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Motricidade

versão impressa ISSN 1646-107X

Motri. vol.9 no.3 Vila Real jul. 2013

https://doi.org/10.6063/motricidade.9(3).201 

Composição e percepção corporal de adolescentes de escolas públicas

Body composition and perception of teenagers from public schools

 

A.A. FerreiraI, J.D. NogueiraI, I. WiggersI, K.E. FontanaI

IFaculdade de Educação Física, Universidade de Brasília, Brasil.

Endereço para correspondência

 

RESUMO

A adolescência é acompanhada de mudanças cognitivas, emocionais, sociais e biológicas que ampliam as situações de risco ao desenvolvimento de disfunções psicossomáticas. Este estudo aferiu e classificou a composição corporal e a comparou à autopercepção corporal em adolescentes. Alunos do sétimo ao nono ano do ensino fundamental público no Distrito Federal, Brasil, responderam a questionários sócio-demográfico e de percepção corporal. Massa e estatura foram medidas e o Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado para classificação da composição corporal. Dos 977 adolescentes, 79.1% apresentaram IMC eutrófico. Dos 473 meninos, 11.4% apresentaram excesso de peso e 4.7% baixo peso; 23.8% perceberam o corpo como menor do que realmente é e 25.5% tentaram ganhar massa corporal. Das 504 meninas, 11.9% apresentaram excesso de peso e 13.4% baixo peso; 24.1% perceberam o corpo como maior do que realmente é e 32.5% tentaram perder massa corporal. A composição corporal inadequada, prevalente em 20.9% dos adolescentes, pode trazer prejuízos ao crescimento, desenvolvimento e saúde. Estes problemas podem ser agravados pela elevada prevalência de autopercepção corporal distorcida e de atitudes para obter mudanças corporais. Recomenda-se a realização de intervenções educativas sobre composição, percepção e cultura corporal e saúde de forma integrada, com abordagens diferenciadas por sexo.

Palavras-chave: imc, imagem corporal, sobrepeso, baixo peso, saúde

 

ABSTRACT

Adolescence is accompanied by cognitive, emotional, social and biological changes; situations that increase the risk for development of psychosomatic disorders. This study measured and classified body composition and compared it to body self-perception in adolescents. Students from the seventh to ninth grade in public primary education in Distrito Federal, Brazil, answered socio-demographic and body self-perception questionnaires. Weight and height were measured and body mass index (BMI) was calculated for body composition classification. From the 977 adolescents, 79.1% presented eutrophic BMI. Of the 473 boys, 11.4% were overweight and 4.7% underweight, 23.8% perceived the body as smaller than it really is and 25.5% tried to gain body mass. Of the 504 girls, 11.9% were overweight and 13.4% underweight, 24.1% perceived the body as larger than it really is and 32.5% tried to lose body mass. Inadequate body composition, prevalent in 20.9% of adolescents, may harm growth, development and health. These problems may be aggravated by the high prevalence of distorted body self-perception and attitudes for bodily changes. It is recommended the implementation of educational interventions on body composition, perception and culture and health, with different approaches by gender.

Keywords: bmi, body image, overweight, underweight, health

 

 

Nas últimas décadas, a prevalência de sobrepeso e obesidade tem aumentado de forma preocupante em todo o mundo (Wang, Monteiro, & Popkin, 2002). A Organização Mundial da Saúde (OMS) define sobrepeso como excesso de massa corporal em comparação com tabelas ou padrões de normalidade e obesidade como doença decorrente do excesso de gordura corporal que acarreta prejuízos à saúde, qualidade e quantidade de vida (OMS, 2000).

O Ministério da Saúde (MS) aponta que, desde 1960, o Brasil enfrenta mudanças no padrão alimentar da população que, juntamente com o aumento do sedentarismo, comportamento típico da vida moderna, resulta no aumento do sobrepeso e da obesidade (MS, 2006). De 2006 a 2009, a proporção de brasileiros com excesso de peso subiu de 42.7% para 46.6% e a de obesos cresceu de 11.4% para 13.9% (MS, 2009).

Países em desenvolvimento enfrentam, além das doenças causadas pelo excesso de peso, uma dupla carga de doenças pela existência concomitante da desnutrição, decorrente da ingestão energética e de nutrientes em quantidades inferiores às necessidades do organismo. No Brasil, entre 1970 e 1989, a prevalência da desnutrição sofreu redução de 19.8% para 7.6% (Mondini & Monteiro, 1999), mas ainda não foi erradicada.

O desenvolvimento de estados nutricionais inadequados também tem afetado crianças e adolescentes. Atualmente, cerca de um quarto das crianças americanas e brasileiras apresentam sobrepeso ou obesidade (Ogden, Carroll, Curtin, McDowell, Tabak, & Flegal, 2006; Wang et al., 2002). Esta situação preocupante é agravada pelo fato de que doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como hipertensão, diabetes tipo 2 e hipercolesterolemia, que em geral afetam adultos e idosos, têm atingido cada vez mais a população jovem (Weiss & Kaufman, 2008).

A adolescência é um período no qual o indivíduo em formação experimenta importantes mudanças cognitivas, emocionais, sociais e biológicas, fundamentais para a determinação de sua saúde (Palacios, 1995). Nessa etapa também ocorre grande parte do desenvolvimento físico, quando o adolescente adquire em torno de 25% da estatura e 50% da massa corporal final, ficando exposto a mudanças indesejadas na composição corporal decorrentes da alteração na proporção de água, minerais e proteínas (Roemmich, Clark, Weltman, & Rogol, 1997). Estudos reportam ainda que os estilos de vida adotados por adolescentes não são saudáveis, havendo elevada prevalência de inatividade física e consumo insuficiente de frutas e verduras, o que dificulta a manutenção da composição corporal adequada (Dowdell & Santucci, 2004; Kann, Kinchen, Williams, Ross, Lowry, Grunbaum, & Kolbe, 2000).

Atenta a esse contexto, a OMS (2000) preconiza que pesquisas com crianças e adolescentes utilizem medidas antropométricas para avaliar o estado nutricional, possibilitando a detecção precoce de disfunções orgânicas, estados de subnutrição ou de excesso de peso e fatores de risco para desenvolvimento de DCNT. O estado nutricional pode ser classificado com base na composição corporal através do Índice de Massa Corporal (IMC). O IMC é um método bastante aceito cientificamente devido à facilidade de sua aplicação e por apresentar relação com a gordura corporal total, mesmo em populações jovens. Os pontos de corte para classificação do baixo peso, sobrepeso e obesidade devem ser estabelecidos através de amostras representativas do país, adequadas à faixa etária e sexo (Cole, Bellizzi, Flegal, & Dietz, 2000; Cole, Flegal, Nicholls, & Jackson, 2007).

Entretanto, cabe ressaltar que, além da composição corporal em si, é importante considerar a autopercepção ou imagem corporal desenvolvida pelo indivíduo. A percepção corporal é uma manifestação humana multidimensional e complexa, que envolve aspectos cognitivos, afetivos, sociais, culturais e motores, incluindo a competência esportiva, condição física, aparência e força física (Silva & Palmeira, 2010). Essa percepção é formada por intermédio das relações mútuas entre o organismo e o meio que o cerca, e pode representar o núcleo central da estruturação da personalidade (Hagger, Biddle, & Wang, 2005).

A relação entre composição corporal e percepção mental do próprio corpo se justifica porque esta última ultrapassa a realidade neuropsicológica, oferecendo um conceito mais complexo para a abordagem de estudos sobre o corpo, englobando, além do aspecto mental, a dimensão social (Silva & Palmeira, 2010). A busca de uma imagem corporal baseada em modelos estereotipados de corpo é um fenômeno bastante presente na sociedade brasileira atual, podendo apresentar reflexos na composição corporal e saúde dos indivíduos (Adami, Fernandes, Frainer, & Oliveira, 2005).

Este estudo classificou a composição corporal por meio do IMC e comparou os valores aferidos à autopercepção corporal de adolescentes de escolas públicas do Distrito Federal (DF), Brasil.

 

MÉTODO

Amostra

Todos os alunos do sétimo ao nono ano do ensino fundamental de três Centros de Ensino Fundamental (CEF) do Distrito Federal, Região Centro-Oeste do Brasil foram convidados a participar da pesquisa, sendo incluídos aqueles com idade entre dez e dezoito anos que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Participaram do estudo 977 adolescentes, 51.6% do sexo feminino e 48.4% do sexo masculino, que tinham entre dez e dezoito anos (14.07 ± 1.45 anos).

 

Instrumentos e Procedimentos

Os dados foram coletados nas escolas durante o horário letivo regular, permitindo elevada participação dos estudantes. Inicialmente, os adolescentes responderam a um questionário com questões sobre idade, sexo, maturação sexual (presença de pelos axilares para meninos e menarca para meninas), autopercepção corporal atual (“muito acima do peso”, “acima do peso”, “peso normal”, “abaixo do peso” ou “muito abaixo do peso”), e o que fazem em relação a seu corpo (“nada, tenta manter o peso”, “tenta emagrecer” ou “tenta ganhar peso”).

A seguir, os adolescentes tiveram sua massa e estatura corporais aferidas conforme o manual de referência para medidas antropométricas (Lohman, Roche, & Martorell, 1988). Foi utilizado balança digital marca “Plenna” com capacidade de 150 kg e precisão de 0.1 kg e estadiômetro marca “WCS” com 212 cm e precisão de 0.5 cm. Os valores de massa e estatura corporal foram usados para cálculo do IMC (kg/m2). O IMC foi comparado a pontos de corte de acordo com o sexo e a idade (Cole et al., 2000; Cole et al., 2007) para classificar a composição corporal.

 

Análise Estatística

Os resultados são apresentados como média e desvio-padrão (M ± DP) e prevalência (%) de ocorrências. Diferenças estatísticas nas variáveis por sexo foram averiguadas por intermédio do Teste t de student não pareado e, nas prevalências, por meio do Teste Qui-quadrado, utilizando o programa SPSS versão 7.0 (SPSS Inc., Chicago, EUA). O valor de significância considerado foi p < .05.

 

RESULTADOS

Dos 977 adolescentes estudados, 69% afirmou ter os sinais de maturação e 74.2% indicou que seus pais cursaram no máximo o ensino médio, sem diferença estatisticamente significativa entre os sexos.

Ao avaliar a composição corporal por meio do IMC, a maior parte dos adolescentes (79.1%) foram considerados eutróficos; 11.7% foram considerados com excesso de peso e 9.2% com baixo peso. A classificação da composição corporal dos adolescentes pelos pontos de corte do IMC, separados por sexo, é apresentada na tabela 1.

Ao comparar a classificação da composição corporal obtida pelo IMC com a percepção corporal que os adolescentes têm de si mesmos, verificou-se que 64.1% deles percebem corretamente sua composição corporal, 18.9% percebem-se menores e 17.0% percebem-se maiores do que realmente são. A comparação da autopercepção corporal com o IMC medido, separada por sexo, está na tabela 2.

Ao investigar o comportamento dos adolescentes quanto a atitudes que estariam adotando em relação a seu peso, 52.9% relataram tentar manter ou não fazer nada, 21.5% relataram tentar emagrecer, e 25.5% relataram tentar ganhar peso. Estes comportamentos relatados pelos adolescentes, separados por sexo, são apresentados na tabela 3.

Complementarmente, uma revisão bibliográfica sobre a prevalência do estado nutricional de adolescentes brasileiros foi realizada para subsidiar a comparação e discussão dos resultados encontrados no presente estudo. As bases de dados PubMed, Lilacs, Cochrane, Scielo e BVS foram pesquisadas com diferentes combinações das palavras chaves (em português e inglês): IMC, estado nutricional, composição corporal, escolares, adolescentes e Brasil. Dados referentes aos estudos publicados entre os anos 2000 a 2010 compuseram o Quadro 1. Para os meninos, a prevalência de excesso de peso foi maior nas populações de maior renda e/ou nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, que possuem maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Em contraste, para as meninas, a prevalência de excesso de peso foi maior nas regiões brasileiras com menor IDH.

 

DISCUSSÃO

O presente estudo estimou a prevalência das classificações da composição corporal baseadas no IMC e as comparou com aquelas obtidas por meio da autopercepção corporal, em adolescentes de escolas públicas de Santa Maria, DF, Brasil. Segundo o Governo do Distrito Federal (GDF), a região localizada na periferia de Brasília abriga atualmente cerca de 130 mil habitantes, sendo que 60% das famílias declararam ter renda mensal entre um a cinco salários mínimos (GDF, 2009).

A maioria dos escolares estudados foi classificada pelo IMC como eutrófica. Entretanto, 20.9% deles não apresentam proporções saudáveis de massa em relação à estatura, adequadas à sua faixa etária e sexo. Outros trabalhos listados no quadro 1 também indicam significativa prevalência de excesso de peso em adolescentes brasileiros. Tanto o baixo peso quanto o excesso de peso podem prejudicar o crescimento, desenvolvimento e a saúde destes adolescentes (Oliveira & Fisberg, 2003; Weiss & Kaufman, 2008).

O excesso de peso na infância está associado a prejuízos futuros à saúde. Cerca de 50% das crianças obesas aos sete anos de idade serão adultos obesos e cerca de 80% dos adolescentes obesos se tornarão adultos obesos (Billington & Levine, 2000). No âmbito biológico, o excesso de peso aumenta o risco para desenvolver DCNT (OMS, 2000; Weiss & Kaufman, 2008), resultando na diminuição da qualidade e expectativa de vida dos indivíduos que convivem com a obesidade por períodos prolongados (Ogden et al., 2006; Wieting, 2008). Com relação aos aspectos afetivos, psicológicos e comportamentais, as conseqüências do excesso de peso podem ser baixa autoestima, isolamento, dificuldade de aprendizagem, agressividade, depressão e até o suicídio (Murphy, Horton, Burke, Monson, Laird, Lesage, & Sobol, 2009; Sisto, 2005).

Concomitantemente, a desnutrição infantil ainda é um problema de saúde pública em algumas regiões do Brasil. Entretanto, a maioria dos estudos não reporta mais sua prevalência, provavelmente devido aos declínios substanciais em seus índices a partir de 1950 (Mondini & Monteiro, 1998). Adolescentes participantes da presente pesquisa, principalmente as meninas, apresentaram prevalência significativa de baixo peso, o que pode resultar em crescimento e desenvolvimento deficientes, maior vulnerabilidade a doenças infecciosas, comprometimento de funções reprodutivas e redução da capacidade de trabalho na vida adulta (OMS, 2000; Wang et al., 2002).

Cabe ressaltar que a vulnerabilidade a distúrbios no estado nutricional é marcadamente determinada pela classe social, pelo sexo e pela faixa etária (Mondini & Monteiro, 1998). Dados do presente estudo e os compilados no quadro 1 também apontam relação de aspectos socioeconômicos e sexo com a composição corporal.

Em adição, os dados desta pesquisa evidenciaram que a proporção de adolescentes que não possuem uma correta autopercepção corporal (35.9%) foi ainda maior que a prevalência de adolescentes que efetivamente apresentaram composição corporal inadequada (20.9%).

Algumas teorias ajudam a explicar as razões da discrepância entre a composição corporal real e a percebida. A autopercepção corporal é uma espécie de aprendizagem que pode ser compreendida como a imagem do corpo interpretada pela mente, ou seja, o modo como o corpo se apresenta para o indivíduo, mediado por sensações e experiências (Hagger et al., 2005). O indivíduo pode formar dois tipos de imagem corporal: as reprodutivas, que são reflexo da realidade objetiva e contribuem para a estruturação do real; e as antecipadoras ou alucinatórias, geradas pela ação da afetividade e do caráter subjetivo do indivíduo e tendem a afastar a pessoa da realidade (Bachelard, 1996). Além disso, o conhecimento do corpo é aprendido a cada dia ao longo da vida, ou seja, à medida que a criança cresce e se desenvolve, modifica sua percepção corporal (Palacios, 1995).

Os resultados obtidos neste trabalho mostram que os meninos se sentem menores do que realmente são e buscam um corpo mais forte, e as meninas se sentem maiores do que são e almejam um corpo magro. Sabe-se que os indivíduos fazem o julgamento do próprio corpo com base em influências socioculturais (Adami et al., 2005; Silva & Palmeira, 2010).

Os padrões de corpo masculino e feminino difundidos atualmente como modelos ideais de aceitação e de êxito social se consolidaram a partir de 1980, por meio da generalização das práticas de body-building nos Estados Unidos, uma das manifestações contemporâneas mais relevantes da cultura do corpo (Courtine, 1995). A partir deste período, diversas esferas sociais, destacadamente a indústria, o mercado e, sobretudo um conjunto de práticas sociais de massa vêm aperfeiçoando as formas de divulgação desses ideais de corpo. Hoje, a imagem do corpo ideal é protagonizada por celebridades e divulgada pela publicidade, espetáculos esportivos na mídia, brinquedos, revistas, programas de televisão, obras literárias, entre outros (Courtine, 1995), mesmo para crianças, como é o caso das “bonecas-manequim” estilo Barbie (Brougère, 2000). Sob influência desse conceito, crianças aprendem desde cedo a valorizar a aparência física (Pinheiro & Giugliani, 2006). Na adolescência, essa preocupação tende a aumentar devido aos efeitos emocionais e físicos da maturação sexual.

A ampla divulgação dos estereótipos de corpo ideal faz com que a insatisfação com a autopercepção corporal não fique restrita aos indivíduos que apresentam alterações clínicas na composição corporal, como foi o caso dos adolescentes do DF. Outro estudo, com crianças entre dez e doze anos, 25 obesas e 27 não obesas, observou que ambos os grupos de crianças manifestaram não estar satisfeitas com seu corpo, embora as crianças não obesas tenham expressado menor preocupação (Carvalho, Cataneo, Galindo, & Malfará, 2005).

Esses resultados ressaltam a importância do aporte psicológico e de informação que cada criança possui para a formação da sua imagem corporal. Ao construir uma idéia ou imaginar um objeto, a pessoa não atua puramente com um dispositivo de percepção; há sempre uma personalidade que experimenta essa percepção (Schilder, 1999). Assim, especialmente na infância e na adolescência, é importante que educadores compreendam este fenômeno e atuem no sentido de educar para que cada aluno desenvolva uma percepção adequada de seu corpo.

Ao assumir e se identificar com um corpo em constante mudança, esteja ou não associada à obesidade ou sobrepeso, o adolescente pode tentar provocar alterações em sua composição corporal. O estudo em tela indica elevada prevalência (47.1%) de adolescentes que relataram realizar atitudes para modificar a composição corporal, mesmo entre aqueles que foram classificados na faixa adequada à idade e ao sexo.

Essas tentativas se dão, muitas vezes, por meio de modificações no comportamento alimentar (Braggion, Matsudo, & Matsudo, 2000; Nunes, Olinto, Barros, & Camey, 2001), o que amplia as chances do desenvolvimento de transtornos alimentares (Bosi & Andrade, 2004) e conseqüentes prejuízos à saúde (OMS, 2000). Atualmente, o transtorno alimentar com maior risco de morte entre adolescentes é a anorexia, caracterizada pela acentuada perda de peso auto-induzida, devido ao receio de engordar e a distorção da auto-imagem corporal (Bosi & Andrade, 2004).

Embora não se possa afirmar que a distorção da autopercepção corporal e a insatisfação com a composição corporal evidenciadas nos adolescentes estudados estejam produzindo comportamentos insalubres, é provável que parte destes adolescentes esteja realizando dietas sem uma adequada orientação para modificar sua composição corporal. Esta hipótese é reforçada pela indicação de que adolescentes tendem a diminuir seu nível de atividade física (Braggion et al., 2000; Hills, King, & Armstrong, 2007), e que a maioria da população jovem não realiza o mínimo de atividade física recomendada para manter uma composição corporal saudável (Sallis, Prochaska, & Taylor, 2000).

Em contrapartida, outras pesquisas com adolescentes mostram que a prática de atividade física está diretamente associada a índices mais elevados de autoconceito corporal (Adami et al., 2005; Moreno & Cervelló, 2005) e motivação (Silva & Palmeira, 2010). Sobretudo entre os jovens, a prática de atividade física pode promover o desenvolvimento integral, produzindo benefícios psicossociais e fisiológicos (Silva, Nahas, Hoefelmann, Lopes, & Oliveira, 2008; Silva & Palmeira, 2010). Tais constatações ganham relevância porque a prática da atividade física iniciada na infância ou na adolescência tende a se manter na vida adulta (Tassitano, Bezerra, Tenório, Colares, Barros, & Hallal, 2007).

Com base nesta discussão, o presente estudo sugere análises mais abrangentes do que aquelas sobre alterações na composição corporal centradas apenas na obesidade e suas conseqüências físicas ao crescimento, desenvolvimento e saúde de adolescentes. Considerando o entendimento de que a percepção corporal distorcida pode agravar os prejuízos físicos, gerar danos psicológicos e promover a adoção de comportamentos insalubres, recomenda-se a realização de intervenções educativas sobre composição, percepção e cultura corporal, e saúde de forma integrada, com abordagens diferenciadas por sexo.

Como subsídio para futuras pesquisas, cabe destacar o papel da escola neste processo. Por exemplo, aulas de educação física podem ter seu escopo ampliado, pois ao mesmo tempo em que provocam efeitos na composição corporal podem oferecer instrumentos para a formação saudável da percepção corporal, pois a vivência de jogos, ginástica, esportes, lutas, brincadeiras e outras atividades são uma oportunidade de mediação e experiência corporal significativa. Além disso, podem contribuir com a leitura crítica do contexto social, sobretudo de mensagens que enfatizam estereótipos de corpo. Diante do quadro de pressões socioculturais relacionadas ao corpo e, paradoxalmente, de inatividade física e má alimentação por parte de adolescentes, a escola pode representar a principal rota para a comunicação em grande escala com esse grupo social.

 

CONCLUSÕES

Em suma, o presente estudo ressaltou que não apenas a obesidade, mas também o baixo peso e a insatisfação corporal são problemas que merecem atenção na adolescência, evidenciando interfaces entre o corpo físico e o corpo percebido. Nesse sentido, a prática educativa deve se orientar por objetivos relacionados ao controle da composição corporal, mas que também considerem outras dimensões correlatas e não menos importantes, como a nutrição, a atividade física, a saúde, a percepção e a cultura corporal, com abordagens diferenciadas por sexo.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para Correspondência: Júlia Aparecida Devidé Nogueira, Faculdade de Educação Física, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília-DF, CEP: 70.000-000, Brasil. E-mail: julianogueira@unb.br

 

Financiamento:

Apoio financeiro do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Edital MCT-CNPq 51/2005.

 

Submetido: 20.03.2012 ¦ Aceite: 26.12.2012

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