SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.3 número5La casa: ficcionar la quotidianitatArte e conhecimento: alquimia e o novo paradigma da ciência índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista :Estúdio

versão impressa ISSN 1647-6158

Estúdio vol.3 no.5 Lisboa jun. 2012

 

PALAVRA

Enquadramento: Palavra

Context: Word

 

Heitor Alvelos*

*Conselho editorial; Universidade do Porto, Faculdade de Belas-Artes, Portugal.

Endereço para correspondência

 

 

A aventura da arte contemporânea segue vivendo o paradoxo da atribuição de sentido e propriedade a um labirinto de soluções que, elas mesmas, negam de raiz, e frequentemente de modo irredutível, uma vocação de comunicabilidade objetiva. A arte insiste em ser veículo de pensamento e esteticização, no arriscado equilíbrio entre a sua suposta subjetividade de que o senso comum se alimenta (e que o senso comum alimenta), e o imperativo, desde logo funcional, de um consenso, única chance de validação e longevidade. Unilateralmente proferida a sua emancipação, regressa ironicamente à palavra na hora de cumprir a sua vocação, de definir e assegurar os seus mecanismos de eco.

O que o corpus de determinados artistas nos permitirá, contudo, é o avanço mais substancial (ou, pelo menos, mais declarado) em direção a uma efetiva relação com o conhecimento de ambição universal. Curiosamente, esta possibilidade revela-se de forma mais evidente através da adoção de proto-metodologias de observação, elas mesmas, associáveis a universos da ciência: a análise comparativa, associativa e contrastante de obras de autoria diversa e contextualmente distintas, permite-nos de súbito uma visão clara de como a criação artística pode devolver-nos ao espaço do saber de vocação universal.

As pontes (o trabalho de estabelecimento relacional) entre propostas, só aparentemente profundamente díspares, que se criam neste processo analítico, negam a visão singular tão reclamada por tantos criadores, e ignoram o seu frequente síndroma de resolução circular da obra, que se declara previamente cumprida, permitindo somente uma relação subsidiária para com quem a contempla ou, no limite, com ela interage. Ironicamente, e no seu negar da vocação intrínseca da obra para a sua singularidade, estas pontes atribuem-lhe a chave para a sua decifração convergente e, em última instância, universal.

Assim é possível falar de Gerardo Delgado, que nos finais dos anos 60 ensaiava relações efetivas com o universo da informática e do cálculo automatizado; mas é a partir daqui igualmente possível, de modo fractal, verificar que a premissa que compara e contrasta Beuys e Hirst na sua manifesta vocação alquímica (ou seja, proto-científica) é, na sua essência, análoga à que Delgado propunha na sua ambição de decifração da produção estética enquanto consequência e comunicação do funcional, análoga ao espaço que se propôs ocupar, no qual a obra artística se propõe e se ensaia, não como outro espaço de conhecimento, mas como uma outra porta para um mesmo conhecimento, "o" conhecimento.

A mesma luz relacional prontamente nos permitirá reconhecer que a obra de Madoz será possivelmente poética e retórica (como argumenta Gómez), mas igualmente nos aponta para uma possibilidade de observação "produtiva" do quotidiano, algures entre o desenvolvimento de uma perceção ativa por parte de cada um e o reconhecimento de que o design (os objetos, as funções, os desejos e necessidades, o cruzamento entre estes) é ele mesmo uma omnipresença nesse quotidiano.

E da mesma forma, perante a luz relacional proposta, o trabalho de Pijuan e Capucho se encontram e revelam no espaço estruturante da paisagem, esse ato primeiro da civilização, o da dotação geométrica do espaço: em Pijuan pela transcrição (quase-linguística) nos terrenos observados, em Capucho pela produção de grelhas que sustentam a palavra. E à palavra somos devolvidos.

 

 

Endereço para correspondência

Correio eletrónico: halvelos@gmail.com (Heitor Alvelos).

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons