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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  no.56 Lisboa dez. 2017

https://doi.org/10.23906/ri2017.56a04 

ELEIÇÕES NA EUROPA PÓS-CRISE

O surgimento do populismo de esquerda na política francesa: O movimento «França Insubmissa» de Jean-Luc Mélenchon

The rise of left-wing populism in French politics. The case of Jean-Luc Mélenchon’s France Insoumise

 

Philippe Marlière

University College London | SELCS, Faculty of Arts & Humanities, Gower Street, London, WC1E 6BT | p.marliere@ucl.ac.uk

 

RESUMO

No arranque para as eleições presidenciais de 2017 em França, Jean-Luc Mélenchon, um político associado à esquerda radical, formou um novo movimento chamado «France Insoumise» (França Insubmissa – FI). Tratou-se de uma tentativa de organizar as massas ao longo de uma linha de clivagem agonística entre «o povo» e «a elite», e constituiu também uma rutura radical com as tradicionais formas coletivas de liderança e atuação da esquerda francesa. O que define o populismo da FI é o papel e a centralidade do líder. É possível equacionar se o populismo é a melhor estratégia para ampliar o eleitorado da esquerda, já que os populismos de esquerda e de direita não incidem sobre as mesmas questões culturais e não expressam os mesmos sentimentos.

Palavras-chave: Populismo, França, esquerda, Jean-Luc Mélenchon.

 

ABSTRACT

In the run-up to the 2017 presidential election in France, Jean-Luc Mélenchon, who had been associated with the radical left, formed a new movement called France Insoumise (Unbowed France – FI). This was an attempt to organise the masses along the lines of an agonistic cleavage between ‘the people’ and ‘the elite’, and this was also a radical break with the collective forms of leadership and action on the French left. What defines FI’s populism is the role and the centrality of the leader. One may wonder whether populism is the best strategy to broaden the left’s electorate as left-wing and right-wing populisms do not tap in the same culture and do not express the same feelings.

Keywords: Populism, France, left, Jean-Luc Mélenchon.

 

INTRODUÇÃO

SEM ESCALADA DA FRENTE NACIONAL

Na corrida às eleições presidenciais de 2017 em França, as sondagens previam uma escalada da Frente Nacional (FN), um partido de extrema-direita. Marine Le Pen realmente conseguiu o apuramento para a segunda volta mas foi derrotada por Emmanuel Macron, o seu oponente. Desde então, a FN tem estado em crise e, pela primeira vez desde há muito tempo, a sua combinação de políticas etnocêntricas e eurocéticas já não está a marcar a agenda nacional.

Os resultados mais notáveis das eleições presidenciais e legislativas são a vitória inesperada de Emmanuel Macron, um jovem político até então não testado, que veio desafiar a divisão tradicional entre esquerda e direita, bem como o colaPSo súbito do Partido Socialista (PS), cujo futuro enquanto força política de primeira grandeza está agora em dúvida. Mas o surgimento do movimento França Insubmissa (FI) de Jean-Luc Mélenchon, que professa um rótulo de «populismo de esquerda», é de facto um grande desenvolvimento na política francesa. É possível afirmar que o populismo de Mélenchon contrariou o populismo de Le Pen, ao orientar as questões em debate para a arena socioeconómica. Consequentemente, conseguiu neutralizar a política etnocêntrica de Le Pen.

 

POPULISMO DE ESQUERDA

Existem normalmente quatro valores fundamentais no cerne do populismo1: a) a existência de duas grandes unidades de análise – «o povo» e «a elite»; b) a relação antagónica entre o povo e a elite; c) a valorização positiva do povo e a depreciação da elite; d) a ideia de soberania popular.

O populismo carece de valores fundamentais e é «camaleónico», uma vez que a cor ideológica que adota depende do contexto e dos valores do círculo eleitoral ao qual apela2. A falta de um centro de gravidade programático torna difícil falar de uma ideologia populista3. Acima de tudo, deve rejeitar-se a ideia de que o populismo é uma ideologia – por mais «centrado» que seja – e concebê-lo antes como um «quadro discursivo»4.

Desta forma, se o populismo não é uma ideologia per se mas essencialmente uma estratégia que divide o campo político em dois lados antagónicos (o povo versus a oligarquia), recorrendo a um tipo particular de retórica, é possível defender que da FI é populista.

Em primeiro lugar, identificarei o contexto pessoal e organizacional da FI, um movimento que nasceu oficialmente em fevereiro de 2016. Como a organização foi lançada por Jean-Luc Mélenchon, o autoproclamado líder e candidato às eleições presidenciais de 2017, a personalidade do líder da FI é fundamental para entender o tipo particular de populismo que o movimento personifica.

O tipo de populismo de Mélenchon e da FI será então examinado: que tipo de «híbrido populista» encarna? Grandes segmentos da esquerda francesa sempre evitaram ver-se associados ao populismo. Sendo assim, como conseguiu a FI tornar-se o principal partido da esquerda num período tão curto? Tratar-se-á realmente de um movimento de esquerda? Quais são as principais ideias e aspetos que tornam a FI um «movimento populista»?

Finalmente, tentarei esclarecer até que ponto o populismo da FI facilitou o grande crescimento deste movimento nas eleições presidenciais de 2017 e, em menor escala, nas eleições legislativas subsequentes.

 

MÉLENCHON: DA POLÍTICA TRADICIONAL DE ESQUERDA AO «POPULISMO DE ESQUERDA» UM POLÍTICO PROFISSIONAL CONVENCIONAL

Depois de ter diagnosticado que a social-democracia era uma força exaurida enquanto organização progressista5, Jean-Luc Mélenchon deixou o PS em 2008 e lançou o Partido de Esquerda (PG). Durante mais de 35 anos, Mélenchon tinha sido um membro da ala mais à esquerda do PS.

Nas eleições presidenciais de 2012, Mélenchon foi o representante da Frente de Esquerda (FDG), uma aliança de vários partidos de esquerda. Conseguiu o quarto lugar e obteve 11,1 por cento dos votos a nível nacional.

Jean-Luc Mélenchon não é, no entanto, um esquerdista típico. É um experiente político de carreira, oriundo dos círculos políticos dominantes, ainda que sempre se tenha posicionado na ala esquerda do PS (ainda assim, foi um fiel apoiante do Presidente Mitterrand). Esta é a sua grande diferença em relação a outros líderes de partidos da esquerda radical na Europa, que tendem a ser mais jovens e são oriundos do campo da esquerda radical (Pablo Iglesias na Espanha, Alexis Tsipras na Grécia, Catarina Martins em Portugal). Só Oskar Lafontaine, na Alemanha, teve uma trajetória política semelhante (do SPD para o Die Linke).

 

UMA RUTURA COM AS TRADIÇÕES DA ESQUERDA

Em fevereiro de 2016, um ano e três meses antes da eleição presidencial, Jean-Luc Mélenchon «propôs a sua candidatura» ao país na TF1, o principal canal privado de televisão em França. Ao tomar a decisão de concorrer sem consultar os seus aliados da FDG, Mélenchon seguiu uma verdadeira estratégia «populista». Em primeiro lugar, esta decisão oficializou a morte da já frágil FDG. A decisão de avançar sozinho foi motivada pelo seu desprezo pela estratégia eleitoral do PCF durante a presidência de Hollande: embora os comunistas se opusessem às políticas do Governo socialista no parlamento e no país, estavam dispostos a fazer alianças locais com o PS para salvaguardar lugares parlamentares.

Mélenchon afirmou que essa ambivalência acabou por desacreditar a FDG já que Hollande perdeu toda a credibilidade diante do seu eleitorado e, por sua vez, foi rejeitado pela maioria da população. Daí a relutância de Mélenchon em usar a designação de «esquerda», já que considera que esta se tornou uma retórica vazia e confusa para o público.

A ambição de Mélenchon era levar a cabo uma campanha «acima dos partidos políticos». Em 2012, recebeu o apoio de vários partidos de esquerda e foi claramente identificado como candidato de esquerda6. Em 2017, virou ostensivamente as costas à história, à cultura e à unidade da esquerda7. De forma tipicamente populista, buscou o apoio das «pessoas comuns». A FI não é um partido, mas antes uma «massa de cidadãos». Desde então, Mélenchon tem vindo a utilizar agressivamente esta tática. O seu objetivo já não é o de reunir as forças de esquerda (sob a sua liderança), mas antes substituí-las e reformular a paisagem partidária e política.

A FI acabou por receber o apoio do PG, da Nova Esquerda Socialista (NGS), um grupo dissidente do PS, do PCF e do Ensemble!, outro membro da FDG. Nenhum destes partidos participou na definição da agenda de Mélenchon. O PCF e o Ensemble! estavam profundamente divididos sobre o assunto. Alguns defenderam que Mélenchon era o único candidato credível que a esquerda radical poderia apoiar. Outros eram da opinião de que a candidatura de Mélenchon era profundamente divisionista e perigosa devido à sua «guinada populista».

Em 2012, a palavra de ordem na campanha foi «Devem ir-se embora todos!» («Qu’ils s’enatent tous!»), sendo que «todos» se referia à «elite corrupta»8. Este é o equivalente na tradução ao «¡Que se vayan todos!», um slogan do movimento Piquetero na Argentina em 20059. Em 2017, Mélenchon referiu-se ao dégagisme (o ato de limpar), uma expressão cunhada durante as revoluções no Norte de África, nomeadamente na Tunísia10. Vale a pena salientar que Mélenchon começou a inspirar-se na retórica e no imaginário de vários movimentos populistas em todo o mundo alguns anos antes das eleições presidenciais de 2017.

Já em 2010, a prática discursiva de Mélenchon recorria a um padrão populista: a) o seu discurso articulava-se em torno do «povo» enquanto ponto fulcral; b) a sua representação da sociedade dividia basicamente a arena sociopolítica em dois campos antagónicos («o povo» e «a oligarquia»).

O que é mais notável é a mudança de vocabulário e de registo de Mélenchon desde a campanha de 2012. O líder da FI pretende parar de usar a linguagem e o imaginário discursivo tradicionais da esquerda. Esta mudança enquadra-se com a linha de orientação do Podemos, que visa «espalhar as ideias da esquerda numa linguagem orientada para o senso comum da maioria na sociedade»11. De forma verdadeiramente populista, a ideia é reunir «pessoas» de diferentes contextos políticos e ideológicos contra «a oligarquia». Neste contexto, Mélenchon proibiu as bandeiras vermelhas nos seus comícios e deixou de cantar a Internacional no fim de cada encontro público. Os símbolos tradicionais da esquerda foram substituídos por bandeiras tricolores. Isto causou alguma apreensão à esquerda, já que a bandeira nacional francesa tem sido o emblema da direita e da extrema-direita desde há longos anos. Símbolos que estavam profundamente enraizados na cultura da esquerda francesa foram considerados muito divisionistas ou simplesmente sem sentido para as massas a que a FI desejava conectar-se.

Outro «significante» importante, na aceção de Ernesto Laclau12, é a promoção de uma VI República em substituição da V República. Mélenchon e seus seguidores têm promovido uma nova República que visa romper com a pompa e circunstância das instituições atuais. A V República confere ao presidente um poder tremendo. O objetivo é, antes de mais, solucionar o défice democrático das instituições atuais. Em 2014, Mélenchon concebeu e lançou o Movimento para a VI República (M6R), uma estrutura informal para promover uma nova República. Esta foi a primeira iniciativa política fora do PG, o seu partido.

Na mesma altura, Mélenchon publicou L’Ère du Peuple («A Era do Povo»), uma tentativa inicial de explicar, senão mesmo teorizar, a nova divisão fundamental entre «o povo» e «a oligarquia»13. Este ensaio constituiu um ponto de viragem ideológico. Mélenchon despediu-se de uma interpretação da sociedade e dos conflitos baseados na questão de classe. Parou completamente de referir-se à noção de luta de classes. Tratou-se, obviamente, de uma rutura importante com a teoria marxista e com a política de esquerda. Em vez de falar para um proletariado fragmentado política e culturalmente, Mélenchon defendia que a política progressista deveria tentar congregar «o povo», para além das diferenças de classe, raça e género.

Para Mélenchon, unificar «o povo» é um processo com três fases. Em primeiro lugar, o povo, que ele denomina de homo urbanus, já que essencialmente se compõe de residentes de áreas urbanas, consiste numa multidão de indivíduos despolitizados que seguem a sua rotina diária. Em segundo lugar, existem indivíduos politicamente conscientes que começam a agir e fazem reivindicações políticas. Em terceiro lugar, constitui-se uma rede através de ações coletivas. Neste esquema, os partidos políticos não são mencionados. O futuro pertence a movimentos com um tipo de organização horizontal. Muito antes da eleição presidencial de 2017, a narrativa populista de Mélenchon já havia sido formada. É interessante distinguir aqui a tentativa de Mélenchon de unir politicamente o povo (no sentido de uma comunidade política ativa e consciente) da homogeneização da comunidade francesa ao longo das linhas etnoculturais efetuada por Marine Le Pen14.

Mélenchon não dá uma explicação convincente sobre a forma como as pessoas, enquanto multidão, podem superar as suas divisões e conflitos (a nível de classe, género ou etnia). A conclusão que podemos retirar é que Mélenchon abandonou uma interpretação marxista tradicional de conflitos sociais e lutas políticas para adotar uma abordagem resolutamente «interclassista» para a construção de um bloco maioritário. Tanto o Syriza, na Grécia, como o Podemos, em Espanha, tentaram seguir um caminho semelhante, com resultados mistos mas com um progresso eleitoral constante.

Jean-Luc Mélenchon também acredita que terminou a era do «partido» enquanto coordenador e agregador de demandas e expetativas populares e enquanto vanguarda. O «movimento» substituiu o partido. A organização deve agora ser horizontal e não vertical (como nos partidos socialistas/comunistas tradicionais). A questão da horizontalidade refere-se à democracia: quem faz o programa? Quem decide as principais propostas políticas? Existem naturalmente mecanismos abertos (especialmente na internet) para que os apoiantes da FI façam tais propostas. Resta saber se estes mecanismos são genuinamente democráticos e transparentes.

Alguns críticos têm defendido que, apesar de promover a criação de uma VI República, Mélenchon abraçou plenamente as tradições personalistas da V República, nomeadamente por ter dispensado os partidos políticos e procurado criar um relacionamento pessoal com os franceses. Emmanuel Macron e, em menor medida, Marine Le Pen fizeram o mesmo. Esta é outra das características de uma posição populista.

Tendo obtido a quarta posição na eleição presidencial, com um resultado significativo de 19,6 por cento, Mélenchon pediu aos eleitores para elegerem uma maioria FI nas eleições legislativas de junho de 2017. Insistiu que, ao contrário da esquerda extrema/radical que alegadamente não tem intenção de ganhar eleições, a FI quer chegar ao poder o mais rápido possível. Esta tomada de posição faz lembrar afirmações semelhantes por parte dos líderes do Syriza e do Podemos.

No final, com 17 deputados eleitos no total, a FI ficou muito aquém de uma maioria na câmara baixa mas teve votos suficientes para formar um grupo parlamentar (são necessários 15 deputados). Este foi um resultado melhor do que era previsto pelas sondagens depois da primeira volta. Na segunda volta, todos os partidos da oposição (incluindo o Les Républicains) obtiveram ganhos devido a uma relativa desmobilização do eleitorado de Macron. O PCF ganhou em 11 círculos e a FN em oito. O PCF também formou o seu próprio grupo parlamentar, separado da FI, graças à adição de cinco deputados dos círculos além-fronteiras.

 

QUE POPULISMO?

De onde vem o populismo de Mélenchon? Sem dúvida, foi influenciado por Chantal Mouffe e Ernesto Laclau. O líder da FI também estabeleceu contatos com os líderes do Podemos, Pablo Iglesias e Íñigo Errejón. Também se aproximou de Hugo Chávez na Venezuela e de Rafael Correa no Equador. Nos anos anteriores à sua chegada ao poder, Alexis Tsipras foi um dos amigos políticos de Mélenchon. O líder da FI recebeu-o em Paris, em junho de 2014, meses antes de o líder do Syriza se tornar primeiro-ministro. As relações entre os dois começaram a arrefecer no verão de 2015 após a assinatura, por parte da Grécia, de um terceiro memorando com a União Europeia (UE). Mélenchon criticou Tsipras publicamente, apresentando-o como um homem que estava a «ceder» sob pressão. Esta situação levou Mélenchon a começar a preparar um «plano B». Se, no futuro, chegar ao poder em França, Mélenchon promete pedir uma revisão radical dos tratados europeus. Se isso não for concedido, Mélenchon afirma que sob a sua liderança a França sairá da zona euro, se não mesmo da UE.

Mélenchon conheceu Laclau e Mouffe na Argentina em 2013, quando os três participaram numa conferência sobre populismo. Desde a morte de Laclau em abril de 201415, Mélenchon manteve laços estreitos com Mouffe, que é vista ao seu lado nas manifestações ou eventos mais importantes. Desde o seu primeiro encontro na Argentina, ambos têm debatido por diversas vezes.

 

ALTERAÇÕES PESSOAIS E IDEOLÓGICAS

Chantal Mouffe acredita que Mélenchon não é um «revolucionário comunista», descrevendo-o como um «reformista radical» contra uma «oligarquia em crescimento». Para Mouffe, Mélenchon e a FI encarnam o «momento populista» que a Espanha vivera com o Podemos alguns anos antes: o povo rejeitando a «pós-democracia» e exigindo «uma participação real nas decisões políticas». A FI pretende federar «o povo» (ou seja, a classe trabalhadora e as classes médias). A politóloga belga argumenta que Mélenchon reconheceu o «papel crucial das emoções na construção de identidades políticas». O líder da FI pretende «juntar as pessoas, criar uma vontade coletiva em torno de um projeto de revolução dos cidadãos, de forma a escrever uma nova constituição que abra mais possibilidades de debate e que facilite a expressão da soberania popular»16.

Chantal Mouffe endossa o populismo de Mélenchon de forma bastante enfática. Menciona os esforços de Mélenchon para criar «cadeias de equivalência» entre vários grupos dominados ou marginalizados na sociedade (seja qual for a classe social objetiva a que pertençam). Mouffe faz uma distinção entre o contexto latino-americano (sociedades com oligarquias poderosas e enraizadas) e a Europa (onde a divisão esquerda-direita continua crucial). Uma vez que as nossas sociedades na Europa estão a ser «latino-americanizadas», Mouffe defende o fim da dominação de um sistema oligárquico por meio de uma reconstrução democrática.

Em 2012, Mélenchon pode ter sido visto por alguns como «demasiado radical» ou «demasiado subversivo». Contudo, em 2017, o seu objetivo era certamente ser visto como «sábio» e «estadista». A sua campanha eleitoral evitou deliberadamente os símbolos da luta de classes. À medida que as semanas avançavam, as bandeiras vermelhas desapareceram, dando lugar a um mar de bandeiras tricolores. A Internacional deu lugar ao hino nacional francês, A Marselhesa. A palavra «humanista», sem mais especificações, foi amplamente utilizada.

Numa nota publicada no seu blogue, Mélenchon afirmou que «a desobediência é o novo humanismo»17. Esta nova desobediência tem as suas raízes na história da emancipação humana face a instituições opressoras (poder político e eclesiástico). Mélenchon insiste na questão da liberdade de pensamento. Porém, fiel às credenciais republicanas francesas, Mélenchon interpreta esta liberdade como emancipação face às religiões. Em nenhum momento Mélenchon contempla que os indivíduos possam emancipar-se seguindo uma divindade ou princípios religiosos. Este manifesto está muito próximo da ideologia republicana francesa tradicional.

A letra grega phi (φ) tornou-se o símbolo do movimento, sendo utilizada em todo o lado, inclusivamente nos boletins de voto. A palavra phi permite um certo número de jogos de palavras: parece FI, o acrónimo da França Insubmissa. Phi também evoca a filosofia, a harmonia e o amor, e não carrega o fardo de um passado político. Não é um símbolo da direita nem da esquerda; trata-se de um marcador neutro.

Ao longo dos meses, a linguagem, os símbolos e as técnicas de comunicação sofreram uma transformação. Por exemplo, como forma de se dirigir de modo familiar e «inclusivo», Mélenchon usa a expressão les gens («as pessoas»), popularizada em Espanha pelos líderes do Podemos (la gente). Mélenchon estudou o que funcionou noutros países, como o uso das redes sociais por parte de Barack Obama e Bernie Sanders nos Estados Unidos, ou a história do Podemos em Espanha.

Mélenchon colheu dividendos do declínio dos meios de comunicação tradicionais. Trabalhou a sua imagem até aos mais ínfimos detalhes (como as roupas que usa em diferentes ocasiões, num estilo menos formal e mais próximo dos cidadãos comuns). Mélenchon aprecia golpes publicitários, como o uso de hologramas para se dirigir simultaneamente a dois comícios. Trabalha muito de perto com consultores de imagem. Mais do que em qualquer outro momento do passado, Mélenchon comporta-se como um político profissional.

O seu programa económico não mudou muito desde 201218. Não é anticapitalista ou esquerdista radical. Acima de tudo, Mélenchon promove uma abordagem keynesiana radical19  com uma ênfase muito maior nas questões ecológicas do que no passado. Pretende abolir a reforma do Código do Trabalho que foi levada a cabo pelo Governo socialista e opõe-se ao Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento com os Estados Unidos, bem como ao acordo abrangente em matéria de economia e comércio com o Canadá.

 

FRANÇA INSUBMISSA E O «VELHO MUNDO»

O objetivo do líder da FI é substituir os «velhos» partidos: todos são acusados de tentar boicotar o progresso da FI. Daí a sua adesão a uma estratégia rigorosa de não fazer alianças locais com outras forças à esquerda. Para Mélenchon, não basta assistir ao declínio destas forças; há que marginalizá-las. Neste aspeto, as posições antipartidárias da FI e do La République En Marche (LREM) de Macron são dois lados da mesma moeda.

Esta posição intransigente é fonte de grandes tensões à esquerda, com impacto na questão da formação de uma coligação, na Assembleia Nacional e fora dela, que se oponha às políticas de Emmanuel Macron. Com cerca de 12 a 14 por cento dos votos a nível nacional, a FI está longe de poder desafiar sozinho o LREM. No entanto, Mélenchon recusa-se a considerar qualquer tipo de aliança com outras forças políticas de esquerda. Descreve pejorativamente essas negociações entre partidos como tambouille (mistela)20.

Mélenchon é muitas vezes acusado de se apresentar a si próprio e ao seu grupo parlamentar como a expressão parlamentar natural das lutas que o movimento sindical irá realizar. Os críticos respondem que esta estratégia é a antítese da unidade, e sublinham a necessidade de unir todas as forças de resistência para evitar a derrota face à ofensiva de Macron contra as proteções sociais dos trabalhadores.

A FI surge como uma organização pós-moderna típica: não se paga quotas, por isso não é possível aderir formalmente. Mélenchon afirma que a FI é agora a maior organização política francesa, sugerindo que mais de 500 mil utilizadores se inscreveram na página internet da sua campanha, simplesmente clicando na página como um sinal de apoio à sua candidatura presidencial.

Desde o anúncio da candidatura de Mélenchon às eleições presidenciais em fevereiro de 2016, não houve nenhum procedimento para eleger o líder da FI ou os representantes do partido. A adesão à FI está vedada aos partidos ou organizações, sendo apenas permitida aos indivíduos. Esta é uma grande diferença em relação à FDG, que juntava diversos partidos. Por outras palavras, outros partidos de esquerda não podem aderir à FI. Os seus membros devem integrar-se individualmente. Desta forma, o partido livra-se do nome, identidade e orientação políticas. Não haveria espaço dentro da FI para um equivalente francês ao Anticapitalistas, uma fação de extrema-esquerda dentro do Podemos e uma das organizações fundadoras deste partido espanhol.

A FI possui regras bastante invulgares: os grupos de apoio não podem ter mais de 15 membros e não devem coordenar os trabalhos entre si em zonas geográficas de maior dimensão. Não podem ser realizadas convenções ou assembleias gerais de nível local. Estas regras, que nem sempre foram discutidas ou respeitadas localmente, fortalecem obviamente a autoridade da liderança nacional. A FI tem um tipo de organização horizontal e informal a nível local e um controlo vertical apertado por parte da liderança a nível nacional. O principal grupo de liderança veio do PG e é composto pelo círculo de aliados mais próximos de Mélenchon. Tal como este, a maioria esteve anteriormente no PS.

 

UM PATRIOTISMO RESOLUTO

Para os populistas de esquerda, o patriotismo é um valor muito positivo. Pablo Iglesias e Íñigo Errejón abraçaram o conceito, tentando recuperar o patriotismo para «fins progressistas». Isto foi uma novidade num país onde Franco tinha implementado um regime fascista em nome da «pátria», da sua defesa e dos seus valores. O patriotismo funciona agora como um significante vazio para alavancar um «novo espírito nacional». Para Iglesias, a noção de patriotismo é uma questão que vai além da esquerda e da direita. Trata-se de defender um comportamento «decente»21.

Desde há muito, a marca tradicional do republicanismo de Jean-Luc Mélenchon tem sido patriótica. A maioria dos seus discursos é marcada por referências vívidas a la patrie. O líder da FI gosta em particular de citar esta famosa frase de Jean Jaurès: «Pode quase dizer-se que, enquanto uma pequena dose de internacionalismo separa um homem do seu país, uma grande dose trá-lo de volta. Um pouco de patriotismo separa-nos da Internacional; o patriotismo superior traz-nos de volta a ela.» Tendo como base fortes princípios revolucionários e republicanos, o patriotismo é amplamente entendido na esquerda francesa como um ponto de referência aceitável, embora nem todos concordem com ele22.

Mélenchon vê a unidade da República (a França é «una e indivisível», de acordo com o primeiro artigo da Constituição da V República) como intocável, se não mesmo sacrossanta. Por exemplo, Mélenchon insurge-se contra a Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias, alegando que concede «direitos específicos» às pessoas de acordo com as suas práticas linguísticas. O então deputado ao Parlamento Europeu argumentou que isso seria contrário ao princípio da igualdade entre todos os cidadãos face à lei francesa23.

O líder da FI manifesta ainda um patriotismo de um tipo mais conservador. Exalta a França como potência global, abrangendo todos os mares e oceanos do mundo. Quer que a França abandone a nato, por exemplo, mas, tal como Charles de Gaulle, de forma a melhor defender os seus interesses e prestígio pelo mundo. Mélenchon considera todos os territórios ultramarinos franceses, não como territórios colonizados, mas como parte integrante da França24.

 

A ESTRATÉGIA POPULISTA Da FRANÇA INSUBMISSA FOI BEM-SUCEDIDA? INTERPRETAÇÃO DA SEQUÊNCIA ELEITORAL

Na noite da primeira volta das eleições presidenciais, Jean-Luc Mélenchon lamentou ter perdido a qualificação para a segunda volta: cerca de 600 mil votos separaram-no de Marine Le Pen, que ficou em segundo lugar. Nas eleições legislativas subsequentes, 17 deputados foram eleitos (em comparação com os 309 deputados do LREM e os 112 deputados do Les Républicains). Será que, no cômputo geral, estes resultados eleitorais são credíveis?

É inegável que o desempenho de Mélenchon na primeira volta da eleição presidencial é bom em comparação com os resultados da esquerda radical dos últimos 30 anos. Dito isto, os três principais candidatos (Macron ao centro, Le Pen na extrema-direita e Fillon na direita) receberam um total de mais de 60 por cento dos votos. A esquerda foi, portanto, largamente derrotada nesta eleição.

Pode-se também dizer que a campanha combativa de Mélenchon (que atraiu um número significativo de eleitores jovens e da classe trabalhadora que normalmente se abstêm) conseguiu reagrupar eleitores tradicionais de esquerda e eleitores socialistas que tinham abandonado o PS. No entanto, nas sondagens Mélenchon apenas alcançou Benoît Hamon (o candidato socialista) em meados de março, depois de ter ficado atrás durante várias semanas. Isto aconteceu quando se tornou claro que parte da liderança do PS estava a desertar para apoiar Macron. Quando a traição se materializou, as secções do centro no eleitorado do PS também mudaram para Macron. Esta mudança de lealdades foi ditada por dois fatores: em primeiro lugar, estes eleitores não se identificavam com Hamon, que alguns achavam estar «demasiado à esquerda». Em segundo lugar, os votos destes eleitores em Macron foram táticos, pois visavam impedir a passagem de Fillon e Le Pen à segunda volta. Quando ficou claro para todos que Hamon não iria recuperar desta traição por parte dos membros do seu próprio partido, começou a descer nas sondagens. Os eleitores do PS com simpatias mais vincadas pela esquerda viraram-se para Mélenchon, cujas ideias e programa económico eram amplamente compatíveis com os de Hamon25. Este foi mais um voto tático do que um apoio a Mélenchon enquanto candidato. Beneficiando do apoio dos eleitores descontentes do PS e de bons desempenhos durante os dois debates televisivos, Mélenchon esteve perto de se qualificar para a segunda volta.

Em suma, Macron e Mélenchon procuraram aproveitar as oportunidades que as crises dos dois principais partidos lhes abriram: no PS, a decisão tardia de Hollande de não concorrer, e no Les Républicains, as alegações de corrupção contra Fillon. O colapso dos dois partidos governamentais já se fazia prever há muito tempo: as classes trabalhadoras já tinham abandonado a esquerda e os trabalhadores independentes já tinham virado as costas à direita. A vitória de Macron pode ser interpretada como o surgimento de um novo bloco dominante, um «bloco burguês» que agrupa as classes médias do centro-esquerda e do centro-direita26. É muito cedo para dizer se este novo bloco irá realmente tornar-se um bloco hegemónico, mas a grande queda de Macron nas pesquisas de opinião, bem como a crescente oposição às suas reformas das leis laborais não auguram nada de bom nesse aspeto.

 

O POPULISMO E A ESQUERDA

Os comentadores concordam que a campanha dinâmica de Mélenchon galvanizou partes significativas do eleitorado que tinham deixado de apoiar a esquerda (as classes jovens e populares). Bem organizado e ativo nas redes sociais, a FI é construído em torno da presença carismática de Mélenchon e das suas habilidades oratórias, o que realmente fez a diferença. Como o líder da FI concluiu num dos debates televisivos: «Quero que as pessoas reencontrem o gosto pela felicidade.» Esta pode parecer uma declaração grandiloquente e um objetivo irrealista. No entanto, este discurso positivo mobilizou por completo a esquerda. Deu às pessoas uma nova esperança após tantas derrotas nas últimas décadas27.

Como resultado, a FI obteve ganhos eleitorais importantes em todas as categorias sociais e em todas as faixas etárias, com exceção dos aposentadas e idosos. Mélenchon recebeu 30 por cento dos votos dos cidadãos entre os 18-24 anos, mas apenas 15 por cento dos cidadãos entre os 60-69 anos e nove por cento dos maiores de 70 anos de idade28.

Os seguidores da FI reconhecem que a dificuldade da tarefa que têm pela frente é juntar eleitores de vários grupos sociais e gerações. Cada um destes tem demandas e expetativas específicas. Alguns observadores sugerem que a «comunidade nacional» ou la patrie (a pátria) podem funcionar como «significantes vazios» de grande utilidade, que permitem identificação coletiva, unificam e constituem a cadeia de equivalência das reivindicações populares não satisfeitas pelo Governo. Mélenchon jogou com estas noções durante a sua campanha presidencial. A narrativa poderia ser descrita da seguinte forma: a França é uma comunidade nacional baseada no princípio da solidariedade; a pátria protege os pobres através das ações do Estado. O objetivo é produzir um tipo de patriotismo alternativo, que é progressista e se opõe à narrativa xenófoba da extrema-direita29 . A FI, como o Podemos em Espanha, exemplifica uma versão criativa da «política do comum», que se abre para as «pessoas comuns» e ressoa com «o senso comum de maiorias sociais que vão para além da divisão entre esquerda e direita»30.

 

CONCLUSÃO

Poderá o populismo de esquerda resultar em França? Poderá um movimento lançado por um indivíduo para apoiar uma campanha eleitoral tornar-se uma grande força progressista? Ao contrário do Syriza e do Podemos, ambos resultando da junção de vários movimentos sociais, a França Insubmissa foi projetada por um homem e com um propósito político específico.

De forma verdadeiramente populista, o líder da FI quer federar o povo, não só os eleitores de esquerda. Mélenchon deixou por completo de referir-se e de usar a noção de esquerda. Podemos, em última análise, perguntar-nos que «povo» existe que possa ser congregado. As pesquisas eleitorais mostram que o eleitorado da FI corresponde ao padrão tradicional de eleitores de esquerda: urbanos, mais ou menos jovens, funcionários públicos, educados, de classe média-baixa. Mélenchon não atraiu um número significativo de eleitores da direita ou da extrema-direita. Apelou aos eleitores jovens e da classe trabalhadora que normalmente não votam31. A ironia é que, apesar de descartar as noções de esquerda e de classe, a sociologia do eleitorado de Mélenchon é claramente de esquerda e o seu voto é um voto de classe contra a direita e a extrema-direita. Por outras palavras, o eleitorado da FI foi atraído, em primeiro lugar, pelo programa social-democrata de esquerda de Mélenchon.

Podemos perguntar-nos se o populismo é a melhor estratégia para ampliar o eleitorado da esquerda. O sociólogo Éric Fassin pensa que os populismos de esquerda e de direita não se alimentam na mesma cultura e não expressam os mesmos sentimentos. À esquerda, a raiva é direcionada à economia de mercado livre32. Na extrema-direita, o ódio aos estrangeiros e aos imigrantes é a principal motivação. Para Fassin, estes sentimentos e mentalidades são incompatíveis: o primeiro tem uma mentalidade positiva, enquanto o último é baseado no ressentimento.

Desta forma, colocar de parte a divisão esquerda-direita é perigoso, pois pode ter um efeito confuso e despolitizador sobre os eleitores que estão menos envolvidos politicamente. Fassin aponta para a natureza do eleitorado de Donald Trump em 2016: a maioria veio das classes média e alta. De facto, existem provas de que uma fração insignificante do eleitorado de Mélenchon (menos de quatro por cento) votou em Le Pen na segunda volta das eleições presidenciais. Fassin conclui dizendo que seria mais benéfico do ponto de vista eleitoral e político atrair eleitores de esquerda que se abstiveram do que tentar atrair eleitores de direita que não compartilham a agenda de justiça social da esquerda33.

O que define o populismo da FI é o papel e a centralidade do líder. No final da conferência de verão da FI em agosto de 2017, Mélenchon declarou que a «questão da liderança, do programa e da estratégia estava resolvida»34. Por outras palavras, após a sua autonomeação como líder da FI, não haveria nenhum debate ou voto sobre a liderança.

Mélenchon identifica-se com as pessoas, possui um caráter apaixonado e é visto como um orador e performer carismático. Estas qualidades são normalmente associadas a um líder populista. O modelo de liderança de Mélenchon está mais perto de Chávez do que de Iglesias. Em Espanha, Iglesias nunca foi um líder solitário. O Podemos mantém-se bastante colegial: Íñigo Errejón, Carlos Monedero, Carolina Bescansa, Luis Alegre ou Pablo Echenique desempenham um papel proeminente na liderança35. Na Grécia e na Alemanha, Alexis Tsipras e Oskar Lafontaine nunca levaram tão longe o papel de líder «forte» e «carismático». Em França, nenhuma figura importante apareceu até agora em cena. Mélenchon encarna a FI para o público e é, por enquanto, o seu líder incontestado.

 

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Data de receção: 6 de setembro de 2017 | Data de aprovação: 27 de outubro de 2017

 

NOTAS

1 STANLEY, Ben – «The thin ideology of populism». In Journal of Political Ideologies. Vol. 13, N.º 1, 2008, p. 102.

2 TAGGART, Paul – Populism. Buckingham: Oxford University Press, 2000.

3 CANOVAN, Margaret – «Trust the People! Populism and the two faces of democracy». In Political Studies. Vol. 47, N.º 1, 1999, p. 4.

4 ASLANIDIS, Paris – «Is populism an ideology: a refutation and a new perspetive». In Political Studies. Vol. 64, N.º 1, 2016, pp. 88-104.

5 MELENCHON, Jean-Luc – L’Autre Gauche. Paris: Editions Bruno Leprince, 2009.

6 MARLIÈRE, Philippe – «Mélenchon candidat à la présidentielle. Il tourne le dos à l’histoire de la gauche». In L’Obs. 14 de fevereiro de 2016. (Consultado em: 1 de setembro de 2017). Disponível em: http://leplus.nouvelobs.com/contribution/1481855-melenchon-candidat-a-la-presidentielle-il-tourne-le-dos-a-l-histoire-de-la-gauche.html.

7 MARLIÈRE, Philippe – «Jean-Luc Mélenchon’s policies are no far-left fantasies». In The Guardian. 15 de abril de 2012. (Consultado em: 31 de agosto de 2017). Disponível em: httPS://www.theguardian.com/commentisfree/2012/apr/15/jean-luc-melenchon-france-presidential-candidate.

8 MELENCHON, Jean-Luc – Qu’Ils S’En Aillent Tous! Vite, la Révolution Citoyenne. Paris: Flammarion, 2010, p. 13.

9 PHILIP, George, e PANIZZA, Francisco – The Triumph of Politics. The Return of the Left in Venezuela, Bolivia and Ecuador. Oxford: Polity Press, 2011.

10 ANDUREAU, William – «Qu’Est-Ce que le “Dégagisme” de Jean-Luc Mélenchon?». In Mediapart. httPS://blogs.mediapart.fr/les-invites-de-mediapart/blog/111017/pour-le-maintien-du-colloque-lutter-contre-lislamophobie-un-enjeu-degalite. 14 de janeiro de 2007. (Consultado em: 14 de setembro de 2017). Disponível em: http://abonnes.lemonde.fr/les-decodeurs/article/2017/01/30/qu-est-ce-que-le-degagisme-de-jean-luc-melenchon_5071725 _4355770.html.

11 RENDUELES, César, e SOLA, Jorge – «Podemos and paradigm shift». In Jacobin. 13 de abril de 2015. (Consultado em: 2 de setembro de 2017). Disponível em: httPS://www.jacobinmag.com/2015/04/podemos-spain-pablo-iglesias-european-left.

12 LACLAU, Ernesto – On Populist Reason. Londres: Verso, 2005.

13 MELENCHON, Jean-Luc – L’Ère du Peuple. Paris: Fayard, 2014.

14 GEISSER, Vincent – «Exit “Français de Souche”? De la prudence rhétorique à la prégnance idéologique». In Migrations Sociétés. Vol. 2, N.º 158, 2015. (Consultado em: 15 de setembro de 2017). Disponível em: httPS://www.cairn.info/revue-migrations-societe2015-2-page3.htm.

15 MELENCHON, Jean-Luc – «Populisme et hégémonies culturelles: débat Laclau-Mouffe-Mélenchon». In L’Ère du Peuple. 29 de setembro de 2015. (Consultado em: 3 de setembro de 2017). Disponível em: http://melenchon.fr/2015/09/29/populisme-et-hegemonies-culturelles-debat-laclau-mouffe-melenchon/.

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18 MELENCHON, Jean-Luc – Un Avenir En Commun. Le Programme de la France Insubmisse et Son Candidat. Paris: Éditions du Seuil, 2016.

19 DUSSEAULX, Anne-Charlotte – «Les 10 premières mesures du programme de Mélenchon». In Le Journal du Dimanche. 16 de outubro de 2016. (Consultado em: 7 de setembro de 2017). Disponível em: http://www.lejdd.fr/Politique/Les-10-premieres-mesures-du-programme-de-Melenchon817699.

20 TRONCHE, Sébastien – «Jean-Luc Mélenchon “condamne” une Alliance Insoumis/PCF pour les élections territoriales en Corse». In Le Lab Politique Europe 1. 4 de setembro de 2017. (Consultado em: 4 de setembro de 2017). Disponível em: http://lelab.europe1.fr/jean-luc-melenchon-condamne-une-alliance-insoumisPCF-pour-les-elections-territoriales-en-corse3426401.

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23 MELENCHON, Jean-Luc – «Lettre aux députés». In L’Humanité. 21 de janeiro de 2014. (Consultado em: 10 de setembro de 2017). Disponível em: httPS://www.humanite.fr/sites/default/files/legacy/courrie_jlm_ppl_charte_langues.pdf.

24 PHILIPPE, Pierre-Charles – «Mélenchon, le PCF et les colonies». In Europe Solidaire Sans Frontières. 1 de maio de 2012. (Consultado em: 6 de setembro de 2017). Disponível em: httPS://www.europe-solidaire.org/spip.php?article25841.

25 MARLIÈRE, Philippe – «Benoît Hamon: un vote trompe-la-mort». In Contretemps. 21 de fevereiro de 2017. (Consultado em: 6 de setembro de 2017). Disponível em: httPS://www.contretemPS.eu/marliere-vote-hamon-PS-gauche/.

26 AMABLE, Bruno, e PALOMBARINI, Stefano – L’Illusion du Bloc Bourgeois. Alliances et Avenir du Modèle Français. Paris: Seuil (Raisons d’Agir), 2017.

27 BENBARA, Lenny – «La France insoumise face à son destin». In Le Vent Se Lève. 3 de agosto de 2017. (Consultado em: 7 de setembro de 2017). Disponível em: http://lvsl.fr/la-france-insoumise-face-a-son-destin.

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29 BENBARA, Lenny – «La France insoumise face à son destin».

30 KIOUPKIOLIS, Alexandros – «Podemos: the ambiguous promises of left-wing populism in contemporary Spain». In Journal of Political Ideologies. Vol. 21, N.º 2, 2016, pp. 99-120.

31 DOUBRE, Olivier – «Éric Fassin: le populisme de gauche est une illusion politique». In Politis. 27 de março de 2017. (Consultado em: 7 de setembro de 2017). Disponível em: httPS://www.politis.fr/articles/2017/03/eric-fassin-le-populisme-de-gauche-est-une-illusion-politique36587/.

32 FASSIN, Eric – Populisme: le Grand Ressentiment. Paris: Textuel, 2017.

33 Ibidem.

34 MESTRE, Abel – «À Marseille, Jean-Luc Mélenchon promet du combat pas du blabla». In Le Monde. 27 de agosto de 2017. (Consultado em: 7 de setembro de 2017). Disponível em: http://abonnes.lemonde.fr/politique/article/2017/08/27/melenchon-appelle-le-peuple-a-deferler-a-paris-contre-le-coup-d-etat-social-de-macron_5177148_823448.html.

35 KIOUPKIOLIS, Alexandros – «Podemos».

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