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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  n.19 Lisboa set. 2008

 

América Latina

Carmen Fonseca

 

Laurence Whitehead, Latin America: a new interpretation

Palgrave, 2006, 300 pp.

 

Latin America: A New Interpretation não é um comentário à actualidade latino-americana, mas uma análise às grandes tendências que moldam esta região. Os seis capítulos da obra resultam da compilação de ensaios publicados anteriormente pelo autor. O principal objectivo do livro é interpretar algumas orientações e continuidades, na tentativa de encontrar as suas origens e traçar futuros cenários, numa perspectiva comparativa. Em suma, Laurence Whitehead abraça o objectivo ambicioso de definir o carácter «distintivo» da América Latina.

Professor no Nuffield College em Oxford, tem desenvolvido o seu trabalho em torno das dimensões internacionais da democratização e a sua comparação com a economia, com especial ênfase para a América Latina, e o México em particular. Em larga medida, Latin America: A New Interpretation constitui a súmula do trabalho que tem desenvolvido nos últimos anos.

O argumento central do autor reside na ideia de que a América Latina é uma região caracterizada por sucessivos projectos de modernidade, conduzidos, essencialmente, de cima para baixo, razão pela qual esbarram frequentemente com a resistência da sociedade e acabam por falhar. Daí que o autor considere a região um «mausoléu de modernidades» caracterizada pela noção de «múltiplas modernidades». Neste sentido, também a organização política padeceu de projectos e reformas que conseguissem unir o Estado e a sociedade, persistindo a ausência de um equilíbrio institucional, a nível económico, político e social.

O autor evidencia ainda a falta de controlo social sobre o desenvolvimento da elite, em grande parte devido à influência alcançada pelos tecnocratas sobre o pessoal político. Para ilustrar esta ideia, Whitehead apresenta as características peculiares do México, em particular dos tecnocratas que, no entanto, têm contribuído para a construção de um consenso bem-sucedido na área da governação económica.

Por fim, no último capítulo, procura oferecer uma explicação para os sucessivos fracassos dos projectos modernizadores da América. O autor refere que a democratização não favoreceu na sociedade um sentimento de pertença às escolhas colectivas porque as elites continuaram a ter um papel preponderante e inflexível, contribuindo, de certo modo, para o paradoxo da coabitação da democracia com a desigualdade social e a insegurança, um dos traços mais emblemáticos da região.

 

 

Michael Reid, Forgotten Continent. The Battle for Latin America’s Soul

Yale University Press, 2007, 384 pp.

 

Forgotten Continent. The Battle for Latin America’s Soul é uma análise da história recente da América Latina que nos ajuda a interpretar a actualidade. Michael Reid, jornalista e editor das Américas no Economist, considera este livro um «relatório em progresso» de uma região entendida como um laboratório da democracia e do capitalismo democrático. Relatório esse que deriva da observação e do trabalho do autor na região durante mais de vinte e cinco anos.

O principal objectivo do livro é destacar a realidade e as particularidades de uma região que muitas vezes é esquecida ou ocultada, mas onde se têm desenvolvido exercícios políticos, económicos ou sociais bastante complexos, uns mais bem-sucedidos do que outros (a democratização da maior parte dos países na década de 1980 foi acompanhada por alguns fracassos a nível das reformas económicas talhadas segundo os preceitos do «Consenso de Washington»).

O livro está dividido em doze capítulos. Além dos capítulos introdutórios e do background histórico, Reid dá primazia à análise do impacto no desenvolvimento da região do fracasso do Consenso de Washington, dos exemplos reformistas ocorridos no Chile, no Brasil e no México bem como às mudanças sociais e às reformas inacabadas do Estado que ocorreram com a democratização. Reid dá espaço à análise da ideologia populista, centrando­‑se na figura de Hugo Chávez e na sua influência na região, advertindo para o facto de que o populismo resulta em grande medida das desigualdades sociais extremas. Reid mostra-se bastante céptico quanto à política de Chávez e considera que a «Alternativa Bolivariana», proposta por ele, se define em oposição à democracia, sendo o seu único trunfo a posse de petróleo.

O autor avalia ainda a fragilidade das democracias latino-americanas. Tal como em muitos aspectos – também em relação à consolidação democrática a região não é homogénea – Reid considera que existem diferentes níveis de solidez democrática, e por isso mais importante do que assegurar a sobrevivência da democracia na América Latina é garantir a sua qualidade.

Michael Reid termina a sua análise com uma visão optimista, uma vez que o cenário democrático já vigora em quase toda a região. O passo seguinte será a sua consolidação, e encontrar os mecanismos adequados para que os países consigam conjugar um sistema político efectivo e equitativo com um desenvolvimento e um crescimento económico sustentado.

 

 

Marifeli Pérez-Stable (ed.), Looking Forward. Comparative Perspectives in Cuba’s Transition

University of Notre Dame Press, 2007, 332 pp.

 

Cuba permanece o país mais marginal da América Latina. Não pelos «excessos» do populismo ou pelos problemas associados ao narcotráfico, mas pelo tipo de regime autoritário que ali vigora há décadas. Com a deterioração do estado de saúde de Fidel Castro, e a passagem de testemunho para o seu irmão Raúl, em Fevereiro de 2008, começaram a surgir as previsões acerca da «transição» política na ilha.

Marifeli Pérez-Stable, actualmente vice-presidente do Inter-American Dialogue e professora na Universidade Internacional da Florida, abandonou Havana na década de 1960. Este livro resulta da recolha de textos de diversos autores, interessados pelo contexto cubano, que escreveram sobre os vários temas que estruturam o livro em 12 capítulos, como sejam, política, economia, sociedade, sistema militar, mas também a corrupção, a ideologia, a cultura e a diáspora. O principal objectivo é que os autores apresentem todos os cenários possíveis para o tema analisado, partindo de um conjunto de interrogações comuns e da comparação com as experiências das democracias mais recentes, especialmente da Europa Central e de Leste ou da América Latina.

Embora não sejam abordadas, claramente, as relações de Cuba com a União Europeia (ou a inexistência delas até há pouco tempo), nem a influência dos países vizinhos ou o papel de Cuba na região, é dedicado um capítulo à relação com os Estados Unidos e à sua influência num cenário sem Fidel Castro.

De um modo geral, os contributos dos especialistas são unânimes no que toca à necessidade de reformas políticas e económicas em Cuba ao mesmo tempo que apontam as dificuldades que daí poderão advir. Os autores concentram as suas análises, essencialmente, em torno de dois cenários. Por um lado, apontam para um processo de sucessão de regime equivalente ao modelo da China e do Vietname, que seria mais efectivo a nível económico mas que não produziria liberalização política; por outro lado, para uma transição democrática que seria um processo mais lento e que teria de contar com o empenho de actores externos bem como das comunidades cubanas no estrangeiro, especialmente nos Estados Unidos. Os autores referem contudo que uma transição democrática, semelhante às que ocorreram nos países da Europa Central e de Leste, poderá não eliminar os problemas de corrupção, bem como gerar controvérsia entre a sociedade civil se as suas expectativas forem defraudadas.

O principal factor de influência do regime cubano continua a ser Fidel Castro. Sem ele, como se vai organizar a política, a economia, o sistema militar ou a sociedade? É na tentativa de encontrar respostas a esta questão que este livro se apresenta, além de actual, bastante interessante e completo.

 

 

Alain Rouquié,Le Bresil au xxi Siecle – naissance d’un Nouveau Grand

Librairie Arthème Fayard, 2006, 409 pp.

 

A eleição de Lula da Silva para a Presidência do Brasil em 2002 suscitou, entre os politólogos, variadas análises face ao «fenómeno» ocorrido: a eleição de um sindicalista ex-metalúrgico e fundador do Partido dos Trabalhadores. Para a sua eleição os analistas encontravam justificação na «vontade de mudança» exigida pelos eleitores brasileiros depois dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Crítico das políticas do seu antecessor e com uma campanha eleitoral que apostava na ruptura com o passado, Lula ainda fez tremer os mercados financeiros e os países vizinhos. Contudo, com o fim da campanha a continuidade foi a pedra de toque do novo Presidente, tanto na parte da governação económica como, em boa medida, ao nível da política externa.

É este o contexto que vai servir de base ao livro de Alain Rouquié, mais concretamente, a tentativa de perceber como «um metalúrgico, filho de camponeses, se torna o primeiro presidente do Brasil do século xxi», ou pelo menos tentar descrever as condições e os contextos que permitiram que tal acontecesse num país marcado por fortes contrastes e desigualdades sociais e elevados níveis de pobreza. Com este livro, Alain Rouquié, embaixador francês no Brasil entre 2000 e 2003, faz uma análise política da actualidade brasileira, utilizando uma perspectiva histórica e traçando a evolução política do Brasil desde o início do século xx.

A primeira parte do livro funciona como uma introdução, descreve os condicionalismos geográficos, a sociedade, as heranças do império bem como a evolução económica e a cultura política do país. Por seu turno, a segunda parte do livro analisa a instalação da democracia com a campanha pelas eleições directas e a sua concretização em 1989, revê ainda o golpe militar de 1964, o papel dos militares no sistema político e a formação do sistema partidário. Com mais detalhe são analisados os governos de FHC marcados pela mudança e modernidade e, claro, o primeiro mandato de Lula da Silva, que o autor considera ter conseguido conjugar a resolução dos problemas sociais com os desafios no domínio da política externa.

Embora num tom pouco imparcial e mais descritivo do que conclusivo, o embaixador Alain Rouquié oferece-nos uma útil introdução à história do Brasil contemporâneo e dos seus mecanismos políticos.