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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  n.19 Lisboa set. 2008

 

Estados Unidos

Daniel Marcos

 

Michael Hunt, The American Ascendency: How the United States Gained and Wielded Global Dominance

Chapel Hill, University of North Carolina Press, 2007, 416 pp.

 

Em The American Ascendency, Michael Hunt perfila-se como um novo seguidor da corrente historiográfica de «Wisconsin», iniciada em finais dos anos de 1950 por William Appleman Williams e continuada por historiadores como Walter LaFeber e Thomas McCormick. Esta escola defendeu a existência de um império americano que se expandia através da supremacia económica e que tinha como principal objectivo a manutenção da mesma. Neste sentido, Michael Hunt veio recuperar, em parte, esta interpretação. Partindo de uma simples questão – de que forma os Estados Unidos adquiriram a supremacia mundial? –, o autor defende que foram as estruturas económicas e sociais existentes naquele país que impulsionaram os governantes no sentido de uma posição global.

Os vários líderes norte-americanos, desde o final do século xix, conciliando as ambições nacionais e os recursos naturais, tomaram as decisões que conduziram à constituição dos eua como uma potência global em todas as formas: política, militar, territorial, comercial e cultural.

Reconhecendo em William McKinley o precursor desta política (sobretudo pelo papel desempenhado por este Presidente durante a Guerra Hispano-Americana de 1898), Hunt reconhece que apenas entre 1941 e 1968 os Estados Unidos alcançam a supremacia global. De facto, o autor demonstra que durante este período os Estados Unidos foram capazes de potenciar o seu domínio político, económico e militar, no sentido de uma redefinição do sistema internacional de acordo com os seus valores. A Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas e a implementação do sistema de Bretton Woods são exemplos disso. Numa terceira parte, o historiador demonstra de que forma o período posterior a 1968 e até ao final da Guerra Fria foi caracterizado por alguma desorientação do «gigante» norte-americano. A crise provocada pela Guerra do Vietname e a consciencialização das limitações económicas dos eua, acentuadas com as crises petrolíferas da década de 1970, alertaram as elites norte-americanas para um papel mais moderado dos Estados Unidos no plano mundial. A Presidência Reagan acabou por ser a excepção a esta regra.

A terminar o seu livro e ao contrário do que é habitual para um historiador, Hunt aventura-se numa análise do estado da presente hegemonia norte-americana. Recusando-se a reconhecer a existência de um império americano (desviando-se, aqui, da escola iniciada por Williams), o autor alerta para os perigos das visões neoconservadoras que conduziram à invasão do Iraque em 2003.

 

 

Wilson D. Miscamble, From Roosevelt to Truman; Potsdam, Hiroshima and the Cold War

Nova York, Cambridge University Press, 2006, 393 pp.

 

O novo livro de Wilson Miscamble procura relançar o debate sobre as origens da Guerra Fria e sobre a participação do Presidente norte-americano Harry Truman nesse processo, depois de se ter distinguido na década de 1990 com uma biografia política de George Kennan.

Em From Roosevelt to Truman, o autor propõe-se analisar até que ponto Harry Truman conseguiu cumprir a promessa de manter as linhas gerais de política externa delineadas por Franklin Delano Roosevelt, particularmente no que dizia respeito à relação com a União Soviética. Para a historiografia internacional, esta questão reveste-se de certa importância na medida em que alguns historiadores revisionistas da Guerra Fria questionaram as capacidades políticas de Truman para suceder ao respeitado Roosevelt num momento tão decisivo para a história mundial. Procurando compreender como a política era feita em Washington, Miscamble traça a transição gradual da percepção norte-americana do mundo, de acordo com a perspectiva do Presidente Truman e dos seus principais conselheiros.

A narrativa do livro evolui ao longo de oito capítulos que se centram, maioritariamente, em dois momentos vitais para a Presidência Truman: por um lado, a presença na Conferência de Potsdam e, por outro, a decisão de bombardear com armas atómicas a cidade japonesa de Hiroxima. Após uma breve descrição dos anos que antecederam a actividade de Truman à frente dos destinos da nação norte-americana, Miscamble analisa detalhadamente até que ponto a herança deixada por Roosevelt não constituía, em si, um presente envenenado. Miscamble demonstra-nos que Harry Truman, aquando da tomada de posse, estava de certa maneira alheado de muitos dos principais objectivos de política externa delineados por Roosevelt. Mas, por outro lado, o autor também não deixa de reforçar as novas visões da historiografia que apontam para um certo irrealismo da política externa de Roosevelt no final da II Guerra Mundial. Esta tendia a basear-se mais em ilusões do que na realidade. Miscamble demonstra de que forma Truman se deparava com uma missão quase impossível: prosseguir a política externa de um Presidente que fazia assentar as relações dos Estados Unidos com os aliados na sua relação pessoal com os restantes líderes.

Em face disto e deparando-se com a intensificação das tendências expansionistas da União Soviética, Miscamble analisa de que forma Truman foi obrigado a alterar as linhas principais da política externa que havia herdado. Indo mais além do que Roosevelt, Truman foi capaz de destruir a tradicional tendência isolacionista verificada na política norte-americana, inaugurando um período de comprometimento dos Estados Unidos na política mundial, que ainda hoje se verifica. Wilson Miscamble conclui que a política externa de Truman foi bem-sucedida, na medida em que conseguiu conciliar a herança idealista deixada por Roosevelt e implementar uma perspectiva mais pragmática, caracteristicamente sua.

 

 

Melvyn Leffler, For the Soul of Mankind: The United States, the Soviet Union and the Cold War

Nova York, Hill and Wang, 2007, 608 pp.

 

O novo livro de Melvyn Leffler, For the Soul of Mankind, é, talvez, a contribuição mais inovadora que recentemente a historiografia internacional produziu sobre a Guerra Fria. E, de facto, Leffler não escreveu apenas mais um livro sobre este período do século xx, caracterizado pela rivalidade entre os Estados Unidos e a União Soviética. Depois do galardoado A Preponderance of Power (1993), que analisava o conceito de segurança nacional durante a Administração Truman, Leffler propõe-se analisar momentos-chave ao longo da Guerra Fria, tendo como objectivo último compreender de que forma a percepção das realidades dos líderes americanos e soviéticos contribuiu para a persistência da confrontação até 1991.

Leffler identifica cinco momentos-chave cujo desfecho poderia ter sido diferente para a história da humanidade. A relação de Truman com Estaline em finais da década de 1940, a oportunidade perdida por Eisenhower e Malenkov para a paz em meados dos anos de 1950, a conturbada relação entre os presidentes norte-americanos e Khrushchev nos anos de 1960, a erosão da détente entre Carter e Brezhnev e o final do conflito alcançado por Gorbachev, Reagan e Bush foram os momentos escolhidos pelo autor. Tendo em conta a exaustiva recolha de fontes que desenvolveu, talvez o único ponto menos conseguido do livro seja a ausência do início da détente como um dos momentos marcantes escolhidos por Leffler para alcançar as suas conclusões.

Como nos demonstra este livro, o desfecho da Guerra Fria não estava determinado. Ao longo de mais de quatro décadas, os líderes mundiais foram obrigados a tomar decisões com base nas suas experiências mas, sobretudo, com base nas suas construções ideológicas. Tendo objectivos completamente diferentes para a organização da sociedade humana, Leffler demonstra-nos que apenas no final da década de 1980 os dois blocos estavam em condições para alcançar um entendimento. Na verdade, só em finais dos anos de 1980 os Estados Unidos e a União Soviética tinham líderes suficientemente audaciosos e, até, radicais para aceitarem correr o risco da conciliação de pontos de vista ideologicamente distintos.

 

 

Robert Dallek, Nixon and Kissinger, Partners in Power

Nova York, Allen Lane, 2007, 740 pp.

 

Escrever sobre Richard Nixon e Henry Kissinger não é propriamente um exercício original. Ao longo dos últimos trinta anos vários foram os autores que o fizeram, e o próprio Kissinger contribuiu com três volumes de memórias para esta vasta bibliografia. No entanto, a desclassificação de milhares de documentos nos últimos anos tornou novamente premente, para a história dos Estados Unidos, uma reavaliação do papel destes dois políticos. O objectivo de Robert Dallek neste seu novo livro é compreender quais as razões por trás das acções de Nixon e Kissinger, duas personalidades verdadeiramente enigmáticas. Ao longo de mais de 700 páginas, o autor procura oferecer novas visões dos principais acontecimentos que caracterizaram este período: o estabelecimento da détente, o final da Guerra do Vietname, a participação norte-americana na guerra do Yom Kippur e a crise no Médio Oriente, o derrube do Governo de Salvador Allende no Chile e, obviamente, o caso «Watergate».

Em Nixon and Kissinger, o autor consegue dar uma abordagem original a uma das mais conturbadas administrações norte­‑americanas. Dallek foi capaz de transmitir neste livro, no que pode ser visto como uma biografia conjunta, a constante luta pelo poder de ambos os protagonistas, dois homens que tinham como característica comum mais acentuada a ideia da sua excepcionalidade. O autor faz perpassar a ideia de que Nixon e Kissinger eram dois competidores em busca de glória. Uma das principais conclusões alcançadas por Dallek prende-se com a demonstração de que grandes medidas de política externa, como o desanuviamento das relações entre os Estados Unidos e a União Soviética e a aproximação à China, tiveram como objectivo último a criação de uma imagem positiva para ambos os políticos. No fundo, estas medidas de política externa eram, sobretudo, para consumo interno dos eleitores norte-americanos. No entanto, o livro não faz mais do que recapitular uma súmula de tomadas de posição que já eram do conhecimento dos estudiosos da política externa americana. A escrita clara e cativante de Dallek, a par de uma síntese da bibliografia sobre o assunto, tornam Nixon and Kissinger, ­Partners in Power  um livro direccionado, particularmente, para o público não académico.