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Motricidade

versão impressa ISSN 1646-107X

Motri. v.7 n.4 Vila Real out. 2011

 

Efeito da complexidade da tarefa, idade e género na assimetria motora funcional de crianças destrímanas e sinistrómanas

 

P.C. RodriguesI; S.C.M. CarneiroI; I. CabralI; M.O. VasconcelosI; J.M. BarreirosII

I Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, Portugal
II Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Portugal

Endereço para correspondência

 

RESUMO

A assimetria manual foi analisada na realização de tarefas de antecipação-coincidência de complexidade distinta em 59 crianças destrímanas e 56 sinistrómanas de ambos os sexos, divididas em dois grupos de idade (7-8 anos e 9-10 anos). Os resultados deste estudo revelaram (i) um aumento da assimetria manual com a complexidade da tarefa em ambos os grupos de PM, apesar de nos sinistrómanos a diferença entre mãos não ter atingido significado estatístico; (ii) uma assimetria manual em todos os erros de medida, evidente apenas nos sinistrómanos; (iii) um desempenho mais proficiente da tarefa simples comparativamente à tarefa complexa em ambos os grupos de PM; (iv) um efeito maturacional mais pronunciado na execução da tarefa complexa; (v) maior precisão e menor variabilidade do grupo 9-10 anos comparativamente ao grupo 7-8 anos, em ambos os grupos de PM; (vi) um desempenho mais proficiente do sexo masculino em relação ao sexo feminino em ambos os grupos de PM. Em conjunto, os resultados sugerem que existe uma forte associação entre as características da tarefa e a preferência motora.

Palavras-chave: preferência manual, assimetria motora funcional, complexidade da tarefa, idade, género

 

Task complexity, age and gender effect on functional motor asymmetry of right- and left-handed children

ABSTRACT

Manual asymmetry was assessed in different complexity coincidence-anticipation tasks in 59 right- and 56 left-handed children of both genders divided into two age groups (7-8 years and 9-10 years). Results revealed that (i) manual asymmetry increased with task complexity in both handedness groups without reaching statistical significance for the left-handed group; (ii) for the left-handed group, manual asymmetry was evident in all measured errors; (iii) better performance was presented when executing simpler tasks for both handedness groups; (iv) maturational effect was more pronounced in the complex task; (v) in both handedness groups, the 9-10-year-old group was more accurate and less variable when compared to the 7-8 year-old group; (vi) interaction between age and task complexity revealed that males outperformed females in both handedness. These results favor the perspective in which handedness is seen as a dynamic process, where motor preference interacts with task complexity.

Keywords: manual preference, functional motor asymmetry, task complexity, age, gender

 

A assimetria manual, favorecendo a mão preferida (MP) comparativamente à mão não preferida (MNP), é evidente em muitas tarefas do dia-a-dia bem como em tarefas laboratoriais como, por exemplo, toques repetidos com os dedos (Fearing, Browning, Corey, & Foundas, 2001; Nalcaci, Kalaycioglu, Cicek, & Genc, 2001; Teixeira & Paroli, 2000), deslocamento de pregos (Dellatolas et al., 2003; Steenhuis, 1999), pontilhação (Borod, Caron, & Koff, 1984; Steenhuis, 1999), força de preensão manual (Provins & Magliaro, 1989; Steenhuis, 1999), antecipação-coincidência (Cockerill, Van-Zyl, & Nevill, 1988; Coker, 2004; Rodrigues, Vasconcelos, Barreiros, & Barbosa, 2009; Rodrigues, Vasconcelos, Barreiros, Barbosa, & Trifílio, 2009), entre outras. Alguns autores atribuíram esta superioridade a assimetrias funcionais hemisféricas associadas aos processos correntes de controlo motor (Haaland & Harrington, 1996) ou a assimetrias cerebrais estruturais de áreas motoras envolvidas na programação do movimento (Amunts, Jancke, Mohlberg, Steinmetz, & Zilles, 2000; Triggs, Calvanio, & Levine, 1997; Volkmann, Schnitzler, Witte, & Freund, 1998). Para além disso, existe bastante evidência na literatura de que a prática diferenciada das mãos tem implicação específica na dimensão motora de habilidades manuais (Pascual-Leone & Torres, 1993; Provins, 1997). Parece, desta forma, que as relações entre estruturas neurobiológicas e preferência manual são influenciadas e influenciam, numa dinâmica de reciprocidade, as tarefas e a experiência.

Um dos factores que parece afectar a maior ou menor assimetria funcional é a complexidade da tarefa, tendo os resultados de alguns estudos demonstrado que quanto mais elevada a complexidade da tarefa maior o grau de assimetria. Neste sentido, será possível em tarefas percebidas como mais simples encontrar respostas menos diferenciadas entre o lado esquerdo e o lado direito (Borod et al., 1984; Bryden & Roy, 1999; Bryden, Roy, Rohr, & Egilo, 2007; Flowers, 1975; Miller, 1982; Provins & Magliaro, 1989). No entanto, esta correspondência hipotética entre complexidade e preferência não tem sido encontrada em muitos outros estudos, o que sugere que a natureza perceptivo-motora das tarefas, ou o grau de complexidade sob investigação, podem assumir um papel central nesta questão (Bryden, 2002; Lage et al., 2008; Shen & Franz, 2005; Teixeira, Gasparetto, & Sugie, 1999).

Tem sido descrita uma assimetria manual mais acentuada em destrímanos do que em sinistrómanos em várias tarefas, que avaliam o tempo de reacção unimanual (Olex-Zarychta & Raczek, 2008) e bimanual (Shen & Franz, 2005), deslocamento de pinos (Bryden, Roy, & Spence, 2007; Gurd, Schulz, Cherkas, & Ebers, 2006; Herve et al., 2009), deslocamento de pinos computorizados (Dellatolas et al., 2003; Elalmis & Tan, 2008) e toques repetidos (Herve, Mazoyer, Crivello, Perchey, & Tzourio-Mazoyer, 2005; Kumar & Mandal, 2004; Nalcaci et al., 2001). Em tarefas de antecipação-coincidência (AC) efectuadas com adultos, não foram encontrados efeitos da complexidade da tarefa (Rodrigues, Vasconcelos, Barreiros, & Barbosa, 2009; Rodrigues, Vasconcelos, Barreiros, Barbosa, & Trifílio, 2009).

Uma vez que, por volta dos sete anos de idade, a consistência da PM, tanto em destrímanos, como em sinistrómanos, está já determinada (Bryden & Mayer, 2008; McManus et al., 1988), bem como a capacidade de AC adquirida (Bard, Fleury, & Gagnon, 1990), pretendeu-se investigar em crianças, e através desta capacidade, o efeito da complexidade da tarefa na assimetria manual. Para além disso, como o desempenho em tarefas de AC revela ser afectado pela variável sexo (Les, Katene, & Fleming, 2002; Millslagle, 2004; Williams & Jasiewicz, 2001) esta será igualmente considerada na análise.

 

MÉTODO

Amostra

Participaram no estudo 115 crianças de ambos os sexos (67 do sexo masculino e 48 do sexo feminino), divididos em dois grupos de idade (7-8 anos e 9-10 anos). As crianças frequentavam escolas públicas da região do norte de Portugal. Numa fase inicial foram seleccionados os alunos sinistrómanos, tendo como critério a mão preferida para escrever. De seguida, foram escolhidos aleatoriamente alunos destrímanos com características semelhantes aos sinistrómanos, nomeadamente no que respeita ao sexo e à idade. Numa fase posterior, os sujeitos foram novamente avaliados relativamente à sua preferência manual, desta vez de uma forma mais pormenorizada através da aplicação do Dutch Handedness Questionnaire de Van Strien (1992). Este questionário consiste em 15 itens relativos a actividades simples, unimanuais, da vida diária. Para a execução de cada actividade, os sujeitos são solicitados a responder se utilizam a mão direita, a mão esquerda ou se não têm preferência pela utilização de qualquer delas. Cada item é codificado entre 0 e 2, recebendo a mão esquerda o valor de 0, a direita, o valor de 2, e qualquer delas, o valor de 1. Assim, o valor total reporta-se à soma de todos os itens e designa-se por coeficiente de lateralidade, o qual se situa entre 0 e 30. Os sujeitos foram classificados como sinistró-manos apresentando um coeficiente de lateralidade inferior a 15 (24 do sexo feminino e 32 do sexo masculino) e considerados destrímanos com um valor superior a 15 (24 do sexo feminino e 35 do sexo masculino). A média do coeficiente de lateralidade foi de 27.8 ± 2.8 para os destrímanos (sexo masculino: 27.7 ± 3.1, sexo feminino: 28.0 ± 2.2) e de 4.9 ± 3.8 para os sinistrómanos (sexo masculino: 4.4 ± 3.4, sexo feminino: 5.6 ± 4.3).

 

Instrumentos e Tarefa

O instrumento utilizado foi o Bassin Anticipation Timer (Lafayette Instruments, modelo n.º 50575) que consiste numa calha metálica com díodos emissores de luz (LEDs) dispostos em sequência e distanciados 4.5 cm entre si. As tarefas sincronizadas usadas envolveram diferentes níveis de complexidade motora. Em ambas as tarefas, a calha foi posicionada de frente para o sujeito, de forma que o sinal luminoso se deslocasse da extremidade distal para a proximal.

A tarefa simples consistiu em accionar com o polegar um botão de pressão colocado na mão no momento em que o último LED acendia. A tarefa complexa consistiu em tocar cinco sensores numa sequência pré-determinada (1,2,3,4,5) em integração com um estímulo visual, de forma que o último sensor (5) fosse tocado simultaneamente com a chegada do estímulo luminoso ao último LED. Para tal foi utilizado o aparelho de antecipação-coincidência em tarefas complexas (Corrêa, 2001). Na tarefa complexa era o participante que dava início ao deslocamento do estímulo carregando num sensor colocado na sua linha média, perto dos restantes sensores. A calha utilizada para esta tarefa foi a mesma utilizada para a tarefa simples. Acoplados aos sensores encontrava-se um computador com um software que possibilitava o registo automático dos resultados, ou seja o tempo de antecipação-coincidência, que se refere ao tempo entre o último toque e o acendimento do LED alvo. Em ambas as tarefas os sujeitos adoptaram a mesma posição (de pé), estando o ângulo de aproximação do estímulo a 30º (Payne, 1987).

 

Procedimentos

Os sujeitos foram informados oralmente dos objectivos do estudo e das tarefas. A amostra foi contrabalançada em relação à variável complexidade da tarefa sendo dividida em dois grupos de forma aleatória.

O primeiro grupo iniciou as tentativas na tarefa simples e executou depois a tarefa complexa (grupo S-C). O segundo grupo iniciou a tarefa complexa à qual se seguiu a simples (grupo C-S).

Todos os participantes realizaram 5 tentativas com uma mão e 5 tentativas com a outra em cada uma das tarefas, sendo os grupos contrabalançados em relação à mão que iniciava a tarefa. Na tarefa simples a velocidade utilizada foi de 268.2 cm/s (6 mph) e na tarefa complexa foi de 44.7 cm/s (1 mph). O foreperíod, ou seja, o sinal de aviso (díodo amarelo) mantinha-se aceso durante .5 s antes do início da propagação do estímulo, em qualquer uma das tarefas. Em todas as etapas foi fornecido conhecimento verbal dos resultados (0 - 25 ms: Excelente; 26 - 50 ms: Muito Bom; 51 - 100 ms: Bom; acima dos 101 ms: muito antes ou muito depois). Estas categorias basearam-se nas usadas por Corrêa (2001).

 

Análise Estatística

Foram calculados os erros absoluto (EA), constante (EC) e variável (EV) para cada participante. As variáveis dependentes foram analisadas em cada grupo de preferência manual através de uma ANOVA multifactorial 2×2×2×2 (idade, sexo, mão, tarefa), com medidas repetidas nos dois últimos factores. O nível de significância foi fixado em p < .05.

 

RESULTADOS

Na Tabela 1 estão descritos, para o grupo de preferência manual, a média e o desvio padrão de cada tipo de erro, relativamente a cada mão, a cada tarefa e considerando a idade e o sexo.

 

Tabela 1

Média, desvio padrão, F e p dos erros absoluto (EA), constante (EC) e variável (EV) em relação à mão preferida (MP) e não preferida (MNP), na tarefa simples e complexa, considerando a idade e o sexo

 

Erro Absoluto

Destrímanos

Os factores principais tarefa [F(1,55)= 56.88, p <.001], idade [F(1,55) = 15.41, p < .001] e sexo [F(1,55) = 11.83, p < .001] tiveram um efeito significativo, assim como a interacção entre os factores tarefa e idade [F(1,55) = 6.15, p < .001] e entre tarefa e sexo [F(1,55) = 4.39, p < .041]. Os factores principais revelaram uma precisão mais elevada no grupo mais velho, no sexo masculino e na tarefa simples. As duas interacções revelam que a diferença entre as idades e entre os sexos foi superior na tarefa complexa.

 

Sinistrómanos

Os factores principais tarefa [F(1,52) = 72.75, p < .001], mão [F(1,52) = 5.94, p < .018], idade [F(1,52) = 23.44, p < .001] e sexo [F(1,52) = 5.22, p < .026] tiveram um efeito significativo. Uma precisão mais elevada foi observada na tarefa simples, na MP, nos participantes mais velhos e no sexo masculino. Para além disso, a interacção entre os factores tarefa e idade [F(1,52) = 10.73, p < .002] revelou que a diferença entre os grupos de idade foi mais acentuada na tarefa complexa.

 

Erro Constante

Destrímanos

O factor principal mão [F(1,55) = 4.86, p < .032] e a interacção entre mão e tarefa [F(1,55) = 4.98, p < .030] revelaram um efeito significativo. Esta interacção demonstrou que a assimetria manual foi mais elevada na tarefa complexa do que na simples. Na tarefa complexa, os sujeitos anteciparam as respostas e demonstraram um enviesamento do erro menor com a MP do que com a MNP, com a qual atrasaram as respostas.

 

Sinistrómanos

Apenas o factor principal mão [F(1,52) = 4.55, p < .038] apresentou significado estatístico, demonstrando a MP menor enviesamento do erro e a tendência para respostas antecipadas, relativamente à MNP que demonstrou maior enviesamento do erro e propensão para respostas mais atrasadas.

 

Erro Variável

Destrímanos

Os factores principais tarefa [F(1,55) = 63.28, p < .001], idade [F(1,55) = 10.96, p < .002] e sexo [F(1,55) = 14.10, p < .001] tiveram um efeito significativo, assim como a interacção entre os factores tarefa e sexo [F(1,55) = 6.19, p < .016]. As crianças mais velhas e o sexo masculino apresentaram menor variabilidade e a interacção revelou que a diferença entre os sexos foi mais elevada na tarefa complexa do que na simples.

 

Sinistrómanos

Os factores principais tarefa [F(1,52) = 49.48, p < .001], mão [F(1,52) = 6.63, p < .013], idade [F(1,52) = 28.30, p < .001] e sexo [F(1,52) = 9.23, p < .004] tiveram um efeito significativo, assim como a interacção entre os factores tarefa e idade [F(1,52) = 11.62, p < .001] e entre idade e sexo [F(1,52) = 9.76, p < .003]. Os factores principais revelaram uma variabilidade menor na tarefa simples, na MP, no grupo mais velho e no sexo masculino. A primeira interacção revelou que a diferença entre as idades foi maior na tarefa complexa e a segunda interacção demonstrou que a diferença entre os sexos foi mais acentuada no grupo 7-8 anos.

 

DISCUSSÃO

O objectivo principal deste estudo consistiu em investigar a assimetria manual em função da complexidade da tarefa, pretendendo ainda analisar o efeito da idade e do sexo nessa mesma assimetria, em crianças destrímanas e sinistrómanas. Os resultados revelaram um aumento da assimetria manual com a complexidade da tarefa apenas na análise do EC. Este aumento da assimetria foi observado tanto nos destrímanos como nos sinistró-manos, apesar de neste grupo a diferença entre mãos não ter atingido significado estatístico, comprovando parcialmente os resultados de outros trabalhos (Borod et al., 1984; Bryden & Roy, 1999; Bryden et al., 2007; Flowers, 1975; Miller, 1982; Provins & Magliaro, 1989). A sequência de acções de complexidade de execução mais elevada, requerida pela tarefa complexa comparativamente à tarefa simples, fez realçar a vantagem da MP. Tal como enfatizou Bryden (1998), a superioridade da MP em relação à MNP irá ser evidente em tarefas que requerem características como, por exemplo, complexa sequência de movimentos, orientação precisa da mão, controlo visual on-line e AC.

Apesar de ambos os grupos não terem sido comparados entre si, foi possível verificar que a assimetria manual foi evidente nos sinistrómanos em todos os erros de medida, enquanto nos destrímanos apenas se verificou na análise do EC e durante a execução da tarefa complexa. Estes resultados contrariam os de outros estudos nos quais foi observada uma assimetria manual mais elevada nos destrímanos (Olex-Zarychta & Raczek, 2008). A natureza da tarefa estará provavelmente associada a este efeito. Por um lado, a percepção da trajectória de um objecto em movimento envolve o processamento visuo-espacial; por outro lado, a predição do local e do tempo que o estímulo demora a chegar ao alvo requer estimativas espaço-temporais. Tem sido descrito na literatura que o processamento da informação requerido por este tipo de tarefa pode envolver uma vantagem do hemisfério direito sobre o hemisfério esquerdo (Boulin-guez, Ferrois, & Graumer, 2003; Dane & Erzurumluoglu, 2003; Gordon & Kravetz, 1991; Holtzen, 2000), resultando num benefício para os sinistrómanos, uma vez que a sua MP (esquerda) é comandada sobretudo pelo hemisfério direito. Esta situação seria então a causadora de uma assimetria manual superior relativamente aos destrímanos.

No geral, a assimetria manual não variou em função da idade. Porém, quer a análise do EA quer a do EV revelou que em ambos os grupos de PM a idade foi um factor com efeito significativo, sendo o grupo de 9-10 anos mais preciso e menos variável do que o grupo de 7-8 anos. Estes resultados corroboram os de outros estudos (Ball & Glencross, 1985; Bard, Fleury, Carrière, & Bellec, 1981; Dorfman, 1977; Stadulis, 1971), que explicam esta observação sugerindo uma integração sensório-motora mais desenvolvida no grupo mais velho permitindo, desta forma, um desempenho mais proficiente. Tem sido sugerido que a experiência e a aprendizagem adicional na intercepção de estímulos nas crianças mais velhas possam superar as qualidades perceptivas ou motoras necessárias à realização deste tipo de tarefas. As crianças mais velhas parecem recorrer a um número mais elevado de pistas e de elementos de análise na intercepção de trajectórias de estímulos visuais (Stadulis, 1985). A interacção da idade com a tarefa revelou um melhor desempenho dos mais velhos na execução de tarefas complexas. Estes resultados corroboram outros estudos onde estas variáveis foram analisadas (Fleury & Bard, 1985). As tarefas complexas parecem assim determinar um peso atencional diferenciado em função da idade, em adição ao processamento da informação (Bard et al., 1990).

O efeito do sexo foi visível em ambos os grupos de preferência manual, revelando o sexo masculino uma melhor performance do que o sexo feminino. Este resultado contraria vários estudos nos quais não se observaram diferenças entre os sexos em participantes pré-púberes na realização de tarefas de AC (Millslagle, 2004; Ridenour, 1981; Wrisberg & Mead, 1983). Porém, um facto interessante merece destaque, podendo explicar a ausência de diferenças entre os sexos nos estudos atrás citados: estes recorreram apenas à aplicação de tarefas simples. No presente estudo foi observado que o efeito do sexo está relacionado com a complexidade da tarefa, corro-borando outros estudos (Fleury & Bard, 1985). Habilidades visuo-espaciais mais proficientes no sexo masculino podem ser apontadas como uma das possíveis causas destes resultados (Bell, Willson, Wilman, Dave, & Silverstone, 2006; Dane & Erzurumluoglu, 2003).

A tarefa simples proporcionou um desempenho mais elevado do que a tarefa complexa em ambos os grupos de PM, indo ao encontro dos resultados de outras investigações que avaliaram o efeito da complexidade em tarefas de AC (Williams, Jasiewicz, & Simmons, 2001; Williams & Jasiewicz, 2001). Este resultado era esperado, uma vez que o desempenho em tarefas complexas requer planeamento e organização do movimento e, consequentemente, maior demanda na programação motora.

 

CONCLUSÕES

Os resultados deste estudo revelaram (i) um aumento da assimetria manual com a complexidade da tarefa em ambos os grupos de PM, apesar de nos sinistrómanos a diferença entre as mãos não ter atingido significado estatístico; (ii) uma assimetria manual em todos os erros de medida, evidente apenas nos sinistrómanos; (iii) maior precisão e menor variabilidade do grupo de 9-10 anos comparativamente ao grupo de 7-8 anos, em ambos os grupos de PM, revelando a interacção da idade com a tarefa que este efeito maturacional foi mais pronunciado na execução de tarefas complexas; (iv) um desempenho mais elevado do sexo masculino em relação ao sexo feminino em ambos os grupos de PM; (v) um desempenho mais elevado na tarefa simples comparativamente à tarefa complexa em ambos os grupos de PM. Estes resultados favorecem a perspectiva na qual a assimetria manual é considerada como um processo dinâmico, interagindo com o tipo de tarefa, com a idade e o sexo. Demonstram, ainda, que os dois grupos de preferência manual não se comportam da mesma forma no desempenho da capacidade de AC, traduzida no presente estudo em duas tarefas de diferente complexidade.

 

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Submetido: 25.07.2010 | Aceite: 10.12.2010

 

Endereço para correspondência: Paula Cristina Rodrigues, Rua da Fonte Branca, nº124, 4415-470 Grijó, V. N. Gaia, Portugal. E-mail: packn2@gmail.com

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