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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  n.29 Lisboa mar. 2011

 

Brasil, América Latina e Estados Unidos

 

Carmen Fonseca

Investigadora no IPRI – UNL e assistente convidada no Departamento de Estudos Políticos da FCSH – UNL, onde prepara uma tese de doutoramento sobre política externa brasileira.

 

Jorge I. Domínguez e Rafael Fernández de Castro (eds.), Contemporary U.S.-Latin American Relations. Cooperations or Conflict in the 21st century?

Nova York, Routledge, 2010, 252 pp.

Este livro reúne um conjunto de contributos sobre as relações dos Estados Unidos com alguns países da América Latina, depois de cada um dos autores ter anteriormente publicado em livro a síntese que aqui apresenta. Tendo como ponto de partida o ano de 2000, Contemporary U.S.-Latin American Relations. Cooperations or Conflict in the 21st century? analisa, em cada um dos capítulos, as relações dos Estados Unidos com o México, Cuba, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Venezuela. Contém ainda um capítulo que trata as relações dos Estados Unidos com a América Central e outro as relações com os países do Caribe.

Jorge I. Domínguez (Universidade de Harvard), um dos organizadores da obra, abre o volume com o capítulo que caracteriza o sistema internacional desde os anos 2000, para introduzir o contexto internacional e regional que serve de pano de fundo ao desenvolvimento da agenda externa norte-americana e, consequentemente, às relações com os países da América Latina. Domínguez e Rafael Fernández de Castro (Universidade de Harvard) tratam depois a evolução das relações com o México. No capítulo introdutório, Domínguez ressalta a importância da ascensão da China para o crescimento das economias dos países da região tornando-os mais «independentes no seu comportamento internacional». Refere que durante a Administração de George W. Bush as relações sino-americanas foram «correctas», mas a relação da China e dos Estados Unidos com os países do Sul desenvolveu-se em proporção desigual, passando a China a ocupar um lugar de relevo na América Latina, especialmente em termos económicos, através das trocas comerciais. No mesmo sentido, as prioridades internacionais norte-americanas no início dos anos 2000 não eram contundentes com as dos países da região, fazendo com que, de uma forma geral, terminasse «a era da coordenação Estados Unidos-América Latina que havia florescido durante os anos 1990». O autor aponta ainda outros dois factores para este declínio, por um lado, o fim do «consenso liberal» que caracterizou as dinâmicas políticas da América Latina, e, por outro lado, a securitização de alguns aspectos da política externa norte-americana. Existem, porém, factores específicos a cada caso em concreto e que podem ser explorados em cada um dos capítulos que compõem o livro.

 

Abraham F. Lowenthal, Theodore J. Piccone e Laurence Whitehead (eds.), Shifting the Balance. Obama and the Americas

Washington DC, Brookings Institution Press, 2011, 193 pp.

A eleição de Barack Obama em 2008 significou uma alteração das relações com o continente latino-americano, ou uma continuidade, se tivermos em conta os últimos anos da Administração de George W. Bush em que a América Latina não esteve nas prioridades da agenda externa norte-americana. No prefácio de Shifting the Balance. Obama and the Americas, Maurício Cardenas (director da Latin America Initiative, da Brookings Institution), destaca a posição de colaboração e parceria em vez de confrontação, adoptada por Obama, apesar de não existirem, por enquanto, resultados práticos visíveis. Todavia ressalta também que Obama herdou uma agenda muito complexa e com alguns assuntos sensíveis, logo, face a essa agenda, onde encaixar a relação com os países da América Latina (uma região que no imediato não tem representado uma ameaça para os Estados Unidos)?

É esta evolução que Lowenthal (Universidade de Southern California e Brookings Institution), Piccone (Brookings Institution) e Whitehead (Nuffield College da Universidade de Oxford) reúnem em Shifting the Balance. Obama and the Americas, seleccionando alguns dos países mais relevantes ou controversos da região. O livro começa com um texto de Abraham F. Lowenthal onde é feito um balanço da política externa de Obama para as Américas. Theodore J. Piccone analisa a democracia na região e Laurence Whitehead fecha este volume apresentando a tendência e os desafios da relação dos Estados Unidos com a América Latina.

Quanto aos estudos de caso, o livro contém uma análise de Carlos Heredia e Andrés Rozental às tentativas de estabelecimento de uma relação estratégica com o México, seguindo-se depois a análise de João Augusto de Castro Neves e Matias Spektor à relação de Obama com o Brasil, caracterizada pela falta de consenso em alguns assuntos, como o clima ou o nuclear iraniano. Michael Shifter trata a complicada relação dos Estados Unidos com a Colômbia, Jennifer McCoy a incómoda relação com a Venezuela, e George Gray Molina explora o impasse diplomático com a Bolívia. Daniel P. Erikson analisa o relançamento das relações com Cuba, Kevin Casas-Zamora explora a crise hondurenha e Juan Gabriel Valdés a situação no Haiti. São, pois, bastante diversos os casos estudados, o que reflecte as diferentes características de cada um dos países da região.

Ficou a faltar contudo uma avaliação da relação dos Estados Unidos com a Argentina, e mesmo com o Chile, dois outros países importantes nas dinâmicas regionais.

 

Vicki Huddleston e Carlos Pascual, Learning to Salsa. New Steps in U.S.-Cuba Relations

Washington DC, Brookings Institution Press, 2010, 245 pp.

Com um título bastante sugestivo, o livro Learning to Salsa apresenta um conjunto de recomendações que vise facilitar a aproximação entre os Estados Unidos e Cuba. Este volume resulta de uma iniciativa da Brookings Institution, iniciada em 2007, com o objectivo de desenvolver uma estratégia para «pôr fim ao falhanço» das relações entre os dois países, embora considerando que as iniciativas para as alterações democráticas em Cuba devam vir do seu interior, realçam também que «o povo americano e o seu governo poderiam servir como catalisadores» para a apresentação de alternativas aos cubanos.

Nesse sentido, Vicki Huddleston (diplomata, foi co-director do projecto) e Carlos Pascual (embaixador americano no México, foi vice-presidente e director de política externa na Brookings Institution) dão a conhecer os seis exercícios de simulação levados a cabo durante um ano e meio pelos consultores do projecto, de modo a «apresentar um processo de aprendizagem dinâmico» que fomente as relações entre os Estados Unidos e Cuba. Os dois primeiros exercícios centram-se na política dos Estados Unidos. O primeiro nos «constrangimentos do legado histórico», e, o segundo, na «nova estratégia para Cuba». Por um lado, avaliaram a forma como o Conselho de Segurança Nacional reagiria a uma eventual morte de Fidel Castro, e às suas consequências; por outro, avaliaram as propostas que seriam apresentadas por uma nova administração norte-americana. O terceiro exercício centra-se na compreensão da liderança cubana. Foi proposto aos consultores para se colocarem no papel de conselheiros de Raúl Castro e discutirem as possíveis formas implementadas para a consolidação da sua liderança. A quarta simulação testou a sociedade civil cubana e a aceitação do apoio externo na promoção de uma transição, e o quinto exercício simulou a coordenação norte-americana com a comunidade internacional para a promoção da democracia e dos direitos humanos. Por fim, o último exercício de simulação focou-se na possibilidade de criação de um consenso na comunidade cubana nos Estados Unidos, especialmente em Miami.

Depois de efectuados estes exercícios foi possível verificar que os Estados Unidos não estarão aptos a lidar com a situação cubana se continuarem a prolongar a histórica política de isolacionismo, devendo agir o mais rápido possível para que a sua influência não diminua ainda mais. Foi possível supor que Raúl Castro irá continuar a aumentar a sua legitimidade e a fazer crescer as expectativas nos cidadãos, sem reduzir, contudo, a autoridade do Estado. A participação de Cuba em organizações internacionais foi avaliada como um factor favorável às transformações do comportamento cubano, ao colocá-lo em relação directa com «os padrões internacionais de democracia, transparência e direitos humanos», assim como a comunidade cubana nos Estados Unidos parece ser capaz de se coordenar para influenciar a atitude norte-americana.

Learning to Salsa apresenta-se como uma forma original de tratar um tema que não é novo. A situação interna cubana, a relação da comunidade internacional com Cuba, e, mais especificamente, a posição norte-americana quanto a Cuba são assuntos que tendem a permanecer na agenda internacional, apesar do registo de pequenos momentos de abertura.

 

Riordan Roett, The New Brazil

Washington DC, Brookings Institution Press, 2010, 178 pp.

The New Brazil não nos apresenta apenas uma análise das actuais dinâmicas políticas, institucionais, económicas e sociais do Brasil, a isso soma-se, numa perspectiva histórica estruturada em seis capítulos, a evolução do país desde o período colonial até ao Governo de Lula da Silva. A estes seis capítulos históricos junta-se a introdução, o oitavo capítulo («Brazil’s emergence on the global stage»), e por fim a conclusão. Riordan Roett, professor na School of Advanced International Studies da Universidade de Johns Hopkins, tem como objectivo traçar a história da modernização do Brasil e compreender o caminho percorrido pelo país, que lhe permitiu alcançar um estatuto internacional relevante espelhado na sua definição como um mercado emergente, com a sigla BRIC.

O segundo capítulo apresenta o background histórico do Brasil, de colónia a Império e a República; o terceiro capítulo gira em torno da revolução de 1930, que «marca o início de um longo e tortuoso processo de modernização e industrialização», até ao golpe militar de 1964, que é depois desenvolvido no capítulo seguinte juntamente com o período do regime militar. A transição para a democracia é tratada no quinto capítulo, Riordan Roett define-a como uma «transição incompleta», incluindo nesse período os anos entre 1985 a 1994, a partir de quando a democracia se consolida. Roett considera que a eleição de Fernando Henrique Cardoso (FHC) em 1994 «representou um passo crucial na história brasileira. Durante décadas os líderes políticos do Brasil estiveram desprovidos da visão e liderança necessárias para concretizar o vasto potencial do país».

Roett pretende passar a ideia de que o sucesso que o Brasil alcançou durante a Administração de Lula se deve ao processo de reformas que começou com a eleição de FHC. Ambos se dedicaram à tarefa de modernizar o país e criaram condições para a «emergência do novo Brasil». Por um lado, as condições económicas do Brasil, um dos últimos países a serem atingidos pela actual crise económico-financeira. Para Roett, o sucesso do Brasil deve-se a factores externos, como as exportações com a China, o investimento investimento directo estrangeiro, mas também às políticas para conter a inflação e à existência de um Banco Central autónomo. No mesmo sentido, as descobertas de reservas de petróleo e gás natural permitem que o Brasil se defina como uma potência energética e detenha internacionalmente uma posição de destaque nessa área, assim como a definição do Brasil como um «BRIC» lhe proporcionou a possibilidade de influenciar o processo decisório internacional dominado até então pelo G7. Por outro lado, os programas de redução da pobreza iniciados com FHC e aprofundados com Lula foram muito bem-sucedidos, e contribuíram para o crescimento de uma classe média consumidora. Roett considera que deste modo o Brasil conseguiu consolidar a sua estabilidade preparando-se para encarar os desafios do futuro.