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Revista Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia

versão impressa ISSN 1646-2122

Rev. Port. Ortop. Traum. vol.21 no.2 Lisboa jun. 2013

 

CASO CLÍNICO

 

Fratura coronal do osso ganchoso

 

Rui RochaI; André SarmentoI; André CostaI; Andreia FerreiraI; Pedro CanelaI; Rolando FreitasI

I. Serviço de Ortopedia.Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/ Espinho. Vila Nova de Gaia. Portugal.

 

Endereço para correspondência

 

RESUMO

Objetivo: A fratura do osso ganchoso é uma lesão rara correspondendo a 2-4% das fraturas do carpo tendo uma grande percentagem de atraso no diagnóstico. Pode atingir o corpo ou a apófise (sendo esta a mais frequente). O ganchoso promove a estabilidade dos 4º e 5º metacarpianos e qualquer alteração na sua geometria pode resultar em artrose ou impotência funcional.

Descrição: Os autores apresentam um doente do sexo masculino com 3 semanas de evolução após fratura da base do 4º metacarpiano, com clínica de dor na região cubital do punho, diminuição da força de preensão e compressão do nervo cubital. Constatou-se fratura coronal do osso ganchoso e o doente foi submetido a osteossíntese do ganchoso com libertação do canal de Guyon. Avaliou-se o doente subjetiva e objetivamente 2 e 4 meses após a cirurgia, utilizando como critérios a satisfação do doente, o questionário DASH e estudos de imagem. Encontra-se satisfeito com o resultado obtido, sem dor local, com força de preensão mantida, sem clínica de compressão cubital, tendo retomado a sua atividade profissional.

Comentários: As fraturas coronais do osso ganchoso são raras e geralmente cursam com fraturas da base do 4º metacarpiano. São de difícil avaliação com reiterados atrasos de diagnóstico. Sempre que existir uma fratura da base do 4º metacarpo com encurtamento do raio ou se a clínica não coincidir com a imagiologia, deve-se aprofundar a investigação. A fixação das fraturas coronais do osso ganchoso é importante para a estabilidade cárpica e tem bons resultados na literatura.

Palavras chave: Osso ganchoso, articulações carpometacárpicas, osteossíntese, fratura.

 

ABSTRACT

Objective: A hamate fracture is a rare injury corresponding to 2-4% of carpal fractures and has a large percentage of delayed diagnosis. It may reach the body or apophysis (this being the most common). The hamate promotes the stability of the 4 th and 5 th metacarpal and any change in its geometry can result in arthritis or functional impairment.

Description: The authors describe a male patient with 3 weeks of development after fracture of the 4th metacarpal base with clinical pain in the ulnar wrist, decreased grip strength and compression of the ulnar nerve. It was found a coronal fracture of the hamate and the patient underwent osteosynthesis with the release of Guyon's canal. The patient was evaluated subjectively and objectively 2 and 4 months after surgery, using criteria such as patient satisfaction, the DASH questionnaire and imaging studies. The patient is satisfied with the result obtained without local pain, grip strength maintained with no clinical cubital compression, having resumed his occupation.

Comments: The coronal bone fractures of the hamate are rare and usually occur with fractures of the base of the 4th metacarpal. Whenever there is a fracture of the 4th metacarpal base with shortening of the radius or if the clinic does not match the imaging, should further research be optimized. The fixation of coronal fractures of the hamate is important to obtain carpal stability.

Key words: Hamate bone, carpometacarpal joints, osteosynthesis, fracture.

 

INTRODUÇÃO

A fratura do osso ganchoso é uma lesão rara, correspondendo a 2-4% das fraturas do carpo, sendo uma patologia pouco descrita na literatura[1]. Pode atingir o corpo ou a apófise (sendo esta mais frequente). O ganchoso é um osso que ajuda a promover a estabilidade dos 4º e 5º metacarpianos e qualquer alteração na sua geometria pode resultar em artrose cárpica ou impotência funcional com perda de mobilidade e de força de preensão[2].

A lesão coronal ocorre quando o 4º e 5º metacarpianos sofrem uma carga axial ou subluxam posteriormente[1]. A imagem da radiologia cárpica convencional pode ser obscura e pouco esclarecedora pois o fragmento ósseo não é facilmente visível. O diagnóstico diferencial deve sempre incluir as fraturas/luxações do piramidal ou de qualquer outro osso do carpo limítrofe. Outros critérios para suspeitar desta lesão são a fratura da base do 4º metacarpiano com encurtamento concomitante desse mesmo raio e uma disparidade evidente entre a clínica e os exames de imagem obtidos. As lesões coronais normalmente apresentam instabilidade e necessitam consequentemente de fixação interna[3]. A radiografia do punho com 30º de pronação é a melhor incidência para caracterizar a fratura, o seu desvio ou mesmo a luxação articular inerente[1, 4 - 6]. Em caso de dúvida ou para estudo e planeamento pré-cirúrgico a tomografia axial computorizada deve ser realizada.

 

CASO CLÍNICO

Doente do sexo masculino, 26 anos de idade, empregado da construção civil. Sem antecedentes médicos ou cirúrgicos e sem medicação habitual antes do traumatismo. Deu entrada no Serviço de Urgência com história de traumatismo axial do punho com três semanas de evolução tendo, na altura, sido imobilizado no mesmo Serviço com tala de gesso antebraquipalmar com o punho em posição neutra e flexão metacarpofalângica. Apresentava três semanas depois clínica de dor mantida na região cubital do punho, diminuição da força de preensão e compressão do nervo cubital.

Radiologia do punho (face e perfil): fratura da base do 4º metacarpiano (Figura 1). Pela manutenção das queixas foi requisitada uma Tomografia Axial Computorizada que descreveu uma fratura coronal do osso ganchoso e da base do 4º metacarpiano (Figura 2).

 

Figura 1

 

Figura 2

 

O doente foi submetido a osteossíntese do ganchoso com dois parafusos e libertação do canal de Guyon.

Na avaliação aos 4 meses após cirurgia o doente encontrava-se satisfeito com o resultado obtido, sem dor local, um score DASH de 78 pontos, com força de preensão mantida, sem clínica de compressão cubital, tendo retomado a sua atividade profissional (Figura 3).

 

Figura 3

 

 

DISCUSSÃO

Este caso clínico está de acordo com os descritos na literatura, até no que diz respeito ao atraso no diagnóstico. Como são lesões raras ou raramente diagnosticadas, as referências bibliográficas não são muitas. Mesmo assim encontra-se uma proposta de classificação por Cain et al[7]: tipo Ia – luxação ou subluxação carpometacárpica sem fratura do ganchoso; tipo Ib – igual à primeira com fratura/avulsão do osso ganchoso; tipo II – luxação com fratura cominutiva da vertente dorsal do ganchoso; tipo III – luxação com fratura coronal do ganchoso (equivalente ao caso descrito).

Quanto ao tratamento proposto estão descritas várias formas: conservador, redução e fixação com fios de Kirschner, redução e osteossíntese com parafusos. O tratamento conservador apresenta várias contraindicações com exceção do tipo Ia, como sendo a necessidade de imobilização prolongada, a dificuldade evidente de reavaliação com possibilidade de perda de redução e consequentemente maior risco de instabilidade, pseudartrose e desenvolvimento de artrose pancárpica. As lesões tipo II e III devem ser tratadas cirurgicamente, dependendo o método de tratamento do timing cirúrgico, sendo possível a fixação, a osteossíntese ou mesmo a artrodese carpo-metacárpica[8].

As descrições de atraso no diagnóstico vão de dias a meses[9]. A suspeita diagnóstica deve sempre levar em conta o mecanismo lesional, a dor e deformidade na região cubital do carpo, a instabilidade (difícil de avaliar), a fratura concomitante da base do 4º metacarpiano e a dissociação clínico-imagiológica. Uma referência ainda para as fraturas isoladas do ganchoso, tão raras que se deve suspeitar da presença de um osso ganchoso bipartido, sendo aconselhável obter imagens do punho contralateral.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Thomas AP, Birch R.. An unusual hamate fracture. J Hand Surg [Br]. 1983; 15: 281-286        [ Links ]

2. Zoltie N.. Fractures of the body of the hamate. Injury. 1991; 22: 459-462        [ Links ]

3. Berquist TH. Imaging of orthopedic trauma and surgery. Philadelphia: Saunders; 1986.         [ Links ]

4. Terrono A, Ferenz C.. Displaced intra-articular coronal fracture of the body of the hamate treated with a Herbert screw. J Hand Surg. 1988; 13-A: 619        [ Links ]

5. Ebraheim NA, Skie MC, Savolaine ER, Jackson WT. Coronal fracture of the body of the hamate. J Trauma. 1995; 38 (2): 169-174        [ Links ]

6. Bora W, Didizian N. The treatment of injuries to the carpometacarpal joint of the little finger. J Bone Joint Surg. 1974; 56-A: 1459        [ Links ]

7. Cain JE, TR Shepler, Wilson MR. Hamatometacarpal fracture-dislocation: classification and treatment. J Hand Surg [Am]. 1987; 12: 762-767

8. Garcia Elias, Abanco M, Salvador J, Sanches E. Crush injury of the carpus. J Bone Joint Surg [Br]. 1985; 67-B: 286-289        [ Links ]

9. Henderson J, Arafa M. Carpometacarpal dislocation: an easily missed diagnosis. J Bone Joint Surg [Br]. 1987; 69-B: 212-214        [ Links ]

 

Conflito de interesse:

Nada a declarar

 

Endereço para correspondência

Rui Rocha
Rua Particular das Regadas nº28 ap. 3.1
4400 340 Vila Nova de Gaia
Portugal
ruimiguelreisrocha@gmail.com

 

Data de Submissão: 2012-12-12

Data de Revisão: 2013-03-11

Data de Aceitação: 2013-04-12

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