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Revista :Estúdio

versão impressa ISSN 1647-6158

Estúdio vol.5 no.9 Lisboa jun. 2014

 

DOSSIER: ARTIGOS ORIGINAIS POR AUTORES CONVIDADOS

DOSSIER: INVITED ORIGINAL ARTICLES

Tipo.PT e Por tuguese Small Press Yearbook

Tipo.PT and Por tuguese Small Press Yearbook

 

Catarina Figueiredo Cardoso* & Isabel Baraona**

 

*Portugal, colecionadora e investigadora. Licenciada em Direito e Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Católica Portuguesa.

AFILIAÇÃO: Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, Programa de Estudos Avançados em Materialidades da Literatura. Largo da Porta Férrea, 3004-530 Coimbra, Portugal.

**Portugal, artista, professora e investigadora. Licenciada em pintura na La Cambre (Bruxelas) e doutorada em Artes pela Universidade Politécnica de Valência.

AFILIAÇÃO: Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Artes e Design. Rua Isidoro Inácio Alves de Carvalho 2500-321 Caldas da Rainha, Portugal.

 

Endereço para correspondência

 

RESUMO:

Apresentação do projecto Tipo. PT: www.tipo.pt e Portuguese Small Press Yearbook, respectivamente um arquivo online e uma publicação anual sobre livros de artista e edição de autor em Portugal.

Palavras chave: livros de artista / edição de autor / arquivo / anuário / Portugal.

 

ABSTRACT

Introducing the project Tipo.PT: the online archive www.tipo.pt and the publication Portuguese Small Press Yearbook, on artists' Books and self-editing in Portugal.

Keywords: artists' books / self-editing / archive / yearbook / Portugal.

 

Introdução

O projecto Tipo.PT foi desenvolvido como um projecto prático de natureza académica. O arquivo www.Tipo.PT foi concebido por Isabel Baraona no âmbito de uma bolsa de pós-doutoramento da Universidade Rennes 2 e o Portuguese Small Press Yearbook (PSYB) foi elaborado por Catarina Figueiredo Cardoso no contexto do Doutoramento em Estudos Avançados em Materialidades da Literatura na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Contudo, na realidade e desde o primeiro momento, o arquivo e o anuário foram pensados por ambas e em vivo debate, sendo duas facetas do projecto global cuja estrutura (simplificada e adaptada ao panorama nacional) teve como matriz Artists Books Online: http://www.artistsbooksonline.org/mission.htmlABsonline é uma plataforma digital impulsionada por Johanna Drucker, que em 2004 liderou um grupo de estagiários da Universidade de Virginia (EUA) na construção de um website que reúne um grande número de autores e artistas americanos, ou relacionados com o meio artístico americano, que editaram livros de artista entretanto tornados incontornáveis pela história e a crítica de arte. A investigação levada a cabo por Johanna Drucker é uma referência incontornável para quem estuda livros de artista e edição de autor.

Menciono ainda outro aspecto fundamental que dá origem a www.Tipo.Pt e ao PSPY: o arquivo e o anuário existem como uma consequência natural da colaboração entre Brad Freeman e nós na elaboração do Journal of Artists' Books #32, revista inteiramente dedicada ao panorama português da auto-edição e livros de artista.

O processo de concepção e edição do JAB #32 levou cerca de ano e meio e envolveu um grande número de colaboradores. Os processos de recolha de informação e de escrita demonstraram a necessidade de organização de um momento de encontro para discutir estes territórios. Mais do que mostrar (ou vender) tornou-se imprescindível discutir ideias e trocar experiências com outros artistas-fazedores-editores de diversos quadrantes do meio artístico português, nomeadamente do território das artes plásticas e da fotografia.

Assim, Tipo.PT é também fruto indissociável das conferências "o que um livro pode" organizadas em 2011 e 2012 pela Isabel e três amigos: a Cláudia Dias, associada da Oficina do Cego, e o David Guéniot e a Patrícia Almeida, editores da GHOST. O primeiro texto de divulgação escrito a quatro mãos e enviado para a imprensa explica que:

O título desses encontros "O que um livro pode" – com a sua formulação que ecoa algo de incompleto ou suspenso – pretende reforçar este aspecto: o que um livro pode ser, o que ele pode devir, o que ele pode conter, em que pode ser transformado… ou seja, o livro enquanto espaço de potencialidades – que sempre desafia as próprias convenções do livro "tradicional". Papel, páginas, capa e contracapa, mas também texto, imagem, relações entre texto e imagem, entre imagens, fotografias, desenhos, entre textos, elaboração de estratégias de narração, de ficção, de interacção com o leitor, diversidade dos modos de impressão, constituem alguns dos recursos de que o artista dispõe e agencia para desmultiplicar as formas do livro e complexificar as suas redes de significados.

Apesar de a lista ser demasiado extensa, gostaríamos de nomear alguns dos participantes das conferências de 2011 e 2012. Os programas incluíram artistas como Carla Filipe, Alexandre Estrela, Pedro Diniz Reis, João Pedro Vale (com Nuno Alexandre Ferreira), Matia Denisse e outros; um grande número de fotógrafos, como Pedro Letria, Paulo Catrica ou André Príncipe e José Pedro Cortes; curadores independentes (Paulo Pires do Vale e Luís Silva); diretores de instituições Públicas (Miguel Wandschneider); bibliotecários e bibliófilos (Ana Barata); designers (Mário Moura, Sofia Gonçalves, Joana Sobral, António Gomes, entre outros); críticos (Pedro V. Moura) e, sobretudo, um público curioso e participativo que animou todas as sessões. Os programas completos podem ser consultados em : http://oqueumlivropode.tumblr.com/

www.Tipo.PT e o Portuguese Small Press Yearbook foram sendo delineados e ganharam sentido e existência a cada um destes "encontros". São uma tomada de posição activa na (futura) elaboração da história da edição de autor em Portugal, divulgando projetos editoriais de grande qualidade mas que, por diversas razões, têm ainda pouca visibilidade em Portugal.

 

O arquivo

www.Tipo.PT é um arquivo online sobre livros de artista, objetos gráficos de natureza experimental, revistas e edições de autor criados por artistas, designers e ilustradores portugueses, ou tendo Portugal como tema. Os periódicos e coleções são tratados separadamente por serem geralmente obras coletivas com diversos números. Embora alguns sejam volumes temáticos, há uma intenção de continuidade entre números. Por seu turno, a maioria dos livros é concebida por um autor só, sem nenhuma periodicidade característica e, em muitos casos, num contexto muito específico inerente às linhas de pesquisa ou ao território que o artista explora. Para citar alguns exemplos concretos: no caso de Carla Cruz a edição é indissociável de algumas performances e da sua investigação ativa sobre o feminismo; no caso de Gonçalo Sena ou de Catarina Leitão são uma extensão do seu trabalho de escultura e instalação. Os conteúdos de alguns dos livros concebidos por Didier Fiúza Faustino estão fortemente ligados à sua prática profissional enquanto arquiteto e baralham pistas sobre a experiência sensorial mas também política que consiste em construir e habitar um espaço.

Os baralhos desenhados por Ricardo Castro foram publicados durante a investigação para o Doutoramento em Desenho pela FBAUL (concluído em 2013).

Os objetos catalogados são múltiplos, edições no formato livro, desdobrável ou brochura, postais e cartazes, impressos em qualquer técnica: off-set, digital e laser, gravura, tipografia, serigrafia e outras técnicas oficinais de impressão.

Por ser professora há vários anos, a Isabel considerou importante investir na parte pedagógica, procurando criar uma lista de bibliografia geral, disponibilizando informações técnicas sobre cada edição e, sobretudo, referindo as bibliotecas públicas onde estes objetos podem ser consultados. Alguns destes livros são caros, muitos são raros e difíceis de encontrar por terem tiragens pequenas ou a sua distribuição ser restrita a um pequeno grupo de colecionadores. Para quem estuda estes assuntos é importante saber onde é que os objectos se encontram disponíveis pois, apesar de divulgarmos documentação fotográfica e de descrevermos sumariamente o seu modo de produção e características, estes são objetos hápticos que exigem ser manipulados, folheados, etc. Não nos parece ser possível compreender um livro/revista sem sentir o seu peso, testar o modo como abre, manipular as páginas, analisar a sequência das imagens e do texto, ou seja experienciar o que este objeto pode oferecer.

www.Tipo.PT foi iniciado há cerca de um ano (em Fevereiro de 2013). A estratégia tem sido fazer a recolha mais abrangente possível, que está ainda em curso. É igualmente importante frisar que este não é um projeto de curadoria no sentido estrito do termo e que, por vezes é-nos sido difícil selecionar e, sobretudo prescindir, de algumas edições. No decorrer desta seleção não temos medo de errar pois consideramos que o erro faz parte deste processo inicial de pesquisa. Mais do que escolher autores, queremos documentar o número mais abrangente possível de edições. Ou seja, as fichas técnicas são feitas em função das características dos objetos gráficos e não do renome dos seus autores. Quando se consulta o arquivo encontramos informações sobre livros concebidos por Lourdes Castro, Alexandre Estrela, Julião Sarmento ou de Didier Fiúza Faustino, por exemplo; mas também de um grande conjunto de artistas mais jovens e mesmo de alguns ilustradores que, nos últimos anos, têm vindo a fazer um trabalho consistente mas discreto neste campo, como Tiago Baptista, recentemente nomeado para os prémios EDP Novos Artistas.

Por vezes, quando as edições integram ou foram produzidas no âmbito de uma instalação, a ficha técnica inclui uma nota ao contexto de produção da edição e ao facto de ser indissociável de um conjunto/série de esculturas ou de uma exposição específica. Como por exemplo, Época de Estranheza em Frente ao Mundo de Susana Gaudêncio que foi produzido pelas dois dias edições(Portugal, 2012) ou Le hasard est l'ennemi de tous les mètres (sunday # 019) de Leonor Antunes, projeto produzido por MOREpublishers (Bélgica, 2012).

Incluímos ainda um conjunto de obras de difícil classificação, produzidas artesanalmente em tipografia, geralmente fruto de uma colaboração entre poetas e impressores, como é o caso dos livros publicados por O Homem do Saco e a Oficina do Cego. É natural questionar a pertinência da inclusão de objetos cuja classificação é evidentemente problemática. Contudo, pensamos que esta recolha imediata é necessária, sem prejuízo de, à medida que repertoriamos o leque variado e a multiplicidade de projetos presentes no contexto português, vir a ser possível, com maior clareza, compreendermos a pertinência de criar (ou não) um sistema de classificação mais definido e sub-categorias.

Estamos cientes que a configuração atual de www.tipo.pt pode suscitar dúvidas e levanta questões científicas ainda por resolver. Contudo, esta configuração atual permite-nos desde já divulgar e "expor", ainda que virtualmente, obras que, pela sua raridade e por serem objetos de delicado manuseio, dificilmente poderiam ser apresentadas a um público alargado. Algumas destas edições serão apresentadas no contexto da futura exposição na sala multimédia do Museu Malhoa, nas Caldas da Rainha.

Concluindo, apesar de estudarmos estes assuntos há vários anos, continuamos a ter a mesma saudável dificuldade em definir o território implicado na expressão "livro de artista" mas compreendemos que para além do conceito de "artista" e do objeto "livro", interessa-nos repertoriar todo o tipo de edição que escape a definições concretas, a rótulos certos e a mercados previsíveis.

Neste momento há cerca de 280 fichas técnicas disponíveis online em português e o grande objetivo continua a ser a recolha sistemática de novos elementos, originários da crescente produção contemporânea mas também edições mais antigas. As traduções vão sendo feitas ao ritmo possível, por vezes com a ajuda dos artistas/editores que nos cedem informação. Sem ser a sua principal vocação, ao constituir este arquivo, queremos esboçar aos poucos uma história do livro de artista e da edição de autor em Portugal. E interessa-nos estudar redes informais de colaboração entre artistas, a partir por exemplo das revistas Unicórnio ou KWY ou, num registo contemporâneo, de artistas e fotógrafos que se tornaram editores e publicaram livros de outros, como GHOST, Pierre Von Kleist, ATLAS projetos, Buraco, Façam Fanzines e Cuspam Martelos.

A longo prazo clarificar-se-á o papel que estas edições tiveram em termos de divulgação das vanguardas e movimentos artísticos, da afirmação de jovens artistas (como no início dos anos 2000), assim como o uso reivindicativo e político da edição em geral. Com o acumular e sistematizar de informação pensamos que um aspecto interessante será o poder comparar o uso da edição ao longo de décadas por artistas como Lourdes Castro, Julião Sarmento, Daniel Blaufuks, João Fonte Santa, Isabel Carvalho, Pedro Nora, Carla Filipe, entre tantos outros para quem a edição é uma componente da sua prática artística.

 

O Anuário

O objetivo imediato do Anuário é a compilação das edições publicadas por artistas portugueses ou estrangeiros que trabalham em Portugal, ou sobre Portugal. A publicação chama-se Portuguese Small Press Yearbook, apenas em inglês. A razão é prática: small press é um termo internacional que abrange as realidades que tratamos: projetos de edição independente e/ou auto-edição, livros de artista, fanzines e objetos semelhantes e de difícil classificação.

A publicação é impressa e tem periodicidade anual. Além da referida rubrica principal, há páginas criadas por artistas, artigos críticos ou académicos relevantes sobre estes territórios, a referência a bibliotecas e livrarias onde estas edições podem ser encontradas, e a salões e feiras, em Portugal e internacionais.

O primeiro volume, Portuguese Small Press Yearbook 2013 contou com páginas de Daniel Blaufuks, Carla Cruz, Sílvia Prudêncio e André Lemos, e um hors-texte de Pauliana Valente Pimentel (Figura 1).

 

 

Os artigos são do Professor Manuel Portela, sobre o programa de doutoramento em Materialidades da Literatura; de Marie Boivent sobre as revistas de artistas, e de Samuel Teixeira, sobre o livro de artista digital. As capas, impressas com caracteres móveis e cores variadas, são todas diferentes, tornando assim único cada um dos 200 exemplares.

Apostando numa divulgação internacional, tanto o arquivo online como o anuário são trilingues, em português, inglês e francês.

 

Conclusão

Como nota final, devo mencionar que foi publicada uma versão sucinta deste texto no Portuguese Small Press Yearbook 2013, cujo primeiro número foi lançado em Novembro de 2013. O projecto Tipo.P T, nas suas duas componentes, transcende o contexto académico que tem proporcionado o seu desenvolvimento.

Existe uma vontade de investimento a longo prazo no arquivo e no anuário decorre dos nossos projetos pessoais: a Catarina, como colecionadora e estudiosa; para a Isabel, como extensão da sua prática artística e como ferramenta pedagógica. Mas decorre também do nosso comprometimento com a rede de outros artistas e investigadores que têm aderido ao projeto.

Com efeito, apesar da falta de financiamento e de apoios institucionais, temos tido o apoio inestimável de artistas, editores, colecionadores privados e de bibliotecárias, como na Fundação Gulbenkian e na Biblioteca de Serralves. Temos recebido inúmeros comentários e críticas aos materiais que publicamos e o projeto começa a ter alguma visibilidade em termos internacionais, nomeadamente após ter sido incluído no ARTIST'S BOOK YEARBOOK 2014 – 2015 editado por Sarah Bodman e Tom Sowden, responsáveis pelo Centre for Fine Print Research, sito em Bristol. Este anuário foi publicado por Impact Press e por The Center for Fine Print Research da University of the West of England, em 2013.

Tipo.PT é um projeto a desenvolver a longo prazo e que só tem sido possível materializar por termos criado, de modo informal, uma rede colaborativa interessada no reconhecimento público do valor plástico indiscutível deste tipo de obras.

 

Referências

Cardoso, Catarina Figueiredo, dir. (2013) Portuguese Small Press Yearbook 2013, Portuguese Small Press Yearbook ISBN: 9789896911928.         [ Links ]

Drucker, Johanna (2004). The Century of Artist's Books, 2ª ed., Granary Books, ISBN: 1887123695.         [ Links ]

Drucker, Johanna (2009). SpecLab: Digital Aesthetics and Projects in Speculative Computing The University of Chicago Press, ISBN: 0226165086.         [ Links ]

Freeman, Brad, Catarina Figueiredo Cardoso, Isabel Baraona (ed.) (2012). Journal of Artists' Books #32, Fall 2012, Columbia College Chicago Center for Book and Paper Arts, ISSN: 1085-1461.

Moeglin-Delcroix, Anne (2012). Esthétique du livre d'artiste: Une introduction à l'art contemporain, 2ª ed., Le mot et le reste/ BNF, ISBN : 2360540130.         [ Links ]

 

Artigo completo enviado a 20 de janeiro e aprovado a 31 de janeiro 2014

 

Endereço para correspondência

 

Correio eletrónico: cat.f.cardoso@gmail.com (Catarina Figueiredo Cardoso)

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