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Laboreal

versão On-line ISSN 1646-5237

Laboreal vol.12 no.2 Porto dez. 2016

https://doi.org/10.15667/laborealxii0216cdgpt 

EDITORIAL

 

Editorial

Editorial

Editorial

Editorial

 

 

Cecilia de La Garza[1] e Mario Poy[2]

[1] EDF R&D, Management des Risques Industriels 1, Av. Général de Gaulle 92140 Clamart França

cecilia.de-la-garza@edf.fr

[2] Universidad de San Andrés Centro de Investigaciones por una Cultura de Seguridad Industrial Vito Dumas 284 B1644BID - Victoria, Buenos Aires Argentina

mpoy@udesa.edu.ar

 

 

Neste número da Laboreal temos o prazer de propor aos nossos leitores uma série de sete artigos que tratam de dois temas principais. Laurent Vogel e Patrizio Tonelli apresentam-nos uma visão acerca do surgimento do modelo operário italiano e das lutas pela saúde no trabalho, bem como do contexto em que surgiu e outros a que se estendeu. Com efeito, este modelo gerou debates e movimentos internacionais, propagando-se a outros países da Europa e de outros continentes, como Chile, Brasil, Argentina e México. O primeiro autor destaca o contexto social italiano em que se desenvolveu o referido movimento, as suas características distintivas e respetivas finalidades, partindo da constatação de que ninguém possui mais e melhores informações acerca das condições de trabalho do que quem as experiencia no seu trabalho diário. Nesse sentido, a proposta do modelo é a de “dotar” os próprios atores com instrumentos que lhes permitam definir e avaliar os riscos a que são submetidos, património exclusivo, até esse momento, da medicina do trabalho. O segundo autor relata a adaptação deste modelo, anos mais tarde, à realidade chilena, tomando como exemplo três situações de trabalho. Demonstra assim como esse modelo continua a ser atual (apesar de as condições de trabalho terem evoluído) e, em particular, como o referido modelo permite considerar a atividade de trabalho de forma sistémica.

Os quatro artigos seguintes dão continuidade à temática do número anterior da Laboreal, dedicado aos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), questionando acerca da adaptação dos EPI às situações de trabalho e em interação com as exigências da atividade. Ainda que esta parecesse ser uma temática já conhecida e muito desenvolvida, estes estudos revelam que os trabalhadores continuam a enfrentar situações em que o uso dos EPI os impede de realizar a sua atividade ou gera até outros riscos. Este parece ser um fenómeno universal e generalizado em todos os tipos de atividades. Assim, Irène Cottin, Gérard Vallery e Sofiane Dahak relatam o caso do risco biológico num laboratório de contenção em que os trabalhadores tentam conciliar a eficiência com a segurança através do desenvolvimento de estratégias e a adaptação aos EPI. Por seu turno, Luiz Antonio Meirelles, Marcelo Motta Veiga e Francisco Duarte analisam o uso dos EPI na agricultura, destacando as dificuldades de utilização, já que estes não só dificultam a realização da atividade, como também agravam os riscos. Os autores explicam de que forma o processo de validação legal destes EPI, ao não ter em conta a atividade real, acaba por validar EPI desadequados. Ainda dentro do setor agrícola, Marcelo Motta Veiga, Ronaldo Almeida e Francisco Duarte apresentam um estudo em que descrevem o desconforto térmico causado pelo uso dos EPI durante o processo de pulverização de pesticidas. De facto, os EPI dificultam a dissipação do calor gerado pela atividade física e, por conseguinte, o processo de termorregulação corporal. Embora a avaliação da sensação térmica e do desconforto associado seja subjetiva, os autores terminam assinalando a falta de estudos sistemáticos acerca do uso dos EPI no setor agrícola. Terminamos esta série de artigos sobre os EPI com a tradução de um artigo já publicado noutra revista, mas cuja originalidade nos pareceu particularmente interessante. Aída Ponce Del Castillo apresenta-nos de que forma a consideração das mulheres na conceção dos EPI é um tema recente e necessário, tendo em conta as diferenças antropométricas e morfológicas existentes entre homens e mulheres.

Carlos Díaz Cánepa conclui esta série de artigos. O autor evidencia de que forma os processos de mudança organizacional são fenómenos complexos, analisando as abordagens mais relevantes referentes aos processos de mudança organizacional e aos seus efeitos sobre a atividade e as pessoas, aspeto que frequentemente não é tido em conta. Propõe, além disso, uma abordagem para a intervenção na gestão da mudança, baseando-se em estudos de casos reais em organizações chilenas.

Na secção de resumos de teses, apresentamos os resumos de Rose Mery dos Santos Costa Leite e de Corinne Gotteland. O primeiro aborda (a partir de uma metodologia de corte qualitativa) a atividade diária dos gerentes de projetos numa grande empresa do setor petrolífero, no Brasil. Através de uma abordagem clínica e de uma amostra significativa de gerentes, a autora evidencia as características centrais da atividade dos gerentes: deslocações territoriais periódicas, com um elevado impacto na vida social e familiar, e as formas de “naturalização”, como estratégia defensiva, ao mesmo tempo que encontra como invariante o leque de estratégias dos gerentes para enfrentarem contextos de trabalho extremamente imprevisíveis e variáveis. A tese apresenta um interesse adicional, na medida em que a própria autora era gerente na referida empresa, facto que teve um impacto significativo em termos da vigilância metodológica assumida na obtenção e processamento dos dados. O segundo resumo aborda a atividade de prescrição como ação de conceção do prescritor e resultado da sua ação, dirigida a um destinatário específico numa empresa hortícola. A tese foca-se na caracterização dos “marcos iniciais” existentes e dos “marcos secundários”, resultado da atividade do prescritor. A autora mostra, através de uma análise da atividade e de uma série de entrevistas, que a atividade de conceção da prescrição consiste numa série de micro projetos e sequências de conceção realizadas oralmente, na sua maioria, durante a ação e em confrontação com a realidade da situação. A autora considera que é outra forma de encarar a atividade em ergonomia, já que a expressa como a criatividade do “atuar” e modos de projeto singulares.

A secção de textos históricos deste número é dedicada ao psicólogo Ignace Meyerson, sendo precedida por uma justa recensão sobre o autor, a sua obra e contexto, realizada por Annie Weill Fassina e Régis Ouvrier Bonnaz. Os autores traçam um retrato vívido das vicissitudes da vida do autor, do desenvolvimento do seu percurso académico, marcado, no cenário de uma França ocupada, pela sua condição de judeu, e terminando com uma análise detalhada do texto “Para uma psicologia histórica”, prólogo de uma publicação, O Trabalho e as Técnicas, que reúne os trabalhos apresentados nas Jornadas de Psicologia e História do Trabalho e das Técnicas, organizadas por Meyerson em Toulouse em 1941. Este comentário é uma excelente introdução ao texto de Meyerson, que tivemos o prazer de descobrir, e que surpreende não só pelo seu interesse histórico e teórico, mas também por continuar a ser tão atual! Relembra-nos uma parte da história do trabalho e leva-nos a viajar por uma série de disciplinas e conceitos do trabalho, com o objetivo de considerar o Homem “psicológico” na sua totalidade e de forma sistémica.

Terminamos este número com as letras Q e R, que se encontram no domínio da segurança operacional. A letra Q refere-se ao famoso modelo de James Reason, o “Queijo Suíço”. O autor – Diego Turjanski – parte da constatação de que são feitas diversas interpretações do modelo (algumas até totalmente opostas), tanto no mundo académico, como profissional. O autor debruça-se sobre a ideia de que a génese desta situação se deve, em parte, à evolução das próprias ideias de Reason, que inicialmente incidiu mais sobre os mecanismos cognitivos e desempenhos individuais para depois fazer evoluir o seu modelo (e as suas ideias) para uma abordagem de caráter sistémico. Adicionalmente, esta multiplicidade de interpretações do modelo do “Queijo Suíço” estaria marcada pelo peso da inércia gerada pelos modelos que continuam a oferecer um quadro interpretativo aos problemas relacionados com a segurança.

A letra R é dedicada ao conceito de “Resiliência”, cuja definição e caracterização é proposta por Jorge Walter, situando-se deliberadamente na abordagem da engenharia da resiliência e, mais concretamente, descrevendo esta característica dentro das organização, daí o título: Resiliência (Organizacional). Partindo da necessária distinção de que não se trata de uma capacidade do desenho dos sistemas, mas sim do controlo constante exercido sobre eles, o autor incide sobre a capacidade que os sistemas têm para recuperaram o seu funcionamento normal. Além disso, compara este traço aos que associa à gestão de crises, fornecendo múltiplos e variados exemplos, que vão desde a queda das Torres Gémeas, até catástrofes naturais como os tsunamis. No campo relacionado com a segurança operacional (e mais especificamente no campo organizativo), Walter refere as Organizações de Alta Fiabilidade e a capacidade de reconfiguração organizativa que lhes permite capturar os alertas precoces, perante situações de riscos de elevado potencial.

Resta-nos apenas agradecer, pela inestimável colaboração neste novo número da Laboreal, não só aos membros dos comités da revista, mas também aos nossos colegas: Anisio Araújo, Bernard Prot, Francisco Lima, Jean-Luc Tomás , Miriam Wlosko, Soledad Nion, Uiara Montedo y Valérie Pueyo. O cuidado e o tempo dedicados à tarefa de avaliação fazem tornam a sua colaboração extremamente apreciada.

Boa leitura!

 

Cecilia De la Garza e Mario Poy

 

COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO?

De la Garza, C., e Poy, M. (2016). Editorial. Laboreal, 12 (2), 7-9. http://dx.doi.org/10.15667/laborealxii0216cdgpt

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