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Revista :Estúdio

versão impressa ISSN 1647-6158

Estúdio vol.9 no.22 Lisboa jun. 2018

 

EDITORIAL

EDITORIAL

Arte, auto descolonização e orientalismo

Art, self decolonization and orientalism

 

João Paulo Queiroz*

*Portugal. Editor da Revista Estúdio.

AFILIAÇÃO: Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas Artes, Centro de Investigação e Estudos em Belas Artes (CIEBA). Largo da Academia Nacional de Belas Artes 14, 1200-005 Lisboa, Portugal.

 

Endereço para correspondência

 

RESUMO:

Após a aceitação da crítica pós colonial a arte tem-se posicionado na primeira linha. A auto descolonização é urgente e precisa de uma arte atenta, mais independente, inclusiva e mobilizante. Talvez seja esta uma viragem por fazer: a de constituir uma vanguarda anti-ideológica que seja pervasiva e eficiente, quem sabe se utilizando as armas do inimigo, os formatos virtuais. Ou então uma expressão em que os autores consigam circular as suas obras, o que, mesmo que o possam fazer, serão quase sempre ocasiões de combate desigual: os números dos operadores são esmagadores, e exigem alguma grande reinvenção.

Palavras chave: Pós colonialismo / poder / reprodução ideológica / vanguarda.

 

ABSTRACT:

After the acceptance of post-colonial criticism, art has positioned itself in the first line of attack. Self-decolonization is urgent and needs an attentive, more independent, inclusive and mobilizing art. Perhaps this is a turn to be made: to constitute an anti-ideological vanguard that is pervasive and efficient, and, who knows, using the weapons of the enemy, the virtual formats. Or a kind of expression in which the authors manage to circulate their works, which, even if they do it, they will almost always have occasions of an unequal combat: the numbers of the virtual social media operators are overwhelming, and require some great reinvention.

Keywords: Post colonialism / power / ideological reproduction / vanguard.

 

1. Reprodução ideológica e auto colonização

Depois da detonação da crítica pós colonial e da denúncia do enviesamento dos estudos orientalistas, a arte tem-se posicionado na primeira linha da meta-epistemologia que atravessa o mundo global. Se é verdade que as estruturas ideológicas procuram a preservação do poder, é também certo que esse poder exige alguma mudança retórica para se perpetuar através da reprodução ideológica.

Um dos esconderijos destes ardis é auto colonização, a que pessoas, grupos de pessoas, cidades, e países, se empenham com encarniçamento tenaz e inconsciente. O pós-colonialismo é urdido de dentro para fora, e manifesta-se no quotidiano tornado em momentos sucessivos de consumo.

 

2. Novos vírus para fazer forward

A publicidade ordena, a pressão das marcas, o branding, as ações com repercussão nas redes sociais, tudo isto se vai substituindo à razoabilidade. Os vírus são já não apenas informáticos, mas também são vírus ideológicos: as ideias em "Forward", os pensamentos do dia, as máximas espirituosas que se repetem porque sim vagamente. Um novo fascismo organiza este pensamento instantâneo e eléctrico.

 

3. Algumas propostas, alguns artigos

Juan Carlos Meana (Pontevedra, Espanha), no artigo "La extensión del espacio en la pintura de Alexis Marguerite Teplin, apresenta a obra da artista nascida na Califórnia, em 1976. A fragmentação, a interrogação dos suportes, a habitação das telas através de performances: a fragmentação tem aspetos políticos. O espaço como material de problematização, em que os tecidos e as telas transparecem e atuam como fronteiras.

Em "Montagem e efeito filme na narrativa fotográfica 'A Ira de Deus' de Alfredo Nicolaiewsky," Elaine Tedesco (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil) debruça-se sobre as séries de polípticos que Alfredo Nicolaiewsky (n. 1952, Porto Alegre) desenvolveu durante uma estância de investigação em Portugal em 2015. O Terramoto de 1755, em lisboa, será um pretexto para convocar imagens referentes, recuperadas de stills da cinematografia. Trata-se de uma aproximação erudita fundada num conhecimento aprofundado da cultura portuguesa e da realidade contemporânea.

Silvia García (La Plata, Buenos Aires, Argentina) no artigo "¿Un trapo roto, una remera sucia o una genialidad? Desafíos políticos en la obra de Agustina Quiles" apresenta o caso de uma obra matérica, Prémio IX Salão de Pintura 2016, na Argentina, que provocou algum efeito de incompreensão pública. Sobre este exemplo faz-se uma digressão sobre o que é a arte, através dos vários autores que sobre este tema se têm debruçado.

O artigo "Corpo, performance e colonização na fotografia de José Juliani," de Fernando Stratico & Ronaldo Oliveira (Londrina, Paraná, Brasil) completa uma aproximação sistematizada que estes autores têm trazido ao revelarem a obra dos fotógrafos que documentaram a atividade na área de Londrina. José Juliani é um destes fotógrafos do começo da cidade de Londrina, que documentou o abate das grandes Perobas, árvores endógenas, e os locais de interesse para as companhias estrangeiras de exploração de matérias primas. Aqui enceta-se uma reflexão atenta sobre a naturalidade da dominação modernista dos anos 30 e 40, um registo de um pós colonialismo capitalista. Fernando Stratico, que nos deixou entretanto, já depois da submissão deste artigo, completando um conjunto de colaborações profícuas com a Revista Estúdio (Stratico, 2012), deixando-nos uma imensa saudade. Tive o privilégio de o visitar em Londrina, Paraná, Brasil, recordo a sua exigência pedagógica e a sua tranquilidade sempre fleumaticamente humorada, a par com uma aguda consciência social. Ronaldo Oliveira é também um autor a quem a revista deve importantes contributos ao longo do tempo (Oliveira, 2014a; 2014b; Oliveira & Bittencourt, 2015), para além da presença tão eficaz de ambos na concretização do Congresso MatériaPrima, este dedicado à educação artística.

Almerinda da Silva Lopes (Vitória, Espírito Santo, Brasil), no artigo "A série Topofilia de James Kudo," apresenta esta série, do artista brasileiro James Kudo (n. em Pereira Barreto, SP, Brasil, 1967) que também pode refletir de algum modo o exílio do desalojado, do desenraízado, provocado neste caso por uma grande barragem que engoliu a casa de origem.

O artigo "Zellige y creacion contemporanea: la visiónactual de Hicham Lahlou y Younes Duret," de Amine Asselman (Marrocos, e Pontevedra, Espanha), estuda a influência que os motivos alicatados do norte de África e da península ibérica exercem sobre designers contemporâneos, como Younes Duret (n. Casablanca) e do seu atelier (URL: http://younesdesign.com/ ), ou como Hicham Lahlou (n. 1973, Rabat, Marrocos) e seu atelier (URL: http://www.hichamlahlou.com/ ), apontando uma tendência de exploração formal em produtos de design requintado.

Artur Ramos (Lisboa, Portugal), em "Luís Herberto, uma representação audaciosa," aborda a obra deste pintor (n. 1966, em Angra do Heroísmo, Açores, Portugal). É uma leitura próxima dos materiais e dos procedimentos plásticos evidenciados na densa produção de Luís Herberto, com uma especial atenção à figura humana.

No artigo "'El artista capaz': un proyecto pictórico de Bea Sánchez para alentar a los creadores emergentes en el actual sistema del arte," María Dolores Gallego (Granada, Espanha) é tratada a obra da pintora emergente Bea Sánchez (n. 1986,

Jaén, Espanha) em que a prática artística se cruza com a auto-referencialidade do art world e dos padrões de sucesso para um artista na era dos média globais.

Teresa Matos Pereira (Lisboa, Portugal), em "A pele bordada, o corpo presente e o tempo tangível na obra de Ana Teresa Barboza" apresenta a obra de Ana Teresa Barboza (n. 1981, Lima, Perú) em que o textil é explorado na sua conotação de subalternidade enquanto questão política sobre o género. O bordado torna-se perfurante, o corpo surge exposto à tensão entre o lavor e a pele. Marilice Corona (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil), no artigo "A 'Série Trágica' de Flávio de Carvalho: o desenho como urgência e elaboração," aprofunda a muito particular "Série Trágica Minha Mãe Morrendo" (1947), do arquiteto e artista performático brasileiro Flávio de Carvalho, (Brasil, 18991973). Conhecido pela sua experiência nº 2, de 1931, em que atravessa em sentido contrário, e de boné na cabeça, uma procissão de Corpus Christi, ou pela sua experiência nº 3, de 1956 em que circula em São Paulo com o seu new look, uma saia de brim e nylon (Barachini, 2011).

Em "La presencia del paisaje heterotópico en la obra de Julio Sarramián," Alba Cortés (Sevilha, Espanha), apresenta Sarramián (n. Logroño, Espanha, 1981), pintor que combina a paisagem com as suas formas de registo e observação para uma exploração plástica.

Halisson da Silva (Coimbra, Portugal), em "A limpeza do vácuo nos desenhos de António Olaio," aborda a exposição de 2017 "Cleaning up the vacuum", de António Olaio (n. 1963, Sá da Bandeira, Angola), onde se apresentam desenhos e pinturas a óleo que exploram o paradoxo de um gesto de atrito e dissipação resultar em menor entropia, o desenho, ou vácuo eliminado.

No artigo "La mitificación de la muerte en la pintura de Elda Di Malio," Mihaela de Barrio (Lima, Peru, e Roménia) debruça-se sobre a obra de uma pintora peruana – a segunda que é abordada nesta edição da Revista Estúdio. Elda Di Malio (1946-2017) é autora de um conjunto de desenhos que exploram a figura humana com lirismo poético.

Cláudia Matos Pereira (Brasil, e Lisboa, Portugal), no artigo "Ilídio Salteiro: Pensamento, Partilha e Comunicação Visual, a pintura contemporânea como ato de 'Religare'" apresenta a obra de Ilídio Salteiro (n. 1953, Alcobaça, Portugal) enquadrando algumas das suas fases e exposições assim como aspectos da sua incessante criatividade, que toma alguns elementos com especial enfase (Queiroz, 2013) como a casa, a ponte, a montanha.

O artigo "Bego Antón: em busca de singularidades" de Susana Rocha (Lisboa, Portugal) debruça-se sobre a obra da fotógrafa basca Bego Antón (n. Bilbao, Espanha) que conjuga o rigor compositivo e o olhar selectivo sobre pessoas isoladas dentro de crenças idiossincráticas (o treino espetacular de cães, a aldeia que acredita ter sido visitada por extraterrestres) enfatizando uma profunda solidão contemporânea.

Maristela Salvatori (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil), no artigo "Um recorte da produção gráfica de Nilza Haertel: 1980 a 1990" apresenta o resgate do espólio da professora e gravadora Nilza Haertel (1942 2014), antiga professora na Universidade Federal de Rio Grande do Sul, no Instituto das Artes, em Porto Alegre, Brasil, feito através da conservação e da exposição desta obra importante e expressiva.

Em "A questão racial nas obras de Cândido Portinari" os autores Norberto Stori & Romero Maranhão (São Paulo, Brasil) estabelecem uma abordagem diferente à obra de Cândido Portinari (1903-1962), detendo-se sobre a questão racial. A obra deste artista seria uma importante influência para toda a geração neo-realista portuguesa de 1940 em diante (Queiroz, 2018).

 

4. Arte independente e reinventada

A auto descolonização é urgente e precisa de uma arte atenta, mais independente, inclusiva e mobilizante. Talvez seja esta uma viragem por fazer: a de constituir uma vanguarda anti ideológica que seja pervasiva e eficiente, quem sabe se utilizando as armas do inimigo, os formatos virtuais. Ou então uma expressão em que os autores consigam circular as suas obras, que, mesmo que o possam fazer, será uma ocasião de combate desigual: os números dos operadores são esmagadores, e exigem alguma grande reinvenção.

 

Referências

Queiroz, João Paulo (2018) "Betâmio: desafios para uma educação estética da realidade à verdade" In João Paulo Queiroz & Elisabete Oliveira (2018) Betâmio de Almeida (1920-1985): a pintura de um educador pela arte. Coleção CIEBA Educação Artistica. Lisboa: Centro de Investigação e Estudos em Belas Artes, Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa. pp. 33-56. ISBN 978-989-8771-94-0 URL: https://drive.google.com/file/d/1wx9aaydtLCnfMXY2RwgOAgZ9ei QHMM2c/view?usp=sharing        [ Links ]

Queiroz, João Paulo (2013) "Propostas para 'o centro do mundo:' as pinturas de Ilídio Salteiro" Revista :Estúdio. ISSN 1647-6158, e-ISSN 1647-7316. Vol. 4 (8) pp. 310-319. URL: http://www.scielo.mec.pt/ pdf/est/v4n8/v4n8a42.pdf        [ Links ]

Barachini, Teresinha (2011) "Contraposições do performer Flávio de Carvalho". Revista :Estúdio. ISSN 1647-6158. Vol.2 (3): 199-205.         [ Links ]

Fernández Fariña, Almudena (2010) Lo que la pintura no es. La lógica de la negación como afirmación del campo expandido en la pintura. Col. Arte y Estética. Pontevedra: Diputación de Pontevedra.         [ Links ]

Meana, Juan Carlos (2001) El espacio entre las cosas, Arte y Estética, Diputación de Pontevedra. Pontevedra.         [ Links ]

Stratico, Fernando A. (2012) "A relação corpo/objeto e o discurso poético das proposições de Lygia Clark." Revista :Estúdio. ISSN 1647-6158. Vol. 3, (5): 142-147.         [ Links ]

Oliveira, Ronaldo Alexandre de, & Bittencourt, Cândida Alayde de Carvalho. (2015). Eloísa Cartonera: aproximações entre arte, cultura e processos de criação colaborativos. Revista :Estúdio, 6(11), 202-213. Recuperado em 04 de abril de 2018, de http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-61582015000100021&lng=pt&tlng=pt.         [ Links ]

Oliveira, Ronaldo Alexandre de. (2014a). As xilogravuras de Amilton Damas e seu processo de formação. Revista :Estúdio, 5(9), 222-229. URL: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-61582014000100026&lng=pt&tlng=pt.         [ Links ]

Oliveira, Ronaldo Alexandre de. (2014b). O Sentido Dialógico e Transformador da Obra de Mônica Nador. Revista :Estúdio, 5(9), 170-178. URL: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-61582014000100020&lng=pt&tlng=pt.         [ Links ]

 

 

Enviado a 02 de abril de 2018 e aprovado a 04 de abril de 2018

 

Endereço para correspondência

 

Correio eletrónico: j.queiroz@belasartes.ulisboa.pt (João Paulo Queiroz)

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