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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  no.51 Lisboa set. 2016

 

O IMPACTO DA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL NORTE-AMERICANA

 

A implosão anunciada do Partido Republicano: Populismo americano em tempo de incerteza

The announced implosion of the Republican party: American populism in times of uncertainty

 

Teresa Botelho

Professora associada de Estudos Americanos na FCSH-NOVA, onde ensina cultura norte-americana contemporânea, media americanos e história política dos Estados Unidos no século XX. Os seus outros interesses e áreas de investigação e publicação incluem, entre outros, literatura e cultura étnica americana, colaboração entre ciência, tecnologia e literatura, e representações intermediáticas do 11 de setembro.

 

RESUMO

A campanha presidencial de 2016 tem sido analisada como um momento de quase incompreensível paradoxismo, como uma exceção no ecossistema político americano, ameaçando a coerência interna e a história do Partido Republicano, a relação entre a sua liderança e as suas bases e pondo em causa o seu futuro. Este artigo problematiza esta visão, discutindo as longas raízes do populismo conservador americano, dentro e fora das tradicionais estruturas partidárias e contrastando ao mesmo tempo momentos de semelhante turbulência na relação entre candidatos não controlados pela direção partidária (as duas candidaturas presidenciais de Ronald Reagan), sustentando assim a necessidade de uma análise do assalto de Donald Trump ao Partido Republicano que tenha em conta ao mesmo tempo fatores de continuidade e de excecionalidade.

Palavras-chave: Donald Trump, Partido Republicano, populismo conservador, nativismo, realinhamento político.

 

ABSTRACT

The 2016 presidential campaign had been analyses as a moment of almost incomprehensible paradox, as an exception in the American political ecosystem, threatening the history and internal coherence of the Republican Party, the relationship between its leadership and supporters, and its very future. This article problematizes this view, discussing the long roots of the American conservative populism, inside and outside the traditional party structures and analyzing moments of similar turbulence in the relationship between candidates not embraced by the party leadership (the two first presidential campaigns of Ronald Reagan), sustaining the view that an analysis of Donald Trump’s assault on the Republican Party requires the consideration of elements of continuity and exceptionality.

Keywords: Donald Trump, Republican Party, Conservative Populism; Nativism; Political Realignment.

 

A CRISE DE ANSIEDADE REPUBLICANA

Procurar compreender o politicamente inesperado é uma das obrigações inerentes ao exercício de entendimento do presente histórico. Instintivamente, comentadores políticos, historiadores e politólogos, assumem que o que parece improvável e inexplicável é de facto resultado de fatores ou conjunturas preexistentes que, uma vez desvendadas, revelam a previsibilidade do imprevisto. No entanto, desde o outono de 2015 que os mais avisados analistas das primárias americanas têm prefaciado as suas interpretações com duas confissões – o reconhecimento da sua própria perplexidade, e a admissão dos limites de todas as previsões sobre as consequências destas bizarras primárias –, ecoando a mesma estupefação com que cidadãos de todo o mundo observam a aparente tomada de assalto ao Partido Republicano pelo populismo e nativismo tóxicos de Donald Trump.

Esta perplexidade – que leva Rick Perlstein, um dos mais respeitados historiadores do populismo conservador americano, a admitir que o sucesso de Donald Trump nas primárias o obrigará a repensar quinze anos de estudo sobre a emergência das estruturas deste movimento dentro do Partido Republicano1 –, resulta de uma justaposição de improbabilidades. Estas começam nas modestas expetativas iniciais do próprio Donald Trump aquando do lançamento da sua candidatura (de acordo com as revelações da sua antiga conselheira Stephanie Gegielski, em carta aberta anunciando as razões da sua cisão com o candidato, os objetivos iniciais da campanha eram alcançar 12 por cento dos votos e garantir um honroso segundo lugar nas primárias2) e terminam na aparente incapacidade dos responsáveis pela máquina do Partido Republicano em travar o que receiam vir a ser uma derrota eleitoral substancial em novembro, que corre o risco de arrastar consigo outras perdas importantes. Em novembro, a maioria no Senado (54-46) aparece particularmente vulnerável, já que 24 dos 34 lugares objeto de sufrágio este ano são republicanos e sete correspondem a estados que o Presidente Obama venceu nas eleições de 2008 e 20123. Uma mudança de maioria na Câmara dos Representantes, onde a maioria republicana obtida em 2010 pela avalancha do Tea Party é de 30 lugares, parece bem mais improvável. Perdas dessa dimensão são fenómenos raros (a última ocorreu em 1980, quando a esmagadora vitória de Ronald Reagan contra Jimmy Carter, com uma vantagem de 10 por cento, foi acompanhada da conquista de 35 lugares detidos pelos democratas, alterando a correlação de forças mas mantendo ainda assim a maioria original), mas responsáveis republicanos admitem agora uma perda de entre 10 a 20 lugares, um número mais elevado do que calculavam ser possível antes da vitória de Trump nas primárias (cinco a 15)4.

Em 2016, a crise de ansiedade do Partido Republicano, sentida por todos os congressistas que veem o seu lugar em risco, bem como por alguns dos doze governadores de estados vacilantes que vão a votos e por centenas de candidatos às 44 legislaturas estaduais que também vão ser eleitas, traduz-se num cálculo básico – em que medida lhes é localmente vantajoso abraçar a ligação a Trump, por mais repugnantes que muitas das suas propostas lhes sejam, conquistando assim largas faixas do eleitorado de classe média baixa branca que os democratas parecem incapazes de reter, e quanto se devem afastar do nomeado oficial do partido sem pôr em perigo o apoio dos eventuais «trumpistas» dentro de cada eleitorado específico5. Para além de dilemas de consciência, que o comentador republicano moderado David Brooks descreveu como «momentos Joe McCarthy», em alusão à forma como a história recordará os que titubearam na defesa da decência moral, e das liberdades constitucionais6, muita desta ponderação política, especialmente em distritos menos conservadores, etnicamente mais diversificados ou economicamente mais confortáveis, resulta em grande medida da leitura do perfil demográfico do eleitorado. Como admitem estrategas republicanos7, distritos eleitorais em que pelo menos 20 por cento do eleitorado seja hispânico ou 25 por cento tenha cursos superiores são um desafio para candidatos que não se consigam distanciar suficientemente de uma retórica populista racializada que rejeita enfaticamente o eleitorado que o establishment republicano sabe que precisa de conquistar se quer olhar com racionalidade para o seu futuro.

Se o instinto natural de um partido democrático é a sobrevivência e a conquista ou manutenção do poder, os republicanos estão munidos, desde 2013, de um mapa para o futuro que resultou da frustração da derrota eleitoral das últimas presidenciais. Esse documento, solicitado pelo presidente do Comité Nacional Republicano, Reince Priebus, intitulado Crescimento e Oportunidade8, mais popularmente conhecido como o «Relatório de Autópsia», fazia um diagnóstico franco das fragilidades do partido, expostas pela derrota presidencial de 2012. Recordando que o partido tinha «perdido o voto popular em 5 das últimas 6 eleições presidenciais»9, o estudo elencava obstáculos que urgia confrontar, tais como a excessiva rigidez ideológica, a neglicência na abordagem das clivagens económicas no país e, significativamente, a incapacidade de penetração junto de segmentos do eleitorado sem os quais futuras vitórias presidenciais seriam improváveis – as minorias étnicas e o eleitorado jovem. O relatório avisava que sem uma alteração de políticas e de discurso nestas áreas, seria cada vez mais difícil «modernizar o partido e voltar a ser atrativo para mais pessoas, incluindo os que se reveem nalguns, mas não em todos os nossos princípios conservadores»10. Entre este eleitorado divorciado do partido contavam-se os hispânicos, junto dos quais os republicanos tinham tido algum sucesso (em 2004, 40 por cento deste eleitorado tinham em George W. Bush, enquanto que nas eleições de 2012 a percentagem que votara em Mitt Romey tinha caído drasticamente para apenas 27 por cento). Para cativar esses segmentos do eleitorado, indispensáveis num futuro em que a percentagem de votantes brancos diminuirá progressivamente – de acordo com o Pew Research Center a sua percentagem relativa caiu nove pontos desde 2000, de 78 para 69 por cento11, enquanto a percentagem de eleitores não brancos cresceu acentuadamente (entre 2012 e 2016 há mais potenciais eleitores afro-americanos – seis por cento, hispânicos – 16 por cento, e asiáticos – 17 por cento), a equipa de Priebus recomendava uma série de medidas que quebravam a ortodoxia do pensamento republicano maioritário, e que permitissem, pelo menos ao nível discursivo, neutralizar a imagem da inflexibilidade ideológica e extremo conservantismo social que vinha a dominar o partido desde a emergência do Tea Party Movement, em favor de um regresso a uma matriz pragmática mais moderada. Entre estas propostas era sugerido o abandono da retórica anti-imigração acompanhada de uma revisão substancial da legislação de forma a abrir caminho a processos de regularização de milhões de imigrantes ilegais, o abandono da inflexibilidade em relação a causas sociais e cívicas que tornam o partido intragável para largas faixas da geração de milenares, nomeadamente a causa dos direitos cívicos das minorias sexuais e uma nova atenção às preocupações da classe média em dificuldades, que se revia nas promessas de ascensão económica que animavam tradicionalmente o discurso republicano. Num assombro de ousadia, o documento chegava mesmo a criticar a influência dos grupos de financiamento independentes, os chamados super-PAC (Political Action Commitees), que desde 2010 têm uma influência desmedida na seleção de candidatos, acusando-os de serem uma fonte de corrupção do sistema político, uma posição defendida até então quase só pelos democratas12.

Três anos depois, o mesmo presidente do Comité Nacional Republicano vê-se obrigado a navegar uma indisfarçada repugnância pela candidatura de Trump, e as obrigações de organizar uma convenção que o vai coroar como o candidato presidencial do partido que tentara modernizar e abrir. Em vez da reforma da imigração, o candidato insulta o eleitorado hispânico e propõe a deportação de 12 milhões de pessoas; em vez da abertura a novos eleitorados moderados, o candidato afasta-os prometendo violar várias leis nacionais e internacionais no combate ao terrorismo, elogiando a falta de sofisticação do eleitorado menos educado, hostilizando o eleitorado feminino, garantindo uma taxa de rejeição que afundaria qualquer operador político em tempos normais.

A pergunta que este estado de coisas impõe aos próprios tal como a todos os observadores é saber como, depois de tão ambiciosas propostas e perspetivas de renovação, o Partido Republicano se vê na contingência de não se conseguir dissociar da farsa política trumpiana e de ver o seu eleitorado nas presidenciais reduzido à classe média baixa branca masculina, frustrada pela conjuntura económica e pela desarticulação psicológica e cultural num país que já não reconhece?

Dois tipos de lógicas narrativas, aparentemente contraditórias, mas que deveriam preferencialmente ser vistas como complementares, fornecem ferramentas interpretativas para fazer sentido do mais insólito dos processos eleitorais – um enfatiza a continuidade histórica, retraçando as origens e persistência do populismo na vida política americana, enquanto o outro encontra na conjuntura particular do presente as razões mais profundas para compreender a emergência súbita de um fenómeno que se caracteriza pela excecionalidade.

 

A LONGA LINHAGEM DO POPULISMO AMERICANO

Populismo político pode ser entendido como uma ideologia política ou visão do mundo que «oferece soluções simples e intuitivas para problemas complexos da sociedade e adota estilos de comunicação pouco sofisticados dirigidos ao cidadão comum, capazes de galvanizar pelo menos alguns dos que perderam a confiança na política tradicional e nos seus representantes»13. A oferta de uma política demagógica de redenção em contraste com o pragmatismo do establishment14 não é uma tendência exclusiva da vida política americana, como a experiência europeia contemporânea confirma. No entanto, há muito que historiadores americanos identificaram um filão persistente deste tipo de pensamento e discurso na vida política nacional que emerge tanto em configurações conservadoras como progressistas. Estudos clássicos como os de Richard Hofstadter são particularmente úteis para compreender os antecedentes e raízes do populismo americano. Em Anti-Intellectualism in American Life, por exemplo, o historiador identifica o que defende serem os fatores endógenos que explicam a ubiquidade deste tipo de discurso político na vida nacional, associando-o a três fatores culturais – nomeadamente, a influência da tradição religiosa evangélica herdeira do Grande Despertar do século XVIII, com a sua rejeição das hierarquias e do establishment clerical; o culto do saber intuitivo e emocional, comparado positivamente com a artificialidade do pensamento racional; e o privilegiar das qualidades de ação e de decisão rápida, característico do mundo económico –, em detrimento da reflexão e da precisão de pensamento15. Já no seu famoso ensaio The Paranoid Style in American Politics, escrito em 1964, numa conjuntura não muito diferente da presente, em que as primárias republicanas tinham dado vantagem ao extremismo de Barry Goldwater contra o pragmatismo moderado de Nelson Rockfeller, Hofstadter encontrava no mccartismo, e na influência no movimento conservador de organizações de direita radical como a John Birch Society, uma forma de ver a vida pública e a atividade política que encontra ressonância contemporânea quer na visão de setores do Tea Party Movement de 2009-2010, quer em muitas das derivas discursivas com que o candidato Trump abraça os piores instintos do seu eleitorado. Tal como então, este «sente-se despojado» e crê que a sua «América lhes foi arrancada, a si e aos seus pares, por cosmopolitas e intelectuais» que «destruíram também as velhas virtudes americanas»16. Se a esses destruidores das nostalgicamente imaginadas probidades americanas Trump junta agora imigrantes, hispânicos ou muçulmanos, e o chamado establishment do seu próprio partido, a visão conspirativa da vida política e a crença na capacidade de fazer parar a história para regressar a uma ordem de valores mais reconfortante são as mesmas.

Sendo que estas erupções de populismo nostálgico tendem a emergir em momentos de aceleração de mudanças sociais ou/e de desafios económicos que levam setores da população a sentir-se inseguros e ameaçados por um futuro que receiam, e que a vida política convencional não parece capaz de travar, não é difícil encontrar precedentes históricos quer da retórica radical anti-imigrante de Trump, quer do nacionalismo isolacionista que invoca deliberadamente ao prometer colocar a América primeiro.

A retórica anti-imigrante de Trump recicla as posições e exigências do chamado Partido Americano, popularmente conhecido como o partido dos Know-Nothing17 («Não Sabem Nada») que emergiu, na década de 50 do século XIX, munido de uma retórica que associava o descontentamento com o fluxo de imigrantes irlandeses e alemães com o acentuado preconceito religioso anticatólico, agitando o medo da destruição dos valores americanos ameaçado por hordas de camponeses ignorantes obedientes ao Papado, incapazes de absorver as regras e o ethos da cidadania republicana americana. Em 1854, ano da sua fundação, o partido conta com mais de um milhão de membros e, numa conjuntura eleitoral nacional de crise e fragmentação dos dois maiores partidos existentes à época, soma sucessos eleitorais estaduais, particularmente na Nova Inglaterra, com uma plataforma que afirma a necessidade de proteger a América das «influências papistas», de proteger um «nacionalismo saudável» anglo-saxónico, e exige limites apertados à imigração e um conjunto substancial de obstáculos à naturalização de novos imigrantes18. Esta popularidade seria de curta duração e o partido viria a desaparecer em 1860, sendo parcialmente absorvido no recentemente formado Partido Republicano, apesar da repugnância de Lincoln pelas teses nativistas; em carta privada, que deveria ter especial ressonância para os republicanos contemporâneos, o fundador do partido comenta que

«se os “Know Nothings” ganharem controlo, a constituição passará a dizer “todos os homens são criados iguais exceto os Negros, e os estrangeiros e os católicos”. Se esse tempo chegar, prefiro imigrar para qualquer outro país onde não finjam que amam a liberdade – para a Rússia, por exemplo, onde o despotismo existe na forma pura e sem disfarces hipócritas»19.

Não é surpreendente portanto, que o descritor know-nothing, que entrou para o vocabulário político americano como sinónimo do radicalismo populista na variedade mais xenófoba, esteja a ser aplicado a Donald Trump, não só por comentadores mas por membros do seu próprio partido como George Pakati, ex-governador de Nova York, que acusou o candidato de ser «o candidato “Know-Nothing” do século XXI»20. Se Trump consideraria essa acusação como o insulto que é ou a usaria como mais um sinal de que as elites que o rejeitam estão divorciadas dos sentimentos do eleitorado popular, é uma questão em aberto, até porque a sua relação com a história é, pelo menos, ambígua, como se comprova pelo seu uso do slogan «America First» (América Primeiro), ignorando toda a carga política que o termo denota, associado que está ao movimento isolacionista que se opunha à entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, onde pacifistas se misturavam com figuras pró-alemãs como Charles Lindberg, o porta-voz do movimento.

Por outro lado, há antecedentes históricos para figuras populistas e demagogas criadas pelos meios de comunicação social. O pioneiro terá sido o padre radiofónico Charles Caughlin que, nos anos 1930, criou um movimento populista, a União Nacional para a Justiça Social, com milhões de membros, em grande parte galvanizados pelas suas transmissões de rádio semanais com mais de 30 milhões de ouvintes. A sua oposição ao New Deal de Roosevelt, moldada por um discurso antielite, anticapitalista e antissocialista intensamente antissemita, próximo do fascismo italiano e alemão, reinventou-se numa postura anti-intervencionista perante o início da guerra na Europa.

O distanciamento e desconforto da Igreja Católica e os seus excessos retóricos, conduziram ao cancelamento das suas emissões em 1939, o ano da entrada dos Estados Unidos na guerra, terminando de facto a sua carreira pública, depois de ter tentado influenciar a vida nacional ainda mais diretamente através da formação de um partido político, o Unity Party, que se dissolveu depois de um fracasso absoluto nas eleições de 1936.

Se exemplos como estes podem sugerir uma persistência histórica de vagas de populismo conservador, a que se podiam juntar momentos de populismo de sentido contrário igualmente reveladores da atração por discursos redentores antiestablisment em momentos de crise económica ou cultural, não deixam de ser fenómenos periféricos, que não afetaram diretamente o centro do ecossistema político americano e não explicam necessariamente a possibilidade de contágio direto de um partido mainstream.

Para encontrar alguns precedentes que substanciem a tese da não excecionalidade do momento Trump, devemos recuar pelo menos até 1976, o ano em que o Partido Republicano introduz pela primeira vez o sistema de primárias em todos os estados (o Partido Democrata já usava esse método de seleção de candidato presidencial desde 1972) e em que chega à convenção nacional sem um candidato já decidido. Arrastadas para as conferências, duas candidaturas representavam dois impulsos dentro de um partido dizimado por Nixon e pelo escândalo Watergate. De um lado perfilhava-se o candidato do establishment e da continuidade, Gerald Ford, antigo vice-presidente de Nixon (depois do embaraçoso escândalo de corrupção de Spiro Agnew), que cumprira o resto do seu mandato; do outro, um relativo outsider, hábil na autopromoção, munido de uma retórica conversacional capaz de falar aos segmentos mais frustrados do eleitorado e de invetivar com o mesmo tom de desprezo o governo e a máquina de Washington, o sistema de segurança social descrito como um incentivo a parasitas, a política externa de desanuviamento que teria enfraquecido a nação, ao mesmo tempo que prometia um regresso a uma América mítica e invocava um nacionalismo jingoístico – Ronald Reagan, o favorito da revigorada ala conservadora do partido.

A mitologia revisionista do Partido Republicano tem-no reinventado como o herói consensual, um redentor abraçado por todos os republicanos desde o primeiro momento e apoiado por eles ao longo da sua ascensão política, mas isso não corresponde à verdade histórica. Foram as bases radicalizadas do partido que sempre cultivara que impõem a sua presença na convenção de 1976 e que mais tarde lhe darão não só as primárias de 1980 como a presidência. A devoção a posteriori é contrariada pelos testemunhos coevos como o de Craig Shirley, o conselheiro de Reagan que documentou as suas três campanhas presidenciais e que confirma que na campanha de 1976 «os líderes do GOP, especialmente as elites da costa leste e os moderados, pensavam que Reagan era um YAHOO certificado»21, sem o mínimo de qualidades e experiência necessárias para a função presidencial.

Nas primárias de 1976, quando aquilo que é agora a ortodoxia de grande parte do Partido Republicano era ainda considerada uma deriva extremista, Reagan era rejeitado pelas estruturas estaduais do partido e era, como Rick Perslein recorda, considerado pelo seu adversário Gerald Ford como um peso leve a não levar a sério22. Comentadores políticos e críticos culturais não eram menos cáusticos. Frank Rich recordou recentemente paralelos na forma jocosa como os media respeitáveis trataram Reagan em 1976 e a incapacidade de levar a sério a candidatura bizarra de Trump23. Um artigo em particular parece ter sido escrito para os nossos dias – publicado na Harper’s Magazine chamava ao candidato «Ronald Duck», «o candidato da Disneylandia», e acrescentava que «o facto de Reagan ser um candidato sério à presidência é um embaraço para o país»24. Reagan perderá o escrutínio na convenção por apenas 117 votos, Gerald Ford perderá as eleições contra Jimmy Carter, mas em 1980 «Ronald Duck» regressará para redirecionar o Partido Republicano numa deriva conservadora e populista, que roubará ao Partido Democrata, envolvido ele próprio numa luta identitária só resolvida pela eleição de Bill Clinton, uma parte significativa do seu tradicional eleitorado de trabalhadores brancos. Essa campanha, sob o slogan «Tornar a América Novamente Grande» conduzirá diretamente a Donald Trump que lhe coopta o slogan, mas também a Ted Cruz, produzido pela ascensão ao Tea Party de 2009-2010.

O poder das analogias históricas e a valorização das linhas de continuidade nos processos políticos tendem, no entanto, a obscurecer diferenças. Se há muito em comum nas ascensões de Reagan e de Trump dentro do Partido Republicano, há também diferenças relevantes, não só de estilo (o otimismo e jovialidade de Reagan não têm equivalente no alarmismo apocalíptico de Trump) mas na substância e no entendimento das virtudes da experiência política. Reagan teve pelo menos a consciência da importância da experiência política, tendo mostrado a disciplina suficiente para se submeter a eleições e governar o estado da Califórnia, e o bom senso de ter procurado nesse cargo os consensos possíveis com os democratas. Em momentos cruciais mostrou também ter alguma capacidade de resistir aos instintos mais extremistas dos seus eleitores, pondo em risco a sua popularidade, como sucedeu quando, num momento em que precisaria de mobilizar os seus apoiantes para a candidatura presidencial de 1980, se opôs pública e vigorosamente à chamada «iniciativa Briggs» que propunha proibir professores homossexuais e os seus apoiantes de ensinar nas escolas públicas da Califórnia ajudando a derrotar a proposta apoiada pelo seu eleitorado natural e favorecida inicialmente por 61 por cento dos californianos. E, talvez mais importante, Reagan tinha um plano mais ou menos inteligível para a política externa americana e para a agenda doméstica, por mais incoerentes que fossem as suas propostas económicas de corte de impostos e aumento de despesas mantendo o orçamento equilibrado, um passe de magia que o seu adversário republicano de 1980, George H. Bush, famosamente descreveu como voodoo económico. Os comentadores mais dedicados que procurem nas diatribes a que Trump chama discursos ou nos seus tweets o vislumbre de um qualquer plano coerente que vá mais longe do que afirmações narcisísticas sobre a sua capacidade única de resolver tudo (seja o que for que esse tudo seja) e promessas que violam não só as leis nacionais como as leis da lógica trabalham em vão.

Reconhecer precedentes, estabelecer continuidades e identificar a evolução de tendências latentes no conservadorismo americano não parece ser suficiente para compreender um fenómeno tão peculiar como a impotência do Partido Republicano nas presidenciais de 2016, incapaz de compreender o seu eleitorado e responder às suas angústias, paralisado perante o assalto de um amador às suas estruturas, fraturado por escolhas que o senador Lindsey Graham definiu como reduzidas «a morrer de um tiro ou por envenenamento»25. A conjuntura específica do pós-Grande Recessão, a capitulação do partido ao movimento Tea Party, e a dissonância contemporânea entre as bases partidárias e as agendas políticas e económicas dos responsáveis políticos podem facilitar uma leitura complementar do paradoxo presente.

 

A GUERRA DE CLASSES REPUBLICANA

A ressonância do slogan «Tornar a América Novamente Grande» junto do eleitorado que se agrega à volta de Trump será um bom ponto de partida para perceber quem é este eleitorado que não se revê nos agentes políticos tradicionais. A maioria das sondagens e análises estatísticas identifica-o com a classe média baixa menos educada, de meia-idade, desorientada pelos efeitos da reconfiguração demográfica do país, insegura quanto ao seu presente económico e receosa do futuro, exasperada pelo desaparecimento da indústria tradicional nas suas comunidades e descrente de que o partido que nas últimas décadas se tem apresentado como o seu protetor dê de facto prioridade aos seus interesses. Nas palavras do comentador político neoconservador David Frum, são americanos «nem ricos nem pobres, que se irritam cada vez que lhes pedem para carregar 1 para mensagem em inglês, e que se perguntam como é que “homem branco” deixou de ser uma descrição para se tornar numa acusação»26. São, de acordo com a narrativa consensualizada, os eleitores que o Partido Democrata perdeu nas guerras culturais dos anos 1960, à procura de um regresso a valores em que se reconhecem ou, na visão mais cáustica do controverso estudo de Charles Murray, um grupo social que já não se revê no ethos da chamada maioria silenciosa e que se tornou progressivamente alienado das «virtudes fundadoras da vida cívica», uma subclasse que exibe as mesmas patologias sociais que tradicionalmente se atribuem a minorias economicamente oprimidas, que não se revê nos valores «ecuménicos» e estilo de vida da elite branca, numa sociedade mais dividida por classe do que por etnicidade27.

O entusiasmo pelas promessas de renascimento de uma América que volte a ser «grande» para si e os seus, que juntamente com o desdém pelas elites de Washington e Wall Street que imaginam como politicamente liberais e culturalmente arrogantes, alimentou o movimento Tea Party que desde 2010 tem escorraçado do Partido Republicano no Congresso muito do que restava da sua ala moderada, anima agora as hostes de apoiantes de Trump. O que estes eleitores não sabem reconhecer é que por detrás do slogan «Tornar a América Novamente Grande» se esconde não tanto uma vacuidade, como uma contradição insanável.

Como todos os apelos nostálgicos, também este aponta para um passado que não se conheceu e que se imagina bem melhor do que foi na realidade. Para muitos eleitores de Trump que o invocam, um complexo de imagens constrói este desejo: no plano externo, uma América respeitada, influente e razoavelmente temida, impondo um tipo de ordem e segurança estável no mundo; no plano interno, uma América próspera, de pleno emprego e salários altos, onde a mobilidade social não é uma miragem mas uma realidade palpável. Para muitos essa imagem confunde-se com a paisagem mental da América do final dos anos 1940 e início dos anos 1950, com o expandir dos subúrbios onde a classe média baixa podia adquirir a baixos custos a sua primeira propriedade imobiliária, garantida por salários seguros num setor industrial pujante, pré-globalização e deslocalização. Em resumo, o que o eleitorado de Trump parece desejar é o período do pós-guerra, antes das aventuras da contracultura dos anos 1960 e da humilhação da Guerra do Vietname, a mesma América que Reagan prometera bem mais eloquentemente do que Trump.

O que nem Reagan, nem Trump, nem a ortodoxia do Partido Republicano contemporâneo podem confessar é que essa ordem é incompatível com a sua visão das prioridades nacionais. A abundância da Grande América e a sua posição influente no mundo eram herdeiras do intervencionismo estatal do New Deal e de um consenso pragmático mínimo entre democratas e republicanos nos anos que se seguiram à guerra; sem a «GI.Bill of Rights», por exemplo, que oferecia aos veteranos de guerra generosas condições garantidas pelo governo federal para investirem em novos negócios, adquirirem uma educação superior, comprarem uma casa barata, a classe média americana não se teria tornado um modelo da capacidade de sociedades capitalistas abertas em assegurar o bem-estar e ascensão de milhões de trabalhadores; sem o apoio do governo federal, sustentado por robustas taxas máximas de impostos progressivos, a economia de guerra não se teria tão rapidamente reconvertido para fins civis, evitando que o regresso de 12 milhões de soldados se traduzisse numa nova crise económica; sem um acordo tácito sobre as prioridades da economia, governos democratas e republicanos não teriam sustentado políticas que sobreviveram às mudanças de governo; e sem um envolvimento deliberado e responsável com o resto do mundo, sustentado por ambos os partidos apesar de diferenças naturais, a América não teria sido influente no mundo, não teria ajudado a construir instituições internacionais e multilaterais, defensoras de valores liberais que ajudaram a expandir a sua influência.

Como Deudney e Ikenberry apontam,

«há uma inconsistência – mesmo uma contradição – entre o radicalismo conservador antigoverno e anti-instituições internacionais, e o objetivo declarado de restaurar e alargar a influência da América no mundo ignorando que a grandeza americana que agora se invoca nostalgicamente foi “construída sobre fundações liberais tanto doméstica como internacionalmente” e que estas foram alimentadas pragmaticamente por administrações democratas e republicanas essencialmente centristas»28,

e que presidentes republicanos como «Einsenhower e Nixon tinham muito mais a ver com os seus homólogos democratas do que com os conservadores radicais de hoje.»29

Isto sugere, como David Frum admite, que a liderança republicana deixou de ser capaz de interpretar as necessidades dos eleitores do Partido Republicano, que desejam de facto a proteção de direitos adquiridos que herdaram do pragmatismo bipartidário. Contra o dogma das virtudes da diminuição drástica do papel do Estado, 30 por cento de republicanos apoiam hoje o aumento de impostos para os muito ricos e só uma minoria muito reduzida apoia os cortes de despesas públicas propostos pela liderança (12 por cento defendem os cortes nos programas de saúde públicos e só 17 por cento apoiam reduções na segurança social)30, desmontando a ilusão de que, como Frum enuncia, o Tea Party e o trumpismo são «movimentos de massas guiados pelos editoriais do Wall Street Journal»31. Se o desejo destes americanos é, como resumiu o candidato republicano conservador Mike Huckabee num famoso anúncio da campanha presidencial de 2008, «ter um presidente que lhes recorde o homem que trabalha a seu lado e não o homem que o despede», os equívocos da sua predileção por Trump podem ser vistos como um repúdio instintivo não só do pretenso intelectualismo do Presidente Obama mas do distanciamento sobranceiro dos seus próprios dirigentes que não sabem, não podem ou não querem compreender e comunicar com as suas bases.

Por isso, comentadores como Frank Rick não estão a ser deliberadamente irónicos quando sugerem que, ao invés de caracterizar as primárias de 2016 como uma blitzkrieg de Trump contra o Partido Republicano, é de facto este que tenta roubar o partido às suas bases32. Por paradoxal que pareça, este diagnóstico expõe os dilemas do que resta do establishment de centro-direita republicano, numa conjuntura em que a sua agenda não promete o alívio da situação dos seus eleitores.

É óbvio que a presente rebelião populista conservadora não resulta só de frustrações económicas e que mudanças aceleradas de valores culturais na esfera doméstica e o confronto com as limitações do poder internacional americano na esfera externa para ela contribuem. Mas o que nem Trump nem o Partido Republicano parecem ter absorvido é que o verdadeiro inimigo da classe média pouco educada não é nem a globalização nem a desindustrialização, nem a imigração, nem a incerteza internacional, que, sendo possíveis de moderar, são racionalmente impossíveis de reverter – é o futuro do trabalho, a automatização e robotização da produção e de muitos serviços que ameaçará quase metade dos trabalhos existentes nas próximas décadas, e a falta de preparação e proteção para sobreviver às mudanças radicais que se aproximam33.

Se nenhum partido tem já respostas para este futuro – e provavelmente não as terão até que os novos desafios lhes sejam impostos pela dureza da realidade num futuro próximo –, parece certo que o número de eleitores da classe média que se sentem abandonados pela aceleração da história não vai desaparecer. Se vão continuar a expressar a sua exasperação refugiando-se nas ilusões populistas ou se vão voltar a confiar na agenda política dos partidos tradicionais depende da capacidade de renovação de cada um.

No caso do Partido Republicano é difícil que a guerra de classes entre eleitores e establishment desapareça depois de Trump. Para já, o partido parece ter duas alternativas: capitular perante os impulsos fantasistas, xenófobos e autoritários de parte do seu eleitorado e abraçar Trump em nome de uma inexistente unidade, ou aproveitar o choque para se reinventar, levando o seu eleitorado para caminhos mais produtivos. Não seria a primeira vez que um partido americano mudava de rumo e se realinhava politicamente, nem a primeira vez que um líder republicano resiste aos piores instintos do seu eleitorado. Neste caso, o partido poderia receber inspiração do ato de coragem política de Reagan em 1978. Os meses que nos separam das eleições de novembro provarão se ainda há, no partido fundado por Lincoln, capacidade para proteger legados históricos respeitáveis e para isolar o vírus que o corrói, em nome do seu futuro, do dos seus eleitores e do seu país.

 

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Data de receção: 6 de julho de 2016 | Data da aprovação: 12 de agosto de 2016

 

NOTAS

1 PERLSTEIN, Rick – «Is this the end of the gop as we know it?». In Slate. 28 de janeiro de 2016. (Consultado em: 24 de junho de 2016). Disponível em: http://www.slate.com/articles/news_and_politics/interrogation/2016/01/rick_perlstein_historian_of_conservatism_on_donald_trump_and_the_gop_crack.html.

2 CEGIEELKI, Stephanie – «An open letter to Trump voters from his top strategist-turned defector». 28 de março de 2016. (Consultado em: 15 de junho de 2016). Disponível online em: http://www.xojane.com/issues/stephanie-cegielski-donald-trump-campaign-defector.

3 A Constituição americana estabelece uma eleição escalonada do Senado, de forma a que tendo todos os senadores um mandato de seis anos, um terço vá a votos de dois em dois anos, ao contrário da Câmara dos Representantes que é eleita com mandatos de dois anos.

4 HARWOOD, John – «G.O.P.’s grip on house is put at risk». In International New York Times, 4 de maio de 2016, p. 2.

5 Alguns candidatos republicanos à Câmara dos Representantes, em eleições particularmente difíceis, já repudiaram publicamente Donald Trump e anunciaram que não votaram nele; entre estes está Robert Dold, do estado do Illinois, que representa um distrito eleitoral de Chicago com uma forte incidência de eleitores com cursos superiores, e Carlos Curbelo, do 26.º distrito do estado da Florida, onde 60 por cento do eleitorado são hispânicos (na Florida a percentagem global é de 23 por cento).

6 BROOKS, David – «If not Trump, what?». In The New York Times. 29 de abril de 2016. (Consultado em: 18 de junho de 2016). Disponível online em: http://www.nytimes.com/2016/04/29/opinion/if-not-trump-what.html?_r=0.

7 Ibidem.

8 Growth and Opportunity Project. 2013. (Consultado em: 19 de março de 2016). Disponível online em: http://goproject.gop.com/rnc_growth_opportunity_book_2013.pdf.

9 Ibidem, p. 4. Apesar de ter vencido as eleições de 2000 contra Al Gore no colégio eleitoral, George W. Bush perdeu o voto popular com uma diferença de cerca de 500 mil votos.

10 Ibidem.

11 PEW RESEARCH CENTER – «2016 electorate will be the most diverse in U.S. history». 3 de fevereiro de 2016. (Consultado em: 26 de abril de 2016). Disponível em: http://www.pewresearch.org/fact-tank/2016/02/03/2016-electorate-will-be-the-most-diverse-in-u-s-history/.

12 Em 2010, a lei «McCain-Feingold» de 2002, aprovada com apoio bipartidário, que proibia os partidos de receberem grandes doações de entidades privadas, foi ultrapassada pela decisão do Supremo Tribunal «Citizens United», que concluía que o Governo não podia limitar os gastos em campanhas políticas de corporações, sindicatos ou outros grupos. Esta decisão abriu as portas à organização de comités de ação política privados, que apoiam candidatos com doações, por vezes anónimas, de companhias, sindicatos ou indivíduos. Estima-se que nas eleições intercalares de 2014, 1,360 super-PAC tenham gasto cerca de 700 milhões de dólares em candidatos ao Congresso.

13 ALBERTAZZI, Danielle, e MCDONNELL, Duncan – Twenty-First Century Populism: The Spectre of Western European Democracy. Londres: Palgrave, 2008, pp. 1-2.

14 CANOVAN, Margaret – «Trust the people! Populism and the two faces of democracy». In Political Studies. Vol. 47, N.º 1, 1999, pp. 2-16.

15 HOFSTADTER, Richard – Anti-Intelectualism in American Life. Nova York: Vintage Books 1962, pp. 47-50.

16 HOFSTADTER, Richard – «The paranoid style in American politics». In The Paranoid Style in American Politics and Other Essays. Cambridge: Harvard University Press, 1996, p. 23.

17 O futuro partido começou por ter uma estrutura semiclandestina, o que explica o seu nome popular, dado pelos seus críticos como comentário à recusa dos seus membros em falar das suas atividades.

18 «The Know-Nothing Party Platform 1855». In The Know Nothings and American Crusader. 15 de julho de 1854. (Consultado em: 1 de junho de 2016). Disponível em: http://www.pjpiisoe.org/pamphlets/342US.pdf.

19 LINCOLN, Abraham – «Letter to Joshua S, Speed 24 August 1855». In Abraham Lincoln on line: Speeches and Writings. (Consultado em: 1 de junho de 2016). Disponível em: http://www.abrahamlincolnonline.org/lincoln/speeches/speed.htm.

20 KAUFMAN, Scott Eric – «Former NY governor George Pataki: Donald Trump is the “Know-Nothing” candidate of the 21st century». In Salon. 16 de dezembro de 2015. (Consultado em: 1 de junho de 2016). Disponível em: http://www.salon.com/2015/12/16/former_ny_governor_george_pataki_donald_trump_is_the_know_nothing_candidate_of_the_21st_century/.

21 SHIRLEY, Craig – Rendezvous with Destiny: Ronald Reagan and the Campaign that changed America. 2.ª edição). Willmington: Intercollegiate Studies Institute, 2011, p. 181.

22 PERLSTEIN, Rick – The Invisible Bridge: The Fall of Nixon and the Rise of Reagan. Nova York: Simon and Schuster, 2015, p. 530.

23 RICH, Frank – «Ronald Reagan was once Donald Trump». In New York Magazine. 1 de junho de 2016. (Consultado em: 1 de junho de 2016). Disponível em: http://nymag.com/daily/intelligencer/2016/05/ronald-reagan-was-once-donald-trump.html.

24 FARREL, Barry – «The candidate from Disneyland». In Harper’s Magazine. Fevereiro de 1976. (Consultado em: 1 de junho de 2016). Disponível em: http://harpers.org/archive/1976/02/the-candidate-from-disneyland/.

25 HUETTEMAN, Emmarie – «Lindsey Graham says nominating Donald Trump or Ted Cruz would be “death” of the party». In The New York Times. 21 de janeiro de 2016. (Consultado em: 2 de junho de 2016). Disponível em: http://www.nytimes.com/politics/first-draft/2016/01/21/lindsey-graham-says-electing-donald-trump-or-ted-cruz-would-be-death-of-the-party/?_r=0.

26 FRUM, David – «The great Republican revolt». In The Atlantic. Vol. 317, N.º 1, janeiro--fevereiro de 2016.

27 MURRAY, Charles – Coming Apart: The State of White America, 1960-2010. Nova York: Crown Forum, 2012.

28 DEUDNEY, Daniel, e IKENBERRY, G. John – «Unrevelling America the great». In The American Interest. Vol. XI, N.º 5, verão de 2016, p. 7.

29 Ibidem, p. 9.

30 FRUM, David – «The great Republican revolt», pp. 52-53.

31 Ibidem, p. 53.

32 RICH, Frank – «There was no Republican establishment after all». In The New York Magazine. 20 de março de 2016. (Consultado em: 2 de junho de 2016). Disponível em: http://nymag.com/daily/intelligencer/2016/03/frank-rich-trump-didnt-hijack-gop.html.

33 Thompson, Derek – «A world without work». In The Atlantic. Vol. 316, N.º 1, julho-agosto de 2015, p. 53.

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