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Observatorio (OBS*)

On-line version ISSN 1646-5954

OBS* vol.11 no.2 Lisboa June 2017

 

Crianças até 8 anos e Tecnologias Digitais no Lar: Os pais como modelos, protetores, supervisores e companheiros

 

Rita Brito*, Patrícia Dias

* Researcher, UIDEF, Instituto de Educação, Universidade de Lisboa, Portugal (britorita@campus.ul.pt)

** Professor, Research Centre for Communication and Culture, Catholic University of Portugal, Portugal (pdias@fch.lisboa.ucp.pt)

 

RESUMO

Pretende-se com este artigo dar a conhecer as práticas digitais de crianças (com menos de 8 anos de idade) no seu ambiente familiar, mais especificamente em casa. Os pais são os principais mediadores relativamente ao contacto de crianças destas idades com meios digitais, tendo também um papel relevante ao influenciar as suas práticas, perceções e atitudes. Apresentamos assim alguns resultados relativos a um projeto Europeu, baseado numa metodologia qualitativa, nomeadamente na grounded theory, onde recorremos a entrevistas a pais e crianças como método de recolha de dados. Os resultados revelam que os pais desempenham diferentes papéis - são vistos como modelos, protetores, companheiros e supervisores. Estes diferentes papéis relacionam-se diretamente com as suas práticas pessoais e, principalmente, com as suas perceções e atitudes em relação às tecnologias.

Keywords: crianças 0-8 anos, meios digitais, ambiente familiar digital, mediação parental.

 

ABSTRACT

This chapter presents an overview of the digital practices of young children (under 8 years old) in the home. At such an early age, parents are the main mediators of the contact with digital media, thus paying a preponderant role in shaping the young children’s practices, perceptions and attitudes. In this chapter, we present partial results of a European-scale qualitative project that followed a methodology based on grounded theory, using interviews to families as method. Our findings reveal different roles played by the parents – role models, gatekeepers, companions, and supervisors. We also found that these different roles are related to the parenting style and also to the parents’ own digital practices, and most importantly, perceptions and attitudes towards digital media.

Keywords: young children, digital media, digital homes, parental mediation.

 

Introdução

A nossa sociedade está profundamente moldada pela integração de tecnologias digitais nas nossas vidas, fazendo estas já parte da nossa rotina diária. Por sua vez, as crianças nascem em lares repletos de tecnologias digitais como computadores, smartphones e tablets, estando expostas a estas cada vez mais jovens e, consequentemente, envolvendo-se na utilização destes dispositivos. Elas são apelidados de ‘digitods’ (Leathers et al., 2013; Holloway et al., 2015), pois nasceram após o aparecimento dos smartphones no mercado (sensivelmente em 2007) e os seus pais são, geralmente, utilizadores experientes de tecnologias. Deste modo, os meios digitais estão completamente integrados nas rotinas diárias das famílias (Kucirnova, 2011).

No entanto, a maioria das investigações sobre crianças e as suas práticas digitais foca-se maioritariamente em jovens a partir dos 9 anos de idade, a sua maioria adolescentes, que se destacaram como pioneiros e estabeleceram tendências para a utilização de tecnologias, como a internet e os smartphones. O nosso estudo pretende preencher um pouco esta lacuna (Plowman, 2015; Vatavu et al., 2014) ao explorar o modo como crianças com menos de 8 anos se envolvem com as tecnologias digitais nos seus lares, prestando especial atenção às dinâmicas familiares. Tanto a literatura académica como os estudos de mercado revelam que as crianças desta faixa etária têm acesso facilitado a tecnologias nos seus lares, sendo os pais os principais mediadores das suas atividades digitais. As crianças aprendem a usá-los através da observação e imitação dos pais, assim como através da sua ajuda e apoio (Findahl, 2013; Genc, 2014; Plowman et al., 2008).

 

Estado da Arte

Existem vários estudos académicos sobre a mediação parental e utilização de tecnologias, focando-se particularmente em crianças mais jovens e a televisão (e.g. Dorr et al., 1989; Sang et al., 1993) e no papel desempenhado pelos pais como mediadores do envolvimento de crianças com meios digitais assim como modeladores de práticas e perceções. Diferentes estilos de mediação parental têm sido observados, nomeadamente os fatores que influenciam o tipo de mediação e as consequências desse estilo nas práticas e perceções de crianças.

Existem vários estilos de mediação parental, estilos esses que Valkenburg et al. (2009) resumiram em três categorias: a) restritivo, tendo em conta pais com atitudes altamente controladoras relativamente ao uso de meios digitais, monitorizando e limitando este uso; b) instrutivo, referindo-se a pais que controlam esta utilização mas preocupando-se em ensinar e aconselhar; e c) co-utilização, baseando-se na negociação, diálogo e busca de consenso entre pais e filhos sobre a utilização das tecnologias.

A literatura identificou também algumas variáveis que estão diretamente relacionadas com cada um dos estilos de mediação. Por exemplo, Dorr et al. (1989) afirmam que quando pais e filhos têm gostos semelhantes relativamente a conteúdos de televisão, é mais provável que o estilo de co-utilização seja adotado. Sang et al. (1993) corroboram esta ideia, sublinhando que as dinâmicas das famílias e os hábitos de ver televisão predizem os seus estilos de mediação. Warren (2003) refere também que as características socio-demográficas e a qualidade da relação entre pais e filhos têm igualmente um papel relevante nesta influência enquanto que Valkenburg et al. (2009) acrescentam a esta lista as perceções e atitudes, salientando que pais com atitudes negativas para com a televisão são mais propensos a adotar um estilo de mediação restritivo.

Outra vertente da literatura explora as consequências dos diferentes estilos de mediação. Por exemplo, Nathanson (2001) menciona que o estilo de mediação restritivo induz as crianças a terem perceções negativas das tecnologias, enquanto que o estilo de co-utilização propicia perceções e atitudes positivas. Barr et al. (2008) reforçam a ideia de que há mais envolvimento com os conteúdos televisivos quando em ambiente de co-utilização. Fidler et al. (2010) acrescentam que as práticas de co-utilização aumentam a atenção dada pelas crianças a conteúdos televisivos.

A investigação mais recente está a aplicar o mesmo conceito de mediação parental a outros meios digitais juntamente com as mesmas questões: a identificação de variáveis que determinam o estilo de mediação parental e as consequências relativamente às práticas digitais em casa, perceções e atitudes das crianças.

 

Práticas Digitais de crianças

Embora a maioria das investigações que dizem respeito a práticas digitais de crianças se foque principalmente em crianças a partir dos 9 anos, nos anos mais recentes, devido ao seu crescente contacto com tecnologias em idades mais precoces, a investigação académica tem aumentado e alguns estudos de mercado têm também sido produzidos considerando uma faixa etária mais baixa. Apesar dos diferentes contextos - alguns nacionais e outros internacionais - e metodologias - qualitativas e quantitativas - todos eles apontam para conclusões semelhantes: as crianças, numa idade muito jovem, têm acesso a meios digitais e passam cada vez mais tempo a interagir com estes, em detrimento de outras atividades.

A investigação quantitativa salienta principalmente taxas de penetração e tempo de utilização. Por exemplo, o estudo de Kabali et al. (2015) registou que 83% de famílias americanas com crianças com menos de 5 anos tinham um tablet, 77% tinha um smartphone, 58% um computador, 56% uma consola e 59% acesso à internet. Lauricella et al. (2015) referem que 86% de crianças com menos de 8 anos no Reino Unido têm acesso a um computador em casa, 69% a um smartphone e 40% a um tablet. No Reino Unido as crianças estão uma média de 75 minutos por dia a ver televisão e o seu segundo meio digital preferido é o tablet, utilizando-o durante 29 minutos por dia. Nos Estados Unidos, 45 minutos por dia são dedicados a ver televisão, 27 minutos a ver vídeos em dispositivos móveis e 22 minutos a utilizar outras aplicações.

Relatórios de algumas empresas ligadas a tecnologias destacam o crescimento considerável da utilização do tablet. Segundo a OFCOM (2013), em crianças entre 5 a 7 anos, o uso do tablet cresceu de 11% em 2012 para 39% em 2013. Além disso, 68% de crianças de 5 a 7 anos possuem dispositivos móveis e 46% de crianças de 3 a 4 anos possuem igualmente estes dispositivos. A CommonSense (2013) relata que 3 de 4 crianças têm acesso a um smartphone ou tablet em casa e o número de crianças com menos de 8 anos que têm o seu tablet pessoal subiu de 8% em 2011 para 40% em 2013. Paralelamente ao crescimento desta utilização e uso de tecnologias móveis ocorre um decréscimo na utilização de outros meios digitais, como os computadores, consolas de jogos e mesmo a televisão. O relatório da ChildWise (2016) no Reino Unido revelou que as crianças mais jovens passam uma média de 6 horas e meia por dia em frente a ecrãs, no entanto o tempo de utilização do tablet está a aumentar enquanto o tempo de utilização da televisão diminui. O relatório acrescenta que o tablet está também a substituir o computador e refere que 67% das crianças têm o seu tablet pessoal.

Outro dados comum nestes relatórios são o facto de o tablet ser o dispositivo preferido das crianças. Kabali et al. (2015) relatam que apenas 3% de crianças com menos de 8 anos nunca usou um tablet e 25% tem o seu dispositivo pessoal. A OFCOM (2013) identificou igualmente no seu relatório que o tablet era o dispositivo preferido das crianças, especialmente em crianças de 3 a 4 anos. Outra tendência encontrada é a de que à medida que a idade das crianças aumenta, aumenta igualmente o acesso a outros dispositivos digitais, assim como o tempo despendido nesta utilização e a capacidade de utilizações mais complexas e diversificadas.

Para além da literatura ter estabelecido que as crianças estão empenhadas em utilizar as tecnologias digitais, identificou também as suas práticas preferidas. A OFCOM (2013) revela que as crianças jogam jogos, assistem a vídeos e a músicas online. Luscombe (2015) também afirma que a atividade online preferida das crianças é a utilização do YouTube, com 72% das crianças inquiridas a utilizá-lo diariamente. A CommonSense (2013) reitera que as principais práticas das crianças são jogar jogos, ver vídeos e ler ebooks. Um relatório mais recente da OFCOM (2014) destaca que as suas escolhas de dispositivos e atividades estão fortemente ligadas ao seu género. O rapazes possuem mais consolas e as raparigas mais smartphones; os rapazes gostam mais de jogar jogos relacionados com corridas, desportos, aventura e lutas, enquanto que as raparigas gostam de fantasia, storymaking, vestir bonecas e cuidar de animais. No âmbito académico, Chaudron et al. (2015) chegaram a conclusões semelhantes: embora o tablet seja o dispositivo preferido das crianças, a escolha de aplicações tende a refletir os universos ficcionais de raparigas e rapazes de super-heróis e princesas, respetivamente.

 

Mediação parental

Os pais tendem a ser geralmente permissivos relativamente ao uso de dispositivos móveis em casa (Genc, 2014; Plowman et al., 2008). Fazem-no porque os pais desta geração são “nativos digitais” (Prensky, 2001) e a sua maioria são competentes nesta utilização e disfrutam desta. Deste modo, a principal origem de mediação parental é a imitação. Os meios digitais dos pais estão disponíveis em casa e as crianças observam como seus pais se envolvem com estes, imitando depois as suas práticas. Lauricella et al. (2015) referem-se a um efeito “espelho” entre as práticas digitais dos pais e as adotadas pelas crianças, destacando o facto de que quanto mais jovens são as crianças, mais elas tendem a reproduzir as práticas de seus pais com os dispositivos digitais.

Outra razão importante para tal permissividade é o facto de os tablets serem “babysitters” eficazes, mantendo as crianças entretidas enquanto os pais estão ocupados com tarefas de casa ou do trabalho (Dias & Brito, 2016). Por exemplo, Kabali et al. (2015) relatam que 28% dos pais de crianças entre 6 meses e 4 anos usam o tablet como um substituto de interação direta durante a hora de deitar, ou seja, usam-no para contar histórias até as crianças adormecerem. Para além disso, os pais sentem-se bem com eles próprios ao permitirem o uso ocasional dos seus dispositivos pelos filhos, como o smartphone, o computador e o tablet, sendo que ao mesmo tempo as crianças têm acesso livre aos seus dispositivos pessoais, normalmente tablets e consolas (Genc, 2014; Findahl, 2013; Plowman et al., 2008). Isto significa que as crianças muitas vezes são deixadas sozinhas para explorar os dispositivos digitais de forma independente (Bittman et al., 2011; Kucirnova & Sakr, 2015; Livingstone, 2007; Plowman et al., 2008).

Kabali et al. (2015) sublinham que crianças com menos de 5 anos tendem a usar tablets e smartphones por longos períodos de tempo diariamente e, normalmente, sem qualquer auxílio dos pais ou de supervisão. No entanto, numa idade tão precoce, embora as crianças sejam capazes de explorar os meios digitais de modo relativamente independente, frequentemente necessitam de orientação e ajuda. Quando se deparam com dificuldades, primeiro tentam superá-las de modo autónomo, normalmente através da estratégia de tentativa e erro; se não são incapazes de resolver o problema de forma autónoma, recorrem aos irmãos mais velhos (caso os tenham) e só depois aos pais (Dias & Brito, 2016).

Os pais desempenham um papel crucial na adoção de meios digitais pelas crianças, pois é com eles que elas têm as suas primeiras experiências de utilização (Bittman et al., 2011; Craft, 2013; Kucirnova & Sakr, 2015; Livingstone, 2007; Plowman et al., 2008; Warren, 2003). Estudos recentes sobre a mediação parental abordam este fenómeno quando ele ocorre com meios digitais. Livingstone (2007) foi pioneira, sugerindo o conceito de “regulação parental” para referir que os pais muitas vezes recorrem a papeis familiares, em especial à sua autoridade, para negociar regras e práticas relacionadas com a utilização de tecnologias. Geralmente, dá-se uma adaptação de regras já definidas relativas à utilização da televisão para os outros meios digitais. Outros autores indicam outras propostas relativamente à implementação da “regulação parental” (por exemplo, Barkin et al., 2006; Eastin et al., 2006; Rosen, 2008) que podem ser sintetizadas em duas categorias: os pais tendem a “apoiar” as práticas digitais das crianças, ensinando e ajudando-as a superar as dificuldades; os pais tendem a “controlar” as suas práticas digitais (nesta idade, o controlo é exercido mais sobre o tempo de utilização do que sobre o conteúdo). Nikken & Jansz (2013) sugeriram que os estilos de mediação identificados anteriormente para a utilização da televisão podem ser aplicados a meios digitais: restritivo, ativo e em co-utilização. No entanto, acrescentam novos estilos de mediação específica para tecnologias digitais, como a monitorização e “apoio ao cliente”.

Há também estudos recentes sobre as variáveis ​​que moldam a mediação parental de meios digitais. Goh et al. (2015) identificaram um fator muito simples: o género da criança. Os pais tendem a ser mais permissivos com os rapazes e restritivos com as raparigas. Valke et al. (2010) já haviam sugerido o género do pai, a sua idade, a sua formação educacional, o seu nível de utilização da internet, a sua experiência online e as suas atitudes em relação à internet também como fatores relevantes na mediação parental de utilização destes meios. Nikken & Jansz (2015) mencionam que questões socio-demográficas e perceções são igualmente relevantes. Em geral, os pais com mais competências digitais, que utilizam mais as tecnologias e com percepções e atitudes mais positivas em relação a estas são mais permissivos. As experiências negativas com os irmãos mais velhos também têm um peso importante na mediação parental. Rudy et al. (2014) acrescentam a dinâmica familiar e fatores como a proximidade e intimidade entre pais e filhos também como relevantes. Com base em investigações anteriores relativamente ao uso da televisão, Valke et al. (2010) propõem um modelo que relaciona a mediação parental das tecnologias digitais com o estilo geral de parentalidade. Eles definem dois eixos de mediação parental sobre a utilização da internet em casa - de controlo parental e afeto parental - que conduzem a uma matriz de quatro estilos de mediação: “autorizado”, autoritário, permissivo e “laissez-faire”. O estilo “autorizado” é o mais frequente, combinando o alto controlo parental com o afeto parental dos pais.

Os investigadores estão também preocupados sobre como os estilos de mediação parental afetam as práticas digitais das crianças e as suas percepções e atitudes em relação aos meios digitais. Valcke et al. (2010) referem que os filhos de pais permissivos são mais entusiastas pelas tecnologias e mais ativos online, enquanto que os filhos de pais autoritários revelam baixos níveis de literacia digital. Bittman et al. (2011) argumentam que o estilo de mediação é também determinante para o rendimento (ou não) do potencial dos meios digitais para a aprendizagem. Além disso, Sasson & Mesch (2014) e Shin & Ismail (2014) revelam que a supervisão restritiva realça o comportamento de risco online, enquanto que, por outro lado, Yusuf et al. (2014) mostram que a proximidade entre pais e filhos os dominui.

Embora a crem jogar só depois de terminar os trabalhos da escola, não jogarem por longos períodos de tempo ou antes de dormir (Chaudron et al., 2016). Na verdade, os pais preocupam-se mais em controlar os dispositivos que as crianças estão autorizadas a usar e o tempo de uso, em vez de monitorar o conteúdo a que elas estão expostas. Os pais acreditam que por as crianças serem ainda tão jovens não estão muito expostas a riscos online porque as suas competências e, consequentemente, o seu uso está ainda bastante limitado: eles acedem raramente à internet não interagem com outras pessoas em redes sociais. No entanto, é precisamente no YouTube que as crianças com menos de 8 anos de idade são mais vulneráveis a riscos, principalmente à exposição a conteúdo inadequado (Dias & Brito, 2016). Devido aos dispositivos móveis serem touch-screen e ao funcionamento intuitivo do YouTube, elas podem facilmente seguir as sugestões da aplicação para acederem a conteúdos e, na maioria das vezes, usam o perfil dos seus pais e irmãos mais velhos, ficando assim expostas a conteúdos destinados a adultos ou adolescentes. Além disso, as crianças desenvolvem estratégias complexas para fazer pesquisas, memorizando letras e símbolos de modo a conseguirem encontrar o conteúdo desejado (Hourcade et al., 2015).

As crianças são mais competentes do que os pais estão cientes, e por sua vez os pais estão muitas vezes alheios a medidas que podem tomar para proteger as crianças, como o “child mode” do YouTube. No entanto, a maioria acredita que bloquear e proibir o acesso é ineficaz, considerando o diálogo como a melhor maneira de as proteger dos perigos online (Dias & Brito, 2016). Além disso, apesar do importante papel desempenhado pelos pais na adoção e envolvimento com dispositivos digitais pelas crianças, deve ser considerado que elas são uma parte activa neste processo de mediação. Elas podem ou não pedir ajuda na utilização aos pais com frequência, ou podem ou não optar por explorar meios digitais autonomamente (Plowman et al., 2015). O estilo parental é, assim, negociado dinamicamente entre pais e filhos e em fluxo permanente.

 

Trabalho empírico

Metodologia

Neste estudo optámos por uma abordagem qualitativa, combinando a Grounded Theory com um quadro teórico que inclui contribuições de Estudos de Educação, Psicologia e Estudos de Comunicação, baseando-nos em Strauss & Corbin (1998). O envolvimento com os meios digitais é explorado ao longo de duas dinâmicas: a) entre a criança e a família; e b) entre os usos e práticas destes. Assim, o nosso estudo considera quatro questões de investigação que resultam do cruzamento desses eixos: 1) Como é que crianças com idade inferior a 8 anos se envolvem com tecnologias (online)? (Uso individual); 2) Como é que as tecnologias (online) são percebidas pelos diferentes membros da família? (dinâmica familiar); 3) Como é que os pais gerem o uso de tecnologias (online) dos seus filhos mais jovens? (Mediação parental); e 4) Qual o papel que essas tecnologias (online) desempenham na vida das crianças e dos pais? (Consciência dos benefícios e riscos).

Este artigo apresenta parte dos resultados nacionais de um estudo, com foco na relação entre uso e percepções dos pais sobre os meios digitais e o seu estilo de mediação parental (Nikken & Jansz, 2015; Valke et al., 2010), que seguem a abordagem e a metodologia de um projeto mais amplo, “Crianças (0-8) e as tecnologias digitais”, que em 2015 incluiu 180 entrevistas qualitativas a famílias com crianças de 6 ou 7 anos de idade, tendo a nossa amostra incluído 10 famílias com crianças de 6 a 7 anos de idade. Os métodos de recolha de dados utilizados consistem num conjunto de entrevistas com três momentos; uma atividade de “quebra-gelo” com toda a família, que consistiu no preenchimento de uma grelha de atividades diárias (um horário diário com autocolantes alusivos às rotinas); e entrevistas simultâneas, mas separadas, para pais e filhos, em que na entrevista aos filhos era usado um jogo de cartas sobre as suas atividades preferidas e uma grelha de modo a identificar as aplicações preferidas; um “tour” digital feito pelas crianças às várias divisões da casa e um Gráfico alusivo à utilização dos meios digitais construído pelos pais e várias fotos. Paralelamente foram feitas observações às crianças na utilização dos meios digitais.

A amostra estratificada foi selecionada tendo em conta categorias como o género, tipo de família, rendimento e utilização das tecnologias digitais. Toda esta informação foi codificada numa base de dados de acordo com um sistema de categorias temáticas e palavras-chave, seguindo o método de QCA - Análise Qualitativa Comparativa (Boyatzis, 1998; Braun & Clarke, 2006) e, finalmente, analisado e discutido.

Os nomes que estão presentes na análise dos dados são fictícios. Todos os elementos das famílias foram codificados, de modo a garantir a sua confidencialidade e anonimato. A codificação começa com as consoantes “PT”, representativas do país (neste caso, Portugal), seguindo-se do seu relacionamento familiar ou género de cada um (f – pai, m – mãe, g – menina, b – rapaz). Por exemplo: rapaz de 5 anos da família 7 será PT7b5.

 

Resultados e discussão

Uso de meios digitais (de um modo geral)

As crianças mais jovens gostam de usar os meios digitais e seu o favorito é o tablet, que está a substituir, em certa forma, a televisão e as consolas. As principais atividades realizadas são jogar jogos e ver vídeos no YouTube, escolhas estas que se alargam às suas preferências offline, pois as crianças tendem a escolher jogos relacionados com as suas atividades/desportos favoritos e personagens/brinquedos ficcionais. As escolhas das crianças são fortemente ligadas ao seu género: os rapazes gostam de jogos de aventura e de luta alusivos aos super-heróis, enquanto as raparigas gostam de vestir bonecas, jogar jogos de maquilhagem, princesas e cuidar de animais de estimação virtuais.

As crianças sabem mais sobre meios digitais do que os pais pensam, pois observam-nos e imitam o seu comportamento. Além disso, exploram os dispositivos digitais disponíveis em casa desde muito jovens e sabem mais do que os pais estão conscientes.

E: Ele [José, PT8b6] costuma, por exemplo, ir à internet ver vídeos no YouTube?

Elisa (PT8m40): Ele sabe fazer isso.

E: E já reparou como é que ele faz?

PT8m40: Pois... isso é engraçado... eu muito sinceramente digo, mas esse miúdo não sabe ler, não sabe escrever, como é que ele sabe que isto é o YouTube??? Mas ele sabe, como, não sei! Eu já perguntei, ele só diz: “Ó mãe, vais aqui, carregas aqui, e depois tu vês aqui... Tu vês as imagens aqui e depois carregas, se não for aquilo que tu queres depois vais outra vez à procura.”

Ana (PT3m39): Televisão? Ela [Andreia, PT3g7] vê desde que nasceu! (...) A minha mãe ficou extremamente fascinada porque a Andreia já sabia, com 1 ano e tal, tirar o DVD, “ela faz isto sozinha”. Faz porque está habituada à tecnologia desde pequenina.

Para os pais, o tablet é muitas vezes uma “babysitter” ou um “SOS”, uma estratégia para manter as crianças entretidas quando estão ocupados. Isto significa que as crianças experimentam e exploram sozinhas as tecnologias, pedindo apenas aos pais ajuda em último recurso, tornando-se deste modo utilizadores competentes e hábeis. Eles aprendem principalmente por observação e imitação dos pais e também através de tentativa e erro. Quando questionadas sobre como elas aprenderam certas competências, elas respondem “Eu aprendi sozinho!”, Ou “Eu já sabia como fazer!”. As crianças ainda mais jovens, que não sabem ler e escrever, têm as suas próprias estratégias para encontrar conteúdos desejados na App Store, Google Play e também no YouTube, com base nas sugestões da própria aplicação. Os pais também relataram que basta ensinar às crianças uma vez, pois elas aprendem muito facilmente e tornam-se cada vez mais autónomas. Os irmãos mais velhos desempenham um papel importante, já que muitas vezes ensinam os mais jovens, embora os papeis de professor e aprendiz possam ser invertidos. Eles também apresentam aos irmãos mais jovens novas aplicações e atividades.

Mediação parental do uso de tecnologias

A nossa visão geral sobre os estilos de mediação parental segue o modelo de Valke et al. (2010), numa matriz de estilos cores tendo em conta o grau de controlo (demanda) e envolvimento.

A maioria das famílias observadas relata um baixo envolvimento nas atividades digitais dos seus filhos, originando a que as crianças utilizem os dispositivos digitais sozinhos. Os pais justificam o seu baixo envolvimento com a necessidade de manter as crianças distraídas enquanto eles realizam tarefas domésticas ou trabalham, alegando que o tablet é a maneira mais eficaz de as manter entretidas e felizes. Deste modo, é até ao final da tarde, entre o terminar dos trabalhos da escola e ter o jantar pronto, que as crianças têm o seu “tempo de brincadeira” com o tablet.

I: Quando ele utiliza o tablet ou o teu telemóvel, ele está sozinho ou estás ao pé dele?

Sofia (PT1m): Geralmente está sozinho.

Rui (PT5f): Eu nem sem bem o que eles fazem [no smartphone]... Ouvir música não sei... Às vezes andam a ver vídeos no YouTube e alguns são de música.

Os pais também usam também este “babysitting” fora de casa. Eles levam o tablet para ocasiões quando sabem que as crianças vão ficar aborrecidas, como viagens longas de carro. Além disso, as mães também se referem ao seu smartphone como um “SOS”, uma vez que permitem que as crianças brinquem com ele quando estão inquietas, se comportam mal ou causam situações embaraçosas.

I: Em tempos de espera ele costuma utilizar? No médico...

Sofia (PT1m): Sim.

I: É ele que pede ou és tu que dás?

Sofia (PT1m): Depende (risos), geralmente sou eu que...

I: Dás para ele estar mais sossegadinho.

Sofia (PT1m): Exatamente, senão destrói o consultório.

Estes dois exemplos referentes à família PT1 e PT5 retratam o estilo de mediação parental laissez-faire, caracterizado pelo não controlo e envolvimento nas práticas digitais das crianças.

Uma das atividades mais mediadas são os jogos. As mães muitas vezes jogam jogos de dança e karaoke com os filhos nas consolas e veem vídeos do YouTube sobre a elaboração de bolos com as filhas, enquanto os pais são companheiros dos filhos em jogos de ação e aventura. A maioria dos pais gosta de jogar jogos nas consolas e lamentam não terem mais tempo livre para se dedicarem a eles.

I: Gostas de jogar com ele alguns jogos?

António (PT2f): Gosto, eu não tenho é muito tempo.

As atividades conjuntas são características do estilo de mediação parental permissivo, onde as crianças não têm uma utilização muito controlada pelos pais, no entanto reagem a solicitações das crianças, comunicando e fazendo co-utilização.

Outra atividade realizada em conjunto são pesquisas no Google, embora apenas em metade das famílias. Os pais explicam que a escola não estimula o uso de dispositivos digitais para pesquisas ou trabalhos da escola, para além de também não terem muito tempo para esta exploração. Alguns pais relatam situações esporádicas em que eles sentem que uma pesquisa sobre um determinado tema seria útil e pretendem fazê-lo mais tarde com seus filhos, mas acabam por se esquecer ou por não ter tempo. De facto, o potencial de dispositivos digitais - especialmente o tablet - para a aprendizagem é largamente sub-explorado ou mesmo ignorado. As crianças conhecem e têm instalados alguns jogos pedagógicos, mas preferem outros de âmbito mais lúdico. Apenas duas famílias nos referiram ter aplicações mais pedagógicas instaladas no tablet e eram utilizadas com pouca assiduidade.

Joana (PT9m): Aquilo que eu tento é que ela opte por jogar, ou escolher jogos, em que ela acabe por aprender alguma coisa. Aqueles das roupas, eu também deixo, mas não são os que eu acho mais engraçados ou importantes. Eu prefiro que ela jogue coisas em que pode aprender, os puzzles, os de memória, ou... mesmo jogos em que ela tenha que ter uma estratégia para superar obstáculos e poder passar de nível, também para a estimular de alguma forma.

Na maioria dos casos, os pais têm uma percepção bastante limitada do tablet ou smartphone, considerando-os como brinquedos ou fontes de entretenimento, não considerando todo o seu potencial pedagógico. No entanto, alguns relatam maior envolvimento e benefícios do potencial pedagógico do tablet. Por exemplo, a Joana (PT9m) refere que gosta de estar por perto quando a filha joga no tablet, para que ela possa ajudá-la e a influencie na escolha de aplicações mais pedagógicas, realizando assim uma mediação autorizada. Esta mãe preocupa-se particularmente com a utilização do YouTube, e por isso a filha não tem permissão para usar esta plataforma sozinha.

Joana (PT9m): Eu prefiro é que ela opte por jogar comigo.

I: Por exemplo, ela ainda não vai ao YouTube ver vídeos, ou já faz isso?

Joana (PT9m): Ela já sabe que existem vídeos... [risos] Só que com os vídeos eu não lhe dou muita autonomia porque eu quero estar com ela, para ela não ver qualquer coisa que apareça assim. Mas ela sabe que se pode ir à internet procurar filmes, ou pequenos filmes, mas que isso tem de fazer sempre comigo, que eu não a deixo fazer sozinha.

Na verdade, relativamente ao controlo de utilização, o YouTube é uma fonte de preocupação para os pais. Não obstante, a maioria deles opta por um controlo ocasional em vez de um controlo mais constante. Os pais monitorizam, casualmente, os conteúdos a que os filhos assistem, ouvindo os sons das aplicações enquanto eles estão ocupados com suas tarefas, tendo, portanto, alguma noção dos conteúdos que os filhos estão a assistir.

I: E os vídeos, costumas ver com ela ou deixá-la sozinha?

Ana (PT3m): Ela tem quase sempre som. Eu deixo-a ter som. Se eu não gosto, já aconteceu, às vezes ouço alguma coisa, pergunto “O que é que estás a ver?” Regra geral anda tudo sempre à volta disto, mas há vídeos, sei lá, já me apareceu com um de maquilhagem, daquelas maquilhagens, não é maquilhagem que se chama, por exemplo para fazer monstros ou criaturas.

I: Costumas ter atenção aos vídeos que ela vê no YouTube?

Maria (PT10m): É assim, a hora em que ela está com o tablet é um bocadinho a hora em que eu estou menos disponível para ela, mas que acabo por estar sempre em contato... Portanto acaba por, entre a sala e a cozinha, ir perguntando coisas... Eu vejo, oiço, acabo por ir controlando mas não de uma forma muito... sem muita pressão... mas com alguma, enfim, periodicidade ali no tempo.

Existem algumas regras relativamente às práticas digitais na maioria das famílias. Os pais mencionam que são negociadas com as crianças e muitas vezes são uma consequência de algum problema ocorrido e as crianças referem perceber e acatar as regras impostas pelos pais. A maioria das regras limita o tempo de utilização dos dispositivos digitais, pois os pais preocupam-se mais com as consequências do uso excessivo - stresse, frustração, hiperatividade, cansaço, falta de contacto social, falta de atividades ao ar livre - do que com os riscos associados ao conteúdo - violência, publicidade, conteúdo sexual. Deste modo, as crianças sabem que têm restrições de tempo de utilização impostas pelos pais, mas gostariam de jogar por períodos mais longos. A maioria das crianças joga entre 30 minutos e uma hora durante a semana, geralmente só depois de terminar os trabalhos da escola (pois as tecnologias são percebidas como uma distração do trabalho escolar). Às vezes também jogam após a sua higiene e antes de se deitarem à noite. Durante o fim de semana as regras são menos rígidas e as crianças podem brincar por períodos mais longos.

Algumas crianças só estão autorizadas a utilizar dispositivos digitais durante o fim de semana. Normalmente, esta regra precede uma experiência negativa. Alguns pais relatam que os filhos ficavam muito nervosos depois de jogar por longos períodos e por isso sentiram necessidade de definir algumas regras. Na família PT7, o filho André (PT7b6) só pode jogar no tablet durante o fim de semana e os pais têm agora a preocupação em não expor o filho mais novo às tecnologias digitais muito cedo.

E: Mais ou menos com que idade é que o André [PT7b6] começou a usar o tablet?

Luís (PT7f): Muito cedo. (...) A gente estava lá em Angola e ele começou a brincar com isto muito, muito cedo.

E: E agora o irmão mais novo já quer, não é?

Luís (PT7f): Hum...

Mafalda (PT7m): Não que nós já não caímos no mesmo erro... [risos] Não deixamos.

Os pais do André (PT7b6) também nos mencionaram outro receio relacionado com a utilização, sem supervisão, das tecnologias pelo filho: ele gastou 50€ em compras de aplicações.

Luís (PT7f): Uma vez ela tinha a definição da conta dela que poderia fazer compras, tinha uma definição… Se eu fizer uma compra, ele pede-me o código, mas se eu fizer compras durante a próxima meia hora, não preciso de inserir o código e posso continuar a fazer compras. E houve aí um episódio de três ou quatro compras seguidas... E 50 € em aplicações para pagar [risos].

E: Mas foi ele que fez?

Luís (PT7f): Foi ele que fez! Ele ia fazendo sim, sim, sim, sim. Não era preciso o código porque a Mafalda (PT7m) tinha acabado de comprar uma aplicação. Ele continuou lá na App Store e esteve entretido a comprar jogos.

De facto, a proibição de comprar aplicações era uma regra comum em todas as famílias. Na opinião dos pais, há uma oferta tão vasta de jogos gratuitos que não consideram necessário pagar por este tipo de conteúdo. Além disso, algumas das crianças têm de pedir permissão antes de instalar aplicações ou os pais têm uma palavra passe que devem colocar no tablet de modo a instalar a aplicação desejada e desta forma estão sempre a par das aplicações que os filhos instalam.

Embora não haja regras estritas estabelecidas, uma outra forma de controle de contolo mais rigoroso é privar as crianças de tecnologias digitais como um castigo. Os pais estão cientes do quanto os seus filhos gostam de usar o tablets e por isso utilizam-nos para discipliná-los, tanto como recompensa ou punição.

I: Utilizam estas tecnologias como punição?

António (PT2f): Se ele não se portar bem tiramos o tablet. (...) Houve um fim de semana que ele se portou mal e eu tirei-lhe o tablet, acabou.

I: Mas é assim um castigo, aquele que vocês sentem que talvez o afete mais ou é um entre outros?

António (PT2f): Afeta bastante. Sim, sim [risos]. Sim, porque ele adora, ele adora jogar.

Apesar das regras, deparámo-nos com duas famílias onde o estilo de mediação parental era de baixo controlo, ou seja laissez-faire, estilo caracterizado pelo baixo envolvimento dos pais nas atividades tecnológicas dos filhos. Ambas as mães referiram que não era necessário definir regras porque os filhos não jogavam excessivamente.

As regras e o controlo estão relacionados com as perceções dos perigos a que as crianças estão expostas. Os pais acreditam que, numa idade tão jovem, as crianças não estão muito expostas a perigos, porque raramente acedem à internet e não comunicam com estranhos. Além disso, os pais não estão plenamente conscientes das habilidades e práticas das crianças. No entanto, elas estão expostas a perigos, particularmente a conteúdo impróprio no YouTube.

I: No YouTube eles já viram algumas imagens que os chocassem?

Luís (PT7f): Às vezes aparece, agora com o Homem-aranha, às vezes aparece o outro...

Mafalda (PT7m): Com uma caveira.

Luís (PT7f): Temos de estar sempre com atenção.

Mafalda (PT7m): Porque depois ele nem vai lá acima [andar de cima da casa] às escuras.

Luís (PT7f): Porque depois se ele estiver a ver coisas dessas nós já sabemos que à noite vamos ter problemas com eles.

A maioria dos pais acredita que, face dos perigos que existem online, o diálogo e a monitorização são mais eficazes do que as proibições, pois temem que a proibição deixe as crianças ainda mais curiosas. Por exemplo, quando a Maria (PT10m) verificou que filha tinha instalado jogos violentos, ela explicou-lhe que esses jogos não eram apropriados para a sua idade e a criança parou de os jogar. Mas a maioria dos pais não sente ainda necessidade de conversar com os filhos sobre os perigos online. No entanto, algumas mães com filhas a partir dos 7/8 anos são mais cautelosas sobre o uso das redes sociais e têm abordado o assunto com as filhas.

Elisa (PT8m): Sobre as amizades no Facebook converso. Explico os perigos. E ela tem visto no telejornal. Eu digo “Vês os perigos do Facebook? Tem coisas boas, fazes muitas amizades, ok. Mas tens que saber que ali há muitas pessoas que te levam para outros caminhos.”

A Catarina (PT4g9) já pediu à mãe autorização para poder criar um perfil no Facebook, mas a mãe não permitiu e explicou-lhe que nunca sabemos quem está por trás de cada perfil a “pedir amizade”. A Lara (PT4m) refere que caso a filha tente aceder ao Facebook proíbe a utilização de todos os meios digitais, “internet, tablet, tudo!”. O estilo parental desta mãe caracteriza-se por ser autoritário, pois a mãe impôs regras às filha, sem qualquer diálogo, esperando obediência. As percepções negativas da mãe relativamente à tecnologia vão ao encontro das suas atitudes.

No caso de pais divorciados as diferenças entre o estilo de mediação parental e nas práticas de utilização de tecnologias eram mais visíveis. Em dois casos os pais eram “utilizadores digitais elevados” e as mães “utilizadores digitais médios” e “baixos”. Consequentemente, as crianças utilizavam os dispositivos por períodos mais longos e para atividades mais diversificadas quando estavam com os pais. Além disso, os pais ensinaram-lhes a executar determinadas tarefas - por exemplo, como telefonar ao pai via tablet - e muitas vezes jogavam com elas.

I: A Andreia [PT3g7] não mencionou tecnologias digitais na rotina dela com a mãe. Ela não usa?

Ana (PT3m): Difere da casa onde ela está. Quando estou lá em casa [do pai] ao pé deles, a primeira coisa que ela faz é ir para a sala agarrar-se ao tablet. Eu falei até com a Patrícia [madrasta], “Faz-me confusão vê-la convosco, é uma criança completamente diferente. Ela comigo não faz isto”. Ela tem comportamentos e hábitos muito diferentes de uma casa para a outra. Incluindo o tablet. Eu já presenciei isso várias vezes, a primeira coisa que ela faz quando chega à casa do pai é perguntar ‘Onde é que está o meu tablet?’ e vai para a sala ver. Tem a televisão em frente e está a jogar com o tablet.

A tabela 1 resume os nossos resultados. Os pais são caracterizados relativamente às suas competências digitais como “baixo”, “médio” e ”elevado” e é identificado o seu estilo de mediação parental (Valke et al., 2010) relativamente ao uso das tecnologias pelos filhos, tendo em conta as atitudes de mediação, apoiando-nos em citações relevantes

 

 

Perceções dos pais sobre as tecnologias digitais

Nos pontos anteriores apresentámos algumas percepções sobre as tecnologias digitais que são comuns à maioria dos pais: eles subestimam as competências digitais dos filhos e acreditam que as suas práticas digitais são mais limitadas do que elas realmente são; e, como consequência eles acreditam que as crianças não estão expostas a perigos numa idade tão precoce, quando de facto estão. Essas percepções são reflectidas na dimensão do estilo de mediação parental (Valke et al., 2010), pois os pais centram a sua monitorização e regras no tempo despendido a jogar, monitorizando ocasionalmente a seleção de jogos e conteúdos online acedidos. Além disso, os pais entendem os meios digitais, em particular o tablet, como um “brinquedo”, em que a sua principal função é o “entretenimento”, desvalorizando o seu potencial pedagógico. Isto reflete-se na dimensão de envolvimento de mediação parental (Nikken & Jansz, 2015), pois os pais não se envolvem regularmente em atividades digitais conjuntas e quando o fazem a mais comum é jogar jogos.

Neste estudo foi possível detetar outro tipo de percepções sobre meios digitais que moldam o estilo de mediação parental. Por exemplo, a maioria dos pais reconhecem estes meios como relevantes - e mesmo indispensáveis - para o futuro dos seus filhos.

Ana (PT3m): Deixá-la brincar com isto ajuda-a a que ela compreenda como é que vai ser o futuro. Ela viverá num mundo em que são todos “cyber”.

De acordo com os pais, os meios digitais facilitam o trabalho e melhoram a vida em geral. Os pais salientam como vantagens proporcionadas pelas tecnologias digitais o acesso rápido e fácil à informação e o contato com a família e amigos que estão distantes. Outros mencionam a sua utilidade para trabalhos escolares, para pesquisas e o facto de que as ferramentas digitais podem promover o desenvolvimento das crianças, ou seja, memória, coordenação óculo-manual, a motivação para leitura e escrita e, principalmente, a autonomia na exploração e resolução de problemas.

Elisa (PT8m): Eu noto que hoje em dia, as crianças, não sei porquê, têm um desenvolvimento muito rápido. Eles fazem coisas, eles vão buscar coisas que nem eu consigo fazer. Mas o meu filho tem 6 anos e faz. O porquê eu não sei. Sei que é algo fora do normal. Ele faz coisas! Há coisas que eu não preciso de ensinar, porque ele aprende tudo. Ele vai buscar tudo no tablet, no telemóvel. Até coisas que eu nem preciso de abrir a boca, porque ele diz “Eu já sei porque eu já vi no teu telemóvel!”

As mães Ana (PT3m), Mónica (PT6m) e Elisa (PT8m) reconhecem ter dificuldade em manter-se a par das práticas digitais dos seus filhos.

As percepções positivas da utilização de tecnologias estão ligadas ao estilos parentais autorizado, e laissez-faire, mas principalmente ao permissivo, onde os pais não proíbem esta utilização, co-utilizando e dialogando com os filhos, reconhecendo-as como estimuladoras de aprendizagens e importantes para o futuro dos filhos.

Não obstante, apesar destas percepções positivas, os pais estão preocupados com as mudanças relativas ao que os filhos entendem como “brincar”, quando comparado com o que os pais consideram de brincadeira. Algumas mães, como Sofia (PT1m), Ana (PT3m) e Mónica (PT6m), referem que preferiam que os filhos brincassem mais ao ar livre, recorrendo à imaginação e criatividade, no entanto também acreditam que tal poderia comprometer as suas habilidades futuras e desempenho escolar/profissional se os impedissem de usar tecnologias. Muitos dos pais - pais e mães - recordam nostalgicamente a sua infância, passada a brincar ao ar livre com os amigos, vivendo em áreas rurais, a jogar jogos tradicionais, a construir e a inventar os seus próprios brinquedos.

Estas questões desaguam numa grande preocupação pela atual substituição do contacto social por tecnologias e a perda de competências sociais. Os pais não gostam que as crianças prefiram brincar com tecnologias do que brincar com outras crianças, temendo pela sua socialização e capacidade de fazer amigos. Alguns chegam a mencionar que seu filho passa muito tempo a jogar e não interage muito com o resto da família.

Ana (PT3m): A parte negativa é a falta de contato, tenho medo que todas aquelas coisas daquelas crianças, que eu sei que há, mesmo de amigos meus, que passam o tempo todo agarrados ao PC, que têm dificuldades na relação com o próximo, têm poucos skills a nível social, e a tecnologia, eu acho que retira precisamente isso. (...) Naquilo que eu puder eu vou mantê-la sempre em contato com pouca tecnologia e mais natureza.

Alguns pais também temem que as crianças se tornem dependentes de tecnologias. Eles também referem que as crianças ficam nervosas, frustradas e muito excitadas quando jogam jogos no tablet por muito tempo. Outros observam que as crianças estão a tornar-se menos resilientes, pois as tecnologias tornam tudo mais fácil e imediato. Elas não tentam superar os problemas, fazer um esforço ou esperar por algo, olham antes para a maneira mais fácil e rápida de obter a satisfação que querem.

 

Conclusão

O objetivo deste estudo foi dar a conhecer as práticas digitais de crianças (com menos de 8 anos de idade) no seu ambiente familiar, mais especificamente em casa. Para além disso, quisemos também verificar quais os estilos de mediação parental dos pais, tendo em conta o uso de tecnologias pelos filhos.

Relativamente à relação entre as práticas digitais dos pais, Valke et al. (2010) referem que a utilização da Internet e as experiências online são preditoras do seu estilo de mediação parental. Os nossos resultados mostram que os baixos utilizadores tendem a ter estilos mais extremos, variando de “laissez-faire” para “autoritário” (embora o “laissez-faire” seja mais frequente). Este é principalmente um resultado do seu baixo envolvimento nas práticas digitais das crianças, enquanto que no que diz respeito ao controlo este possa ser permissivo ou restritivo. Por outro lado, os pais com mais competências digitais, com variados dispositivos e frequentes utilizadores são mais propensos a mediar as práticas online das crianças, embora a sua perspetiva sobre o controlo destas práticas possa ser mais permissiva ou restritiva (geralmente é mais restritivo). Assim, as práticas digitais dos pais têm um peso mais forte no seu grau de envolvimento, enquanto o grau de controlo é moldado pelas suas percepções.

Nikken & Jansz (2015) afirmam também que as percepções e atitudes dos pais em relação às tecnologias digitais influenciam o seu estilo de mediação parental. Esta afirmação é igualmente corroborada pelos nossos resultados, pois os pais que têm percepções e atitudes mais positivas tendem a ser mais permissivos, e os pais com visões mais negativas tendem a ser mais restritivos. Em ambos os casos o grau de envolvimento pode variar, mas é elevado na sua maioria.

Apesar destes resultados, a nossa abordagem qualitativa também revelou que a mediação parental é um processo dinâmico que não só depende de um conjunto mais vasto de variáveis ​​e interdependências, como também está em fluxo permanente. Os pais e as crianças aprendem uns com os outros, exploram as tecnologias e as suas possibilidades e negoceiam regras, num processo que se desenvolve mais ou menos no mesmo ritmo que o crescimento das crianças.

Para terminar, o nosso estudo identificou algumas lacunas importantes entre a percepção dos pais e práticas digitais das crianças, na sua maioria resultantes de estilos parentais com base num baixo envolvimento. Essas lacunas focam-se numa discrepância entre as perceções dos pais relativamente às competências digitais e práticas das crianças, que vão muito além do que os pais pensam; o desconhecimento dos pais sobre a exposição das crianças a riscos online; e também diferentes pontos de vista sobre as regras relativamente a meios digitais em casa e na forma como estas regras são definidas (os pais descrevem o processo como uma negociação e as crianças consideram-no como uma imposição). Por outro lado, pais e filhos compartilham uma percepção que é discrepante da realidade: eles consideram as tecnologias, em particular o tablet, como um brinquedo, o que os leva a ignorar o seu potencial pedagógico.

O fenómeno estudado aqui passa-se em casa das famílias, mas recomendamos o envolvimento de partes externas interessadas, a fim de superar as discrepâncias nas percepções e equívocos identificados. Consideramos que as escolas têm uma posição privilegiada, decorrente da sua proximidade com as famílias, de modo a fomentar a sensibilização, a literacia digital e envolvimento digital. No entanto, elas necessitam de um ambiente político e social favorável que cabe aos decisores políticos construírem. Recomendamos que as escolas trabalhem em articulação com as famílias para promover a conscientização sobre os perigos e riscos, para promover práticas digitais informadas, diversificadas e seguras, com o intuito de integrar plenamente a aprendizagem das crianças numa abordagem holística, que inclui ambas as configurações e agentes formais e informais.

 

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