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Angiologia e Cirurgia Vascular

Print version ISSN 1646-706X

Angiol Cir Vasc vol.13 no.1 Lisboa Mar. 2017

 

PÁGINA DO PRESIDENTE

Página do Presidente

José Daniel Menezes1

 

1 Presidente da SPACV

 

Dignidade e respeito. A propósito da tomada de posse do nosso Bastonário

Prezados colegas,

No dia 8 Fevereiro deste ano senti, por alguns minutos, que a profissão médica pode ter ainda “momentos” de elevação, dignidade e reconhecimento, habituais no passado mas menos no presente. Elevação, Dignidade e Reconhe- cimento são (eram) atributos conquistados pelo cumpri- mento da nossa profissão, no respeito pelos códigos Ético e Deontológico que nos orientam, feitos para servir a socie- dade de um modo geral e os doentes muito em particular, cada um deles um ser único e irrepetível, carecendo não só dos nossos conhecimentos, mas também de humanidade e compaixão. Era e assim tem de continuar a ser, no cumpri- mento da nossa Missão e manutenção da independência outrora conquistada. “Nobre Profissão“, não por descen- dência, mas pela nobreza que ela encerra, quando praticada sob os princípios Hipocráticos, ainda hoje actuais, por neles estarem inscritos os princípios básicos, que nos diferenciam, devendo por isso ser regularmente revisitados.

A falta de “respeito” pela classe tem variadíssimos exemplos e deve-se a factores na maioria externos basta ler os jornais, ver televisão e, pasme-se, até consultar legislação ou a sua falta para o sector. Dou apenas um exemplo: a não promul- gação do “Acto Médico”, pedra angular da profissão.

À medida que o tempo vai passando e o mercantilismo se instala cada vez mais entre o doente e nós, arriscamos perder o controlo da profissão (leia-se dos doentes), e tornando-nos no elo mais fraco da cadeia dos cuidados de saúde, exactamente o contrário do que deveria ser. O poder político que deu à Ordem poderes amplos em determinadas áreas importantes, relacionadas com a formação e titulação de especialistas, não nos ouve o suficiente ou pelo menos com atenção. Os representantes do capital, a todos os níveis, ousam desrespeitar-nos ou menorizar-nos, tenhamos os olhos bem abertos para anteciparmos o futuro, mudando o que acharmos pertinente e reagindo quando em causa estão os nossos princípios e independência, a qual conside- ro cada dia mais perto de ser perdida. Se não o fizermos sere- mos progressivamente, acorrentados e funcionalizados, e o nosso valor enquanto médicos terá apenas em atenção o nosso “custo-efetividade”.

Vou agora ao tal “momento de dignidade” que me fez sentir “médico” como o concebo. Foi a tomada de posse do Bastoná- rio, o nosso ilustre colega Miguel Guimarães, eleito por uma enorme maioria (73,5% dos votos expressos) na que penso ter sido a maior votação de sempre (cerca de 15.000 votan- tes). Para ela fui convidado na qualidade de e presidente da SPACV , que muito me orgulhou.

A dignidade que a Ordem, e novo bastonário , resolveram dar ao acto de posse, é compaginável com o programa eleitoral com que este último se apresentou á classe. A Academia de Ciências de Lisboa, magnífico e histórico edifício da cultura nacional, foi o local escolhido e engalanou-se à medida do evento. O, na altura, ainda “ Bastonário eleito”, recebia os colegas e os representantes institucionais convidados à porta, com descrição e elegância, sendo o último, o Presi- dente da República, que se quis associar e dignificar o acto. Sendo ele filho de médico, proeminente figura pública do anterior regime com diversos cargos entre os quais o de ministro da saúde, foram seguramente as razões pelas quais, o Presidente fez um discurso de abertura, no qual enalteceu o papel e a importância impar do “Ser Médico “ em tudo o que isso encerra, considerando-nos credores da maior admira- ção, respeito e mesmo gratidão por parte dos portugueses (as palavras foram as dele…), bem mais do que reclamamos!!. O Salão Nobre, repleto maioritariamente de médicos como é natural, ouviu com grande orgulho o mais alto magistrado da Nação que a todos representa.

Obrigado Senhor Presidente pelas suas palavras!

Seguiu-se o discurso do Bastonário cessante, Prof. Dr. José Manuel Silva, que fez o balanço dos seus mandatos de forma rigorosa e firme, como é seu timbre, aproveitando a presen- ça dos Senhores Ministro e Secretário de Estado da Saúde para lhes apresentar “agora entre os seus “ o balanço dos mandatos e do relacionamento institucional, nem sempre o mais desejável, que manteve durante este longo período, com os diversos governos.

Passou-se então ao Acto de Posse feito de forma solene de acordo com os preceitos, e a “faixa 0amarela e medalha” foi colocada pelo cessante sob os ombros do recém-chegado, seguido de longo abraço sentido …de “irmãos”.

O novo Bastonário dirigiu-se então ao auditório em discurso sereno mas determinado. Falou das suas prioridades e citan- do-o “a ética, a relação médico/doente, a formação e a quali- dade estão no topo das minhas prioridades”, e continuou “a defesa intransigente dos pilares da ética médica, do Jura- mento de Hipócrates e do Código Deontológico da Ordem dos Médicos são a primeira prioridade que todos temos o dever de honrar”. Não posso estar mais de acordo!

Vamos em frente, até porque o poder político, entretan- to, cerceou à revelia da Ordem, de forma inadmissível, a formação pós-graduada no sector público, criando gran- des constrangimentos, praticamente inultrapassáveis, ao financiamento desta por parte da indústria. Desconhecerá, o regulamento da Deontologia Médica nº 707/2016 (DR 2ª Série, Nº139 de 21/7) e no seu Título V, Capítulo 3, o artigo 130, alínea 3? E a já existente legislação mais que suficiente para garantir transparência no relacionamento entre médi- cos e indústria? Se outros sectores fossem tão escrutinados como o nosso, estaríamos bem melhor neste Pais.

E mais ao equipararem o acto médico às terapêuticas não convencionais no regime fiscal aplicado, prestaram um péssimo serviço à segurança dos doentes e afrontaram-

-nos de forma preocupante. Estes aspectos foram também abordados pelo Bastonário em frente dos responsáveis. Bem-vindo! Conte connosco!

Terminada a sessão, foiservidoumcocktailnos claustros eem algumas das lindíssimas salas do Convento de Nossa Senhora de Jesus da Ordem Terceira de S Francisco, onde, desde 1834 está instalada a Academia das Ciência de Lisboa. Era noite e a iluminação adequada realçava a sua beleza, a história que encerra, e o momento que acabávamos de assistir.

Saí orgulhoso, vagueei pelo lindo bairro das Mercês até á Assembleia da Republica onde apanhei transporte para casa. Adormeci tranquilo.

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