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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  no.44 Lisboa dez. 2014

 

POTÊNCIAS EMERGENTES E DEMOCRACIA

 

A Turquia de Erdogan o início do fim ou somente o fim do início?

The Erdogan's Turkey: the beginning of the end or just the end of the beginning?

 

Laura Bastos* e André Barrinha**

* Doutoranda no programa de Doutoramento em Relações Internacionais - Política Internacional e Resolução de Conflitos, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais. Área de investigação incide no sistema político na Turquia e política externa turca. Mestrado em Relações Internacionais e Estudos Europeus (pelo Institut Européen des Hautes Etudes Internationales). Licenciatura em Jornalismo pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

** Professor de Política e Relações Internacionais na Canterbury Christ Church University, no Reino Unido e Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. É doutorado nessa mesma área pela Universidade de Kent, ernacionais, em Lisboa. Os seus principais interesses de investigação são nas áreas dos Estudos Críticos de Segurança, Segurança Europeia, Política Externa da Turquia e Teoria das Relações Internacionais.

 

RESUMO

O ano de 2014 na Turquia vai ficar marcado, internamente, pela consolidação do poder por parte de Recep Tayyip Erdogan e externamente pelo escalar dos conflitos na Síria e Iraque, com a ascensão do Estado Islâmico (EI). Apesar dos protestos antiGoverno de 2013 e do escândalo de corrupção que envolveu o Governo, Erdogan foi o grande vencedor das duas eleições realizadas no país – autárquicas e presidenciais. Um cenário temido por muitos que veem em Erdogan um líder cada vez mais autoritário, de um país cuja política externa parece carecer de uma estratégia coerente.

Palavras-chave: Turquia, potências emergentes, Partido da Justiça e do Desenvolvimento, Médio Oriente

 

ABSTRACT

2014 was a year of paradoxes in Turkey. Internally, Recep Tayyip Erdogan's power was reinforced by winning the two elections, local and presidential, with comfortable margins in spite of the anti-government protests and the corruption scandal involving the government. Externally, Ankara had to face the escalation of the conflicts in Syria and Iraq without a coherent strategy. A scenario feared by many who see Erdogan as an increasingly authoritarian leader.

Keywords: Turkey, Emerging Powers, AKP, Middle East

 

Desde há uma década parte do grupo das chamadas potências emergentes, a Turquia passa hoje por significativos processos de transformação política e social de desfecho inesperado, tanto interno, como na relação com aliados e parceiros regionais. O Partido da Justiça e do Desenvolvimento (akp, na sigla turca), até agora o grande motor desta mudança, dá crescentes sinais de autoritarismo1e desgaste político. Apesar de tudo, 2014 acabará com Recep Tayyip Erdogan como Presidente do país, confirmando o domínio hegemónico deste e do seu partido na cena política turca. A grande questão que agora se coloca é se esse domínio entrou numa irreversível fase de declínio em que a vitória nas presidências significa o canto do cisne do akp, ou se, pelo contrário, a chegada de Erdogan ao (novo e imponente) palácio presidencial representa a consolidação estrutural do partido, em que o kemalismo institucional que dominou a Turquia desde o nascimento da República é substituído por uma elite religiosa, conservadora, mas também neoliberal. Este artigo procura analisar os dois últimos e cruciais anos da vida política turca, mostrando como Erdogan e o akp passaram do quase colapso no verão de 2013, para o completo domínio institucional do país.

 

A CONFIRMAÇÃO DO PODER DE ERDOGAN

Depois do ano de 2013 marcado por manifestações e confrontos violentos entre manifestantes antiGoverno e forças de segurança, 2014 caracterizou-se por uma intensa atividade política: primeiro com a realização de eleições autárquicas em março e, posteriormente, com a realização de eleições presidenciais, em agosto. Apesar de geralmente serem as eleições legislativas aquelas que mais peso têm num país com um sistema político parlamentar, no caso turco foram as autárquicas de 2014 que decidiram o rumo do país e do seu governo. Foi a confirmação do akp com maioria parlamentar desde 2002, como favorito nestas eleições que reforçou o já esperado projeto de Recep Tayyip Erdogan de abandonar o cargo de primeiro-ministro para se candidatar às eleições presidenciais. Assim, Erdogan tornou-se no primeiro Presidente turco eleito por sufrágio universal direto (51,7 por cento dos votos) com promessas de um aumento da influência do presidente nas decisões políticas no país.

As críticas da comunidade internacional ao crescente autoritarismo de Erdogan, apesar de tímidas, fizeram-se sentir, por exemplo, por parte do embaixador americano na Turquia, John R. Bass, que declarou que a Ancara estaria a caminhar vagarosamente para um regime autoritário2. Constitucionalmente, o Presidente da República da Turquia deveria permanecer uma figura simbólica e neutra. Erdogan, no entanto, declarou no seu discurso de vitória que «um presidente não pode ser imparcial. Nenhum presidente neste país foi neutro e eu também não vou ser um presidente imparcial»3. Muito mudou na Turquia e em Erdogan nestes últimos 12 anos.

 

OS PRIMEIROS ANOS

O partido de Erdogan formou-se em 2001, depois do Partido da Virtude (Fazilet Partisi) ter sido banido pelo Tribunal Constitucional, devido à sua insistência em acabar com a proibição do véu islâmico nas universidades4. Como consequência, os membros do partido dividiram-se entre uma ala mais reformista e outra tradicional. Foi a ala reformista que esteve na base da criação do akp cuja ideologia política se demarcou do movimento político islâmico e adquiriu o rótulo de partido conservador democrático, adotando uma postura mais inclusiva de outras filiações políticas. A sua ascensão política seria fulminante, vencendo as eleições legislativas de novembro de 2002 com 34,6 por cento dos votos, assim como todas as outras que se lhe seguiram (2007, com 46,6 por cento dos votos, e finalmente em 2011 com 49,8 por cento5). Pelo meio várias vitórias nas eleições locais (2004, 2009 e 2014) e no referendo constitucional de 2010. Nos anos 1990 nenhum partido tinha conseguido sozinho a maioria parlamentar na Turquia. O akp alcançou três consecutivas.

O akp conseguiu nos primeiros anos de governo os votos não só da população mais conservadora mas também daqueles que não sendo tão religiosos esperavam que o partido levasse a cabo reformas políticas que ajudassem à democratização do país6. Apesar de nos primeiros anos de governo se ter verificado efetivamente um avanço no processo de democratização, em paralelo a uma positiva evolução no processo de integração europeia, desde 2005 que este se encontra estagnado7, com o receio de que se tenha entretanto assistido a um retrocesso efetivo na garantia de várias dessas liberdades8. Na verdade, os segundo e terceiro mandatos do akp foram marcados pelo acentuar da tensão política entre a oposição secular e o Governo e não por reformas políticas no sentido de uma maior democratização do país9. Para piorar a situação desde 2011 que se tem verificado um crescente comportamento autoritário por parte do governo do akp, com a monopolização do poder político nas mãos do partido e a crescente politização do sistema judicial, além do uso de força excessiva por parte das forças policiais10.

 

DE GEZI AO PALÁCIO PRESIDENCIAL

O autoritarismo de Erdogan tornou-se claro durante os protestos de Gezi em 2013 quando a brutalidade policial e a atitude obstinada do primeiro-ministro contra os manifestantes foram um sinal claro de que Erdogan queria demonstrar o seu poder. Os protestos começaram com um pequeno grupo de manifestantes no parque Gezi, no centro de Istambul, que protestavam contra a demolição do parque para a construção de um centro comercial de estilo arquitetónico otomano, um projeto apoiado pelo próprio primeiro-ministro Erdogan11. A agressiva intervenção policial contra os manifestantes desencadeou uma forte reação popular, levando milhões de turcos para as ruas em múltiplas cidades do país, especialmente em Istambul onde centenas de milhares de pessoas se manifestaram.

Apesar disso, não foram os protestos de Gezi que mais abalaram o governo de Erdogan, mas sim o escândalo de corrupção que veio a público alguns meses mais tarde, em dezembro de 2013. Nesta altura, a polícia prendeu os filhos de três ministros do gabinete do governo de Erdogan, assim como o gerente de um banco estatal, o presidente de câmara do distrito de Fatih em Istambul, Mustafa Demir e um empresário responsável por vários projetos de desenvolvimento em Istambul, Ali Ag?aog?lu12. A operação anticorrupção resultou na detenção de um total de 52 pessoas13. Dias mais tarde, os três ministros implicados, o ministro da Administração Interna, Muammer Güler, o ministro da Economia, Zafer Cag?layan, e o ministro do Ambiente, Erdogan Bayraktar, demitiram-se. Erdogan reagiu dizendo que esta era apenas uma campanha contra os interesses nacionais e removeu dos cargos dezenas de responsáveis das forças policiais14. Após as eleições autárquicas, muitos destes agentes seriam mesmo detidos, sob acusação de terem conduzido escutas ilegais. Na verdade, mais de uma centena de agentes policiais foram detidos nesta operação15.

Estes escândalos revelaram um novo conflito na vida política turca: a oposição entre Erdogan e o movimento Hizmet de Fethullah Gülen. Fethullah Gülen, o líder espiritual do movimento, que vive autoexilado na Pensilvânia, Estados Unidos, prega com base nos ensinamentos de Said Nursi por uma prática religiosa que conjuga os preceitos islâmicos com a modernidade. Este movimento foi ganhando seguidores na Turquia ao longo das últimas décadas. Inicialmente divulgadas através de pequenos grupos, as suas ideias foram ocupando lugar na sociedade, tendo criado uma importante rede com os próprios meios de comunicação, instituições educacionais e instituições financeiras16. O apoio do movimento Gülen ao governo do akp tem vindo a esmorecer nos últimos anos, tendo a intenção do Governo de acabar com as escolas privadas de preparação para exames do sistema educacional turco, muitas sob a direção do movimento Gülen, sido a última gota numa série de discordâncias entre as duas partes, que também incluíram a ativa crítica de membros do movimento, incluindo do próprio Gülen, à reação do governo de Erdogan aos protestos de Gezi17. Quando o escândalo de corrupção rebentou em dezembro do ano passado envolvendo o governo akp, Erdogan acusou indiretamente Gülen de ser responsável pelo ataque ao governo, referindo que haveria «um estado dentro de um estado»18.

De notar que a referência a «um estado dentro de um estado» na política turca não é recente. A vida política na Turquia sempre se caraterizou pela existência de múltiplas conspirações associadas a um «Estado profundo»19, referente à elite burocrática, militar e judiciária que controlava os desenvolvimentos políticos do país (e que acabou por estar na origem dos julgamentos de centenas de militares, intelectuais e políticos em 2013). É pois interessante constatar que esta referência ao «estado dentro de um estado» passou no vocabulário político turco, ou pelo menos no do seu atual presidente, a fazer referência a uma luta de poder dentro do mundo conservador-islâmico na Turquia. Num curto espaço de tempo, os ataques entre as duas partes tornaram-se claros, sendo que Erdogan usou termos como «falso profeta» ou «falso santo»20. Por sua vez, Gülen tem respondido num tom menos agressivo que Erdogan, apenas lamentando a conduta deste e afirmando que não esteve envolvido nos escândalos de corrupção21.

Apesar das dúvidas levantadas22relativamente ao impacto que esta guerra entre Gülen e Erdogan pudesse ter no sucesso eleitoral do akp, os resultados nas eleições locais de março de 2014 mostraram justamente que este continuava a ser o partido dominante na Turquia. É verdade que o período que antecipou as eleições autárquicas na Turquia foi bastante conturbado. Foram divulgados na internet vídeos comprometedores do governo de Erdogan, que alegadamente mostravam um diálogo entre o próprio primeiro-ministro de então e o seu filho sobre como esconder quantias avultadas de dinheiro. Estes vídeos terão sido gravados a 17 de dezembro quando irrompeu o escândalo de corrupção envolvendo aliados de Erdogan23. Estes eventos desencadearam novos protestos em várias cidades da Turquia. Em Istambul, 70 pessoas foram detidas em protestos cujo lema era «agarra o ladrão»24. Até às eleições, a divulgação de vídeos comprometedores em relação ao Governo foi constante. Em fevereiro foi divulgado um vídeo com a transcrição de uma escuta telefónica alegadamente entre Erdogan e o seu filho, Bilal Erdogan, que visava uma conversa entre os dois sobre como retirar milhões de euros em dinheiro de uma casa.

Outra das escutas divulgadas, seria uma alegada conversa entre o então ministro dos Negócios Estrangeiros Ahmet Davutoglu, e Hakan Fidan, chefe dos Serviços Secretos turcos, sobre a possibilidade de uma intervenção militar na Síria para proteger o túmulo de Salomão Shah, que se encontra num exclave turco naquele país, contra os ataques do Estado Islâmico (ei). Fidan terá proposto enviar agentes para a Síria para que estes lançassem mísseis para o território turco e assim forjar uma justificação da intervenção militar turca no exclave25. Erdogan acusou Gülen de ser responsável pela divulgação das escutas26.

Em consequência da divulgação de toda esta informação comprometedora, o governo de Ancara decretou guerra às redes sociais tendo, durante este período, proibido o acesso ao Youtube e ao Twitter. Em fevereiro de 2014, o parlamento turco aprovou uma lei referente à proteção de privacidade on-line que gerou controvérsia e críticas de que esta restringiria o direito à liberdade de expressão27. A lei previa que o presidente da Direção de Telecomunicações turca pode decidir o bloqueio de websites devido à violação de privacidade sem a aprovação prévia de um tribunal. O bloqueio foi levantado depois de um mês para o Twitter e dois meses para o Youtube28. Este episódio demonstra o porquê das preocupações levantadas relativamente ao governo de Erdogan, não só internamente mas também a nível internacional, sendo que a lei referida foi amplamente criticada por oficiais da União Europeia e Estados Unidos29. Entretanto, a atribuição do poder de bloquear websites à Direção de Telecomunicações foi declarada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional turco30.

No entanto, as eleições autárquicas confirmaram o apoio ao akp que ganhou também as eleições em Istambul e em Ancara, apesar de ambos os candidatos do akp e do maior partido da oposição, o Partido Republicano do Povo (chp), terem declarado a vitória para si próprios poucas horas depois do fecho das urnas31. Em termos nacionais, o akp conseguiu cerca de 43 por cento dos votos (mais 4,5 por cento que em 2009), uma vitória seguida de um discurso de Erdogan no qual este prometeu que os seus inimigos iriam «pagar» pelas acusações de que tinha sido alvo32. Na verdade, mesmo após as eleições, a tensão política ainda se fazia sentir, devido a acusações de fraude e a apelos veementes à recontagem dos votos em algumas localidades, incluindo Ancara33.

O tratamento que os meios de comunicação social deram a estas eleições suscitou críticas de parcialidade a favor do partido do Governo. Por exemplo, logo após as eleições, a agência noticiosa estatal mostrou resultados diferentes daqueles apresentados pela agência privada Cihan34. Também durante as eleições presidenciais registaram-se problemas, com mais acusações de censura a órgãos de comunicação independentes, incluindo mais uma vez a agência Cihan, aparentemente impedida de ter acesso a eventos cruciais como o encontro do akp onde seria escolhido o próximo primeiro-ministro turco35. De notar que esta agência terá ligações ao movimento Gülen36e terá sido esta a primeira vez em que terá sido excluída deste tipo de acontecimento37.

Em contraste com o período conturbado que antecipou as eleições autárquicas, as presidenciais decorreram de forma pacífica, ou mesmo, até, passiva. Erdogan, interdito segundo as leis do partido de se candidatar a um quarto mandato como primeiro-ministro nas eleições legislativas que se vão realizar no próximo ano38, era o principal candidato à vitória. Por forma a conseguir propor uma alternativa viável à popularidade de Erdogan, os maiores partidos da oposição, o republicano e secular chp e o Partido de Ação Nacionalista (mhp), formaram uma coligação cujo candidato foi Ekmeleddin I?hsanog? lu, anterior secretário-geral da Organização para a Cooperação Islâmica. Esta escolha demonstrou uma tentativa de apelar também aos eleitores mais conservadores, que normalmente votariam em Erdogan. Apesar disso, Erdogan foi o vencedor com quase 52 por cento dos votos, enquanto Ekmeleddin I?hsanog?lu arrecadou quase 39 por cento. O terceiro candidato, Selahattin Demirtas¸, do Partido Democrático Popular (hdp, na sigla turca), apesar de não ter conseguido sequer 10 por cento dos votos, foi visto como um dos «vencedores» da noite39, por ter sido o candidato com mais votos no sudeste turco de maioria curda, (o que não é totalmente inesperado devido às fortes ligações do hdp ao partido curdo bdp), e também pela mensagem que a sua campanha passou, em defesa da luta pelos direitos e liberdades fundamentais na Turquia40.

 

UM FUTURO INCERTO

A candidatura e consequente vitória de Recep Tayyip Erdogan nas eleições presidenciais levantam inúmeras questões sobre o futuro político da Turquia, incluindo uma possível mudança de institucional de um sistema parlamentar para um sistema presidencial. No seu discurso de vitória como presidente, Erdogan fez referência ao começo de uma nova era, benéfica para todos41; a uma nova Turquia diferente daquela dominada por um sistema autoritário e por golpes de Estado42, em referência ao quase século de domínio republicano e secular, no qual o setor militar detinha o papel de zelar pela segurança. No entanto, muitos veem nesta nova Turquia o mesmo autoritarismo por outros meios e outros atores. O próprio Erdogan referiu nos seus discursos de campanha que não tencionava ser um presidente neutro e que iria permanecer influente, sendo que «aqueles que querem um presidente neutro na realidade querem um presidente que fique do lado do Estado contra o povo. Essa era terminou»43, declarou, numa clara referência ao domínio do Estado pela elite secular. No discurso proferido para o seu partido depois das eleições presidenciais, este expressou a sua vontade de que o akp consiga a maioria parlamentar necessária para alterar a Constituição nas eleições legislativas de 201544. Como já foi referido anteriormente, Erdogan é o primeiro Presidente eleito por sufrágio universal na Turquia. Até agora, o Presidente era nomeado pelo parlamento turco, algo que foi alterado em 2007 depois de um referendo que apoiou a proposta de alteração à Constituição turca que determinava a eleição por sufrágio universal do Presidente da República45. Esta mudança oferece maior legitimidade ao Presidente para se envolver de forma mais ativa na política nacional46. A intenção de transformar o sistema político turco num sistema presidencial através da alteração da Constituição já tinha sido anteriormente expressa por Erdogan e pelo akp, mas tal vontade não conseguiu o apoio da oposição necessário para levar a cabo esta reforma47. Daí que a presidência de Erdogan seja apontada por alguns como uma forma de conseguir na prática o exercício de um sistema presidencial apesar de formalmente o papel do Presidente não ter sido alterado48. De notar que, Erdogan tem justificado o seu poder através das suas sucessivas vitórias eleitorais desde 2002, confundindo a vontade da maioria com a vontade da nação49. Neste ponto, vários analistas comparam Erdogan ao Presidente russo, Vladimir Putin50: os tiques autoritários de Erdogan e a perseguição aos seus oponentes, como no caso do movimento Gülen, são vistos como semelhantes ao modus operandi do Presidente russo. É uma comparação que, por enquanto tem os seus limites, uma vez que Erdogan não possui, neste momento, o mesmo espaço de manobra que Vladimir Putin tem na Rússia. No entanto, em particular se a Turquia acabar por evoluir para um sistema presidencial51, é possível que as semelhanças entre os líderes se acentuem nos próximos anos.

 

IMPACTOS EXTERNOS

Além de um novo Presidente da República (e como consequência disso), a Turquia tem agora também um novo primeiro-ministro. Apesar de alguma especulação antes das eleições presidenciais sobre uma eventual troca de lugares entre o então presidente Abdullah Gül e Erdogan, muito à semelhança da situação entre Putin e Medvedev na Rússia52, o sucessor apontado pelo partido foi Ahmet Davutoglu, até então ministro dos Negócios Estrangeiros. A nomeação de Davutoglu levantou questões quanto ao afastamento de Abdullah Gül de cargos preeminentes no Governo. A relação entre Erdogan e Gül terá sofrido com os eventos mais recentes, sendo que Gül adotou uma postura mais conciliatória, especialmente em relação aos protestos no país que o então primeiro-ministro53, enquanto que Davutoglu permaneceu leal a Erdogan54, algo que o atual presidente da Turquia não deixou de referir na cerimónia55que consagrou Davutoglu como líder do akp e consequente primeiro-ministro56.

Ahmet Davutoglu tem sido o responsável pela estratégia política do akp em relação à política externa da Turquia, mesmo antes de ter sido nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros em 2009. Foi com base nas ideias de Davutoglu e na sua conceção de «profundidade estratégica» que a política externa da Turquia durante o governo do akp procurou, na última década, fortalecer laços com os países vizinhos do Médio Oriente, Cáucaso e Balcãs. Durante este período, a Turquia tentou assumir um papel mais relevante na política internacional, tanto ao nível bilateral, como multilateral. No entanto, Davutoglu e a política externa da Turquia têm sido criticados nos últimos anos pela forma como a Turquia tem sido incapaz de lidar com um Médio Oriente pós-Primavera Árabe57, marcado pela guerra civil na Síria e pela crescente ameaça de instabilidade no Iraque.

A retórica turca relativamente à influência positiva de Ancara na região, incluindo a capacidade de mediação de conflitos e o uso da diplomacia para chegar a acordo entre partes beligerantes58, acabou por revelar a falta de uma estratégia clara na resposta da Turquia a estes eventos59, expondo o vazio da política externa de Ancara e a sua limitada influência na região.

Apesar de promover a luta pela democracia na região, Ancara teve dificuldade em apoiar forças antirregime nos casos dos países com que mantinha boas relações económicas, como foi o caso da Líbia de Qaddafi. No caso da Líbia, a Turquia, depois de alguma relutância, acabou por se juntar à intervenção da nato no país, embora de uma forma passiva numa operação liderada pela França e pela Grã-Bretanha, com o apoio dos Estados Unidos. Consciente de que esta indecisão poderia levar a um decréscimo na popularidade da Turquia na região, a resposta por parte do Governo turco tornou-se mais assertiva com os casos do Egito e Síria60. No Egito, o akp foi claro no seu apoio ao fim do regime de Mubarak e à ascensão política da Irmandade Muçulmana. Na verdade, a tensão entre o Governo turco e o egípcio é hoje visível dado o contínuo apoio de Ancara a Morsi, entretanto afastado do Governo61.

Apesar de tudo, o maior desafio à política externa da Turquia foi e continua a ser a Síria. Depois de uma década que parecia ter estabilizado as relações entre os dois países, as revoltas populares na Síria voltaram a colocar Ancara e Damasco em polos opostos. Esta proximidade fez com que a Turquia tivesse tentado, após os primeiros sinais significativos de contestação popular, influenciar o regime de Bashar al-Assad a levar a cabo as reformas exigidas pela população62. Uma vez que Assad não mudou de posição, a Turquia assumiu uma posição tendencialmente crítica, acabando por ativamente apoiar os movimentos de oposição63. Nesse sentido, o ei surge como um enorme desafio à política externa turca.

Tanto no caso do Iraque como no caso da Síria, uma eventual desintegração destes países não só geraria imprevisíveis ondas de instabilidade, como potencialmente levaria à constituição de um estado curdo na sua fronteira, uma questão que se tornou ainda mais relevante dado o apoio que os curdos têm recebido por parte dos Estados Unidos na luta contra o ei64. Mesmo Ancara tem colaborado com os curdos iraquianos na defesa da cidade síria (curda) de Kobane 65, 66.

O atual contexto de violência que assola a região pode afetar diretamente os planos de Erdogan para o futuro político da Turquia, nomeadamente os planos quanto à alteração da Constituição e consequente mudança para um sistema presidencial. Uma eventual alteração da Constituição depende do apoio do partido pró-curdo Partido da Paz e da Democracia (bdp, na sigla turca). Essa tem sido uma das razões que tem levado Erdogan a procurar uma conciliação com o movimento rebelde do pkk, em particular com o seu líder Abdullah Öcalan, que se encontra em prisão perpétua desde 199967.

No entanto, este processo está em risco pela falta de empenho da Turquia em defender a cidade síria (curda) de Kobane contra o ei. Para o governo de Ancara que tem tido uma posição pouco firme relativamente à rápida ascensão do ei68, o dilema é grave: ou apoia as forças rebeldes curdas, potenciando a ascensão do pkk e de outros movimentos a estes ligados, ou não o faz e correndo o risco de ter de lidar com uma crise humanitária de escala imprevisível. De facto, Ancara tem evitado uma colaboração total com os Estados Unidos no combate ao ei na Síria, tentando ao mesmo tempo conseguir o apoio da comunidade internacional para uma estratégia que vise não só combater o ei mas também remover Assad do poder. Davutoglu declarou que a Turquia fará «o possível para ajudar as pessoas de Kobane porque são nossos irmãos e irmãs. Não os vemos como curdos, turcomanos ou árabes. Se há necessidade para uma intervenção em Kobane, nós dizemos que há necessidade de intervir em toda a Síria, em toda a nossa fronteira»69. Esta seria uma maneira de garantir que o pkk deixasse de ver Assad como um aliado70.

A não-intervenção da Turquia na defesa de Kobane provocou ainda protestos em vários pontos do país, provocando a morte de dezenas de pessoas, principalmente no leste do país71. O Governo chegou mesmo a declarar o recolher obrigatório para várias províncias da região72.

O número de refugiados (registados) na Turquia ascende hoje em dia a quase 900 mil73. Este número tão significativo tem levado a um escalar da tensão entre diferentes grupos étnicos na região, nomeadamente na província de Hatay onde a chegada de um elevado número de refugiados, maioritariamente sunitas, perturba o delicado equilíbrio entre as diferentes etnias na região74, sendo este um fenómeno que igualmente presente noutros pontos do país75. A chegada de tantos refugiados coloca igualmente em questão a capacidade financeira da Turquia em financiar a criação e manutenção de campos de refugiados. De acordo com a unhcr, a Turquia estava já com dificuldades em lidar com os refugiados provenientes um pouco de toda a Síria, antes de receber os mais de 180 mil residentes de Kobane76. A Turquia gastou já quatro mil milhões de dólares na assistência aos refugidos, sendo que 220 mil vivem nos campos providenciados pelo Governo e mais de 85 por cento vive fora dos campos, segundo a Amnistia Internacional77. A nível interno, o estatuto dos refugiados sírios levanta ainda questões relativamente a uma eventual estratégia do Governo para conseguir mais apoio eleitoral para o akp, através da concessão de cidadania a muitos destes78.

 

CONCLUSÃO

A Turquia vive hoje num contexto de enorme instabilidade externa e de incerteza quanto ao rumo político e económico do país. No segundo trimestre de 2014, o crescimento económico foi mais lento que o esperado, ficando apenas nos 2,1 por cento79. Entre outros aspetos, a tensão política gerou uma quebra de confiança no mercado turco, provocando a saída de capital que levou o banco central a aumentar acentuadamente as taxas de juro no início de 201480. O akp domina a vida política, mas são inúmeros os sinais de fim de regime, com o avolumar dos casos de corrupção, com a multiplicação dos casos de censura e com as cada vez mais frequentes demonstrações de descontentamento popular. O caminho traçado por Erdogan que pretende ver a Turquia entre as dez maiores economias mundiais em 2023 (aquando da comemoração do centenário da República) parece hoje mais distante do que há alguns anos atrás. O processo de integração europeia só existe no papel e a política de «problemas zero com a vizinhança» não passa hoje de uma ironia do destino. A Turquia continua, por enquanto, a ser uma potência «emergente». Resta saber até quando.

 

Data de receção: 21 de outubro de 2014 | Data de aprovação: 14 de novembro de 2014

 

NOTAS

1 dombey, Daniel – «Turkey’s Erdogan lurches towards authoritarianism». In The Financial Times. [Consultado em: 11 de outubro de 2014]. Disponível em: http://www.ft.com/intl/cms/s/0/e89e8d74-cfc1-11e3-a2b7-00144feabdc0.html#axzz3GDWyJ1jN

2 «FM Undersecretary Sinirliog?lu travels to US». In Today’s Zaman. [Consultado em: 11 de outubro de 2014]. Disponível em: http://www.todayszaman.com/anasayfa_fm-undersecretary-sinirlioglu-travels-to-us_353643.html

3 «Erdogan says won’t be impartial president». In Today’s Zaman. [Consultado em: 11 de outubro de 2014]. Disponível em: http://www.todayszaman.com/anasayfa_erdogan-says-wont-be-an-impartial-president_352407.html

4 hale, William, Özbudun, Ergun – Islamism, Democracy and Liberalism in Turkey - the case of the akp. Nova York: Routledge, 2010.

5 ak Parti. Elections. Disponível em: http://www.akparti.org.tr/english/secim-ler/genel/2011/

6 turam, Berna – «Are rights and liberties safe?». In Journal of Democracy. Vol. 23. N.º 1, 2012, pp. 109-118.

7 aydin-düzgit, Sinem, e keyman, Fuat – «eu, Turkey relations and the stagnation of Turkish democracy». In Global Turkey in Europe Series. Working Paper 2, 2012.

8 A Turquia prendeu em 2013 mais jornalistas que qualquer outro país no mundo. Ver kestler-d’amours, Jillian – «Turkey: "World’s biggest prison" for media». In Aljazeera. [Consultado em: 16 outubro de 2014]. Disponível em: http://www.aljazeera.com/indepth/features/2013/02/2013217124044793870.html

9 turam, Berna – «Are rights and liberties safe?». In Journal of Democracy. Vol. 23, N.º 1, 2012, pp. 109-118.

10 ÖniS¸, Ziya – «Monopolizing the Center: the akp and the uncertain path of Turkish democracy». Disponível em http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2499213

11 letsch, Constanze – «A year after the protests, Gezi park nurtures the seeds of a new Turkey. In The Guardian. [Consultado em: 5 de outubro de 2014]. Disponível em: http://www.theguardian.com/world/2014/may/29/gezi-park-year-after-protests-seeds-new-turkey

12 «Highlights of major corruption, bribery operations of Dec. 17, 25». In Today’s Zaman. [Consultado em: 12 de outubro de 2014]. Disponível em: http://www.todayszaman.com/anasayfa_highlights-of-major-corruption-bribery-operations-of-dec-17-25_357703.html

13 «Turkey PM Erdogan condemns "dirty" corruption probe». In BBC News. [Consultado em: 12 de outubro de 2014]. Disponível em: http://www.bbc.com/news/worldeurope25437624

14 «Top Turkish ministers resign over Halkbank corruption probe», In Deutsche Welle. [Consultado em: 12 de outubro de 2014]. Disponível em: http://www.dw.de/top-turkish-ministers-resign-over-halkbank-corruption-probe/a-17323507

15 yackley, Ayla Jean – «Turkish court orders arrest of 12 more police officers in wiretap probe». In Reuters. [Consultado em: 30 de setembro de 2014]. Disponível em: http://news.yahoo.com/turkish-court-orders-arrest12-more-police-officers022339442.html

16 yavuz, Hakan M. – «The Gülen Movement - The Turkish Puritans». In Turkish Islam and the secular state: the Gülen movement. Nova York: Syracuse University Press, 2003, pp. 19-47.

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18 arango, Tim – «Corruption scandal is edging near Turkish premier. In The New York Times. [Consultado em: 6 de outubro de 2014]. Disponível em: http://www.nytimes.com/2013/12/26/world/europe/turkish-cabinet-members-resign.html?pagewanted=all&_r=2&

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38 letsch, Constanze – «Turkish local elections: akp set for victory». In The Guardian.

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53 «Gül "frozen out of running" for Turkey PM». In AFP. [Consultado em: 10 de outubro de 2014]. Disponível em: http://english.alarabiya.net/en/News/world/2014/08/17/Gul-frozen-out-of-running-for-Turkey-PM-.html

54 çoskun, Orhan – «Turkish President Gül tips FM Davutoglu to be next prime minister». In Reuters. [Consultado em: 10 de outubro de 2014]. Disponível em: http://www.reuters.com/article/2014/08/19/us-turkey-government-idUSKBN0GJ21Z20140819.

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56 De notar ainda que o carisma de Erdogan e o seu estilo populista marcam a sua liderança, sendo que até a sua despedida do partido levou alguns dos deputados do akp às lágrimas. Ver em Özel, Riza – «PM Erdogan’s "final group speech" moves deputies to tears». In Hürriyet Daily News. [Consultado em: 10 de outubro de 2014]. Disponível em: http://www.hurriyetdailynews.com/in-photos-pm-erdogans-final-group-speech-moves-deputies-to-tears.aspx?PageID=238&NID=69477&NewsCatID=338

57 cook, Steve – «Arab Spring, Turkish Fall». In Foreign Policy. [Consultado em: 20 de outubro de 2014]. Disponível em: http://foreignpolicy.com/posts/2011/05/05/arab_spring_turkish_fall/; kibarog?lu, Mustafa - «What went wrong with the "Zero Problems with Nei-ghbors" doctrine?». In Turkish Policy Quarterly. Vol. 11, N.º 3, 2012, pp. 85-93.

58 DAVUTOGLU, Ahmed – «Turkey’s mediation: critical reflections from the field». In Middle East Policy, Vol. 20, N.º 1, 2013, pp. 83-90.

59 Önis¸, Ziya – «Turkey and the Arab Spring: between ethics and self-interest». In Insight Turkey, Vol. 14, N.º 3, 2012, pp. 45-63.

60 Önis¸, Ziya – «Turkey and the Arab revolutions: boundaries of regional power influence in a turbulent Middle East». In Mediterranean Politics. Vol. 19, N.º 2, pp. 203-219.

61 albayrak, Aydin – «Erdogan’s biting language towards Egypt’s Sisi costly for Turkey». In Today’s Zaman. [Consultado em: 26 de novembro de 2014]. Disponível em: http://www.todayszaman.com/anasayfa_erdogans-biting-language-towards-egypts-sisi-costly-for-turkey_360732.html

62 ?uzlu, Tarik – «The "Arab Spring" and the rise of the 2.0 version of Turkey’s "zero problems with neighbors" policy». In SAM Papers, N.º 1, 2012.

63 akyol, Mustafa – «The truth about Turkey and ISIL (I)». In Hürriyet Daily News. [Consultado em: 26 de novembro de 2014]. Disponível em: http://www.hurriyetdailynews.com/the-truth-about-turkey-and-isili.aspx?pageID=449&nID=71803&NewsCatID=411

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65 solaker, Gülsen, e perry, Tom – «Turkey to let Iraqi Kurds reinforce Kobani as U.S. drops arms to defenders». In Reuters. [Consultado em: 27 de novembro de 2014]. Disponível em: http://www.reuters.com/article/2014/10/20/us-mideast-crisis-usa-airdrops-idUSKCN0I904X20141020.

66 Apesar do receio do que estes acontecimentos poderão implicar para a população curda na Turquia, o interesse económico por parte da Turquia no território curdo iraquiano é notório; heuvelen, Ben Van – «Iraq’s Kurdish region pursues ties with Turkey». In The Washington Post. [Consultado em: 26 de novembro de 2014]. Disponível em: http://www.washingtonpost.com/world/middle_east/iraqs-kurdish-region-pursues-ties-with-turkey-for-oil-and-independence/2013/11/09/ffae210a-41a5-11e3-8b74-d89d714ca4dd_story.html

67 larrabee, F. Stephen – «Why Erdogan wants peace with the pkk – The end of an insurgency». In Foreign Affairs. [Consultado em: 10 de outubro de 2014]. Disponível em: http://www.foreignaffairs.com/articles/139081/f-stephen-larrabee/why-erdogan-wants-peace-with-the-pkk

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72 «Wrap up: at least 26 killed in isil protests across Turkey as curfew declared in six provinces». In Hürriyet Daily News [Consultado em: 27 de novembro de 2014]. Disponível em: http://www.hurriyetdailynews.com/wrap-up-at-least18-killed-in-isil-protests-across-turkey-as-curfew-declared-in-six-provinces.aspx?pageID=517&nID=72659&NewsCatID=341

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