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Laboreal

versão On-line ISSN 1646-5237

Laboreal vol.10 no.2 Porto dez. 2014

https://doi.org/10.15667/laborealx0214cdgpt 

EDITORIAL

Editorial

Cecilia de la Garza [1] & Mario Poy[2]

 

[1] EDF R&D, Management des Risques Industriels 1, Av. Général de Gaulle 92140 Clamart France

cecilia.de-la-garza@edf.fr

[2] Universidad de San Andrés Centro de Investigaciones por una Cultura de Seguridad Industrial Vito Dumas 284 B1644BID - Victoria, Buenos Aires Argentina

mpoy@udesa.edu.ar

 

Caros leitores,

Este número da Laboreal tem início com um artigo de Laurent Vogel na rubrica “arqueologia do conhecimento”. Com o seu artigo “Um espelho deformante: notas históricas sobre a construção jurídica das doenças profissionais na Bélgica”, Vogel apresenta um trabalho notável sobre as determinantes sociais que definiram a constituição jurídica da lista de doenças profissionais na Bélgica. A tese central do autor é que os diferentes saberes e conceitos, como o de causalidade, patologia e as instituições sociais, jurídicas e culturais atuam como verdadeiros “filtros” que afetam diretamente o estatuto jurídico de determinadas doenças associadas ao trabalho. É o caso, por exemplo, do cancro e das patologias mentais, bem como a marginalização do trabalho feminino ou a inclusão do trabalho dos imigrantes em verdadeiras “zonas cinzentas”. Para ilustrar esta ideia de forma clara, Vogel assinala como a Bélgica, embora tenha sido um país com uma forte atividade mineira, declarou a silicose como doença profissional com um atraso muito significativo em relação a outros países com atividade similar. Por fim, o autor conclui assinalando que, entre outros fatores, desempenharam um papel importante a monetização dos riscos e o facto de os sindicatos não considerarem a saúde no trabalho como um elemento de luta e negociação, pelo menos numa primeira fase.

Este número continua com a apresentação da segunda parte do dossiê temático dos trabalhos expostos no simpósio Ergonomic Analisys of Work and Training do Congresso da IEA em 2012, no Recife, Brasil. Céline Chatigny faz a introdução ao referido dossiê, retomando os objetivos e áreas de investigação que caraterizam esse tipo de estudos acerca da problemática da formação profissional, que mantém como eixo central a análise da atividade de trabalho. Um dos principais pontos de interesse dos três artigos é o facto de fornecerem reflexões recentes em torno da aprendizagem e de como proceder à sua análise.

O texto de Sandrine de Cortessis apresenta um estudo desenvolvido na Suíça intitulado “Um dispositivo de experimentação para os avaliadores na validação dos adquiridos pela experiência”.

Neste, faz a análise de um dispositivo de Validação de Adquiridos pela Experiência (VAE) destinado a formalizar os conhecimentos adquiridos pela experiência. A investigação centra-se concretamente nas modalidades de trabalho dos avaliadores que participam neste tipo de dispositivos, mediante sessões de regulação que lhes permitem uma ressignificação das suas estratégias de avaliação, ajustando coletivamente a forma de atuar.

No artigo de Claire Tourmen, Annie Leroux e Sylvie Beney “O que se aprende nos primeiros momentos do trabalho e como?” as autoras interessam-se pela questão do tempo de aprendizagem e nomeadamente pelos primeiros momentos de aprendizagem profissional de assistentes sociais em França. É visível como a análise da atividade permite identificar situações significativas para a aprendizagem que são identificadas pelos praticantes de forma distinta e em diferentes momentos (reuniões, vivência, observação de um papel).

O artigo de Céline Chatigny, “A saúde e a segurança dos estudantes num centro de formação profissional: Abordagens, representações e género”, apresenta uma situação que poderia ocorrer em qualquer país entre formações e géneros. A autora demonstra, através de um estudo das problemáticas da saúde e segurança em centros de formação de Eletromecânica e de Cabeleireiros no Canadá, como os alunos têm representações sumamente diferentes acerca da sua saúde e segurança e como estas podem estar marcadas pelo género e por estereótipos sobre ofícios femininos/ masculinos. Tal acontece, sobretudo, com as mulheres que lutam para integrar-se em meios fortemente masculinos.

Continuando com a temática da análise da atividade do trabalho e da formação, na rubrica “resumos de teses”, Jeanne Thébault apresenta, através de um estudo quantitativo e qualitativo, uma investigação intitulada “A transmissão profissional: processo de elaboração de interações formativas em situação de trabalho. Uma pesquisa realizada junto à equipe de cuidados em saúde de um Centro Hospitalar Universitário”. Esta investigação tem como eixo central as modalidades de interações formativas entre o pessoal interno e os recém-chegados à equipa, no setor hospitalar. O estudo desenvolve-se, mais concretamente, em três setores (cirurgia cardíaca, reumatologia e reabilitação) e mostra de que forma se integra a atividade de formação na atividade quotidiana dos profissionais envolvidos nesses setores. A autora identifica, assim, três modalidades de interação formativa: «colocação entre parêntesis», «aproveitar a oportunidade» e «para além do binómio», dependendo da sua escolha da carga de trabalho e dos imprevistos nas tarefas quotidianas dos serviços estudados.

No que diz respeito aos “textos históricos”, Régis Ouvrier Bonnaz selecionou o texto de Karnas e Salengros “A análise do trabalho trinta anos após Ombredane e Faverge”. Através deste texto, poderemos verificar como a análise do trabalho em ergonomia continua a ser atual 60 anos depois. Tal como evidencia Anne Lancry no seu comentário introdutório ao texto mencionado, os métodos evoluíram e adaptaram-se, tendo incorporado técnicas das ciências sociais e humanas. Da mesma forma, a análise do trabalho explorou âmbitos profissionais bastante distintos. No entanto, quaisquer que sejam os métodos ou situações estudadas, a análise da atividade continua a ser o cerne do problema, como resultado da atividade desenvolvida, construída e aprendida pelos trabalhadores, seja qual for a sua função, formação ou nível hierárquico.

No “dicionário”, e seguindo a ordem alfabética, apresentamos a letra I de “informação” e J de “jubilação”.

Para a primeira definição – “informação” – Javier Barcenilla apresenta na sua análise a passagem de uma dimensão física a uma dimensão mais mental do conceito. Tal como assinalam Karnas e Salengros no texto histórico, a análise da atividade cognitiva é um aspeto cada vez mais relevante da atividade dos trabalhadores. Neste sentido, Barcenilla traça um percurso da construção de modelos e técnicas específicas para poder inferir e compreender a forma como as pessoas tratam a informação, o sentido que lhe atribuem dentro do seu contexto laboral, a utilização que dela fazem para se adaptarem, aprenderem e desempenharem a tarefa prescrita.

Quanto à definição do conceito “jubilação”, Corinne Gaudart propõe um percurso histórico breve e preciso, associando as condições de trabalho e o envelhecimento. Põe também em evidência a forma como o ciclo vital "ternário", produto do paradigma fordista – educação, trabalho e jubilação numa idade fixa – está seriamente a ser posta em causa nos dias de hoje. A autora volta a assinalar a estreita relação entre trabalho e jubilação, deixando claro que esta última é um processo construtivo (ou destrutivo) intimamente relacionado com a atividade de trabalho e que, por isso, é determinante levar em consideração a duração da vida profissional e o momento da jubilação. Gaudart insiste também na necessidade de considerar a experiência laboral como positiva, os trajetos e as carreiras profissionais como construtivos e fontes de desenvolvimento de saberes, capacidades, experiências e saúde, para poder chegar em bom estado de saúde à jubilação.

Assim, neste número oferecemos ao leitor conteúdos transversais em torno da análise da atividade, da formação e de questões ligadas à saúde e ao trabalho.

Obviamente, este número não poderia existir sem um trabalho coletivo e, por isso, gostaríamos de agradecer a todos os peritos que, com o seu trabalho, contribuíram para a qualidade dos artigos de forma ativa e positiva. Agradecemos igualmente aos tradutores, e em especial à Juliana Barros, doutoranda de Selma Lancman da Universidade de São Paulo, aos revisores e a todas as pessoas que se ocupam do design e da publicação online deste número.

Um agradecimento também a todos os autores que, com os seus trabalhos, permitiram que um novo número da revista pudesse chegar aos nossos leitores.

Finalmente, gostaríamos de partilhar convosco duas boas notícias: a revista aderiu à Crossref, o que permite que todos os artigos do ano de 2014 já tenham DOI; mas ainda mais importante é referir que a Laboreal acaba de ser indexada na SCIELO (Scientific Electronic Library Online), uma biblioteca electrónica que integra uma rede ibero-americana de coleções de revistas científicas em texto integral e que oferece um acesso aberto, livre e gratuito.

Boa leitura,

 

COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO?

De la Garza, C. & Poy, M. (2014). Editorial. Laboreal, 10(2), 7–9. http://dx.doi.org/10.15667/laborealx0214cdgpt

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