SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número19A Administração Bush e o futuro da política estratégica dos EUA: Da GWOT à «Longa Guerra»Rescaldo da era Bush: a reconstrução da ordem constitucional, a manutenção da unipolaridade e o fim da orientação «eurocêntrica» índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  n.19 Lisboa set. 2008

 

A unipolaridade americana

Nuno Peres Monteiro

 

Este artigo aborda três questões inter-relacionadas. São os EUA uma potência unipolar? A resposta é um sim sem reservas; os EUA são a única grande potência da actualidade.

Será a unipolaridade americana duradoura? Novamente a resposta é sim, pelo menos durante mais algumas décadas. É a unipolaridade (americana) pacífica? Ao contrário da sabedoria convencional, não há qualquer razão para esperar que o actual sistema unipolar seja pacífico. Qualquer das opções estratégicas à disposição dos EUA – domínio global, defesa do status quo ou desengajamento – resultará em conflitos frequentes, possibilitados pela ausência de um equilíbrio de poder no sistema internacional.

Palavras-chave: George Bush; Política Externa Americana; Unipolaridade; Multipolaridade; Hegemonia

 

 

American unipolarity

This article will try to address three inter-connected issues. Is the US a unipolar power? The answer in an unambiguous yes: the United States is the sole international pole in the post- Cold War era and unipolarity will last for the next few decades. But will that situation guarantee a more peaceful world? We can’t be so sure about it.

Contrary to received wisdom, there is no reason to suppose that American unipolarity will be peaceful. Whatever the strategy chosen by the United States – global primacy, defense of the status quo or disengagement – conflict will be the rule in an unbalanced international system.

Keywords: George Bush, American Foreign Policy; Unipolarity; Multipolarity; Hegemony

 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

 

NOTAS

1 A Grã-Bretanha dominou a segunda metade do século XIX do ponto de vista económico, mas o seu domínio do ponto de vista militar não é comparável ao fosso que hoje separa as forças americanas de todas as outras. Cf. FERGUSON, Niall – Empire: The Rise and Demise of the British World Order and the Lessons for Global Power. Nova York: Basic Books, 2004.        [ Links ]

2 Fonte: WORLD BANK – World Development Indicators 2006. Washington DC: World Bank, 2007.

3 Fonte: STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE – SIPRI Yearbook 2007: Armaments, Disarmament and International Security. Oxford: Oxford University Press, 2008.

4 Alguns analistas colocam os EUA numa situação capaz de aniquilar o arsenal nuclear russo num ataque surpresa, eliminando a capacidade de retaliação russa. Cf. LIEBER, Keir A., e PRESS, Daryl G. – «The end of Mad? The nuclear dimension of U.S. primacy». In International Security. Vol. XXX, N.º 4, 2006.

5 Fonte: STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE – SIPRI Yearbook 2007: Armaments, Disarmament and International Security.

6 Cf. POSEN, Barry – «Command of the Commons: The military foundation of U. S. hegemony». In International Security. Vol.XXVIII, N.º 1, 2003.

7 Fonte: WORK, Robert O. – Winning the Race: A Naval Fleet Platform Architecture for Enduring Maritime Supremacy. Washington DC: Center for Strategic and Budgetary Assessments, 2005.

8 Cf. WALTZ, Kenneth N. – Theory of International Politics. Reading, MA: McGraw-Hill, 1979; MEARSHEIMER, John J. – The Tragedy of Great Power Politics. Nova York: W. W. Norton, 2001.

9 Ao utilizarem esta bitola tradicional na definição de Grande Potência, alguns analistas afirmam que o mundo não é unipolar. Para Huntington ou Mearsheimer, por exemplo, os EUA são uma potência hegemónica apenas a nível regional, pelo que o mundo continua a ser multipolar. Cf. HUNTINGTON, Samuel P. – «The Lonely Superpower». In Foreign Affairs. Vol. LXXVIII, N.º 2, 1999; MEARSHEIMER, John J. – The Tragedy of Great Power Politics.

10 Para uma análise dos problemas com esta visão paradisíaca do mundo, cf. KAGAN, Robert – Of Paradise and Power: America and Europe in the New World Order. Nova York: Alfred A. Knopf, 2003. Sobre o papel dos EUA no processo de integração da Europa, cf. TRACHTENBERG, Marc – A Constructed Peace: the Making of the European Settlement, 1945-1963. Princeton: Princeton University Press, 1999.

11 CLINTON, William J. – A National Security Strategy for a New Century. Washington DC: The White House, 1995-1999; BUSH, President George W. – The National Security Strategy of the United States of America. Washington DC: The White House, 2002, 2006.

12 Sobre a ascensão da China, cf., inter alia: FRIEDBERG, Aaron L. – «The future of U.S.- China relations: Is conflict inevitable?». In International Security. Vol. XXX, N.º 2, 2005.

13 Apesar de enfrentarem oposição armada no Iraque, Afeganistão e por parte de organizações terroristas internacionais, os EUA continuam a mover as suas forças marítimas sem quaisquer problemas por todo o mundo, a manter o globo sob observação por satélite, e a possuir mais de 700 instalações militares em cerca 130 países. Cf. DUFOUR, Peter – The Worldwide Network of US Military Bases: The Global Deployment of US Military Personnel. Nova York: Global Research, 2007.

14 Fonte: EUROPEAN DEFENSE AGENCY – «European – United States Defence Expenditure in 2006». Brussels: EDA, 2007.

15 Sobre o equilíbrio «soft», cf. PAPE, Robert A. – «Soft balancing against the United States». In International Security. Vol. XXX, N.º 1, 2005; WALT, Stephen M. – Taming American Power: The Global Response to U.S. Primacy. Nova York: W. W. Norton, 2005.

16 Sobre o número de baixas americanas na II Guerra Mundial, cf. WEINBERG, Gerhard L. – A World at Arms: A Global History of World War II. Cambridge: Cambridge University Press, 1994. Para os números de baixas americanas no Iraque, consultar: http://icasualties.org/oif/. Fonte dos dados sobre as economias dos EUA e URSS em 1945: SINGER, J. David, e SMALL, Melvin – National Material Capabilities Data, 1816-1985. Ann Arbor: Inter-University Consortium for Political and Social Research, 1993.

17 Kenneth Waltz, o fundador da teoria sistémica em relações internacionais é ele próprio um dos principais proponentes desta posição. Cf. WALTZ, Kenneth N. – «The emerging structure of international politics». In International Security. Vol. XVIII, N.º 2, 1993; WALTZ, Kenneth N. – «The continuity of international politics». In Worlds in Collision: Terror and the Future of Global Order. Nova York: Palgrave Macmillan, 2002.

18 Fonte: UNITED NATIONS, DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, POPULATION DIVISION – «World population prospects: The 2006 revision». Nova York: United Nations Publications, 2007.

19 Fonte dos dados económicos dos últimos três parágrafos: WORLD BANK – World Development Indicators 2006. Washington DC: World Bank, 2007.

20 Cf. WOHLFORTH, William C. – «The stability of a unipolar world». In International Security. Vol. XXIV, N.º 1, 1999; IKENBERRY, G. John– America Unrivalled: The Future of the Balance of Power. Ithaca: Cornell University Press, 2002; BROOKS, Stephen G., e WOHLFORTH, William C. – World Out of Balance: International Relations and the Challenge of American Primacy. Princeton: Princeton University Press, 2008.

21 Sobre a tese da paz democrática, cf. BROWN, Michael E., LYNN-JONES, Sean M., e MILLER, Steven E. – Debating the Democratic Peace. Cambridge, MA: MIT Press, 1996; LIPSON, Charles – Reliable Partners: How Democracies Have Made a Separate Peace. Princeton: Princeton University Press, 2003.

22 Cf. FUKUYAMA, Francis – The End of History and the Last Man. Nova York: Free Press, 1992; FUKUYAMA, Francis – America at the Crossroads: Democracy, Power, and the Neoconservative Legacy. New Haven: Yale University Press, 2006.

23 Esta posição foi definida primeiramente por William Wohlforth em 1999. Cf. WOHLFORTH – «The stability of a unipolar world». Ver também, inter alia: MASTANDUNO, Michael – «Preserving the unipolar moment: Realist theories and U. S. grand strategy after the Cold War». In International Security. Vol. XXI, N.º 4, 1997; BROOKS, Stephen G., e WOHLFORTH, William C. – «American primacy in perspective». In Foreign Affairs. Vol. LXXXI, N.º 4, 2002; NYE Jr., Joseph S. – Soft Power: The Means to Success in World Politics. Nova York: Public Affairs, 2004; JERVIS, Robert – American Foreign Policy in a New Era. Nova York: Routledge, 2005; LIEBER, Robert J. – The American Era: Power and Strategy for the 21st Century. Cambridge: Cambridge University Press, 2005; WALT – Taming American Power; BROOKS, Stephen G., e WOHLFORTH, William C. – World Out of Balance: International Relations and the Challenge of American Primacy.

24 Actualmente, uma política isolacionista não seria nos melhores interesses dos EUA dada a sua dependência em relação ao petróleo e a sua relativa vulnerabilidade em relação ao terrorismo internacional, que geram incentivos para intervir no Médio Oriente.

25 Para além das limitações das Potências Médias, uma estratégia de dissuasão alargada, na qual uma destas oferece garantias de defesa a uma Potência Menor em caso de ataque dos EUA, apresenta outros problemas. Primeiro, as Potências Médias num mundo unipolar em que a Grande Potência segue uma estratégia intervencionista tendem a estar integradas no sistema económico global gerido por esta última. Como tal, os seus interesses apontam para uma estratégia de acomodação da Grande Potência, não de confrontação. Cf. BROOKS, Stephen G., e WOHLFORTH, William C. – World Out of Balance: International Relations and the Challenge of American Primacy. Segundo, por parte da Potência Menor que se vê potencialmente ameaçada pela Grande Potência, a dissuasão alargada não é uma estratégia tão segura quanto a posse de uma capacidade dissuasora autónoma – e.g., de um arsenal nuclear. Cf. SCHELLING, Thomas C. – Arms and Influence. New Haven: Yale University Press, 1966.

26 FRIEDMAN, Thomas L., e TYLER, Patrick E. – «From the first, U. S. resolve to fight». In The New York Times. 2 de Março de 1991.

27 Para uma tipologia das estratégias disponíveis aos EUA, cf. POSEN, Barry, e ROSS, Andrew L. – «Competing visions for U. S. Grand strategy». In International Security. Vol.XXI, N.º 3, 1996/97.

28 Sobre as causas de guerra em sistemas bipolares e multipolares, cf., inter alia: DEUTSCH, Karl, e SINGER, J. David – «Multipolar systems and international stability». In World Politics. Vol. XVI, N.º 3, 1964; WALTZ, Kenneth N. – «The stability of a bipolar world». In Daedelus. Vol. 93, N.º 3, 1964; ROSECRANCE, Richard N. – «Bipolarity, multipolarity, and the future». In International Politics and Foreign Policy. Nova York: Free Press, 1969; WALTZ – Theory of International Politics; WALT, Stephen M. – The Origins of Alliances. Ithaca: Cornell University Press, 1987. Para um bom resumo desta literatura, cf. MEARSHEIMER, John J. – «Structural Realism». In International Relations Theories: Discipline and Diversity. Oxford: Oxford University Press, 2006.

29 Fonte: MACK, Andrew – «Human Security Report 2005: War and peace in the 21st century». Vancouver: Human Security Center, The University of British Columbia, 2005.

30 Existem pelo menos dois outros paradoxos derivados da preponderância de poder. Joseph S. Nye vê um paradoxo no facto de os EUA, uma potência dominante, necessitar de multilateralismo e cooperação internacional para conseguir os seus objectivos no plano internacional. Cf. NYE Jr., Joseph S. – The Paradox of American Power: Why the World’s Only Superpower Can’t Go It Alone. Nova York: Oxford University Press, 2002; BROOKS, Stephen G., e WOHLFORTH, William C.– «International relations theory and the case against unilateralism». In Perspectives on Politics. Vol. 3, N.º 3, 2005. Por seu lado, Bruce Cronin delineia um paradoxo de hegemonia que deriva do que Cronin acredita ser uma tensão inerente entre o papel (egoísta) de um poder preponderante como Grande Potência e o seu papel altruísta como garante da paz e estabilidade do sistema. Cf. CRONIN, Bruce – «The paradox of hegemony: America’s ambiguous relationship with the United Nations». In European Journal of International Relations. Vol. 7, N.º 1, 2001.