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versão impressa ISSN 1646-107X

Motri. vol.14 no.1 Ribeira de Pena maio 2018

 

ARTIGO ORIGINAL   |   ORIGINAL ARTICLE

 

Aplicativos de anatomia humana em dispositivos móveis: uma revisão sistemática

 

Human anatomy apps in mobile devices: a systematic review

 

 

Victor José Timbó Gondim1; Ingrid Correia Nogueira1; Auzuir Ripardo de Alexandria2; Daniel Cordeiro Gurgel3; Valden Luis Matos Capistrano Júnior1; Edgar Marçal de Barros Filho1

1Unichristus Ceará
2Instituto Federal do Ceará
3Universidade Federal do Ceará

Correspondência para

 

 


RESUMO

Nos últimos anos, o ensino na área de anatomia humana sofreu grandes modificações junto com um notável crescimento dos usuários de dispositivos móveis e dos aplicativos (apps), incluindo os de anatomia. Este artigo objetiva fazer uma revisão sistemática do impacto no desempenho académico dessas apps e das características dos mais baixados. Foi realizado uma revisão sistemática nas bases de dados MEDLINE, Pubmed, Embase, Cochrane e Web of Science. As palavras-chave incluíram uma combinação de termos referentes ao uso de aplicativos para ensino de anatomia: "anatomy", "mobile applications”, “medical education” e "education". Os apps foram selecionados no sistema iOS da Apple. Inicialmente, foram levantados 184 artigos, permanecendo 6 após leituras detalhadas. De 240 mais baixados, 12 (5%) são específicos para anatomia, sendo todos gratuitos. A maioria (9) englobava os principais sistemas e órgãos, sendo 3 deles com focos específicos (músculos, ossos e ossos + músculos). Há uma pequena produção científica no efeito no desempenho acadêmico e na usabilidade de apps em anatomia humana, a despeito de uma quantidade elevada de aplicativos disponíveis para download.

Palavras-chave: anatomia, aplicativos móveis, educação.


ABSTRACT

In recent times, teaching human anatomy suffered great changes as an increasing number of mobile devices and due applications (apps) were available to users. This paper aims to perform a systematic review on the characteristics of the most downloaded apps as well as on the impact of such apps in academic performance. A systematic review was performed using databases MEDLINE, Pubmed, Embase, Cochrane and Web of Science. The keywords included combinations of word related to the use of apps in human anatomy teaching: "anatomy", "mobile applications”, “medical education” and "education". Selected apps belong to Apple iOS system. Initially, 184 papers were identified and 6 remained after selection criteria. Out of the 240 most downloaded apps, 12 (5%) are anatomy specific and free. Nine of these included the major human systems and organs and 3 of them were dedicated to specific tissues (muscles, bone or muscle and bones). Despite a large availability of apps, there is a small scientific production on the usability of human anatomy apps and on their effect on academic performance.

Keywords: anatomy, mobile applications, education.


 

 

INTRODUÇÃO

O advento das tecnologias móveis vem revolucionando o aprendizado (Vogel, Kennedy, & Kwok, 2017).  O paradigma Mobile Learning (ou m-Learning) surgiu a partir da utilização das ferramentas da computação móvel (e.g. smartphones, tablets, redes sem fio) como parte de um modelo de aprendizado integrado (Marçal, Andrade, & Rios, 2005) No contexto atual de estudo, com demandas maiores de conteúdo e atividades, essas tecnologias são um método de fácil acesso, de transporte simples e uso mais prático que os computadores, o que possibilita a disponibilização de uma variedade de conteúdos das mais diversas áreas do saber (Evans, 2008).

No contexto do ensino da complexa anatomia humana, há uma tendência a reduzir estudos com cadáveres, tendo algumas instituições de ensino superior já abolido completamente esse método (Turney, 2007). Sabe-se que o domínio intelectual nessa área é essencial para a propedêutica, diagnóstico e tratamento.  Nesse cenário, há necessidade de técnicas inovadoras que, no mínimo, complementem as opções didáticas tradicionais (Irby & Wilkerson, 2003).

Nos últimos anos, o ensino anatômico sofreu grandes e variadas modificações, englobando desde modificações curriculares até novas modalidades, como as abordagens tecnológicas interativas. Nesse novo cenário, entram didáticas de Estudos Baseados em Problemas, modelos plastinados e sintéticos, pinturas corporais, softwares, realidade virtual, dentre outros  (Estai & Bunt, 2016; Fruhstorfer, Palmer, Brydges, & Abrahams, 2011; Tam, Hart, Williams, Holland, Heylings, & Leinster, 2010).

Adicionalmente, houve um notável crescimento dos usuários de dispositivos móveis (Lewis, Burnett, Tunstall, & Abrahams, 2013).  Em 2011, uma pesquisa de mercado estimou que 72% dos médicos dos Estados Unidos usa um smartphone (Ozdalga, Ozdalga & Ahuja, 2012). Tudo isso gerou um aumento do número de aplicativos ("apps") em geral, incluindo para estudo de anatomia, porém com poucos estudos para avaliar o impacto no desempenho acadêmico (Lewis, Burnett & Tunstall, 2013; Ozdalga, Ozdalga, & Ahuja, 2012).

O presente artigo objetiva fazer uma revisão sistemática das produções científicas referente ao uso de aplicativos em anatomia humana e o impacto no desempenho intelectual, bem como das características dos aplicativos mais baixados disponíveis na plataforma Apple (com o sistema operacional iOS).

 

MÉTODO

Uma revisão sistemática da literatura científica foi realizada nas plataformas MEDLINE, Pubmed, Embase, Cochrane e Web of Science. As palavras-chave incluíram uma combinação de termos referentes ao uso de aplicativos para ensino de anatomia: "Anatomy", "Mobile Applications”, “medical education” e "education". A estratégia completa de busca foi obtida junto dos autores, sob solicitação. O levantamento incluiu artigos publicados desde o início da base de dados até o 1o dia do mês de novembro de 2017.

Foram pesquisados artigos transversais, prospectivos e retrospectivos, em português, inglês ou espanhol, que apresentassem ferramentas para o ensino de anatomia humana no ensino na área de saúde para uso em telefones celulares e tablets e seu impacto no desempenho acadêmico e/ou usabilidade. Artigos com foco exclusivo em doenças foram excluídos.

Cada título foi revisado por 2 investigadores independentes para inclusão e exclusão, após treinamento. Discrepâncias foram discutidas a fim de encontrar consenso. A mesma metodologia foi aplicada para a análise de resumos e artigos completos.

Para todos os artigos que contemplaram os critérios de inclusão, foram registados o ano de publicação, o primeiro autor, país de origem, tipo de aplicativo, as plataformas de uso, o instrumento avaliado e a conclusão dos autores.

Foram selecionados para análise os apps para dispositivos móveis iOS (iPhone e iPad) que focassem especificamente no estudo de anatomia humana, classificados na seção "medicina”, disponíveis no endereço eletrônico https://itunes.apple.com/br/genre/ios-medicina/id6020?mt=8. Dentre esses, optou-se por aqueles classificados como populares.

 

RESULTADOS

Os resultados foram apresentados de acordo com as diretrizes PRISMA para revisões sistemáticas e metanálises(Liberati, Altman, Tetzlaff, Mulrow, Gøtzsche, & Ioannidis, 2009). Inicialmente, 184 artigos foram identificados. Após revisão dos títulos e resumos, foram excluídos 171 artigos, restando 13 para leitura do texto completo, conforme representado na figura 1. Nesse refinamento inicial, 1 trabalho foi excluído por estar duplicado nas bases de dados, 148 por incompatibilidade de títulos e 22 após leitura do resumo.

Dos 13 títulos que permaneceram para leitura do texto completo, foram excluídos 5 deles por apresentar informações confusas ou incompletas.

A descrição dos estudos selecionados encontra-se sumarizada na tabela 1. Permaneceram na presente revisão 6 artigos, dos quais 1 sobre membrana timpânica, 1 estudando cérebro, 2 de anatomia geral e 1 de plexo braquial. Dois dos estudos selecionados objetivavam avaliar o exclusivamente o desempenho com o uso da ferramenta, enquanto outro dissertou sobre o desenvolvimento e aplicou testes de usabilidade. Os demais procuraram relatar o desenvolvimento e o impacto no desempenho intelectual. Nenhum estudo utilizou protocolos de validação.

Figura 1. Processo de identificação, triagem e seleção de estudos para revisão sistemática

Tabela 1

Perfil dos artigos sobre aplicativos em anatomia humana

Tabela 2

Aplicativos de anatomia humana populares para download para dispositivos móveis Apple

De 240 apps mais baixados na plataforma Apple, 12 (5%) são específicos para o estudo de anatomia humana, sendo todos gratuitos. Todavia, 8 deles possuem opções de compra para acesso completo às funcionalidades da plataforma, o que corresponde a 66,66% dentro do grupo de apps mais populares de anatomia. A maioria (9) englobavam os principais sistemas e órgãos, sendo 3 deles com focos específicos (músculos, ossos e ossos + músculos). Com relação aos dispositivos onde poderiam ser usados, 10 deles foram feitos para uso em celulares e tablets e 2 exclusivos para smartphones. O tamanho das apps variou de 10,6 até 607 megabytes. Os achados descritos encontram-se sumarizados na tabela 2.

 

DISCUSSÃO e CONCLUSÕES

O presente estudo cumpriu com o objetivo de levantar os artigos na literatura acerca do ensino de anatomia humana para profissionais de saúde, bem como das características dos aplicativos populares disponíveis para download na loja virtual de aplicativos da Apple. Optou-se por esse caminho de pesquisa por conta da elevada percentagem de mercado em uso e aplicativos de saúde (Ozdalga, Ozdalga, & Ahuja, 2012).

Comparando-se com outras linhas de pesquisa, verifica-se que estudos sobre o impacto de apps de anatomia no desempenho dos alunos ainda são escassos na literatura, bem como de pesquisas que abordem a usabilidade dos mesmos. Sabe-se que a usabilidade é uma maneira de mensurar a eficácia, a efetividade e satisfação do usuário na navegação de uma ferramenta. Boa usabilidade pode resultar num bom aprendizado (Sandars, 2010).

Apesar de existirem apps de diversos países disponíveis para download, somente foram localizadas produções científicas em poucos países, principalmente os de língua inglesa (Estados Unidos, Inglaterra e Austrália), o que mostra ainda um vasto campo a se explorar em diferentes localidades do mundo.

Notou-se também, nos estudos selecionados que a amostra estudada ficou restrita a médicos e estudantes de medicina, o que também mostra potencial para estudo com população em outros profissionais de saúde.

Apesar de 2 estudos não terem encontrado significância estatística e um deles ter abordado apenas a usabilidade, os demais não tiveram essas limitações. Isso condiz com achados encontrados na literatura em outras plataformas e/ou temas em tecnologia (Archibald, Macdonald, Plante, Hogue, & Fiallos, 2014; Baumgart, Wende, & Grittner, 2017; Wallace, Clark, & White, 2012; Davis, Garcia, Wyckoff, Alsafran, Graygo, Withum, & Schulman, 2012; Pate, Chapman & Luo, 2012; Tews, Brennan, Begaz, & Treat, 2011).

Dentre os aplicativos mais populares para dispositivos móveis Apple, aqueles que se destinam a estudos anatômicos representam uma porcetagem notável, com exclusividade dos gratuitos. Considerando o fato do modelo de smartphone com menor espaço disponível no site oficial da Apple ser de 32 gibabytes, verifica-se que os apps ocupam espaços ínfimos para as possibilidades que oferecem (Krauskopf & Farell, 2011).

Como limitação, a maior dificuldade que os autores encontraram foi localizar estudos com foco metodológico na proposta contemplada nos objetivos, o que permite sugerir mais estudos no tema.

Sugere-se mais estudos com os apps desenvolvidos para avaliar os aspectos já citados de usabilidade e impacto na performance estudantil em profissionais de saúde.  Pesquisas do tipo ensaio clínico randomizadas nessa área poderiam se somar, tendo potencial para gerar, quem sabe, uma metanálise e com isso ter níveis de evidência mais sólidos acerca do impacto dessas ferramentas.

Há, até o momento, uma pequena produção científica no efeito no desempenho acadêmico e na usabilidade de apps em anatomia humana, a despeito de uma quantidade elevada de aplicativos disponíveis para download.

 

REFERÊNCIAS

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Agradecimentos:
Nada a declarar
Conflito de Interesses:

Nada a declarar.
Financiamento:
Nada a declarar.

 

 

Correspondência para: Centro Universitário Estácio do Ceará. Rua Eliseu Uchôa Beco, 600, Água Fria. CEP: 60810-270, Fortaleza, CE, Brasil.

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