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Observatorio (OBS*)

versão On-line ISSN 1646-5954

OBS* vol.9 no.4 Lisboa dez. 2015

 

Além-túmulo no Facebook: Vida após a Morte e Luto na Era Digital

Beyond the Grave on Facebook: Life after Death and Mourning in the Digital Age

 

Hugo Ramos*

 *ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, Avenida das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal. Project Manager at Portugal Telecom. (ramosh@gmail.com)

 

RESUMO

Este artigo promove o debate sobre uma área de estudos relativamente recente nos estudos das ciências sociais: os estudos da morte. As nossas identidades digitais são resultado da interacção entre o comportamento social e a tecnologia e sobrevivem aos nossos corpos biológicos. De que forma transpomos os nossos actos e rituais do quotidiano para o mundo digital? Que diferenças foram possibilitadas por essa transposição? De que modo a cultura participativa influenciou as relações de poder e democratizou o processo do luto? Como persistem as nossas identidades num contexto de aproximação à intemporalidade? Através desta análise, poderemos ver como os media sociais promovem a expansão temporal, espacial e social do luto público e dos rituais associados à morte, não de uma forma disruptiva com os meios sociais tradicionais, mas complementando-os, duma forma apenas possível na Era da Sociedade em Rede.

Palavras-Chave: morte, luto, memorial, memória colectiva, persistência da identidade, vigilância, digital enclosure, Facebook.

 

ABSTRACT

This article promotes the debate about a relatively recent area of study of social sciences: death studies. Our digital identities are the result of the interaction between our social behaviour and technology and survive our biological bodies. In what way do we transpose the daily acts and rituals to the digital world? What differences were allowed by this transposition? In what way did the participatory culture influence the power relations and democratise the mourning process? How do our identities persist in a timeless context? Through this analysis we will see how social media expand public mourning and death rituals in temporal, spatial and social ways, not in disruption with traditional social means but as a complement in a way only possible in the Network Society Age.

Keywords: death, mourning, memorial, collective memory, persistence of identity, surveillance, digital enclosure, Facebook.

 

Introdução

Este artigo está organizado em três partes. Na primeira, é feita uma introdução da pesquisa sobre as manifestações de morte e luto na esfera pública digital. Poderemos encontrar últimas mensagens de pessoas falecidas, conteúdos de teor informativo relacionados com os serviços fúnebres, pedidos de familiares à imortalização dos seus entes queridos e produção artística simbólica em honra dos mortos.

Numa segunda parte, é analisado o memorial não só como manifestação de pesar, mas também como tecnologia de vigilância lateral, utilizada para fins institucionais de “memorialização” dos perfis do Facebook. Nesta parte, poderemos verificar, duma forma descritiva, o processo de memorialização do Facebook e comparar também o memorial digital com o memorial tradicional (offline), finalizando com dois estudos sobre a evolução da morte no Facebook.

Relativamente à terceira parte, é analisado o memorial e a construção da memória colectiva na esfera pública, através da participação social no ritual de lembrar os mortos. Nesta parte, poderemos verificar vários tipos de memorial, as novas possibilidades participativas que distinguem os memoriais institucionais dos memoriais digitais e como estas diferenças se manifestam nas relações de poder existentes entre os seus actores.

Na quarta e última parte, analisamos como os media sociais contribuem para a persistência da identidade e imortalidade dos indivíduos na memória colectiva da esfera pública e na tecnologia de armazenamento que possibilita o conceito de intemporalidade, seguida da conclusão.

 

Além-túmulo no Facebook: Vida após a Morte e Luto na Era Digital

Between subdued temporalities and evolutionary nature the network society rises on the edge of forever” — Castells, 2010

Um grande número de pessoas já não vive sem o Facebook, mas o que é que acontece à sua página no Facebook, quando a pessoa já não vive de facto? Esta é uma pergunta que, por certo, poucos dos cerca de mil milhões1 dos seus utilizadores se perguntaram até hoje. Cheryl e a sua parceira, Kelli Dunham, são um dos muitos casais que foram separados pela morte (de Cheryl), levando Kelli a interagir com o perfil da sua companheira, no Facebook, como modo de atenuar a dor sentida naquele momento de tragédia (Buck, 2013). Karin Prangley, uma advogada de 33 anos, de Chicago, passou por outra situação provocada pela morte. Quando tentou adivinhar a password e aceder ao computador profissional do recém falecido sogro, de modo a tentar salvar o negócio de família, chegou à conclusão que, por diversos impedimentos legais na obtenção da senha de acesso e burocracias demoradas nos tribunais, teria de encerrar a empresa (Brill, 2012). Bruce Feiler, jornalista do New York Times, escreveu um artigo online, Mourning in a Digital Age, sobre uma questão com a qual se deparou, depois de seis meses de consecutivos falecimentos de familiares de amigos seus. Feiler, não sabia como lidar com as situações que se lhe depararam a cada morte, especialmente nos casos em que o falecimento ocorrera numa cidade distante, o falecido era muito jovem ou o velório não estava associado a qualquer tipo de instituição religiosa. Feiler perguntou-se, no artigo, como deveria efectuar o luto em situações deste tipo (Feiler, 2012).

Em 16 de Julho de 2012, Anthony Dowdell, proprietário e director criativo de uma empresa de design, cometeu suicídio depois de guiar o seu carro até ao parque de estacionamento do Clube Sam, em Linden, New Jersey, onde foi encontrado pela polícia. Um suicídio como muitos outros, sem motivo aparente, mas que não passou despercebido devido ao seu anúncio público, no dia seguinte, na página do Facebook do próprio, onde se podia ler:

“I am a friend of Anthony's. I wish I could call you all to inform you personally and this is probably a crappy way to find this out but our dear friend Anthony aka Ant aka Dare Dellcan has passed away. It is confirmed. I live around the corner and I have spoken with authorities this evening. I am only sharing this because if I was Anthony's friend, I would want to know too. And I know that Anthony had friends all over the place” (Kaleem, 2012).

No entanto, um dos casos mais mediatizados foi o falecimento de Jessica Ghawi, morta a tiro durante o conhecido tiroteio do Cinema Century em Aurora, Colorado, durante a exibição do filme Batman, The Dark Knight Rises, na qual morreram doze pessoas, no dia 20 de Julho de 2012 (Brown, 2012). Apenas um mês antes, Ghawi escapou de outro tiroteio em Toronto, no Centro Comercial Eaton, quando se encontrava de visita àquela cidade e escreveu o seguinte no seu blog:

”I can’t get this odd feeling out of my chest. This empty, almost sickening feeling won’t go away. I noticed this feeling when I was in the Eaton Center in Toronto just seconds before someone opened fire in the food court. An odd feeling which led me to go outside and unknowingly out of harm‘s way. It’s hard for me to wrap my mind around how a weird feeling saved me from being in the middle of a deadly shooting. What started off as a trip to the mall to get sushi and shop, ended up as a day that has forever changed my life” (Ghawi, 2012).

Ghawi era fã do Twitter e, apenas trinta minutos antes da sua morte, enviou o seu último twitt2 (imagem 1) em resposta a um amigo, referindo que o filme só iria começar dentro de vinte minutos. Os seus pensamentos e todas as suas experiências de vida, desde o momento em que se tornou uma netizen3, ficaram capturadas digitalmente. Os textos ainda permanecem no seu blog, os twitts continuam disponíveis para serem lidos, as fotografias permanecem online para serem vistas e a família e amigos continuam a efectuar o luto e a promover a sua memória através de diversas páginas no Facebook, incluindo uma fundação4 para ajudar talentos desportivos a seguir a carreira do jornalismo.

 

 

Logo no dia seguinte, a sua mãe pediu aos amigos que continuassem a enviar twitts e a partilhar histórias do passado de Ghawi (imagem 2), usando para o efeito a hashtag5 “#RIPJessica”, de modo a facilitar a categorização do tema no Twitter. Desde o dia 21 de Julho de 2012, até recentemente, podemos encontrar twitts dos amigos de Ghawi, bastando para isso pesquisar pela referida hashtag. À data em que este artigo foi escrito, foi possível encontrar diversos twitts em que amigos ainda se lembram de Ghawi e choram o seu desaparecimento. Alguns chegam a deixar mensagens nas quais se dirigem directamente à pessoa que faleceu, dizendo-lhe que sentem a sua falta e referindo que irão visitá-la à sua campa (imagem 3, na página seguinte). Mas estas mensagens não se resumem ao Twitter. Os amigos de Ghawi criaram uma página no Facebook para honrar a sua memória e continuam, ainda, a expressar a sua dor e a enviar mensagens directas à sua amiga através de outras redes sociais. Outras formas de homenagear a pessoa desaparecida é a criação artística simbólica. Algumas destas criações foram também encontradas na página “Remember Jessica Redfield (Ghawi)”6 (imagem 4, na página seguinte).

 

 

 

 

Nos dias de hoje, no Facebook, não é difícil encontrar anúncios públicos de morte entre familiares, amigos, conhecidos ou, até mesmo, desconhecidos. A sua frequência é tão grande que é possível ler um desses anúncios, publicado apenas cinco minutos antes, enquanto escrevemos este artigo (imagem 5, página seguinte). São muitas as estruturas sociais afectadas por este fenómeno. Grupos como a família, os amigos, os colegas da escola os colegas do local de trabalho ou a esfera digital dos contactos do Facebook, mesmo quando não se conhecem pessoalmente, todos, mais tarde ou mais cedo, passam pelo luto, mas todos tiveram um factor em comum: a forma de lidar com a morte na Era dos Media Sociais.

 

 

A sociedade em rede está a mudar a forma como efectuamos práticas de sempre. A apropriação das tecnologias digitais mudou o panorama da comunicação para um paradigma de comunicação em rede, como argumenta Castells (2010, p.xxvi) ou, como argumenta Cardoso, de comunicação mediada por rede (2008, p.589) ou ainda, como argumenta Jenkins, de convergência cultural em constante processo (2006, pp.13-16). A apropriação da tecnologia pela sociedade não mudou apenas a forma como comunicamos, mas também o nosso comportamento, enquanto grupos e enquanto indivíduos. A transposição dos actos do mundo físico para o mundo digital é uma consequência directa do facilitismo e imediatismo da Era da Informação. No entanto, como refere Castells, apesar de ser necessário haver um cuidado especial no relacionamento entre o determinismo tecnológico e as consequências das novas formas e processos sociais, é possível, através de observações empíricas, avaliar os resultados de tais processos e das novas formas de comportamento social no mundo digital (2010, p.71).

 

O Memorial, a “Digital Enclosure” e a Evolução da Morte no Facebook

Só recentemente o tema da morte começou a despertar o interesse dos sociólogos. Tendo alguma lógica por detrás deste aparente desinteresse dos estudos sociais, a morte marca o fim da participação do indivíduo na sociedade e, portanto, saía fora do âmbito das preocupações da sociologia (Giddens, 2009, p.320).

Porém, o tema da morte, no contexto dos media sociais, é, hoje, um tópico generalizado e começou a ser objecto de análise por diversos académicos. É também óbvio que 2013 não foi o primeiro, nem será o último ano em que morreram pessoas com perfis no Facebook. Os falecimentos acontecem todos os dias e, se pensarmos na evolução exponencial do volume de registos no Facebook, as primeiras mortes deverão ter acontecido pouco tempo depois da sua abertura ao público, no ano de 2004.

No entanto, quando terá surgido a consciência para o tratamento das mortes físicas de identidades digitais? No Facebook, foi em 2006, depois da morte de um dos seus colaboradores num acidente de viação. Naquela época, o Facebook tinha apenas quarenta colaboradores e o acidente provocou um choque, previsível, na equipa e, mais particularmente, no seu melhor amigo e colega de trabalho, Max Kelly (Kelly, 2009). Como refere Kelly, as perguntas surgiram rapidamente, numa reunião da equipa: “O que faremos com o seu perfil do Facebook?” e “Como lidar com a interacção com alguém que já não pode entrar no Facebook?”. O posicionamento individual e social perante a morte de alguém é, na maioria das vezes, um acto complexo que se relaciona com memória e respeito pela dignidade do outro. Sobre a morte e a dignidade, Nuland7 escreveu:

"The belief in the probability of death with dignity is our, and society's attempt to deal with the reality of what is all too frequently a series of destructive events that involve by their very nature the disintegration of the dying person's humanity. I have not often seen much dignity in the process by which we die. The quest to achieve true dignity fails when our bodies fail... The greatest dignity to be found in death is the dignity of the life that preceded it" (Nuland, 1994, p.242 citado em Castells, 2010, p.481).

Que melhor forma de eternizar a vida e a dignidade dos mortos, na memória dos vivos, senão deixar o registo digital da sua vida passada disponível para todos? Surgiu, assim, na reunião, a ideia baseada na premissa de que, quando alguém próximo morre, a sua memória não desaparece imediatamente das mentes das suas relações próximas, nem das redes sociais (online e offline) nas quais a pessoa estava inserida. Aparece, então, em 2006, a ideia de “memorializar” os perfis de pessoas mortas, moldando assim um ritual offline numa representação digital do mesmo. Um caso claro em que o determinismo do luto, enquanto processo social, formatou a tecnologia, de modo a que esta proporcione uma nova forma de lembrar e expressar a dor da perda na Era Digital. No fundo, uma nova representação ou processo digital da morte, do luto e dos rituais associados. Sejamos claros, no contexto tecnológico, o processo da memorialização não é mais do que “congelar” o perfil digital de alguém, cortando certas funcionalidades e limitando o espectro de actuação da esfera pública e privada sobre o mesmo. No contexto sociológico, contudo, tem implicações mais extensas. Envolve a memória colectiva, a persistência da identidade e a vigilância sobre os mortos.

Então, como se materializou o processo de “memorialização” no Facebook? Existem alguns aspectos que devem ser referidos. O processo global da memorialização é constituído por alguns sub-processos que se relacionam e complementam entre si e passam pela participação popular na esfera digital e pela vigilância digital sobre esta participação. Existe um relacionamento de troca entre o que é oferecido pela tecnologia para preencher a necessidade social de informar e efectuar luto e o que a tecnologia adquire, em forma de conhecimento, exercendo a relação entre poder e conhecimento que Foucault explica da seguinte forma:

“We should admit rather that power produces knowledge (and not simply by encouraging it because it serves power or by applying it because it is useful); that power and knowledge directly imply one another; that there is no power relation without the correlative constitution of a field of knowledge, nor any knowledge that does not presuppose and constitute at the same time power relations” (Foucault, 1979, p.27).

Para um melhor entendimento sobre a relação de poder existente entre o Facebook e os seus utilizadores, no contexto da memorialização, é importante explicar a relação de conhecimento que a precede. O Facebook instituiu o processo de “memorialização” em 2006, como já foi referido, mas, dado o volume de utilizadores registados e o padrão do seu crescimento, seria impossível aos seus colaboradores verificar, um por um, quem já morreu e quem ainda está vivo. Tendo em conta esta dificuldade, a criação de um tipo de evento (conteúdo) que denuncia a morte de um indivíduo (imagem 6) oferece ao Facebook o conhecimento necessário para memorializar o seu perfil (caso este indivíduo fosse também um utilizador registado), quando utilizado por milhões em todo o mundo. Existe, assim, uma relação de poder entre o agente Facebook e os sujeitos utilizadores deste media social, materializada na transmissão de conhecimento dos sujeitos para o agente, na forma de identificação dos mortos.

 

 

Esta relação entre o Facebook e os seus utilizadores, denunciando a morte de outros utilizadores e produzindo conhecimento utilizável pelo agente na tomada de decisões, consiste numa forma específica de vigilância, conceptualizada por Andrejevic como “digital enclosure” ou “lateral/peer-to-peer surveillance” (2004a; 2004b, p.25; 2006, pp.299-302), como o próprio refere:

“One of the attributes of what I’ve been calling the «digital enclosure» is that it facilitates not only commercial and state monitoring, but also what might be described as lateral or peer-to-peer surveillance. In a culture of constant connectivity and online self- disclosure we can not only keep tabs on our friends and family members via cell phones, e-mail, and IM, but we can check up on new acquaintances or old friends by going online. To «Google» has become not only a verb, but a transitive one whose objects are often friends, acquaintances, significant others, colleagues, and whoever happens to cross the mind of curious Web-surfers. Within the digital enclosure the movements and activities of individuals equipped with interactive devices become increasingly transparent – and this makes monitoring technologies easier to obtain and use. The result is increasing public access to the means of surveillance – not just by corporations and the state, but by individuals” (Andrejevic, 2006, pp.299-300).

Aos utilizadores é dada a possibilidade de criar estes eventos e moderar o acesso de quem pode, ou não, ver o seu conteúdo. Como pretendido pelo Facebook, o evento representa o tipo de obituário existente nos media tradicionais, oferecendo, na esfera pública digital, um novo espaço de informação e criação de memória colectiva. Como podemos ver pelas imagens 7 e 8, a representação digital do obituário é idêntica ao seu congénere dos media offline. A imagem 7 é o obituário do Facebook e a imagem 8 é o obituário de um jornal impresso. Este processo conduz, então, à “memorialização” do perfil da pessoa falecida. Esta página “memorialista” consiste, sobretudo, na continuidade da mesma página que já existia, enquanto perfil, mas com menos funcionalidades e tentando sempre respeitar a privacidade do falecido. Ninguém pode fazer login na conta do perfil, novos amigos não são permitidos (apenas os amigos existentes na data da memorialização continuam na lista de amigos), o perfil não aparece nas sugestões de amizade, não aparece nos aniversários que se aproximam e não aparece nas buscas efectuadas pelo seu nome, entre outras funcionalidades que são cortadas. No entanto, os amigos já existentes na lista de amizades podem continuar a enviar publicações para o mural e podem comentar as publicações já existentes, como refere o responsável de segurança do Facebook, Max Kelly:

 

 

“When an account is memorialized, we also set privacy so that only confirmed friends can see the profile or locate it in search. We try to protect the deceased's privacy by removing sensitive information such as contact information and status updates. Memorializing an account also prevents anyone from logging into it in the future, while still enabling friends and family to leave posts on the profile Wall in remembrance” (Kelly, 2009).

Qual é a frequência de mortes no Facebook e o que pode representar este número no futuro? Em Março de 2010, dois empresários proprietários da empresa Entrustet (mais tarde adquirida pela empresa SecureSafe), Nathan Lustig e Jesse Davis, publicaram um estudo8 no qual referiam a estimativa de mortes que iriam acontecer entre utilizadores do Facebook. Para o ano de 2012, a estimativa apresentava 2,89 milhões de mortos a nível global, 580 mil dos quais, apenas entre cidadãos norte-americanos. Lustig e Davis referem que o nível de crescimento exponencial da base de utilizadores do Facebook fará com que esta estimativa cresça também exponencialmente (Lustig, 2012).

Em Novembro de 2010, outro estudo, elaborado por Jonathan Good, foi publicado no seu blog (imagem 9). Segundo este, também baseado nos cálculos do CDC9 e dados do Facebook, mas agora agregados aos cálculos da CIA10, prevêem que, em 2015, existirão cerca de 50 milhões de perfis de pessoas mortas no Facebook (Good, 2010).

 

 

Assumindo que estes números estão correctos ou, no mínimo, muito próximos da verdade, o Facebook tornar-se-á, muito brevemente, no maior cemitério digital da história da humanidade, sendo, então, o maior contribuinte para a formação da memória colectiva.

Paralelamente a este facto, a preocupação recente com estas revelações e o valor intrínseco das propriedades digitais que os mortos deixam para trás, têm estado na origem do surgimento de diversas empresas. Estas novas empresas, mediante contratos assinados, ficam responsáveis pelos activos digitais dos mortos, desde o dia do óbito, tratando desses activos de acordo com a sua vontade, conforme ficou legalmente registado pela vontade expressa dos seus proprietários. Uma dessas empresas é a SecureSafe11, actual proprietária da anterior empresa de Lustig e Davis, a Entrustet.

 

O Memorial e a Formação da Memória Colectiva

O memorial assume, na sociedade contemporânea, diversas formas e diversas representações simbólicas e, como alguns académicos sustentam, desempenha um papel importante na construção de memória colectiva (Doss, 2002; Ulmer, 2005). A forma mais popular e mais dispersa é o monumento. São muitos os monumentos (onde se incluem estátuas, bustos, réplicas de objectos, construções arquitectónicas e construções artísticas simbólicas) construídos em memória de algo ou alguém, servindo o propósito institucional, em muitos casos proveniente de um passado distante, da formação de memória colectiva (Gillis, 1994). A par dos monumentos existem outros meios de construção de memória colectiva como os selos postais, as moedas comemorativas, as moedas e notas do sistema monetário, as figuras religiosas e os memoriais colocados em cemitérios ou na beira da estrada, estes últimos marcando e “memorializando” o local de um acontecimento trágico relacionado com a morte (imagem 10, página seguinte).

 

 

No entanto, a grande maioria dos memoriais existentes, até à massificação dos media sociais (a sociedade da comunicação mediada por rede, de Cardoso) e aparecimento do memorial digital, era o memorial em forma de objecto institucional. Desde a estátua do Marquês de Pombal, à construção arquitectónica existente na baixa de Lisboa e a permanência das ruínas da Igreja do Carmo, entre outros exemplos, contribuindo para a memória colectiva da tragédia do grande Terramoto de 1755 e consequente reconstrução da baixa lisboeta até ao mausoléu de Lenin (em Russo: мавзолей Ленина), na Praça Vermelha em Moscovo (junto aos muros do Kremlin), contribuindo para a memória colectiva da grande Revolução de Outubro, a qual levou ao extermínio dos membros da família real Romanov (em russo: царская семья Романовых), transformou a Rússia czarista na União Soviética e conduziu o país a uma transição da monarquia para o comunismo

Todos estes monumentos são, de facto, uma demonstração do poder institucional na formação da memória colectiva dos sujeitos: a sociedade civil em geral, levando, por vezes, a formas de resistência a esse poder (as manifestações contra a estátua do soldado do exército vermelho em Tallinn, capital da Estónia) ou aceitação e legitimação desse poder (como no caso do monumento aos combatentes da Guerra do Ultramar, em Lisboa, Portugal).

O ritual de deixar objectos nos memoriais também representa uma prática já antiga. Em muitos locais de memória aos mortos, velas, fotografias, flores e outros objectos são deixados de forma simbólica. Esta prática é recorrente em cemitérios e monumentos em honra de acontecimentos ou pessoas que viveram grandes tragédias. É comum ver flores junto a diversos monumentos aos soldados que morreram na guerra ou, mesmo, junto a um memorial à beira da estrada. Esta forma de participação popular tem vindo a ser transposta para os media sociais duma forma cada vez mais activa, aproveitando a proximidade e facilitismo que estes oferecem aos seus utilizadores. Como já verificámos, na parte inicial deste artigo, os sites de redes sociais representam, cada vez mais, as experiências da vida offline, facilitando, também, a transposição dos rituais associados à morte para o mundo digital. Estes rituais passam pelos diversos tipos de transmissão de informação associada ao evento morte (imagens 2, 5 e 7), pelos “objectos digitais” que são deixados junto ao memorial (imagem 4) e pela mensagem de saudade ou conversa com a identidade digital do indivíduo já desaparecido (imagem 3).

Porém, é importante referir que a participação popular nas redes sociais tem vindo a aumentar a criação não institucional de memoriais, levando a uma democratização do processo de criação e gestão da memória colectiva. O objecto do memorial define que tipo de tragédia ou sentimento de perda será recolhido pela memória colectiva e, a produção popular deste tipo de “monumento digital”, “empodera” os seus criadores duma forma que seria impossível antes da existência de redes sociais. Este era um papel reservado às instituições poderosas, como o Estado, a Igreja ou as corporações ricas em recursos financeiros.

Devido à constante participação popular nestes conteúdos digitais em memória dos mortos, é possível argumentar que o processo da memória colectiva é um processo em constante mutação e evolução, tornando a memória colectiva uma entidade viva e, também, em constante mutação e evolução (este é o motivo pelo qual a palavra “gestão” aparece a negrito no parágrafo anterior). Todo o processo que não se limita a ser criado, sendo, portanto, estático, mas existindo em constante evolução no tempo, está sujeito a um processo contínuo de gestão por parte do seu autor e participantes nas mais diversas formas. Como definida por Halbwachs, memória colectiva é uma:

“current of continuous thought whose continuity is not at all artificial, for it retains from the past only what still lives or is capable of living in the consciousness of groups keeping the memory alive” (Halbwachs citado em Bodnar, 1994, p.11).

A constante participação evolutiva e alteração do memorial muda, também, a formatação da memória colectiva, moldando a sua forma e conteúdo. A memória colectiva transforma-se em algo mais do que a simples soma das suas partes e, ao mesmo tempo, numa ligação social em torno do mesmo objecto. Uma interpretação do presente com base no passado, como sustenta McLuhan:

“We look at the present through a rear-view mirror. We march backwards into the future” (McLuhan, 2005, p.73).

Estamos, então, perante uma convergência de “cultura participatória” de Jenkins que “empodera” e dinamiza a transformação contínua de conteúdos através da re-interpretação e remix, democratizando a produção:

“Fans reject the idea of a definitive version produced, authorized, and regulated by some media conglomerate. Instead, fans envision a world where all of us can participate in the creation and circulation of central cultural myths” (Jenkins, 2006, p.256).

Produção essa que cria, segundo Carpentier, uma dimensão política em torno dos conteúdos, dinamizando, também, as relações de poder, como o próprio afirma:

“I would still like to emphasize that every social process (including cultural participation or participation in the cultural sphere) has a political dimension as it – albeit in varying degrees – is invested with power and conflict” (Jenkins e Carpentier, 2013, p.5).

Benkler suporta a mesma ideia de empowerment, conceptualizando esta participação como “commons-based peer production”, já que se insere numa lógica de troca de informação através de um sistema descentralizado, aberto à esfera pública e totalmente não regulado (2006).

É, portanto, uma construção individual, cronologicamente constante, que constitui a produção cultural de cada personalidade, contribuindo para uma cultura social global, viva, em constante mutação e reveladora de sentido, como o próprio argumenta:

“(...) the networked information environment offers us a more attractive cultural production system in two distinct ways: (1) it makes culture more transparent, and (2) it makes culture more malleable. Together, these mean that we are seeing the emergence of a new folk culture — a practice that has been largely suppressed in the industrial era of cultural production — where many more of us participate actively in making cultural moves and finding meaning in the world around us” (Benkler, 2006, p.15).

Benkler refere, ainda, que as redes online, sendo livremente participativas e permitindo uma nova relação do indivíduo com a esfera pública, democratizam e mudam o papel desempenhado, até aqui, pelos consumidores que, de passivos, passaram a actores e produtores activos (Benkler, 2006, p.272).

 

Very truly I tell you, the one who believes (Facebook) has eternal life12

A frase “À memória eterna de...” ganhou um novo sentido desde a massificação do uso dos media sociais. A existência do indivíduo, após a sua morte, resumia-se aos objectos pessoais que restavam da sua passagem e na memória individual e colectiva dos laços sociais criados durante a sua vida. Hoje, uma parte de “nós” persiste, mesmo depois da nossa morte física: a identidade digital. De acordo com Sundén, a construção da identidade digital é o acto de “type oneself into being” (Sundén, 2003, p.3). A tecnologia, composta pelas bases de dados que armazenam as nossas fotografias, textos, informação pessoal, lista de amigos, publicações e comentários e os servidores de páginas web, que partilham toda esta informação através da Internet, na esfera pública, funciona vinte e quatro horas por dia. O modo como a nossa identidade digital é construída, depende inteiramente do indivíduo, mas, o modo como esta identidade digital está sempre activa e disponível para todos, mesmo depois do indivíduo ter desligado o computador, depende inteiramente da tecnologia. Existe, portanto, uma clara relação entre a nossa identidade digital (construída pelo próprio), passando a ser parte integrante da nossa identidade, enquanto ser humano e ser social e, portanto, uma representação binária do seu autor e a falta de relação ou clivagem entre o indivíduo e a sua disponibilidade digital, persistindo esta na ausência do seu “proprietário”. Assim, não se trata apenas de uma diferença de disponibilidade, enquanto, por exemplo, dormimos, mas, como Varis e Spotti argumentam, a identidade digital ganha vida própria depois da morte do seu proprietário (ou seja, depois do corte definitivo entre o “eu” e a sua representação digital):

“To take Facebook as an example of how our practices and understandings of death and subjectivity will have to change, we see that when someone with a Facebook profile dies, his or her virtual existence starts to live a life of its own. (...) As before, this person will live on in and through the objects that she or he has left behind, and in the memories of others. If he or she happened to have a Facebook profile, he or she will "live on" on Facebook, and here the issue becomes that of subjectivity and agency” (Varis e Spotti, 2011, pp.4,8).

A ideia é simples e complexa ao mesmo tempo. A identidade digital e o seu “eu” são um,  mas, na perspectiva temporal, esta é autónoma, acabando por substituir o “eu”, quando este morre, na memória colectiva da esfera pública.

Consideremos, de uma perspectiva totalmente livre de subjectividade13, que o perfil do Facebook (a identidade digital) é um livro autobiográfico que conta com a participação de todos os indivíduos na lista de amigos desta identidade digital (através de comentários e publicações). O “eu” biológico é o editor principal (contribuindo com “aquilo que eu digo sobre mim”) e os indivíduos na lista de amigos são os co-editores (contribuindo com “aquilo que os outros dizem sobre mim”). Depois da morte do “eu” biológico, esta identidade digital persiste online, vinte e quatro horas por dia, formatando a memória colectiva, mas, ao mesmo tempo, sendo formatada por esta, porque a participação no perfil não é interrompida. Cada nova contribuição (publicação, comentário, fotografia, etc.) adicionada a este perfil, formatará a memória colectiva da esfera que a ele acede, tornando-se em entidades vivas e cronologicamente persistentes na consciência.

Dick Hardt, no seu estilo humorístico, mas brilhante, sustenta este conceito, definindo identidade como “what I say about me and what others say about me (what others say is more trusted!)” (Dayren, 2007). Deste modo, Hardt aponta para uma dicotomia sobre a questão da propriedade da identidade. É algo que nos pertence, mas que é concedido e legitimado por outros.

No entanto, a questão fica ainda mais complexa, quando existe um mediador tecnológico. Assim, a tecnologia armazena e transmite a nossa identidade, representando-nos e legitimando-nos, ao mesmo tempo, duma forma ininterrupta. Por outro lado, o armazenamento da informação que consiste na identidade digital, em bases de dados intemporais, é o que confere a persistência tecnológica ao “eu” binário.

É, neste sentido, que a identidade digital se transforma no “eu” persistente, vivendo na memória colectiva que alimenta e pela qual é alimentada, e nas bases de dados que a tornam tão intemporal quanto elas próprias.

Segundo Brubaker, Hayes e Dourish, a questão da natureza social da morte, quando estudada do ponto de vista dos media sociais, apresenta-se-nos de três formas diferentes e coloca o Facebook num novo patamar de dualidade mediática. Por um lado, existe a perspectiva temporal, permitindo um novo conceito de expansão cronológica das relações interpessoais. Por outro lado, temos a perspectiva espacial, possibilitando a expansão geográfica e global da rede social e, por último, temos a perspectiva social em si, capacitando a expansão dos vários e diferentes contextos nos quais os indivíduos podem interagir e comunicar. Nesta conjuntura, o Facebook assume então um duplo papel. Em primeiro lugar, assume o papel de repositório de informação digital e, em segundo lugar, assume o papel de mediador de uma comunicação assíncrona (Brubaker, Hayes e Dourish, 2013, p.162) e atemporal em representação legítima do “eu” biológico.

Como referimos no início deste artigo, Giddens sustenta que os estudos da morte nunca foram de grande interesse para os sociólogos (e, consequentemente, para as ciências sociais), porque a morte interrompe definitivamente a participação do indivíduo na sociedade (Giddens, 2009, p.320), no entanto, o que Giddens não visionou, ao afirmar esta causa como a génese da falta de interesse nos estudos da morte, foi o facto da persistência da identidade e a vida na memória colectiva e na tecnologia que legitima a continuidade do “eu” permitirem, também, uma continuidade da interacção da sociedade com o indivíduo que morreu.

 

Conclusão

A esfera pública online permite que múltiplas identidades sejam usadas pelo mesmo indivíduo, tornando-se, assim, num alguém diferente, num anónimo ou assumir uma identidade completamente diferente daquela que o seu “eu” representa. No entanto, os media sociais limitam, cada vez mais, as possibilidades de anonimato ou representação alternativa da identidade própria, caracterizando-se como um local onde a identidade digital é uma extensão da identidade própria e não uma alternativa à mesma, contribuindo para uma memória colectiva póstuma mais precisa.

Deste modo, a representação da vida individual e social é transposta para o espaço digital, onde permanece duma forma atemporal e vitalícia (tão vitalícia quanto as próprias bases de dados que a suportam).

Hoje, vemos cada vez mais itens da vida quotidiana acontecerem no mundo digital dos media sociais, levando-nos a acreditar que estamos a usar as novas tecnologias para praticar acções e rituais que já existiam no passado. No entanto, as novas tecnologias permitem algumas novidades na forma como essas acções e rituais são praticados.

Alguns desses rituais que, cada vez mais, são transpostos para o mundo digital, são rituais que envolvem a morte do indivíduo e a transformam em tragédia pública. A troca de informações, o luto e as manifestações de saudade são apenas alguns exemplos dos actos que entraram na esfera pública e que permitiram uma nova forma, mais democrática e mais participativa, de construção da memória colectiva. Estas novas formas de praticar velhos rituais “empoderaram” a sociedade, mudando o seu estatuto de meros consumidores de informação para participantes activos no processo de construção da memória colectiva e persistência da identidade. Stokes argumenta:

“Remembrance is largely a duty of preservation, a duty to, in Blustein’s phrase, ‘rescue from insignificance’ a person whose particularity and unique value threatens to disappear from the world following their biological demise. Persisting electronic presence seems to be a powerful tool for effecting such a rescue” (Stokes, 2012, p.16).

Assim, as novas tecnologias estão a possibilitar a transposição dos actos e rituais antigos para o mundo digital, mas, ao mesmo tempo, estão a introduzir novas formas e possibilidades de participação no contexto que envolve a morte. Novas formas de vigilância lateral, como Andrejevic designa “digital enclosure”, permitem ao Facebook adquirir o conhecimento necessário para exercer o seu poder institucional e promover a memorialização dos perfis de pessoas já desaparecidas. Segundo McLuhan, estamos a viver o presente mediados por uma interpretação do passado que reside na memória colectiva formada nos novos media. Por outro lado, Jenkins argumenta que vivemos uma convergência de participação cultural que, através da re-interpretação e do remix, democratiza a produção e “empodera” os seus participantes, visão complementada pela dimensão política que, Carpentier argumenta, envolve todos os processos sociais, incluindo aqueles de participação, devido ao seu carácter dinamizador de relações de poder. Todos estes processos sociais encaixam, então, na visão “commons-based peer production” de Benkler, visto que consistem na troca de informação num sistema descentralizado e não regulamentado.

O Facebook está a contribuir para a natureza imortal da identidade e para a vivificação da memória colectiva, tornando-a numa entidade viva que evolui constantemente no tempo, formatando a memória colectiva da esfera pública e sendo formatada por esta, numa dinâmica recíproca de participação popular e interacção da sociedade com os mortos.

Até onde vai chegar este armazenamento de informação e transformar o Facebook no maior cemitério digital que a história alguma vez testemunhou? Ainda não é possível saber, mas, poderá levantar questões e problemáticas relacionadas com a área filosófica da ética. A julgar pela natureza definitiva da morte, o número de perfis “memorializados” poderá, no futuro, ultrapassar o número de perfis dos vivos, levando à imortalidade digital. Este poderá ser um indicador que confirma o que Castells afirmou: “the network society rises on the edge of forever” (2010).

 

Referências

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Para Referências Futuras

Sobre a questão da interacção com os mortos, da atitude crítica à obsessão social pela tragédia e para a introdução de subjectividade, juízos de valor e dinâmicas de resistência ao luto como forma de contra-poder na construção da memória colectiva, recomendamos a leitura do artigo “LOLing at tragedy: Facebook trolls, memorial pages and resistance to grief online” (2011) da autora Whitney Phillips (PhD).

 

Agradecimentos

Ao Dr. Mark Andrejevic, pela sua generosidade e disponibilidade ao ter enviado o manuscrito do livro “iSpy: Surveillance and Power in the Interactive Era” e, assim, permitir o enriquecimento da pesquisa efectuada.

Ao Dr. Nico Carpentier, pela sua disponibilidade ao ter enviado o paper “Theorizing Participatory Intensities: A Conversation about Participation and Politics” e, também, permitir o enriquecimento da pesquisa efectuada.

À Dra. Oksana Danchevskaya, pelas traduções de e para a língua russa e pela ajuda na compreensão de alguns acontecimentos no contexto da história da Rússia relativos à “memorialização” e memória colectiva.

 

Date of submission: July 31, 2013

Date of acceptance: July 16, 2015

 

NOTAS

1 Fontes: http://newsroom.fb.com/Key-Facts e http://www.internetworldstats.com/facebook.htm (2 Junho 2013).

2 Designação atribuída às mensagens que são enviadas através da plataforma de rede social Twitter.

3 A palavra netizen provém da junção das palavras Internet e citizen (em português: cidadão). O seu significado está associado a um indivíduo que participa activamente nos media sociais como, por exemplo, o Facebook, o Twitter, os blogs e diversas outras comunidades online.

4 https://www.facebook.com/JessicaRedfieldFoundation

5 Hashtag é uma palavra precedida do símbolo “#” que permite seguir um determinado tema no Twitter. Fazendo uma pesquisa pela hashtag que desejamos, permite-nos encontrar todos os twitts que foram enviados com essa hashtag e que, portanto, estão relacionados com o tema desejado.

6 https://www.facebook.com/RememberingJessicaRedfield

7 Sherwin B. Nuland, cirurgião e historiador da medicina.

8 O estudo apresentado por Lustig e Davis baseia-se nos números relativos aos dados fornecidos pelo Facebook sobre os seus utilizadores e à taxa de mortalidade fornecida pelo CDC (Centers for Disease Control).

9 Centers for Disease Control.

10 Central Intelligence Agency.

11 http://www.securesafe.com.

12 (The Bible, John. 6:47). Adaptação pelo autor.

13 Porque a visão interpretativa (julgamento) que cada indivíduo faz sobre os valores “bom” ou “mau” ou a quantificação do nível de conhecimento que temos sobre alguém, não é o aspecto relevante neste contexto. Apenas o carácter objectivo da persistência da identidade, ou a sua inexistência, na memória colectiva.

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