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Medievalista

versão On-line ISSN 1646-740X

Med_on  no.24 Lisboa dez. 2018

 

RECENSÃO

Recensão: LOPES, Fernão – Crónica de Dom João I. Primeira Parte. Edição crítica e notas de Teresa Amado, com a colaboração de Ariadne Nunes, Carlota Pimenta e Mário Costa, Introdução de Cristina Sobral. Lisboa: Imprensa Nacional e Centro de Estudos Comparatistas, 2017 (390 pp)

Isabel Barros Dias*

* Universidade Abera, Departamento de Humanidades / Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos de Literatura e Tradição; Instituto de Estudos Medievais, 1269-001, Lisboa, Portugal.isabel.dias@uab.pt


 

Constitui um acontecimento maior para os estudos de História Medieval e de Literatura Medieval a há muito esperada edição da I Parte da Crónica de D. João I. A fortuna editorial mais recente deste texto contrasta com o sucesso que teve no passado. Tal como referido na Introdução à presente edição, “os autógrafos não sobreviveram. Tão pouco foram preservados os apógrafos contemporâneos do autor. Os manuscritos mais antigos são manuelinos” (Intr., p. 7), porém, o grupo responsável pela nova edição identificou quarenta e três testemunhos da I Parte da Crónica de D. João I, “dos quais vinte e quatro são datáveis desde o final do século XV até ao final do século XVI” (ibidem, p. 8). Em flagrante oposição, antes da presente edição, para além de algumas publicações de excertos e de versões parciais, Anselmo Braamcamp Freire levou a cabo a transcrição de um manuscrito, em 1915. Esta edição foi, posteriormente, objeto de uma edição fac-similada da IN-CM, prefaciada por Lindley Cintra (em 1973), e reimpressa pela ed. Civilização em 1945, 1990, 1991 e 1994, livros desde há muito esgotados e, mesmo em alfarrabistas, de difícil acesso. Dado este panorama, há muito que se sentia a falta de uma nova edição da obra de Fernão Lopes, baseada em critérios atualizados e fiáveis, que colocasse à disposição do público a obra daquele que é considerado como um dos mais inspirados e originais historiadores europeus medievais.

O manuscrito escolhido para texto-base da presente edição foi o mesmo que Braamcamp Freire editara, o exemplar da Torre do Tombo, Casa Forte, Crónicas 8 (olim cod. 352). Trata-se de um códice de boa qualidade, elaborado no quadro da chamada “Leitura Nova” manuelina e que, como explicado na introdução, “confrontado com outros manuscritos quinhentistas, raramente revelou defeitos que o desqualificassem.” (ibidem, p. 11). Apesar de valorizar o mesmo exemplar, a edição agora dada à estampa apresenta-se, não como uma transcrição do melhor exemplar, como a anterior edição, de índole bédierista, mas tendencialmente neolachmaniana. Tendo a equipa editorial transcrito e colacionado dezanove manuscritos quinhentistas, surpreende o reduzido número de notas existente na presente edição crítica da I Parte da Crónica de D. João I, o que indica que a transmissão desta obra, que terá sido redigida entre 1441 e 1450, foi de uma enorme estabilidade. Não sendo muito comum, este facto demonstra o cuidado com que terão sido realizadas as cópias e o respeito que, desde cedo, terá havido pela figura autoral de Fernão Lopes, não só enquanto narrador do passado, mas também como um dos primeiros grandes mestres da narrativa literária portuguesa.

A introdução à edição crítica, da autoria de Cristina Sobral, para além de contextualizar o trabalho realizado, refere ainda e justifica as opções tomadas pela equipa editorial e recorda as vicissitudes deste processo de edição, sem esquecer a literatura crítica existente. Com efeito, o estudo da obra de Fernão Lopes foi realizado, sobretudo, por Teresa Amado, que também estabeleceu as bases para a presente edição, nomeadamente, normas de transcrição e critérios de edição. O resultado consiste num texto que, sem perder a cor epocal, nem transigir na fiabilidade, permite a vulgarização da Crónica, uma vez que, para além de modernizar algumas grafias e de conter pouca sinalética editorial, apresenta uma mancha gráfica atraente, cuja leitura é facilmente acessível a um público heterogéneo, desde que com suficiente flexibilidade para apreciar uma prosa que, apesar de relativamente distante da atual, não pode ser considerada opaca.

O falecimento da grande impulsionadora dos projetos de edição e de tradução para o inglês da Crónica de D. João I, Teresa Amado, em 2013, poderia ter feito soçobrar as empresas. Porém, felizmente, as equipas destes dois projetos têm levado por diante o trabalho anteriormente encetado, estando por isso de parabéns. Mas, à imagem da historiografia que, enquanto o tempo fluir, não pode dar por encerrada a sua missão, também a tarefa encetada por esta edição crítica não está terminada. A importância que a obra de Fernão Lopes tem para a História e para a Literatura portuguesas deve constituir um incentivo para que a equipa editorial prossiga com o seu trabalho por forma a que, em breve, a II Parte da Crónica de D. João I se torne tão acessível ao público como neste momento está a sua I Parte.

 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

Referência electrónica:

DIAS, Isabel Barros – “LOPES, Fernão – Crónica de Dom João I. Primeira Parte. Edição crítica e notas de Teresa Amado, com a colaboração de Ariadne Nunes, Carlota Pimenta e Mário Costa, Introdução de Cristina Sobral. Lisboa: Imprensa Nacional e Centro de Estudos Comparatistas, 2017 (390 pp)”. Medievalista [Em linha]. Nº 24 (Julho – Dezembro 2018). [Consultado dd.mm.aaaa]. Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA24/dias2408.html

 

Data recepção do artigo: 30 de abril de 2018

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