte em comparação com os avós, pais adotivos ou tutores (van Rooij & van den Eijden, 2007). A idade parece influenciar este papel, observando-se que os pais mais velhos controlam mais e orientam menos em relação aos pais mais jovens (Wang, Bianchi, & Raley, 2005).

A quantidade de crianças numa família também afeta os estilos parentais. Em famílias maiores, menos controlo e apoio são observados em relação ao uso da Internet (Duimel & de Haan, 2007). Da mesma forma, também as características das crianças afetam os estilos parentais. Normalmente é feita uma mediação parental distinta entre meninos e meninas. Aunola, Stattin e Nurmi (2000) concluíram que as filhas estão sujeitas a um estilo parental autoritativo e os filhos a um estilo parental laissez-faire, ou seja, com pouca intervenção. Os pais definem mais regras para as filhas e existe mais comunicação entre estes, do mesmo modo que os adolescentes são mais controlados quando utilizam a Internet em comparação com crianças mais jovens (European Comission, 2008; Lwin, Stanaland & Miyazaki, 2008; Valkenburg, 2002; Wang, Bianchi, & Raley, 2005).

Embora haja pouca investigação que estude a influência da co-utilização dos pais sobre o uso de tecnologias com crianças muito jovens, os resultados desta sugerem a existência de uma relação positiva entre a co-utilização de tecnologias por pai-filho (Connell, Lauricella & Wartella, 2015). Esta co-utilização poderá ter implicações importantes para crianças mais jovens, pois permanece ainda relativamente desconhecido se crianças com menos de 9 anos conseguem utilizar a Internet de modo seguro e benéfico (Holloway, Green, & Livingstone, 2013).

Estilos de mediação parental e a utilização das tecnologias por crianças

Influenciados pelos fatores descritos no ponto anterior, sucedem-se vários estilos de mediação parental relativos à utilização das tecnologias por crianças. Com o termo mediação parental pretende-se a referência às “diversas práticas utilizadas pelos pais de modo a gerir e regular as experiências dos seus filhos com as tecnologias” (Livingstone et al., 2015, p. 7).

Para Valke, Bonte, De Wever, e Rots (2010) existem duas grandes dimensões relativas ao controlo parental na utilização das tecnologias: controlo parental e afeto parental. Numa dimensão de afeto parental, Fleming et al. (2006) mencionam que é desejável que os pais criem um ambiente seguro e de respeito de modo a que as crianças tenham oportunidade de lhes colocar questões sobre a utilização da Internet. Youn (2008) acrescenta a necessidade de um ambiente aberto para falar sobre segurança na Internet. Cerca de 36% dos pais senta-se ao lado do filho enquanto este navega na Internet (European Comission, 2008). Numa dimensão mais a nível de controlo parental, Eastin, Greenberg e Hofschir (2006) e Duimel e de Haan (2007) referem que em cerca de 30% das famílias os pais permanecem ao lado dos filhos enquanto eles usam dispositivos com ligação à web, enquanto que mais de metade dos pais, 56,4%, prefere instalar filtros ou verificar o histórico do browser (Beebe et al., 2004; Mitchell, Finkelhor, & Wolak, 2005; Wang, Bianchi, & Raley, 2005), sendo que 26,3% faz essa vistoria regularmente (Walrave, Lenaerts, & De Moor, 2008). Os investigadores relatam que os pais limitam o tempo de acesso ou então determinam o momento para aceder à Internet (Wang, Bianchi, & Raley, 2005). A maioria dos jovens (86,8%) refere aceder a sites online quando quer e apenas 13,2% das crianças recebe orientações dos seus pais (Walrave, Lenaerts, & De Moor, 2008). Menos de 67% dos pais conversa com seus filhos sobre a Internet (Duimel & de Haan, 2007).

Valke et al. (2010) identificam quatro estilos parentais, referindo-se à análise de estilos parentais feita por Baumrind (1991): o estilo permissivo refere-se a pais que não apresentam limites explícitos, abstendo-se de confrontos com os seus filhos, acedendo aos seus pedidos, ideias e vontades. Eles investem num controlo afetuoso, mas raramente os orientam. Os filhos tendem a ser entusiastas relativamente às tecnologias e ativos online; o estilo parental laissez-faire tem em conta baixos níveis de controlo e de envolvimento, em que os pais não refletem uma atitude de apoio ou de restrição; o estilo autoritativo reflete-se em pais que providenciam regras claras, não limitando explicitamente o comportamento, mas esperando que os seus filhos sejam responsáveis e se comportem de uma maneira autorregulada; o estilo autoritário diz respeito a pais que pedem obediência incondicional e seguimento de regras sem dar explicações.

Não obstante à crescente utilização das tecnologias por crianças jovens (Chaudron, 2015; Plowman & McPake, 2013), a literatura disponível sobre mediação parental relativa a crianças mais jovens é escassa. Segundo Connell, Lauricella e Wartella (2015), presentemente pouco se sabe sobre os fatores que influenciam a co-utilização de computadores, videojogos e tecnologias mais recentes como o tablet ou o smartphone. Surge então este estudo com o intuito de conhecer um pouco melhor estes aspetos.

 

METODOLOGIA

Objetivo de investigação

Com este artigo pretendeu-se conhecer: (i) o estilo de mediação parental dos pais na utilização das tecnologias pelos filhos e (ii) como as perceções dos pais sobre as tecnologias influenciam o seu estilo de mediação parental. Assim, foi necessário conhecer as utilizações das tecnologias de um grupo de famílias, quem auxilia as crianças nesta utilização, quais as regras de utilização dos dispositivos, que mediação fazem e as perceções dos pais sobre segurança digital.

Desenho da investigação

Este estudo é exploratório, utilizando uma metodologia qualitativa, baseada na Grounded Theory, pois não se pretendia partir de teoria já existente, mas sim gerar teoria nova. Esta nova teoria será “fundamentada em dados sistematicamente recolhidos e analisados” (Strauss & Corbin, 1994, p.2). Foi intuito do estudo olhar em profundidade um número limitado de casos de modo a obter o máximo de informações sobre o uso de tecnologias por famílias e crianças.

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e observações às famílias. As entrevistas foram concretizadas nas casas das famílias, sendo os pais e as crianças entrevistados (se possível) em divisões separadas. As entrevistas foram divididas em quatro momentos: 1) iniciou-se com uma introdução (5 minutos), contando com toda a família, onde foi apresentado o projeto e assinados os consentimentos informados; 2) antes das entrevistas com as crianças foram jogados jogos para criar um momento de quebra-gelo (10-15 minutos), de modo a colocá-las mais à vontade com a investigadora; 3) seguiu-se a entrevista (crianças - 20-40 minutos, pais - 1h a 1h30),  às crianças foram colocadas questões gerais sobre a sua utilização de tecnologias digitais (dispositivos utilizados, quando, onde, com quem, atividades, regras), e aos pais colocaram-se questões sobre as suas perceções a propósito destes dispositivos e utilização pelos seus filhos, e o tipo de mediação; 4) por fim, juntou-se toda a família, os pais e as crianças foram questionados a propósito do seu interesse em acrescentar mais alguma informação, agradecendo-se a disponibilidade. As crianças com menos de 3 anos de idade foram apenas observadas.

As visitas ocorreram entre maio e agosto de 2015.

O protocolo de observação utilizado foi o mesmo do estudo europeu de Chaudron (2015), “Children (0-8) and digital technologies”, tendo obtido o consentimento da coordenadora do estudo para a sua utilização.

Os dados foram registados em gravações áudio e fotografias. Foram tidos em conta procedimentos éticos e de confidencialidade relativamente aos dados recolhidos (Brito & Dias, 2017). Os nomes dos participantes foram codificados de modo a garantir a sua confidencialidade e anonimato. A codificação para os membros da família começa com o nome fictício atribuído a cada membro. As famílias foram nomeadas por ordem de entrevista, seguindo-se o seu relacionamento familiar ou género de cada um na família (f – pai; m – mãe; g – menina; b – menino) e idade. Por exemplo: rapaz de 5 anos da família 12: João (F12b5); mãe da família 10: Joana (F10m34).

Para além disso, foi distribuído um formulário de consentimento aos pais e aos filhos.

Os dados foram analisados com recurso ao software Nvivo 12 pro.

Participantes do estudo

Para a seleção de famílias a entrevistar foi utilizada a amostragem teórica. Esta visa a representatividade não da amostra mas dos temas em estudo.

Iniciou-se o estudo por uma amostra inicial, pois esta oferece um ponto de partida, mas não de elaboração ou refinamento teórico (Charmaz, 2009; Glaser & Strauss, 2006). O critério para esta escolha inicial pode ser apenas que “a seleção poderá contribuir com informação relevante sobre o assunto em estudo” (Descombe, 2007, p. 94; Glaser & Strauss, 2006).

Assim, nesta amostragem inicial foi apenas estabelecido um critério para as famílias a entrevistar e observar: haver na família, pelo menos, uma criança com 6 anos de idade ou menos (criança alvo). As famílias não foram escolhidas por utilizarem/possuírem qualquer dispositivo digital, mas sim pela idade da criança, pois foi também interesse da investigação conhecer o porquê da utilização ou não destes dispositivos. As famílias foram angariadas através de contactos pessoais.

Inicialmente foram entrevistadas cinco famílias, constituindo-se como a amostra inicial do estudo (Charmaz, 2009). Após esta amostragem inicial, a seleção tornou-se mais criteriosa e mais limitada pela necessidade de afinar conceitos e categorias emergentes dos dados analisados referentes a estas famílias. As famílias seguintes foram criteriosamente selecionadas, tendo em conta as mais-valias que poderiam trazer ao estudo, nomeadamente pela relevância para as categorias e possíveis conceitos emergentes. Mantendo-se o critério inicial da existência de uma criança até aos 6 anos, foram acumulados outros critérios para a seleção das famílias: preferência por haver um irmão mais velho da criança alvo; famílias de diferentes níveis socioeconómicos (baixo, médio e alto); ambiente (interior e litoral do país); famílias emigrantes; famílias recompostas. Foram então entrevistadas mais 10 famílias.

O processo de pesquisa envolveu uma contínua seleção de unidades até que se chegou a um ponto de redundância, a saturação teórica. Ou seja, chegou-se a um ponto em que se deixou de verificar dados adicionais de modo a desenvolver mais propriedades das categorias (Charmaz, 2009; Corbin & Strauss, 2008; Glaser & Strauss, 2006). Assim, num total foram entrevistadas 15 famílias.

Relativamente ao seu nível socioeconómico, sete famílias eram de nível baixo, seis de nível médio e duas de nível socioeconómico elevado. Treze famílias residiam no distrito de Lisboa e duas no distrito da Guarda. Os 29 pais participantes tinham, na maioria, entre 31 e 40 anos, sendo que 14 eram do sexo feminino e 15 do sexo masculino. Numa das famílias o pai era divorciado. Um pai tinha o grau académico de mestre, oito pais tinham licenciatura, treze tinham o 12º Ano e seis pais tinham o 6º Ano de escolaridade. A maioria dos pais trabalhava no setor terciário, ou seja na prestação de serviços, e cinco pais estavam desempregados. Participaram 15 crianças (alvo) com idades entre o 1 e os 6 anos, tendo a sua maioria 5 anos, sendo oito rapazes e sete raparigas. Estas crianças tinham, ao todo, 19 irmãos com idades bastantes distintas, desde o 1 ano até aos 19 anos.

Cada membro da família foi também caracterizado relativamente ao seu nível digital, nomeadamente “elevado”, “médio” e “baixo”. Para tal, foram estabelecidos os seguintes critérios:

· Utilizador digital elevado: utilização de mais de quatro dispositivos, ou utilização de 3 dispositivos e um deles com intensidade;

· Utilizador digital médio: utilização de três, quatro ou cinco dispositivos, mas todos moderadamente;

· Utilizador digital baixo: utilização de dois dispositivos ou menos.

 

RESULTADOS

Utilização de tecnologias pelas crianças

Todas as famílias entrevistadas têm, pelo menos, um smartphone e uma televisão em casa, e apenas duas em 15 não têm um tablet. As crianças gostam muito de usar as tecnologias, principalmente o tablet, o smartphone e a televisão, utilizando-os com diferentes intensidades. O dispositivo preferido é o tablet por ser grande e um quinto das crianças tem um tablet pessoal. É utilizado em casa, porque os pais têm receio que os filhos o estraguem no exterior. Usam-no, por norma, sem restrições (exceto as crianças com regras rígidas) quando chegam a casa, ao final da tarde, até à hora de jantar ou mais tarde. Nenhuma das crianças até aos 6 anos tem um smartphone, utilizando o dos pais ou irmãos mais velhos. Este dispositivo é visto como uma ferramenta pessoal dos pais e por isso estes tendem a impor restrições de utilização, não obstante as crianças utilizam-no com relativa frequência, principalmente no exterior, em restaurantes, como “SOS” para mantê-las sossegadas. Com menor utilização estão as consolas, preferidas pelos rapazes. As consolas são utilizadas em grupo e as consolas portáteis de modo mais solitário. O computador está igualmente em desuso devido à dificuldade das crianças na utilização do “rato”, preferindo os dispositivos com ecrã tátil. A televisão é o meio digital mais utilizado pelas crianças, estando sempre ligada num canal infantil, enquanto estas utilizam o tablet ou o smartphone.

Tanto no tablet, no smartphone e no computador as crianças preferem jogar jogos e as temáticas variam conforme o seu género: as raparigas preferem jogos casuais e os rapazes jogos de desporto ou de ação/aventura. Estas atividades são realizadas pelas crianças, maioritariamente, sozinhas, sem supervisão do adulto, fazendo assim a sua autogestão.

Perceções dos pais sobre o uso de tecnologias pelos filhos

Os pais enumeram uma série de fatores positivos e negativos relativamente à utilização das tecnologias pelas crianças.

Assumem que a sociedade evoluiu, e por isso as crianças não podem ser alheadas das tecnologias, porque o mundo de hoje é tecnológico e as tecnologias fazem parte da realidade das crianças. Estes dispositivos terão um papel primordial na vida profissional dos filhos, tendo por isso de dominar o computador e o tablet. Quem não souber utilizar bem as tecnologias, “não faz nada na vida” (Manuela, F9m36). Curioso que os mesmos pais que referem não estimular a utilização destes dispositivos, como o Miguel (F13f41) e a Maria (F1m36), são os mesmos que referem que as tecnologias terão um papel primordial na vida profissional dos filhos. Os pais assumem que as tecnologias são relevantes no acesso à informação. Comparando a sua juventude, relativamente a este acesso, com os tempos atuais, reconhecem que os filhos têm a vida mais facilitada, pois a informação estava apenas acessível em bibliotecas e às famílias que tinham possibilidades financeiras para comprar enciclopédias.

 

Miguel, F13f41: Eles estão a viver num mundo completamente diferente do meu, eles já não vão usar papel, embora os ensinem a escrever nos cadernos, mas eles já não vão usar papel, não tenho dúvida nenhuma disso. Nós aqui incentivamos muito em casa eles a lerem, a terem hábitos de leitura, a terem um bocadinho toda essa parte, mas acho que vai ser difícil no futuro eles manterem isso, porque a tendência eé isso desaparecer.


Estão convictos de que irão ser também úteis para os filhos na escola, nomeadamente para pesquisas, mas ressalvam essa utilidade para só “quando [o filho] for para a escola” (Miguel, F13f41). Ou seja, até aos 6 anos não serão de grande relevância educativa, servindo apenas para “diversão e distração” (Zélia, F2m46).

Segundo os pais, as tecnologias permitem também uma melhor qualidade de vida para todos, principalmente para comunicar entre familiares.

Vários foram os benefícios mencionados pelos pais, nas entrevistas, relativamente ao desenvolvimento da criança através da utilização destes dispositivos, como a nível de raciocínio, estimulado principalmente através de jogos como puzzles e o jogo da memória, a motricidade, através da utilização da precisão manual necessária para interagir com os dispositivos; a criatividade, recorrendo a aplicações de pintura; a autonomia, onde as crianças pesquisam assuntos do seu interesse. A Natália (F7m26) instalou apps no tablet do filho que contemplam a aprendizagem de inglês e a Zélia (F2m46) diz que a Vanessa (F2g3) aprendeu a reconhecer os algarismos no smartphone e já consegue telefonar para familiares, marcando o número correto.

Aspetos negativos foram também citados pelos pais, como o contacto com estranhos, pedofilia e rapto de crianças. Os pais associam os aspetos negativos às redes sociais e aos filhos mais velhos, nomeadamente as meninas, desvalorizando nas crianças até aos 6 anos por estas ainda não saberem ler nem escrever.

I: Falam com ele [Hugo, F10b6] sobre possíveis perigos da Internet]?

Susana (F10m34): Ele também não precisa, ele ainda não sabe escrever

Glória (F15m27): Eles vão para os Facebook's e mais não sei das quantas e a gente sabe os perigos que há, que a gente atrás de um Facebook não sabe de quem está do outro lado!

I: Isso assusta-a?

Glória (F15m27): Por enquanto ainda não! Mas quando… principalmente a Diana [F15g10], não é? Porque as meninas… a Diana [F15g10] e a Vanda [F15g2]... Os rapazes não têm tanto essa tendência que as meninas têm.

Existe também o receio de que os filhos fiquem dependentes das tecnologias e se isolem, por isso os pais dão mais valor a brincadeiras “tradicionais”, como brincar na rua, do que à utilização das tecnologias. Têm receio de que vejam conteúdos impróprios, como imagens pornográficas, violentas, linguagem inapropriada ou violência.

Que regras existem na utilização de tecnologias?

De um modo geral, os pais começam por disponibilizar os dispositivos aos filhos desde uma idade muito jovem, com 1 ou 2 anos, como o tablet ou o smartphone, sem restrições. Após um certo tempo de uso, caso os pais verifiquem, por exemplo, excesso de utilização ou a instalação de jogos violentos, surgem então as regras.

Foram várias as regras mencionadas pelas famílias. Para os pais é muito importante o controlo das apps instaladas pelos filhos, proibindo a instalação de jogos violentos, regra mencionada por pais de crianças que jogam precisamente jogos violentos, como a Susana (F10m34), que referiu que o Hugo (F10b6) tem um enorme gosto por este tipo de jogos, a Mafalda (F12m37), que refere estar constantemente a apagar a aplicação do jogo “GTA” do tablet do António (F12b5) e o Fábio (F15f26), que também proibiu os filhos Vasco (F16b6) e Mateus (F15b5) de jogar “GTA”, embora o continuem a jogar. Outra das regras é a instalação de um número reduzido de apps ou o pedido de permissão aos pais para colocarem a password para a instalação. Uma regra comum a todas as famílias entrevistadas é a proibição de instalar apps pagas, desvalorizando o facto de pagar para os filhos jogarem, pois eles apenas querem instalar apps de jogos.

Os pais controlam também o tempo de utilização, embora não o limitem a um período específico (exceto as crianças que só podem usar os dispositivos ao fim de semana). Apenas a Manuela (F9m36) não permite ao seu filho a utilização diária de meios digitais (móveis), alegando que quando ele começa a jogar “perde-se” [F9m36] e necessita de descansar. As restantes crianças utilizam-nos todos os dias (exceto as que apenas os utilizam no fim de semana). Esta mesma mãe também foi a única a colocar regras de utilização ao filho desde que ele teve acesso a dispositivos digitais.

Relativamente a regras mais rígidas, duas crianças só podem utilizar o tablet e o smartphone ao fim de semana, regra imposta porque os pais consideravam que elas faziam uma utilização excessiva das tecnologias. Ou seja, conforme já referido, as regras que dizem respeito a uma utilização muito controlada são apenas impostas após o excesso de uso de tecnologias.

Os filhos mais velhos têm outro tipo de regras, como a proibição de usar redes sociais e não poderem contactar com desconhecidos online. Devem também partilhar com os pais todas as atividades que realizam nos dispositivos e as palavras-passe e alguns pais de vez em quando fazem uma fiscalização (José, F4f42) às apps instaladas.

Que mediação é feita pelos pais?

Alguns pais preocupam-se em mediar esta utilização, embora poucos, menos de metade. A maior parte da mediação está relacionada com as regras já referidas. As principais são o controlo do tempo da utilização dos dispositivos, a verificação das apps instaladas, a proibição da instalação de jogos violentos ou a colocação de uma password no dispositivo para a instalação de apps. Praticamente todas as crianças utilizam os dispositivos ligados à Internet, apenas a Manuela (F9m36) disse que o seu filho utilizava o tablet com este acesso desligado.

Os pais de crianças mais velhas fazem vistorias aos dispositivos, nomeadamente ao histórico de sites consultados. A Mafalda (F12m37), embora diga que também costuma ir ao histórico de consultas online dos filhos, assume que não o faz com muita frequência por não ter tempo e que tem poucos conhecimentos informáticos para o fazer.

Nenhuma das famílias referiu utilizar o controlo parental dos dispositivos e alguns pais não tinham conhecimento dessa funcionalidade.

Fazem mediação, mas...

Apesar de alguns pais mencionarem a importância da mediação, verifica-se que a maioria das crianças utiliza estes dispositivos sobretudo sozinha e alguns pais não sabem bem que tipo de atividades as crianças realizam com os dispositivos, inclusivamente alguns que disseram fazer mediação aos seus filhos.

I: A Gabriela [F4g6] joga alguns jogos online?

Amélia, F4m38: Eu não sei responder a essa pergunta.

I: A Gabriela [F4g6] usa o computador sozinha ou vocês costumam acompanhar?

José, F4f42: Muito raramente vejo.

Curiosamente o José (F4f42) disse fazer vistoria aos dispositivos da Ana (F4g10), mas parece não fazer às atividades da outra filha mais nova (Gabriela, com 6 anos).

Apesar de considerarem a mediação relevante e de terem intenções de conversar com os filhos sobre a utilização segura dos dispositivos, os pais não referiram estratégias para controlar os conteúdos visualizados pelas crianças nos dispositivos, preocupando-se mais com o tempo que estas passam na sua utilização ao invés dos conteúdos visualizados. Também não foram mencionadas estratégias ativas de co-utilização dos dispositivos, onde os pais e filhos partilham os meios digitais realizando atividades conjuntas.

Os pais estão preparados para conversar com os filhos sobre segurança digital?

Para os pais, conversar com os filhos sobre segurança digital é uma importante medida de mediação e o diálogo deve basear-se nos cuidados de segurança na rua, como por exemplo não falar nem aceitar nada de estranhos, tendo intenções de transpor esses cuidados para a utilização das tecnologias. A grande maioria referiu estar preparado para conversar com os filhos sobre segurança digital, não tendo dúvidas sobre esta utilização, inclusivamente pais que dizem utilizar pouco as tecnologias, como o Miguel (F13f41) e pais Low digital User, como o Fábio (F15f26). Foram apenas três os pais que mencionaram que não se sentem preparados para acompanhar os filhos em questões de segurança digital, como a Manuela (F9m36), a única mãe que colocou regras na utilização dos dispositivos ao filho desde que ele os começou a utilizar. A Susana (F10m34), embora seja Medium Digital User e utilize o tablet de modo proficiente, assume igualmente que tem de “aprender” mais sobre este assunto, assim como a Mafalda (F12m37), igualmente Medium Digital User.

I: Acha que tem conhecimentos suficientes [para conversar com os filhos sobre segurança digital]?

Mafalda (F12m37): Não tenho, tenho de ir à procura. (...) Não sei como é que vou abordar a situação, não sei como é que quando o meu filho chegar ao pé de mim e disser “quero o Facebook” e que quer meter fotografias e ou isto ou aquilo…

Apesar de ainda não terem conversado com os seus filhos mais jovens sobre segurança digital, algumas questões relativas a este tema já foram abordadas com os filhos mais velhos. A Maria (F1m36) fala com a Joana (F1g13) sobre questões de segurança digital e diz que o André (F1b5) costuma estar presente, embora diretamente ainda não tivesse falado com ele.

No Quadro 1 são caracterizados os pais relativamente às suas competências digitais como “baixo”, “médio” e ”elevado”, é identificado o seu estilo de mediação parental (Valke et al., 2010), as suas perceções sobre as tecnologias e regras aplicadas a este uso, sustentando-se em citações relevantes.

 

DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Pretendeu-se conhecer o estilo de mediação parental de um grupo de pais na utilização das tecnologias pelos filhos e como as suas perceções se relacionam com o seu estilo de mediação parental. Os dados serão discutidos tendo em conta a informação do Quadro 1.

Todas as famílias entrevistadas, inclusivamente as de nível socioeconómico baixo, viviam num ambiente descrito como “tecnologicamente rico” por Livingstone et al., (2015), revelando que um nível socioeconómico baixo não significa menos dispositivos digitais disponíveis em casa. Segundo a autora, essas casas são frequentemente ambientes “tecnologicamente ricos“ em termos de número e variedade de meios digitais, embora sejam menos propensos a ser versões mais recentes ou mais sofisticadas.

O estilo parental dos pais, relativamente à utilização de tecnologias pelas crianças, está diretamente relacionado com as suas perceções e a utilização de tecnologias pelos filhos, que por sua vez influenciam as regras aplicadas à utilização das tecnologias, conforme se verifica no Quadro 1. Na maioria das famílias, aquando do início da utilização das tecnologias, os pais começam por uma abordagem do estilo laissez-faire ou permissiva. Caso observem excesso de uso pelos filhos ou a instalação de jogos violentos, adotam um estilo autoritário. Este foi o caso da Família 8 e Família 10. A Joana (F5m34) também opta por um estilo autoritário devido à perceção de que as tecnologias não são benéficas para os seus filhos. Por outro lado, caso os pais não considerem que haja excesso de utilização ou instalação de apps impróprias, a mediação continua a ser laissez-faire ou permissiva. Pode evoluir para um estilo autoritativo caso os pais providenciem regras de utilização que os filhos tenham de gerir, como a Família 4, onde as filhas têm de informar os pais sobre as suas atividades online, ou o Família 9, onde o filho tinha de regular o seu comportamento de modo a poder posteriormente usar o tablet como gratificação. As famílias que adotam um estilo parental laissez-faire, como a Família 1, 6 ou 13, não têm regras de utilização, pois consideram que os seus filhos não fazem utilização excessiva. Os pais com um estilo permissivo são famílias de nível socioeconómico baixo que enfatizam bastante a importância das tecnologias para o futuro das crianças, como os pais Fábio (F15f26), Madalena (F14m37) ou Telmo (F2f36), não colocando regras na sua utilização. Segundo Livingstone et al. (2015), como consequência desta mediação permissiva as crianças exploram livremente as tecnologias, experimentando e aprendendo por tentativa e erro, fazendo com que tenham mais competências tecnológicas que os seus pares. No entanto aqui não se verificou essa questão pois as crianças a quem eram aplicadas regras rígidas e os pais fazem atualmente mediação parental autoritária já eram crianças com bastantes competências a nível de utilização de tecnologias.

Por sua vez, as regras aplicadas estão diretamente relacionadas com a idade das crianças e o seu uso. O estilo parental dos pais é influenciado pelas regras. As regras das crianças mais jovens diferem das regras dos seus irmãos mais velhos: para os mais jovens os pais focam-se sobretudo no tempo de utilização ao invés dos conteúdos visualizados, justificando esta questão por os filhos mais novos ainda não saberem ler nem escrever e por isso consideram que a sua utilização é segura e inocente. Já as crianças mais velhas têm regras que passam pela fiscalização dos dispositivos, nomeadamente dos websites consultados e proibição da instalação de apps de redes sociais, pois para os pais o perigo reside no contacto com estranhos. Ou seja, antecipam mais preocupações com as crianças mais velhas, pois estas são mais alfabetizadas tecnologicamente e autónomas (Zaman et al., 2016). Os resultados mostram que os pais expressam preocupações sobre conteúdos impróprios, mas, ao mesmo tempo, acreditam que o seu filho não tem más intenções quando utiliza as tecnologias e, portanto, é menos provável sofrerem danos. Em geral, eles confiam nos seus filhos, consideram as suas preferências e utilizações de tecnologias como inocentes e acreditam que a mediação parental que fazem é suficiente para remediar potenciais efeitos negativos.

O envolvimento dos pais na utilização de tecnologias com os filhos está relacionado com as suas competências tecnológicas. Estas, por sua vez, estão (por norma) interligadas à sua utilização a nível profissional, por isso os pais de famílias de nível socioeconómico médio e elevado têm competências tecnológicas mais elevadas. No entanto, tal não significa que as crianças dessas famílias tenham também competências digitais mais elevadas, como é o caso dos filhos da Família 14 ou Família 15 (Quadro 1), famílias de nível baixo onde os pais têm poucas competências tecnológicas e as crianças utilizam vários dispositivos sem dificuldades, aprendendo com os irmãos mais velhos ou colegas da escola. Os pais com poucas competências tecnológicas tendem também a não colocar regras rígidas de utilização das tecnologias, focando as mais-valias desta utilização e admirando os filhos pelas suas competências tecnológicas.

Segundo vários autores (Barron et al., 2009; Hollingsworth et al, 2011; Shin & Huh, 2011), os pais que utilizam durante mais tempo vários dispositivos é provável que tenham atitudes mais positivas em relação a estes e estarão mais à vontade na sua utilização e, portanto, mais propensos a co-usá-los com seus filhos. No entanto, tal não se verificou neste estudo, pois nenhum pai, independentemente das suas competências digitais, co-utilizava as tecnologias com os filhos. Ainda sobre a co-utilização, Connell, Lauricella e Wartella (2015) verificaram que tanto a idade como o género da criança parecem influenciar a probabilidade de envolvimento dos pais na co-utilização de tecnologias. A co-utilização de pais foi mais visível entre crianças mais jovens e diminuiu com crianças mais velhas, provavelmente como resultado de a criança tornar-se mais independente nesta utilização. Neste estudo, como já referido, não se verificou co-utilização de tecnologias por nenhuma família, talvez por os pais terem a perceção de as  tecnologias nesta idade servirem apenas para lazer, como instalação de apps de jogos ou visualização de desenhos animados.

Talvez por este motivo nenhum pai ou mãe entrevistados falou ainda com os seus filhos mais jovens sobre segurança digital, pois consideram a sua utilização atual inocente. Com os filhos mais velhos já abordaram alguns aspetos, principalmente sobre o perigo de providenciar informação pessoal, como a morada ou o nome da escola, com receio de contactos com estranhos. Consideram que mais importante do que restringir a utilização das tecnologias é conversar com os seus filhos sobre perigos que poderão encontrar online, considerando a mediação social da utilização das tecnologias importante. Esta estratégia de mediação dá mais oportunidade à comunicação e à mediação instrutiva das crianças. Num estudo Americano (Clark, 2013), a maioria dos pais diz favorecer a conversa como uma estratégia de mediação. A mediação ativa de uso da internet por crianças também é a estratégia mais popular adotada em pais europeus com crianças de 9 a 16 anos de idade, seguida de orientações de segurança e restrições (Kirwil, 2009; Livingstone, et al., 2011). No entanto, segundo Chaudron et al. (2015), as práticas restritivas tendem a ser usadas mais para os mais jovens do que as crianças mais velhas e as meninas tendem a ser monitorizadas e ter regras mais restritas do que os rapazes, factos também verificados neste estudo.

Os pais que assumem necessitar de mais informação sobre a utilização segura dos dispositivos pelos filhos são aqueles que assumem igualmente que os seus filhos têm bastantes competências nesta utilização.

Os pais desempenham um papel crucial na promoção e maximização do uso saudável de tecnologias pelos seus filhos. Visto as crianças explorarem ao máximo as tecnologias (Ciccarelli & White, 2009) é necessário um equilíbrio nesta utilização que é praticamente diária. As competências cognitivas e funcionais até aos 6 anos ainda estão em fase de desenvolvimento, e por isso os pais desempenham aqui um papel crucial na promoção do uso seguro e apropriado das tecnologias.

Uma relação aberta entre pais-filhos desde muito jovens poderá aumentar a probabilidade de conversas sobre os seus amigos, escola e atividades diárias, incluindo a utilização de tecnologias (Kerr & Stattin, 2000). Em vez de exigir que criança ou adolescente seja submissa aos padrões da sociedade sobre a utilização de tecnologias, os pais devem ensiná-la a esclarecer as dúvidas, promovendo deste modo o pensamento crítico (Collier et al., 2016). Por outro lado, a mediação ativa negativa pode ameaçar a autonomia e desencorajar o pensamento crítico por forçar a criança a escolher entre os seus interesses e a desaprovação dos pais. Um equilíbrio entre a mediação restritiva e ativa poderá ser o mais benéfico para as crianças (Collier et al., 2016). Outros autores referem que embora ainda seja escassa a investigação sobre a utilização conjunta de tecnologias, evidências sugerem que a co-utilização de tecnologias pode estimular uma relação positiva entre pais e filhos, como o aumento da ligação familiar (Padilla-Walker, Coyne, & Fraser, 2012) e uma maior autoeficácia e perícia na utilização de tecnologia (Livingstone et al., 2011). A American Academy of Pediatrics alterou as suas políticas de recomendações de utilização estritamente limitada ou restrição  do uso de ecrãs a crianças muito jovens para o incentivo dos pais na co-utilização de tecnologias com os seus filhos mais jovens e adolescentes (American Academy of Pediatrics, 2013).

Apesar de tudo, os pais, muitas vezes, não têm claro como e porquê a mediação parental é importante ou que estratégias são eficazes. Para além disso, uma série de aspetos práticos - nomeadamente a falta de tempo, recursos, conhecimento, competência, etc. - muitas vezes intervém entre as suas boas intenções e as suas práticas quotidianas. Além disso, os pais com nível escolar baixo reconhecem as crianças como mais experientes ou competentes do que eles, devido ao gap geracional, impedindo a sua gestão das tecnologias. Este conflito de gerações, entre pais de crianças tão jovens, pode ser mais revelador da falta de confiança de alguns pais (e tendência de ver seus filhos como nativos digitais) do que um reflexo de níveis de competências reais das crianças mais jovens.

Mais estudos são necessários para explorar a relação pai-filho e a eficácia dos pais na gestão do uso das tecnologias para desenvolver estratégias para orientar as crianças numa utilização saudável de tecnologias (Li, Atkins & Stanton, 2006).

Para finalizar, são apresentadas algumas indicações, baseadas no Kidsmatter (2017), que poderão ser relevantes para pais, policy makers e formadores nesta área: 1) será relevante para os pais conhecer os benefícios do uso das tecnologias e internet para as crianças; 2) a família deve ter uma lista de websites e apps relevantes para as crianças, que explorem a imaginação e criatividade, apresentando conteúdos educativos adequados à idade, assim como uma lista de critérios a que os pais possam recorrer para avaliar as apps; 3) os pais devem conhecer algumas ferramentas de fácil utilização para gerir o uso de internet pelas crianças, utilização de passwords, proteção da privacidade e filtros de conteúdo. Por exemplo, tendo em conta a frequência com que as crianças usam os dispositivos familiares, seria útil para muitas famílias terem ferramentas que permitam uma troca de utilizador nas configurações; 4) para além de ferramentas técnicas, seria relevante os pais frequentarem formação de modo a melhorarem as suas competências digitais, e uma vez que estas competências e confiança digital se refletem numa melhor utilização das tecnologias pelos filhos, este benefício será repassado a toda a família; 5) a formação também deve incidir em estratégias de comunicação para facilitar atividades compartilhadas, nomeadamente conversas entre pais e filhos sobre práticas seguras e resolução de problemas. Os pais devem ser orientados em como fazer a mediação de tecnologias digitais, tendo em conta crianças de diferentes idades e como eles também podem desempenhar um papel orientador nas conversas com os irmãos, tendo em conta a influência dos irmãos mais velhos nas atividades digitais das crianças mais novas; 6) as escolas devem comunicar com os pais, pois têm um grande potencial para os alertar e formar positivamente no que concerne à utilização positiva das tecnologias pela família. Já o papel dos policy makers reside principalmente na promoção da diversidade de atividades benéficas e fornecendo ferramentas para minimizar o risco de danos. Em conjunto, estas iniciativas e recursos seriam uma mais valia para todas as famílias, especialmente para os pais que têm uma visão mais ambivalente das tecnologias digitais devido à sua falta de familiaridade com a internet e dispositivos móveis.

 

Referências bibliográficas

American Academy of Pediatrics. (2013). Policy statement on children, adolescents, and the media. Pediatrics, 132, 957–961. doi:10.1542/peds.2013-2656        [ Links ]

Aunola, K., Stattin, H. K., & Nurmi, J. (2000). Parenting styles and adolescents' achievement strategies. Journal of Adolescence, 23, 205-222.         [ Links ]

Bandura, A. (1977). Social learning theory. Oxford, UK: Prentice Hall.         [ Links ]

Barkin, S., Ip, E., Richardson, I., & Klinepeter, S. (2006). Parental media mediation styles for children aged 2 to 11 years. Pediatrics Adolescents, 160, 395-401.         [ Links ]

Barron, B., Martin, C. K., Takeuchi, L., & Fithian, R. (2009). Parents as learning partners in the development of technological fluency. International Journal of Learning and Media, 1, 55–77.         [ Links ]

Beebe, T., Asche, S., Harrison, P., & Quinlan, K. (2004). Heightened vulnerability and increased risk-taking among adolescent chat room users: results from a statewide school survey. Journal of Adolescent Health, 35,116-123.         [ Links ]

Berger, E. H., & Riojas-Cortez, M. R. (2012). Parents as Partners in Education: Families and Schools Working Together. Upper Saddle River: Pearson.         [ Links ]

Brito, R., & Dias, P. (2017). A participação ética de crianças com menos de 8 anos em investigação qualitativa. Revista EDaPECi, 17(2), 16-29. Disponível em https://seer.ufs.br/index.php/edapeci/article/view/6516/pdf        [ Links ]

Charmaz, K. (2009). Shifting the Grounds: Constructivist Grounded Theory Methods for the Twenty- rst Century, in J. Morse, P. Stern, J. Corbin, B. Bowers, K. Charmaz, & A. Clarke, Developing Grounded Theory: The Second Generation (pp. 125-140). Walnut Creek, CA: Left Coast Press.

Chaudron, S., Plowman, L., Beutel, M. E., Černikova, M., Donoso Navarette, V., Dreier, M., & Wolfling, K. (2015). Young children (0-8) and digital technology - EU report. Luxembourg: Publications Office of the European Union.

Ciccarelli, S. K., & White, J. N. (2009). Psychology. 2. Upper Saddle River: Pearson/Prentice Hall.         [ Links ]

Clark, L.S. (2013). The parent app: Understanding families in the digital age. Oxford: Oxford University Press.         [ Links ]

Collier, K., Coyne, S., Rasmussen, E., Hawkins, A., & Memmott-Elison, M. (2016). Does parental mediation of media influence child outcomes? Meta-analysis on media time, aggression, substance use, and sexual behaviour. Developmental Psychology, 52(5), 798-812.         [ Links ]

Connell, S. L., Lauricella, A. R., & Wartella, E. (2015). Parental Co- Use of Media Technology with their Young Children in the USA. Journal of Children and Media, 9(1), 5-21, DOI:10.1080/17482798.2015.997440        [ Links ]

Corbin, J., & Strauss, A. (2008). Basics Of Qualitative Research: Techniques And Procedures For Developing Grounded Theory. Third edition. Sage Publications, Thousand Oaks CA.         [ Links ]

Coyne, S. M., Padilla-Walker, L. M., Stockdale, L., & Day, R. D. (2011). Game on ... girls: Associations between co-playing video games and adolescent behavioral and family outcomes. Journal of Adolescent Health, 49, 160–165.         [ Links ]

Delver, B. (2003). Pandora's mailbox. Haarlem: E-com Publishing.         [ Links ]

Denscombe, M. (2007). The good research guide: for small-scale social research projects. Maidenhead, England; New York: Open University Press.         [ Links ]

Dias, P. & Brito, R. (2017). Crianças (0 a 8 anos) e Tecnologias Digitais. Lisboa: Centro de Estudos em Comunicacão e Cultura, Universidade Católica Portuguesa. Disponível em http://goo.gl/obFv4L        [ Links ]

Duimel, M., & de Haan, J. (2007). Nieuwe links in het gezin. [New links in the family]. Disponível em https://www.scp.nl/Publicaties/Alle_publicaties/Publicaties_2007/Nieuwe_links_in_het_gezin

Eastin, M. S., Greenberg, B. S., & Hofschire, L. (2006). Parenting the Internet. Journal of Communication, 56, 486-504.

Eastin, M. S., Yang, M., & Nathanson, A. I. (2006). Children of the Net: An empirical exploration into the evaluation of internet content. Journal of Broadcasting & Electronic Media, 50, 211 – 230.         [ Links ]

European Commission (2008). Towards a safer use of the Internet for children in the EU: A parents' perspective. Disponível em http://ec.europa.eu/information_society/activities/sip/docs/eurobarometer/analyticalreport_2008.pdf        [ Links ]

Eynon, R., & Malmberg, L. E. (2012). Understanding the online information-seeking behaviours of young people: The role of networks of support. Journal of Computer Assisted Learning, 28, 514 – 529.         [ Links ]

Fleming, J., Greentree, S., Cocotti-Muller, D., Elias, K., & Morrison, S. (2006). Safety in Cyberspace. Youth and Society, 38(2), 135-154.         [ Links ]

Glaser, B., & Strauss, A. (2006). The Discovery of Grounded Theory: Strategies for Qualitative Research. New Brunswick and London: Aldine Transaction.         [ Links ]

Hollingsworth, S., Mansaray, A., Allen, K., & Rose, A. (2011). Parents' perspectives on technology and children's learning in the home: Social class and the role of the habitus. Journal of Computer Assisted Learning, 27, 347–360.         [ Links ]

Holloway, D., Green, L., & Livingstone, S. (2013). Zero to eight. Young children and their internet use. LSE, London: EU Kids Online.         [ Links ]

Kermani, H., & Aldemir, J. (2015) Preparing children for success: integrating science, math, and technology in early childhood classroom. Early Child Development and Care, 185(9), 1504-1527. DOI: 10.1080/03004430.2015.1007371        [ Links ]

Kerr, M., & Stattin, H. (2000). Parental Monitoring: A Reinterpretation. Child Development, 71(4), 1072-85.

KidsMatter (2017). Keeping kids safe online over the holidays. Disponível em https://www.kidsmatter.edu.au/families/enewsletter/keeping-kids-safe-online-over-holidays.         [ Links ]

Kirwil, L. (2009). Parental Mediation Of Children's Internet Use In Different European Countries, Journal of Children and Media, 3(4), 394-409, DOI: 10.1080/17482790903233440.         [ Links ]

Li, X., Atkins, M. S., & Stanton, B. (2006). Effects of home and school computer use on school readiness and cognitive development among head start children: a randomized controlled pilot trial. Merrill Palmer Quarterly, 52, 239–263. doi: 10.1353/mpq.2006.0010.         [ Links ]

Livingstone, S., & Bober, M. (2004). UK children go online: Surveying the experiences of young people and their parents. Disponível em http://www.york.ac.uk/res/e-society/projects/1/UKCGOsurveyreport.pdf        [ Links ]

Livingstone, S., Haddon, L., Górzig, A., & Ólafsson, K. (2011). Risks and safety on the internet: The UK report. LSE, London: EU Kids Online.         [ Links ]

Livingstone, S., Mascheroni, G., Dreier, M., Chaudron, S., & Lagae, K. (2015). How parents of young children manage digital devices at home: The role of income, education and parental style. London: EU Kids Online, LSE.         [ Links ]

Lwin, M. O., Stanaland, A. J. S., & Miyazaki, A. D. (2008). Protecting children's privacy online: How parental mediation strategies affect website safeguard effectiveness. Journal of Retailing, 84, 2005–2217.         [ Links ]

Mitchell, K., Finkelhor, D., & Wolak, J. (2005). Protecting youth online: family use of filtering and blocking software. Child Abuse & Neglect, 29, 753-765.         [ Links ]

Neumann, M. (2016). Young children's use of touch screen tablets for writing and reading at home: Relationships with emergent literacy. Computers & Education, 97, 61-68.         [ Links ]

Padilla-Walker, L. M., Coyne, S. M., & Fraser, A. M. (2012). Getting a high-speed family connection: Associations between family media use and family connection. Family Relations, 61, 426 – 440.         [ Links ]

Palaiologou, I., (2014) Children Under Five and Digital Technologies: Implication for Early Years Pedagogy, in The European Early Childhood Research Journal, 24(1) (DOI: 10.1080/1350293X.2014.929876).

Pauwels, C., Bauwens, J., & Vleugels, C. (2008). Cyberteens: de betekenis van ICT in het dagelijkse leven van Belgische tieners. [Cyberteens: The relevance of ICT in daily life of Belgian teenagers]. Disponível em http://docplayer.nl/3691615-Cyberteens-de-betekenis-van-ict-in-het-dagelijkse-leven-van-belgische-tieners.html

Plowman, L. (2014). Researching young children's everyday uses of technology in the family home. Interacting with Computers, 27, 36–46.         [ Links ]

Plowman, L., & McPake., J. (2013). Seven myths about young children and technology. Childhood Education, 89(1) 27-33.         [ Links ]

Sanders, W., Parent, J., Forehand, R., Sullivan, A., & Jones, D. (2016). Parental perceptions of technology and technology-focused parenting: associations with youth screen time. Journal of Applied Developmental Psychology, 44, 28-38.         [ Links ]

Shin, W., & Huh, J. (2011). Parental mediation of teenagers' video game playing: Antecedents and consequences. New Media & Society, 13, 945–962.         [ Links ]

Strauss, A., & Corbin, J. (1994). Grounded Theory Methodology. In NK Denzin & YS Lincoln (Eds.) Handbook of Qualitative Research, pp. 217-285. Thousand Oaks, Sage Publications.         [ Links ]

Strauss, A., & Corbin, J. (1998). Basics of qualitative research: Techniques and procedures for developing grounded theory (2nd ed.). Thousand Oaks, CA: Sage.

Valke, M., Bonte, S., De Wever, B., & Rots, I. (2010). Internet parenting styles and the impact on internet use in primary school children. Computers & Education, 55, 454-464.         [ Links ]

Valkenburg, P. (2002). Beeldschermkinderen: Theorieën over kind en media. [Screen-kids: Theories about children and media]. Amsterdam: Boom.         [ Links ]

Van den Bulck J., &, Van den Bergh, B. (2000). The influence of perceived parental guidance patterns on children's media use: gender differences and media displacement. Journal of Broadcasting & Electronic Media, 44, 329–348. doi: 10.1207/s15506878jobem4403_1.         [ Links ]

van Rooij, T., & van den Eijden, R. (2007). Monitor Internet en Jongeren 2006 en 2007: Ontwikkelingen in internetgebruik en de rol van opvoeding. Disponível em http://www.ivo.nl/download.php??le¼/UserFiles/File/Publicaties/200710%20IVO%20Reeks%2054%20-%20Monitor%20Internet%20en%20Jongeren%202006%20en%202007.pdf.         [ Links ]

Walrave, M., Lenaerts, S., & De Moor, S. (2008). Cyberteens @ Risk: Tieners verknocht aan Internet, maar ook waakzaam voor risico's. [Cyberteens @ risk: Teenagers addicted to the Internet but vigilant as to Internet risks]. Disponível em http://www.e-privacy.be/SID-TIRO-PERSMAP-samenvatting-survey-UA-OSC120208.pdf.         [ Links ]

Wang, R., Bianchi, S. M., & Raley, S. B. (2005). Teenagers' internet use and family rules: A research note. Journal of Marriage and Family, 67, 1249–1258. doi: 10.1111/j.1741-3737.2005.00214.x.         [ Links ]

Wu, C., Fowler, C., Lam, W., Wong, H., Wong, C., & Loke, A. (2014). Parenting approaches and digital technology use of preschool age children in a Chinese community. Italian Journal of Pediatrics, 40(1), 40-44. doi: 10.1186/1824-7288-40-44.         [ Links ]

Youn, S. (2008). Parental influence and teens' attitude toward online privacy protection. The Journal of Consumer Affairs, 42(3), 362-388.         [ Links ]

Zaman, B., Nouwen, M., Vanatenhoven, J. Ferrerre, E., & Looy, J. V. (2016). A Qualitative Inquiry into the Contextualized Parental Mediation Practices of Young Children's Digital Media Use at Home. Journal of Broadcasting & Electronic Media, 60(1), 1-22.         [ Links ]

Zevenbergen, R., & Logan, H. (2008) Computer use in preschool children: rethinking practice as digital natives come to preschool. Australian Journal of Early Childhood, 33, 2-44.         [ Links ]

Zimmerman, F.J., Christakis, D.A., & Meltzoff, A.N. (2007). Television and DVD/video viewing in children younger than 2 years. Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine Journal, 161, 473-479.         [ Links ]

 


Contacto: Rita Brito, Instituto Politécnico de Lisboa, Escola Superior de Educação, Centro Interdisciplinar de Estudos Educacionais (CIED), Campus de Benfica do IPL, 1549-003 Lisboa, Portugal / britorita@eselx.ipl.pt

 

(Recebido em janeiro de 2018, aprovado em maio de 2018)

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons