SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número11Comunicação terapêutica em enfermagem: Como a caraterizam os enfermeirosAvaliação das propriedades psicométricas do Questionário de Saúde Mental Positiva em estudantes portugueses do ensino superior índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental

versão impressa ISSN 1647-2160

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental  no.11 Porto jun. 2014

 

Competências para o trabalho na área de reabilitação psicossocial

 

Competencias para trabajar en el área de rehabilitación psicosocial

 

Skills to work in the area of psychosocial rehabilitation

 

Ana Sara Freitas Veloso*

*Enfermeira (sem afiliação institucional), Rua Cardeal Dom Américo, Bloco 13, Entrada 105, Casa 44, 4000-077 Porto, Portugal. E-mail: veloso.anasara@hotmail.com

 

RESUMO

INTRODUÇÃO: A reabilitação psicossocial é um processo que visa à conquista de oportunidades para muitos utentes, promovendo a aceitação e a integração social. Neste contexto, os trabalhadores devem aprimorar as suas competências e introduzir mudanças neste processo de forma a desenvolver a sua formação e a alcançar os objetivos pretendidos.

OBJETIVO:Esta investigação teve como objetivo identificar as competências necessárias dos trabalhadores em reabilitação–o psicossocial, do ponto de vista dos próprios trabalhadores.

METODOLOGIA: A metodologia é descritiva e qualitativa. Como instrumento de recolha de dados foi utilizada uma entrevista semiestruturada, aplicada a 10 trabalhadores de um serviço de reabilitação psicossocial (Espaço T – Porto), durante o mês de fevereiro de 2013, na qual os dados foram tratados por análise de conteúdo.

RESULTADOS: As categorias identificadas representam as competências adquiridas após a análise de dados: competência na resolução de novos problemas e situações complexas; competência comunicativa e relacional; competência para o trabalho em equipa; competências atitudinais; competência para a aprendizagem ativa e competências "reabilitadoras", "resgatar no outro" o desempenho, autonomia, identidade e dignidade.

Os trabalhadores ressalvaram que as competências devem ser adquiridas num processo dinâmico de construção, isto é, adquiridas e aprofundadas através da procura constante de novos e diversificados conhecimentos e competências.

CONCLUSÕES:Verificou-se que as experiências vividas junto dos utentes é a principal fonte para a aquisição das competências desejadas, porque é através da prática que conseguem identificar os problemas, aplicar os seus conhecimentos e desenvolver estratégias de acordo com cada situação.

Palavras-Chave:Reabilitação psicossocial; Competências; Saúde mental

 

ABSTRACT

INTRODUCTION:Psychosocial rehabilitation is a process aimed at the conquest of opportunities for many users, promoting acceptance and social integration. In this context, workers should enhance their skills and introduce changes in this process in order to develop their training and achieve the desired goals.

OBJECTIVE:This study aimed to identify the skills required of workers in psychosocial rehabilitation, from the point of view of the workers themselves.

METHODOLOGY:The methodology is descriptive and qualitative. As an instrument of data collection was used semi-structured interviews to 10 employees of a psychosocial rehabilitation service (Espaço T – Porto), during the month of February 2013, in which the data were treated by analysis of content.

RESULTS:The identified categories represent the skills acquired after analyzing data: competence in solving new problems and complex situations; communicative and relational competence; competence to work in a team; attitudinal skills; competence for active and "rehabilitative" learning skills, "to rescue the other" performance, autonomy, identity and dignity.

Workers cautioned that skills must be acquired in a dynamic process of construction, that is, acquired and deepened through the constant search for new and diverse knowledge and skills.

CONCLUSIONS:It was found that the experiences among users is the main source for acquiring the desired skills, because it is through practice that can identify problems, apply their knowledge and develop strategies according to each situation.

Keywords:Psychosocial rehabilitation; Skills; Mental health

 

RESUMEN

INTRODUCCIÓN:Psicosocial rehabilitación es un proceso orientado a la conquista de oportunidades para muchos usuarios, la promoción de la aceptación y la integración social. En este contexto, los trabajadores deben mejorar sus habilidades e introducir cambios en este proceso con el fin de desarrollar su formación y lograr los objetivos deseados.

OBJETIVO:Este estudio tuvo como objetivo identificar las competencias necesarias de los trabajadores en la rehabilitación psicosocial, desde el punto de vista de los propios trabajadores.

METODOLOGÍA: La metodología es descriptiva y cualitativa. Como instrumento de recolección de datos se utilizo entrevistas individuales semiestructuradas a 10 empleados de un servicio de rehabilitación psicosocial (Espaço T – Porto), durante el mes de febrero de 2013, en la que los datos fueron tratados mediante el análisis de contenido.

RESULTADOS: Las categorías identificadas representan las habilidades adquiridas después del análisis de los datos: la competencia en la solución de nuevos problemas y situaciones complejas; competencia comunicativa y relacional; competencia para trabajar en equipo; competência actitudinales; las competencias en activo y "rehabilitación" habilidades de aprendizaje, "para rescatar a los otros" rendimiento, autonomía, identidad y dignidad.

Los trabajadores advirtieron que las habilidades deben ser adquiridas en un proceso dinámico de construcción, es decir, adquieren y se profundizaron a través de la constante búsqueda de conocimientos y habilidades nuevas y diversas.

CONCLUSIONES: Se encontró que las experiencias entre los usuarios es la principal fuente para la adquisición de las habilidades deseadas, ya que es a través de la práctica que pueden identificar problemas, aplicar sus conocimientos y desarrollar estrategias en función de cada situación.

Descriptores:Rehabilitación psicosocial; Habilidades; Salud mental

 

Introdução

Há muitos anos, os utentes que apresentavamalgum défice ou "anormalidade" no seu comportamento eram discriminados, marginalizados, excluídos da sociedade e desvalorizados quanto à sua autonomia e independência. Sendo que a proposta de reabilitação psicossocial surge na contra corrente dessa realidade.

Segundo Faro (2006, pág. 129) "A reabilitação é um processo de desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes com os quais os pacientes possam viver com dependência mínima, para que se sintam capazes como seres humanos produtivos", isto é através da reabilitação é possível que cada utente desenvolva habilidades e competências teórico/práticas que lhes possibilitem uma vida diária mais estável, tornando-os mais independentes e autônomos na realização das suas tarefas.

A Coordenação Nacional para a Saúde Mental (2008), valoriza as intervenções reabilitadoras e refere que todas as pessoas com problemas de saúde mental têm o direito à qualidade nos cuidados de saúde, incluindo as que pertencem a grupos especialmente vulneráveis, devendo o plano de reabilitação promover e proteger os direitos humanos e reduzir o impacto das perturbações mentais, com o objetivo de contribuir para a promoção da saúde mental nas populações.

As pessoas portadoras de alguma deficiência e com limitações na sua inserção social, só poderão ver cumpridos os seus objetivos através do seu esforço, mas também se tiverem uma equipa que os acompanhe, apoie e os ajude através das suas competências, a alcançar uma etapa positiva, com adaptação e reinserção social, de acordo com as suas necessidades.

Segundo Babinsk e Hirdes (2004) para o trabalho em reabilitação psicossocial num novo paradigma é necessário que os profissionais estejam comprometidos com uma nova abordagem ao doente mental.

Desta forma, surge a necessidade de compreender a dinâmica dos trabalhadores de reabilitação, os seus objetivos e as suas competências, a fim de contribuir para a formação destes trabalhadores e para uma melhoria na qualidade da reabilitação dos utentes.

Neste sentido, propusemos como objetivo principal deste estudo, identificar as competências necessárias para o trabalho em reabilitação psicossocial do ponto de vista dos próprios trabalhadores.

 

Metodologia

Para alcançar o objetivo proposto utilizamos o método descritivo, exploratório, inserido num paradigma qualitativo, uma vez que se pretendeu compreender as competências dos trabalhadores de reabilitação psicossocial, através das suas opiniões e experiências partilhadas.

O local escolhido para a realização deste estudo foi o Espaço T, uma instituição de reabilitação situada na cidade do Porto, que presta apoio à integração social e comunitária, com o fim de combater a pobreza, a exclusão social e de apoiar as pessoas com dificuldades bio-psico-sociais.

Foi utilizado como instrumento de recolha de dados a entrevista semiestruturada, aplicada a 10 elementos, indicados pelo Diretor do serviço. Portanto, a amostra foi constituída de forma intencional e por saturação, sendo utilizado como critério de inclusão o desenvolvimento de uma prática direta junto do utente, com o objetivo de reabilitação.

Assim, neste estudo, os entrevistados foram denominamos de trabalhadores, com formações diversas (90% deles com o curso superior) e não representam uma categoria profissional específica.

As entrevistas foram realizadas no mês de fevereiro de 2013 após a obtenção do consentimento livre e informado e gravadas em aparelho áudio para garantir uma melhor precisão das informações.

Os dados recolhidos foram transcritos cuidadosamente e foram tratados através da análise de conteúdo, cujas as categorias são apresentadas de seguida.

 

Resultados

Os trabalhadores de reabilitação psicossocial idealmente, devem respeitar e corresponder com as necessidades de cada utente auxiliando-os durante o seu tratamento e na sua integração na sociedade.Desta forma, é essencial desenvolver atividades que lhes permitam sociabilizar e interagir com os outros e também permitir que se tornem mais independentes nas atividades da vida diária.

Partindo deste princípio, procuramos conhecer quais são as competências que estes trabalhadores apresentaram como importantes para o desenvolvimento deste trabalho.

Os resultados serão apresentados e discutidos a seguir, através das categorias que emergiram da análise de conteúdo e que representam as principais competências manifestadas pelos trabalhadores em reabilitação psicossocial, do ponto de vista dos próprios trabalhadores:

§  Competência na resolução de novos problemas e situações complexas;

§  Competência comunicativa e relacional;

§  Competência para o trabalho em equipa;

§  Competências atitudinais;

§  Competências para a aprendizagem ativa;

§  Competências "reabilitadoras": "resgatar no outro" desempenho, autonomia, identidade e dignidade.

 

Discussão

Competência na Resolução de Novos Problemas e Situações Complexas

Num trabalho complexo e dinâmico, os trabalhadores de reabilitação psicossocial, devem desenvolver as suas competências para se adaptarem e lidarem com novas situações, procurando uma resolução adequada para cada situação.
Neste sentido, a flexibilidade foi destacada pelos entrevistados, como uma das características essenciais na resolução de novos problemas.

Ser flexível, é possuir a capacidade de aceitar a realidade sem criar barreiras, é ter uma mente aberta a novas soluções, é ser criativo e adaptar-se a trabalhar de diferentes formas (Hasselmann, 2009).

As expressões seguintes ilustram a flexibilidade e a capacidade de adaptação valorizada pelos trabalhadores:

"É sempre diferente, nunca é igual, nós chegamos cá contatamos com realidades diferentes e essas realidades mudam de dia para dia." (E1)

"Há um trabalho bastante polivalente e acabamos por ir adaptando o trabalho às necessidades."(E4)

Segundo Martins, Kobayashi, Ayoub, e Leite (2006), os movimentos e as transformações que ocorrem no trabalho, trazem conflitos e desafios que devem ser enfrentados, utilizando a flexibilidade nos diversos papéis profissionais de equipa e nas ações diárias.

As frases abaixo fazem referência a competência identificada:

"Eu atendo aqui todo o tipo de pessoas, portanto os dias vão variando." (E5)

"Ao longo das aulas não tenho sempre o mesmo sistema, tento sempre adaptar a cada pessoa." (E9)

Foi possível identificar esta categoria na maioria das expressões dos trabalhadores, porque valorizam esta competência para a resolução de novos problemas, destacando o interesse e a flexibilidade como necessários para o trabalho desenvolvido no processo de reabilitação, especialmente para encontrar estratégias adaptativas.

 

Competência Comunicativa e Relacional

Segundo Silva (2011), o trabalho dos profissionais está baseado nas relações humanas que se estabelece. A comunicação é base de tudo para criar uma boa relação terapêutica, sendo um dos métodos mais utilizados para emitir, transmitir e capturar as informações.

Das entrevistas realizadas, pode-se constatar que os trabalhadores de reabilitação destacam a relação e a comunicação, como o grande elo para desenvolver uma boa interação com os utentes:

"Gosto de ensinar, transmitir conhecimentos, comunicar com eles, conhecer novas realidades, porque nestas formações contactamos com todo o tipo de gente." (E10)
"Gosto da convivência com eles e de estar com eles a conversar." (E1)

"Gosto da relação que se estabelece com os alunos e quando sinto que as pessoas estão a gostar." (E8)

De acordo com o que foi mencionado, a comunicação é fundamental na reabilitação psicossocial, porque para além de permitir que a pessoa exponha os seus problemas, é uma das formas que os reabilitadores utilizam para compreende-los e adaptar estratégias que vão ao encontro das suas necessidades.

De acordo com Deslandes e Mitre (2009), a comunicação procura um consenso que se baseia numa troca ativa e pacífica de informações entre os utentes e os profissionais. O exercício da compreensão envolve um processo ativo e de construção que procura significados e interpretações.

Os trabalhadores do Espaço T, referem uma boa capacidade de comunicação, mas também interesse em manter uma boa relação com os utentes, porque acreditam que para além de facilitar o processo de reabilitação, também lhes permitem adquirir outros conhecimentos e valores com a relação que estabelecem.

 

Competência para o Trabalho em Equipa

Segundo Crevelim e Peduzzi (2005), o trabalho em equipa é um trabalho coletivo, que estabelece uma relação recíproca entre as intervenções técnicas e a interação dos profissionais. Assim sendo, é possível coordenar os planos de ação utilizando a comunicação e a empatia, de forma a corresponder com todas as necessidades da equipa.

Trabalhar em equipa torna-se uma das competências mais importantes na reabilitação psicossocial, porque para alcançarem um objetivo comum, necessitam de trabalhar em conjunto. Esta ligação proporciona vantagens não só para cada elemento, como também para os utentes, porque trabalham todos para a mesma finalidade e na presença de algum problema, existe uma resolução mais eficaz.

Nos resultados obtidos neste estudo, denota-se que a ligação entre os elementos da equipa significa um fator importante em todo o processo da reabilitação psicossocial:

 "Em equipa trabalho sempre, é assim o trabalho social, implica trabalhadores em equipa, e eu não faço um trabalho isolado, nunca poderei fazer (...) estamos os dois a trabalhar nesses planos...está também a trabalhar o colega do outro lado." (E2)

"Nós trabalhamos em equipa (...) temos sempre inter-relações, só assim é que funciona." (E3)

SegundoAraújo e Rocha (2007, p 456) "o trabalho em equipe tem como objetivo a obtenção de impactos sobre os diferentes fatores que interferem no processo "saúde-doença", sendo que esta prática possibilita ao profissional reconstruir-se na prática do outro e realizar uma intervenção na realidade em que estão inseridos".

As citações seguintes manifestam a valorização das relações estabelecidas entre os elementos da equipa:

"Aqui o trabalho é sempre feito em equipa, porque as pessoas chegam e precisam de vários apoios (...) eu aqui sinto-me um bocado como irmãos, são pessoas que eu conheço muito bem." (E5)

"Sinto que aprendo diariamente com todos e para mim isso é muito gratificante." (E10)

Os trabalhadores entrevistados reconhecem ganhos com o trabalho em equipa, como as novas aprendizagens, além de ser possível verificar que existe conforto por se integrarem na equipa em questão.

 

Competências Atitudinais

Associadas às competências profissionais, estes trabalhadores valorizam certas características pessoais que acabam por influenciar o seu trabalho na reabilitação.
De certa forma, apresentam um perfil profissional que consideram importante para que se obtenha mais rendimento e aproximação dos objetivos a que se propõem.

Segundo Martins, Kobayashi, Ayoub, e Leite (2006), o profissional é um agente de transformação de conhecimentos, habilidades e atitudes, em competências entregues à organização, ressaltando o entendimento de agregação de forma a melhorar o processo e atingir as metas pertendidas.

Algumas transcrições a seguir ilustram as características pessoais que se destacaram nos trabalhadores:

"Tu tens desafios novos que queres encarar, que queres abraçar e tu próprio os crias. É engraçado e motivador tu teres que resolver os problemas diariamente." (E2)

Os profissionais revelam empenho, dedicação, responsabilidade, colaboração e aceitação de novos desafios como importantes características no desenvolvimento dos projetos. Demonstram interesse na visualização social positiva do trabalho que é elaborado pela equipa e pelos utentes.

As citações que se seguem ilustram estas afirmações:

"O que eu gostava mesmo era que a cidade perceba que aqui se tenta fazer um trabalho honesto, sincero e diferente." (E5)

"É lutar por um objetivo comum, porque muitas pessoas são desprezadas e parece que o mundo está contra tudo isso." (E9)

"Estou disposta a novos desafios." (E10)

Os trabalhadores entrevistados parecem acreditar que o desempenho profissional também recebe interferências das características pessoais e atitudinais que cada um apresenta. Demonstram que para reabilitar é necessário desenvolver competências e perfis especiais. Além disso, os entrevistados manifestaram satisfação com as competências e características atitudinais que apresentam no desenvolvimento do trabalho em reabilitação.

 

Competências para a Aprendizagem Ativa

Segundo Leite e Costa (2007), a gestão do conhecimento desenvolve o ambiente das organizações mas também acaba por desevolver o conhecimento científico.

O conhecimento deve ser construído pelo esforço, pela investigação e também quando surgem dúvidas que necessitam de ser esclarecidas.

Ao longo da vida é necessário aprofundar as habilidades, para que desta forma se consiga superar os conflitos, as ideias inaqueadas e reorganizar o pensamento de acordo com as nossas acções.

Ser ativo implica estar presente em formações, adquirir conhecimentos diariamente com experiências ou outras situações, ou seja, é reaproveitar e utilizar todas as vivências para se adaptar e preparar para as transformações que vão ocorrendo ao longo da vida.

Segundo Hesbeen (2003), os profissionais de reabilitação psicossocial devem ter uma formação de base, que passe por três etapas (1º etapa: ser generalista; 2º etapa: aquisição de conhecimentos e aptidões especializadas; 3º etapa: prática de cuidados).

Em reabilitação é importante dar continuidade a formação básica e a formação especializada, porque o ser humano está em constante mudança, assim sendo, cada profissional, deve constantemente adquirir novos saberes e aptidões.

Os resultados obtidos nas entrevistas deste estudo vêm ao encontro destas afirmações, sendo que os trabalhadores demonstram ter a necessidade de se atualizarem, conforme se verifica nas seguintes expressões:

"A experiência é que me vai fazendo, vai-nos dando os conhecimentos e depois é um pouco, a pessoa ter de ser autodidata, tem que se pegar nos livros e dar uma vista de olhos tirando informações." (E1)

"Estou sempre a receber formações, ou tu estagnas ou então realmente te empenhas e investes em ti, mas isso é constante, não podes parar se não depois ficas para trás." (E2)

"Eu pessoalmente sempre procurei formação paralela (...) eu acho que não há um único ano em que eu não tenha um pequeno curso." (E4)

É evidente o interesse dos entrevistados na aquisição e atualização de conhecimentos como uma forma de aprimorar as suas competências e consequentemente, o atendimento prestado.

 

Competências "Reabilitadoras": "Resgatar no Outro", Desempenho, Autonomia, Identidade e Dignidade

Segundo Hesbeen (2003), a competência diz respeito à capacidade que o profissional tem em se organizar e prestar cuidados numa dada situação, desta forma, os profissionais devem de organizar o seu trabalho e estabelecer prioridades e estratégias, intervindo de forma individualizada com cada utente, para que seja possível que ele desenvolva os seus objetivos e que se torne reinserido na sociedade.

Neste estudo, foi possível identificar um conjunto de ações específicas da reabilitação, que exigem competências igualmente específicas para a realização dos objetivos e da missão do serviço de reabilitação (Espaço T), assim sendo, ilustram-se algumas citações dos trabalhadores que refletem estas competências:

"Nós cá, temos uma missão de, primeiro, proporcionar a eles alguns momentos de compreensão, de que se sintam bem, de que aprendam a viver em sociedade (...) que entrem na vida ativa, não é que seja fácil, mas esse é sempre o objetivo." (E1)

"É dotar as pessoas de competências pessoais, sociais, que elas também adquirem nas actividades." (E2)

Ao apresentarem as competências "reabilitadoras", eles justificam o próprio objetivo do seu trabalho e a missão do serviço de reabilitação, ou seja, estão a reabilitar os utentes numa vertente psicossocial para a vida. Os excertos abaixo ilustram estas afirmações:

"Objetivo principal é a promoção e a integração de um conjunto muito diferenciado de pessoas, é promover uma mudança social, a aceitação da diferença... no fundo é ajudar por um lado a integração das pessoas, por outro lado à sensibilização da comunidade para a aceitação dos mesmos." (E3)

"Reabilitar-se e, por outro lado, fazer com que a sociedade também as aceite na sua diferença." (E5)

"Permitir que as pessoas aumentem os seus conhecimentos e que isso também lhes seja útil para utilizarem no dia-a-dia e sem dúvida a integração de todos." (E8)

"Permitir a integração de todos na sociedade (...) e reaprender outras competências." (E9)

"É reabilitar as pessoas sem as rotular pelas características que apresentam; todos nós temos direito a igualdade." (E10)

As competências "reabilitadoras", para os entrevistados, significam respeitar os direitos dos indivíduos, não discriminar, oferecer oportunidades, integrar, aceitar as diferenças, entre outros aspectos, que representam o objetivo do próprio trabalho em reabilitação.

 

Conclusões

Os serviços de reabilitação psicossocial podem contribuir positivamente para a qualidade de vida dos portadores de doenças mentais e para a sociedade como um todo. Neste sentido, estes serviços revestem uma importância fundamental e merecem uma atenção especial. Por reconhecer tal importância, pretendeu-se com o estudo das competências, contribuir no âmbito da formação dos trabalhadores e da constituição de equipas mais adequadas para o trabalho em reabilitação psicossocial.

Desta forma, foi possível conhecer as competências que os próprios trabalhadores consideram necessárias para o trabalho e compreender que devem de ser adquiridas num processo dinâmico e de construção, ou seja, aprofundadas através de uma procura constante de novos e diversificados conhecimentos, dando relevância a todas as suas experiências.

Após a realização deste estudo, consideramos que os profissionais reconhecem a importância do domínio dos conhecimentos específicos que resultam da sua formação, treinamento e experiência, uma vez que indicam as competências necessárias para o exercício de funções reabilitadoras.

Verificou-se que as experiências vividas junto dos utentes é a principal fonte para a aquisição das competências desejadas, porque é através da prática que conseguem identificar os problemas, aplicar os conhecimentos e desenvolver estratégias de acordo com cada situação.

O principal contributo deste estudo será na área de formação dos profissionais para atuarem na área de reabilitação. Acreditamos que a adequação da formação possibilitará uma atuação profissional mais qualificada e com maiores possibilidades de resultados positivos na reintegração social e também de forma a contribuir para um estudo continuado na área de saúde mental e reabilitação.

 

Referências Bibliográficas

Araújo, M. B., e Rocha, P. M. (2007). O trabalho em equipe: Um desafio para a consolidação da estratégia de saúde da família. Ciência & Saúde Coletiva, 12(2), 455-464.         [ Links ]

Babinski, T., e Hirdes, A. (2004). Reabilitação psicossocial: A perspectiva de profissionais de centros de atenção psicossocial do Rio Grande do Sul. Texto & Contexto-Enfermagem, 13(4), 568-576.         [ Links ]

Comissão Nacional para Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental (2007). Relatório – Proposta de Plano de Acção para a Reestruturação e Desenvolvimento dos Serviços de Saúde Mental em Portugal. Acedido Junho 20, 2013, em http://www.saudemental.pt/wp-content/uploads/2011/02/relatorioplanoaccaoservicossaudemental.pdf        [ Links ]

Crevelim, M. A., e Peduzzi, M. (2005). A participação da comunidade na equipe de saúde da família: Como estabelecer um projeto comum entre trabalhadores e usuários? Ciência & Saúde Coletiva, 10(2), 323-331        [ Links ]

Deslandes, S. F., e Mitre, R. M. (2009). Processo comunicativo e humanização em saúde. Acedido Junho 25, 2013, em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832009000500015&script=sci_arttext        [ Links ]

Faro, A. C. (2006). Enfermagem em reabilitação: Ampliando os horizontes, legitimando o saber. Acedido Fevereiro 12, 2013, em http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v40n1/a18v40n1.pdf        [ Links ]

Hasselmann, J. A. (2009). Flexibilidade para se moldar ao mercado. Acedido Junho 19, 2013, em http://www.weg.net/files/weg-em-revista/WR-57.pdf        [ Links ]

Hesbeen, W. (2003). A reabilitação: Criar novos caminhos. Loures: Lusociência.         [ Links ]

Leite, F. C., e Costa, S. M. (2007). Gestão do conhecimento científico: Proposta de um modelo conceitual com base em processos de comunicação científica. Acedido Junho 24, 2013, em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19652007000100007        [ Links ]

Martins, C., Kobayashi, R. M., Ayoub, A. C., e Leite, M. M. (2006). Perfil do enfermeiro e necessidades de desenvolvimento de competência profissional. Acedido Maio 10, 2013, em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072006000300012&lang=pt        [ Links ]

Silva, M. L. (2011). Reabilitação psicossocial, um dispositivo da reforma psiquiátrica brasileira. Acedido Junho 4, 2013, em http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/835/ARTIGO%20FINAL%20POS%20SAUDE%20MENTAL.pdf?sequence=1        [ Links ]

 

Recebido em 30 de setembro de 2013

Aceite para publicação em 30 de maio de 2014