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Medievalista

versão On-line ISSN 1646-740X

Med_on  no.27 Lisboa jun. 2020

 

VARIA

Curso Livre “No Tempo de D. João I”

Miguel Metelo de Seixas1
https://orcid.org/0000-0002-0811-573X

1Instituto de Estudos Medievais, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. 1069-061 Lisboa, Portugal, miguelmeteloseixas@fcsh.unl.pt


 

Há já longos anos que o Instituto de Estudos Medievais (IEM) e o Mosteiro da Batalha/Direção-Geral do Património Cultural mantêm uma relação privilegiada, entretecida de atividades comuns. Nesta relação se inscreveu o curso livre “No Tempo de D. João I”, que decorreu neste monumento ao longo de quatro sessões (23 de fevereiro e 9, 16 e 23 de março de 2019), sob a coordenação de Amélia Aguiar Andrade, João Luís Fontes, Joaquim Ruivo e Miguel Metelo de Seixas. A iniciativa contou igualmente com a parceria do Centro de Formação da Rede de Cooperação e Aprendizagem (CFRCA) e o apoio do Município da Batalha, do Centro do Património da Estremadura (CEPAE) e do Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota (CIBA).

Esta iniciativa inscreve-se na estratégia de disseminação do conhecimento científico que constitui um dos pilares da atividade do IEM, estando aberta à inscrição de todos os interessados, mas especialmente dirigida para os professores do ensino secundário, para os quais contou como ação creditada. Este último público aderiu em massa: o curso recebeu centena e meia de inscritos, que frequentaram com assiduidade o conjunto das quatro sessões. Pode-se, portanto, afirmar que o interesse que os levou a inscreverem-se, os manteve igualmente ligados ao desenrolar e à participação nesta ação de formação.

Tais circunstâncias poderão explicar-se, em primeiro lugar, pela escolha do tema. O curso, com efeito, centrou-se na figura do rei D. João I, tão intimamente relacionado com a fundação do Mosteiro da Batalha e protagonista de uma época charneira para a história de Portugal. Longe, porém, de repisar visões historiográficas tradicionais, esta ação de formação proporcionou aos formandos uma série de perspetivas atualizadas e diversificadas para o entendimento da sociedade portuguesa daquela época.

Neste sentido se construiu o programa, cuja primeira sessão contou com uma visão geral proporcionada por Bernardo Vasconcelos e Sousa, intitulada Na confluência das «crises»: A nova dinastia de Avis”, a que se seguiram duas conferências sobre o casal fundador do Mosteiro da Batalha: a de Maria Helena da Cruz Coelho sobreD. João I: o homem e o rei” e a de Manuela Santos Silva sobre “D. Filipa de Lencastre: a rainha inglesa”.

A segunda sessão abordou as questões militares, com João Gouveia Monteiro a falar de “D. João I: os grandes combates de um grande rei” e Luís Filipe Oliveira de “A Espada, a Cruz e as Quinas: D. João I e as Ordens Militares”, conferências completadas pela visita ao Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, conduzida pelo primeiro conferencista e por Maria Antónia Amaral.

A terceira sessão emergiu para um entendimento mais lato da sociedade coeva, desde os aspetos político-administrativos (Armando Luís de Carvalho Homem, “De João das Regras ao Conselho Régio”) aos religiosos e culturais (Maria de Lurdes Rosa, “Cultura e religião na construção de uma dinastia nova”) e aos estudos de dois casos particularmente marcantes para a época: a afirmação da cidade “cabeça do reino” (Amélia Aguiar Andrade e Miguel Gomes Martins, “Mui Nobre e sempre leal. Lisboa, a cidade do rei”) e a tomada da primeira praça norte-africana (João Paulo Oliveira e Costa, “O início do sonho africano: A conquista de Ceuta”).

Finalmente, na quarta sessão, foram abordadas temáticas relacionadas com a construção da memória de D. João I e da dinastia de Avis: ao passo que Isabel Barros Dias examinou a cronística (“A memória escrita: D. João I por Fernão Lopes”), Carla Varela Fernandes tratou do “Mosteiro da Batalha. De ex-voto a panteão” e, num registo cronológico mais abrangente, Sérgio Campos Matos examinou o tema “D. João I e a Ínclita Geração no imaginário português”, sendo esta sessão completada pela visita ao próprio mosteiro da Batalha, conduzida por Miguel Metelo de Seixas numa perspetiva heráldica.

A configuração deste programa de conferências e de visitas de estudo evidencia a multiplicidade de abordagens proporcionadas para um entendimento dilatado da sociedade, da cultura e da arte portuguesas coetâneas da fundação batalhina. Nesta diversidade residirá porventura uma das razões do sucesso da iniciativa, que proporcionou, assim, uma imersão dos formandos em tão variados aspetos da época estudada. Outra razão poder-se-á procurar no modelo de formação adotado: as sessões assumiram um caráter fortemente didático, fomentando a participação de grande número de formandos nos debates que se seguiram às apresentações. Saliente-se, por fim, a qualidade científica dos conferencistas, provenientes de variadas instituições académicas: com efeito, longe da endogamia que teima em assombrar o ambiente universitário, acudiram a esta iniciativa do IEM conferencistas oriundos de outras unidades de investigação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (nomeadamente do Centro de Humanidades e do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição), bem como de outras universidades (Universidade de Lisboa, Universidade de Coimbra, Universidade do Porto, Universidade Aberta, Universidade do Algarve) e do Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota.

A esta confluência de instituições científicas proporcionada pelo IEM juntou-se a colaboração estreita com o Mosteiro da Batalha, que tantos frutos tem dado nos últimos anos, e com duas instituições regionais - uma ligada à defesa do património, outra à formação e aprendizagem. Logrou assim o Curso Livre “No Tempo de D. João I” aproximar a universidade e a pesquisa de ponta com o público em geral e, em particular, com os docentes do ensino secundário, para cujo desempenho profissional ações de formação como esta podem dar um contributo positivo, no sentido de fornecer conteúdos atualizados e diversificados. Tanto mais importantes quanto o mosteiro da Batalha e os primeiros reis da dinastia de Avis continuam a desempenhar um papel fulcral no imaginário da sociedade portuguesa atual.

 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

Referência electrónica:

SEIXAS, Miguel Metelo de Seixas - «Curso Livre “No Tempo de D. João I”». Medievalista 27 (Janeiro - Junho 2020). [Em linha] [Consultado dd.mm.aaaa]. Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA27/seixas27V1

 

Data recepção do artigo / Received for publication: 15 de Julho de 2019

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