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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  n.20 Lisboa dez. 2008

 

Debate: uma nova Guerra Fria?

Comentário por

 

José Pedro Teixeira Fernandes

A guerra entre a Geórgia e a Rússia não deve ser interpretada, essencialmente, através do quadro mental herdado da Guerra Fria. Para além das causas mais directas do conflito, ligadas ao controlo do território da Ossétia do Sul, impõe-se alargar a perspectiva histórica e prestar atenção a outras dinâmicas em curso na actual política internacional, como o Kosovo e o nuclear iraniano. Relevante é também a análise dos acontecimentos no campo da «guerra das ideias» e na perspectiva das recentes actuações de política externa da União Europeia.

 

Alexandre Reis Rodrigues

Faz sentido perguntar se estamos ou não sob o risco de entrar numa nova Guerra Fria. A recente crise no Cáucaso do Sul entre a Geórgia e a Rússia deu um importante contributo para a generalização da percepção dessa possibilidade. Concorre também para essa mesma ideia, a postura que a Rússia tem assumido recentemente, ao tentar contestar o actual quadro de distribuição de poder no mundo, em parte como reacção ao «cerco» de que se considera «vítima» pelo alargamento da nato, pelo escudo antimíssil americano, etc. No entanto, não existem evidências suficientes, nem aliás parece possível, que possamos estar perante uma nova Guerra Fria.

 

Sandra Dias Fernandes

O conflito russo-georgiano de Agosto de 2008 enfatizou a necessidade de a UE conceber um modelo diferente para se relacionar com Moscovo. As implicações do conflito têm dimensões especificamente europeias, nas quais as relações UE-Rússia são uma pedra angular. A solução para a crise georgiana situa-se a dois níveis complementares: a implementação do plano de paz Medvedev-Sarkozy e o repensar da cooperação com o Kremlin. Nesse sentido, coloca-se a necessidade de operacionalizar um modelo de «cooperação selectiva» com a Rússia a fim de criar um relacionamento mais construtivo.

 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

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NOTAS

1 Os marcos convencionais da questão do Oriente são o Tratado de Küçük-Kaijnardja de 1774, assinado entre a Rússia e o Império Otomano, após a derrota militar deste último (que lhe valeu, entre outras perdas territoriais, a da península da Crimeia para a Rússia) e o Tratado de Lausana de 1923, que regulou o fim do Estado otomano e a formação da actual Turquia.

2 Basta pensar que um Estado falhado às portas da ue será um desastre em termos de segurança, criando uma base para a criminalidade organizada e/ou para o islamismo radical de consequências imprevisíveis.

3 De facto, como censurar a Rússia e agir politicamente em conformidade, invocando o carácter universal dos direitos humanos e da democracia? Na lógica do actual credo relativista-dogmático, onde todas as culturas têm igual valor, não será isso uma forma de «imperialismo cultural»? Desta forma, não estará a ue a pretender impor ao «outro» (neste caso, à Rússia), os seus valores particulares? O impasse político a que leva esta forma de pensar torna-se óbvio!

4 Por exemplo, entre outros, LUCAS, Edward – «The New Cold War: How the Kremlin menaces both Russia and West», Nova York: MacMillan, 2008.        [ Links ]

5 KISSINGER, Henry A., e SHULTZ, George P. – «Finding common ground». In International Herald Tribune, 1 de Outubro de 2008.

6 BESSEMERTNYKH, Alexander, COLLINS, James, et alii – «A time for restraint and reflection». In International Herald Tribune, 27 de Setembro de 2008. (Carta conjunta de um grupo de ex-embaixadores russos e americanos em Washington e Moscovo, respectivamente).

7 Cf. LUDLOW, Peter – «The eu and the Georgian crisis. The making of the French Presidency». In Eurocomment. Briefing Note, vol. 6, n.º 3, Setembro de 2008.

8 CONSEIL DE L’UNION EUROPÉENNE – Communiqué de presse. Session extraordinaire. Affaires générales et relations extérieures (12453/08). Bruxelas, 13 de Agosto de 2008; PRÉSIDENCE FRANÇAISE DE L’UE – Results of the discussions between the European Union and the russian Federation of Russia. [Consultado em: 11 de Setembro de 2008]. Disponível em: http://www.ue2008.fr.

9 INTERFAX – Russia Expects Resolution of Differences in Interpretation Of Medvedev-Sarkozy Plan. [Consultado em: 9 de Setembro de 2008]. Disponível em: http://www.cdi.org/russia/johnson/2008-165-8.cfm. FEDYASHIN, Andrey – Russia, NATO Dvided on Georgian Peace Settlement. [Consultado em: 18 de Setembro de 2008]. Disponível em: http://en.ria.ru/analysis/20080918/116931025.html.

10 O problema do não respeito do espírito dos princípios subscritos por Moscovo é alvo de consenso nos círculos bruxelenses. Esse argumento foi sublinhado repetidamente na reunião extraordinária da Delegação do Comité de Cooperação Parlamentar ue-Rússia, a 16 de Outubro de 2008, no Parlamento Europeu, em Bruxelas.

11 MEDVEDEV, Dmitry – Speech at Meeting with German Political, Parliamentary and Civic Leaders, Berlin, 5 June. [Consultado em: 7 de Junho de 2008]. Disponível em: http://www.kremlin.ru/eng/speeches/2008/06/05/2203_type82912type82914type84779_202153.shtml.

12 CONSEIL EUROPÉEN – Conseil européen extraordinaire de Bruxelles. Conclusions de la Présidence. Bruxelas, 1 de Setembro de 2008.

13 As partes não se sentaram de facto à mesa plenária prevista pela manhã, nem durante a sessão informal de trabalho prevista para a tarde. Os russos declinaram com antecedência a sua presença de manhã, e os georgianos declinaram para a tarde. O âmago do problema reside no estatuto atribuído às entidades na mesa negocial. Os representantes ossetas e abcasis deixaram a reunião da tarde, a meio, para marcar o seu descontentamento com o facto de não poderem assistir à reunião plenária enquanto estados. Uma fonte diplomática em Bruxelas comentou as exigências escritas formuladas por Sukhumi e Tskhinvali, a seguir ao incidente, como totalmente inaceitáveis para as negociações e como dificuldades acrescidas ao processo de Genebra.