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Laboreal

versão On-line ISSN 1646-5237

Laboreal vol.11 no.1 Porto jul. 2015

 

O DICIONÁRIO

 

Homenagem a Alain Kerguelen

 

 

Catherine Delgoulet [1] & Béatrice Barthe [2]

[1] LATI (EA 4469) Institut de psychologie, Université Paris Descartes 71 avenue Edouard Vaillant F-92774 Boulogne-Billancourt cedex France

catherine.delgoulet@parisdescartes.fr

[2] Université Toulouse Jean Jaurès, UFR de Psychologie Laboratoire CLLE - LTC, UMR 5263 CNRS, Maison de la Recherche, 5, allée Antonio Machado, 31058 Toulouse Cedex 9 France

beatrice.barthe@univ-tlse2.fr

 

 

Alain Kerguelen deixou-nos a 4 de maio de 2015, algumas palavras para fazer uma homenagem ao nosso querido colega e amigo. Tivemos a oportunidade e o prazer de trabalhar com Alain Kerguelen desde a sua chegada ao Laboratoire Travail et Cognition (LTC, dirigido por Yvon Quéinnec) da Université de Toulouse Jean Jaurès (França). Foi há 20 anos, em meados dos anos 90. Alain tinha já concebido diversas versões do software Kronos, no âmbito das suas atividades no Conservatoire National des Arts et Métiers e, posteriormente, na École Pratique des Hautes Études (Paris), e ele colocou toda a sua inteligência sobre as situações de trabalho e todo o seu saber-fazer em benefício dos nossos trabalhos respetivos de tese. Ele aproveitou essas oportunidades para rever e implementar continuamente novas funcionalidades na sua ferramenta que ele queria que estivesse ao serviço dos ergónomos (investigadores ou interventores). Alain desenvolveu, por exemplo, funcionalidades permitindo:

- uma abordagem coletiva da atividade para facilitar o trabalho de análise das verbalizações espontâneas, a partir das «listas de atributos interpretativos» entre enfermeiras e auxiliares de puericultura de um serviço de neonatologia (Barthe, 1999; Barthe, 2008 );

- uma monitorização integrada de gravações vídeo para a codificação da atividade de aprendizagem no âmbito de formações de assalariados da manutenção ferroviária (Delgoulet, 2000; Delgoulet, 2008);

- uma abordagem longitudinal da vida dos trabalhadores para a retranscrição dos percursos profissionais (as continuidades e ruturas) dos prestadores de cuidados de saúde de um centro hospitalar (Gonon, 2001);

- …

Estas colaborações, cuja lista acima não é exaustiva, foram também ocasião para desenvolver sistemas de captação em tempo real de observáveis (a partir de dispositivos do tipo «Personal Digital Assistant», e depois a partir de tablets) evitando assim as longas horas de retranscrição das recolhas anteriormente realizadas em suporte papel. Elas estiveram sempre ao serviço de um ponto de vista sobre a atividade onde as diferentes dimensões desta (gestos, ações, verbalizações, fenómenos fisiológicos, etc.) e o seu contexto de elaboração não podem ser interpretados uns independentemente dos outros sem reduzir consideravelmente a compreensão do trabalho (Delgoulet, Kerguelen & Barthe, 2000).

Evidentemente, estas evoluções do software Kronos - posteriormente Actogram Kronos -, em estreita ligação com os problemas com que nos deparávamos para dar conta da atividade das mulheres e dos homens no trabalho, estavam completamente associadas a discussões, e mesmo a controvérsias sobre a forma de analisar o trabalho: trocas sempre ricas, às vezes musculadas mas nunca isentas de traços de humor, sobre a nossa reformulação do pedido, sobre as nossas hipóteses de trabalho e sobre as formas como perspetivávamos a sua operacionalização na metodologia de análise.

 

A exigência de Alain era grande, bem como a sua perspicácia para recuperar os elementos pertinentes de cada situação. Alain reconduzia-nos frequentemente até ao sentido do trabalho que queríamos analisar, sobre o que pensavam os trabalhadores, os primeiros em causa, sobre a importância de voltar ao terreno. Ele insistia no princípio de que a ferramenta que concebeu fosse o mais aberta possível (sem grelha predefinida ou catálogo de critérios observáveis a priori) e que éramos nós os responsáveis pelas inovações e escolhas que fazíamos ao longo da investigação.

Esta subtileza e solidez da análise, de que todos beneficiámos durante as nossas teses (Le Bris, Barthe, Marquié, Kerguelen, Aubert & Bernadou, 2012), forneceu-nos um quadro precioso e rigoroso a partir do qual tivemos o grande luxo de criar e bordar o acordo com as nossas problemáticas e aspirações científicas. Declarar hoje o nosso imenso reconhecimento é essencial, mas muito insuficiente face à generosidade de que Alain fez prova durante estes anos de colaboração e de amizade.

 

Catherine Delgoulet & Béatrice Barthe

Agradecemos ao comité editorial da revista Laboreal o facto de nos ter convidado a lhe prestar homenagem.

 

REFERÊNCIAS

Barthe, B. (1999). Gestion collective de l'activité de travail et variation de la vigilance: le cas des équipes hospitalières en postes de nuit longs, Thèse de doctorat nouveau régime, Université Toulouse II, Toulouse.

Barthe, B. (2008). Le travail de nuit à l'hôpital: comment appréhender la dimension collective du travail à partir de l'observation?. In. H. Norimatsu & N. Pigem (Eds.), Les techniques d'observation en sciences humaines (pp. 108-119), Paris: Armand Colin.         [ Links ]

Delgoulet, C. (2000). La formation professionnelle des travailleurs vieillissants: composantes motivationnelles et modes d'apprentissage d'une technique de maintenance ferroviaire. Thèse de doctorat nouveau régime, Université de Toulouse II, Toulouse.

Delgoulet, C. (2008). Apprentissage en binôme. Exemple de codage et d'analyse d'une série temporelle auprès d'agents de maintenance ferroviaire en formation. In H. Norimatsu & N. Pigem (Eds), Les techniques d'observation en sciences humaines (pp. 90-99), Paris: Armand Colin.         [ Links ]

Delgoulet, C., Kerguelen, A., & Barthe, B. (2000). Vers une analyse intégrée des communications et des actions au travail: quelles modalités de leur mise en relation? In B. Mélier & Y. Quéinnec (Eds.), Communication et analyse du travail, Toulouse: Éditions Octarès, pp. 363-375. (XXXVe Congrès de la SELF, Toulouse, 20-22 septembre).         [ Links ]

Gonon, O. (2001). Les régulations organisationnelles, collectives et individuelles en lien avec l'âge, la santé des salariés et les caractéristiques du travail: Le cas d'un Centre Hospitalier Universitaire. Thèse de doctorat nouveau régime, Université Toulouse II, Toulouse.

Le Bris, V., Barthe, B., Marquié, J.-C., Kerguelen, A., Aubert, S., & Bernadou, B. (2012). Advantages of Shift Changeovers with Meetings: Ergonomic Analysis of Shift Supervisors, Applied Ergonomics. Volume 43, Issue 2, March 2012, 447-454.         [ Links ]

 

COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO?

Delgoulet, C. & Barthe, B. (2015). Homenagem a Alain Kerguelen. Laboreal, 11(1), 119-120.

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