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Revista :Estúdio

versão impressa ISSN 1647-6158

Estúdio vol.10 no.26 Lisboa jun. 2019

 

EDITORIAL

EDITORIAL

Um bilhete rasgado

A torned ticket

 

João Paulo Queiroz*

*Portugal, artista visual e professor, coordenador da Revista Estúdio.

AFILIAÇÃO: Universidade de Lisboa; Faculdade de Belas-Artes (FBAUL); Centro de Investigação e Estudos em Belas Artes (CIEBA). Largo da Academia Nacional de Belas Artes 14, 1249-058, Lisboa, Portugal.

 

Endereço para correspondência

 

RESUMO:

Sobre a arte e viagem pode-se estabelecer um paralelo continuado, irónico, expressivo. Entre as duas a síntese do signo, a justaposição associativa. A viagem mostra o mundo, a viagem mostra quem somos. A caminho se desenha, se imagina, se fantasia, se mente. Neste ensejo, neste mote da descoberta, se apresentam os 16 artigos que compõem o número 26 da revista Estúdio.

Palavras chave: viagem / ironia / arte / revista Estúdio.

 

ABSTRACT:

On the art and travel a parallel can be established, ironic, expressive. Between the two the synthesis of the sign, the associative juxtaposition. The trip shows the world, the trip shows us who we are. On the way it is drawn, imagined, wandered, lied. In this occasion, in this motto of the discovery, those 16 articles that compose the present issue of Revista Estúdio are presented.

Keywords: travel / irony / art / estudio magazine

 

1. Peregrinações

Viagens são também peregrinações. A caminho em busca do espírito. Fugir à condição, procurar mais alcance, discernir, compreender. Aceitar a determinação. A peregrinação é viagem e metáfora da duração da vida: começa, dura, e acaba. Se há proveito, se há fatalidade, se há sentido. Talvez um encontro no cais. Uma travessia no Tejo, seja rio acima, seja Atlântico abaixo.

 

2. Um bilhete rasgado

A viagem só é percebida a meio, quando já não é novidade. E só a meio da viagem percebemos que temos um bilhete rasgado nas mãos.

Nas margens da viagem há tempo para colecionar, refletir, anotar (Salvatori, 2019; Gutlich, 2019). O rio projeta um cenário sem fim. A margem produz imagens e interroga a memória.

São pretextos, estas deslocações que levantaram poeira do caminho.

 

3. Os artigos

Assim se descobriu a arte e a obra, a meio das coisas. Aqui se reuniram os dezasseis artigos que se reuniram na revista Estúdio 26.

O artigo "As paisagens de Thiana Sehn: experiência, distâncias e deslocamentos" de Marilice Corona (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil) apresenta as paisagens amplas e fundas de Thiana Sehn (1985 – 2018) onde a prática do ar livrismo é uma novidade arrojada, num percurso de aprendizagem continua e interrompida de modo trágico, em acidente a caminho da serra de São Paulo.

Rebeca López-Villar (Vigo, Espanha) no artigo "Magia en la imagen: el proceso artístico como ejercicio ritual en la obra de Nuria Riaza" debruça-se sobre o modo como o grafismo explorado na representação de rostos e corpos se replica pelo nervosismo de uma escrita que interpela o espectador como se fosse o seu autor. O texto é tecido, o trabalho é materializado em folhas quotidianas e persistentes, como Penélope.

O artigo "RevelAção: o outro nas foto-performances de Adriana Barreto" de Zalinda Cartaxo (Brasil e Lisboa, Portugal) apresenta A Casa do Horto, um espaço aberto em 2018 por Adriana Barreto, no Rio de Janeiro, idealizado para a criação e desenvolvimento de suas performances. RevelAção introduz a fotografia antes e depois de uma intervenção holista.

Pablo García Calvente (Guadix, Granada, España) no artigo "Tras la estela del arte: reflexiones en torno a la obra de Paco Lagares" apresenta, a propósito da retrospectiva "Epanalepsis" de Pablo Lagares (Palacio de La Madraza, Universidad de Granada, 2014) uma reflexão sobre o percurso deste pintor madrileno (n.1948).

O artigo "As caixas de Emília Nadal e outras caixas" de Sara Antunes (Lis-boa, Portugal) toma as pinturas dos anos 70 de Emília Nadal como instâncias de representação conceptual e espacial: uma caixa, uma embalagem, um quarto: a quarta parede, a perspetiva, a abertura da representação.

Irantzu Sanzo (Bilbau, Espanha) no artigo "Raúl Domínguez: Dibujo que tiembla, Imagen que se remueve" aborda os desenhos austeros de Raúl Domínguez (Barakaldo, 1984) que desafiam a profundidade em direção ao invisível.

O artigo "Amazônia: os Novos Viajantes, os Artistas da Madeira" de Neide Marcondes & Nara Sílvia Marcondes Martins (São Paulo, Brasil) abordam a exposição 'Artistas da Amazônia: Novos Viajantes' desdobrada na pesquisa científica, nas obras naturalistas históricas (séc. XVII e XVIII) e obras contemporâneas, com curadoria de Cauê Alves e da bióloga Lúcia Lohmann (2018). Destacaram-se dois artistas contemporâneos, Maurício Adinolfi (n.1978) e Fernando Limberger (n.1962) que abordam a madeira numa crítica à globalização e à apropriação erosiva de identidades.

Rodolfo Silveira (Covilhã, Portugal) no artigo "O Presente Invisível: dimensão sensorial na instalação 'Your blind passenger', de Olafur Eliasson" discutindo o espaço sinestésico nas suas instalações imersivas.

Teresa Matos Pereira (Lisboa, Portugal) no artigo "Tempo, Memória e Palimpsesto na obra de Sônia Gomes" apresenta o trabalho da brasileira Sônia Gomes. A partir de matérias têxteis, e de outros materiais, cartão, troncos, raízes, arame constrói objetos de memória, amarrando e costurando, numa prática que conjuga atividade e reutilização, em torno da identidade e da memória.

O artigo "Helena Cardoso: impressões da paisagem e texturas entretecidas" de Manuela Bronze & Carolina Marques de Sousa (Porto, Portugal) visita a expressão têxtil contemporânea inserindo-a nas problemáticas da sustentabilidade e da identidade.

Carolina Vigna Prado (Higienópolis, São Paulo, Brasil) no artigo "As Ilhas, As Pedras – A História: O erotismo de Marcos Rizolli" debruça-se sobre a obra de Marcos Rizolli, especialmente a obra intitulada "Michelangelo". A ilha, corpo de terra, de pele, de plasticidade urdida entre os contextos da história e os confrontos da atualidade.

O artigo "'Ninhos e o Arquivo Agora:' fotografia e projeção na obra de Elaine Tedesco" de Andréa Brächer (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil) apresenta a reflexão implícita na exposição "Ninhos e o Arquivo Agora" em que imagens do espólio da artista, dos anos 80, são projetadas sobre o espaço expositivo, numa revisita ao olhar lento.

Cláudia Mattos Brandão (Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil) no artigo "As tessituras de Sônia Gomes e as repercussões de memórias em nós" apresenta o trabalho de Sônia Gomes (n. Caetanópolis, Minas Gerais, 1948). Os fios entrelaçados parecem narrar outras histórias, outras vivências.

O artigo "Exposição ou instalação? os videomódulos de Tony Camargo" de Yasmin Fabris & Ronaldo de Oliveira Corrêa (Curitiba, Brasil) apresenta Tony Camargo (n. 1997) focando a exposição "desdobramento pictórico": não é uma instalação, mas é um cenário do projeto videomódulos, afinal um não lugar.

Thomaz Lima (Campinas, São Paulo, Brasil) no artigo "Viagens como fonte de inspiração: o itinerário da artista Maria do Céu pelas imagens" estuda a obra gráfica e gravada da pintora e educadora Maria do Céu Diel. As terras igualam os céus, em demorados encontros, tal como a matriz se opõe à prova a tirar.

O artigo "Do estranho para o transcendental na obra de Fernando Maselli" de Domingos Loureiro & Sofia Torres (Porto, Portugal) aborda as paisagens infinitas e sintetizadas de Maselli, que devolvem uma solidão perfeita e dissolvente de artefactos escondidos, na trama digital.

Eliane M. Gordeeff (Brasil / Lisboa, Portugal) no artigo "O Amor em Pedaços "Pixalados" de Alice Guimarães & Mónica Santos" reflete sobre o uso de pixilation na sugestão do relacionamento amoroso, nas animações "Amélia & Duarte" (2015) e "Entre Sombras" (2018), das portuguesas, Alice Guimarães e Mónica Santos. O olhar é informado e crítico, atento aos vazios do amor contemporâneo.

 

4. Ironia: um encontro

A viagem é também uma ironia, uma justaposição de realidades opostas. Diferentes significações no mesmo veículo sígnico que podem desencadear o riso (Bonani & Almozara, 2019). Gil Vicente sabia-o muito bem: as primeiras edições dos seus autos transportam no frontispício o mesmo adágio latino: ridendo castigat mores. Rindo se criticam os costumes. Fernão Mendes Pinto sabia-o também. A sua Peregrinação tem tanto de verdadeiro como de exagerado, trazendo ao de cima a oposição funda entre a nobreza de caráter e a pobreza humana (Sabino, 2019).

Fernão Mendes Pinto desceu o atlântico. Almeida Garrett subiu a corrente do Rio Tejo. Ambos riram, e ambos mostraram o que aprenderam. É o contraste da ironia funda destas viagens passadas e presentes, dos barcos que atravessaram mares aos barcos que atravessam rios. Dos encontros, o riso.

 

Referências

Bonani, André Amarante & Almozara, Paula (2019, janeiro) "Mira Schendel: materialidade viva, transparência do cosmos." Revista Gama, Estudos Artísticos. ISSN 2182-8539 e-ISSN 2182-8725. 7(13):89-96.         [ Links ]

Fortes, Arlinda Maria Eugénio (2019, janeiro) "'O encanto secreto das coisas e dos seres' na coleção artística de João da Silva." Revista Gama, Estudos Artísticos. ISSN 2182-8539 e-ISSN 2182-8725. 7(13):63-69.         [ Links ]

Gutlich, George Rembrandt (2019, janeiro) "Um expressionista holandês no Brasil: adaptação de temas na obra de Johann Gutlich." Revista Gama, Estudos Artísticos. ISSN 2182-8539 e-ISSN 2182-8725. 7(13):70-79.         [ Links ]

Sabino, Isabel (2019, janeiro) "Jorge Pinheiro (papéis das aulas): O Pátio da Cobrança das Rendas." Revista Gama, Estudos Artísticos. ISSN 2182-8539 e-ISSN 2182-8725. 7(13):97-107.         [ Links ]

Salvatori, Maristela (2019, janeiro) "Idioma-imagem na gravura de Magliani." Revista Gama, Estudos Artísticos. ISSN 2182-8539 e-ISSN 2182-8725. 7(13):18-28.         [ Links ]

 

 

Artigo completo submetido a 10 de abril de 2019 e aprovado a 15 abril de 2019

 

Endereço para correspondência

 

Correio eletrónico: j.queiroz@belasartes.ulisboa.pt (João Paulo Queiroz)

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