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Revista Lusófona de Educação

versão impressa ISSN 1645-7250

Rev. Lusófona de Educação  no.21 Lisboa  2012

 

Ramalho, Betania, Beltrán, José, Carvalho, Maria Eulina & Diniz, Adriana (org.) (2011). Reformas educativas, Educação Superior e globalização em Brasil, Portugal e Espanha. Valencia: Editorial Germânia, S.L.

 

Anabela Mimoso & Lurdes Valentim

CeiEF - ULHT

 

A obra Reformas educativas, educação superior e globalização em Brasil, Portugal e Espanha é o resultado de dois projetos de investigação, de formação e de cooperação sobre políticas educativas de âmbito internacional, envolvendo Portugal, Espanha e Brasil.

Esses projetos de investigação desenvolveram-se entre 2007 e 2010 e abordam temas como reformas educativas, inclusão social, impacto da globalização no acesso ao ensino superior, etc. O desenvolvimento dos referidos projetos permitiu a realização de cursos de doutoramento e de pós-doutoramento, assim como intercâmbios académicos de docentes das universidades parceiras.

Os programas de cooperação interuniversitária são convergentes em alguns dos seus objetivos e metas, colocando o enfoque numa maior equidade e coesão social, no contexto da educação superior, reconhecendo-a como um bem público. Esta conceção atende a critérios universalistas, baseados na igualdade de oportunidades e numa educação para todos. A universidade é definida como uma instituição cosmopolita que contribui para uma cultura comum, ao serviço de uma cidadania plena.

O livro em análise está estruturado em três níveis de leitura: o primeiro aborda as reformas de educação superior no âmbito da globalização; o segundo coloca questões relativas ao perfil dos estudantes da educação superior e do modo como vivenciam a universidade; o terceiro centra-se numa perspectiva histórica e conceptual da educação.

O primeiro artigo da primeira parte é da autoria das professoras Edineide Jezine e Maria da Trindade, da Universidade Federal de Paraíba (UFPB) e intitula-se Democratização do Acesso à Educação Superior no Brasil. O artigo aborda as políticas de acesso à universidade, a expansão da universidade e os processos de privatização como marco das reformas de educação superior no Brasil.

José Beltrán Llavador, da Universidade de Valência, assina o artigo seguinte: Los Efectos de la Educación Superior en España: Dilemas y Tendencias. Perante a subserviência da educação à lógica mercantil, o autor defende que a educação deve, ao contrário, «fortalecer la vinculación social en pos de sociedades más justas y más democráticas» (p. 82).

Betania Leite Ramalho, Isauro Beltrán Nuñez, Claudia Pereira de Lima, Aliete Cavalcante Bormann da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, subscrevem o artigo: Universidade Pública como bem Público: Avanços e Contradições na Política de Acesso e Inclusão Social (PAIS) na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os autores salientam um novo conceito de universidade pública, verdadeiramente modelar, praticado nessa universidade e fundamentado na igualdade de oportunidades e na formação para a cidadania, proporcionado pelo programa PAIS.

Carla Galego, Fátima Marques e António Teodoro, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, assinam o artigo: Reforma do Ensino Superior e a Implementação do Processo de Bolonha em Portugal. Mudanças e Encruzilhadas. Os autores, depois de analisarem a trajectória da implementação do Processo de Bolonha no nosso país, levantam questões sobre o futuro da nossa Universidade face à competitividade, à ditadura dos rankings. Mas lembram também que Bolonha veio proporcionar reformas estruturais no E.S. e que cabe agora às universidades continuar esse processo tendo em vista um melhor ensino.

Afonso Celso Scocuglia, da Universidade Federal de Paraíba, em A Construção de uma Pedagogia Contra-hegemónica a partir da Educação de Jovens e Adultos, analisa alguns dos impactos da globalização hegemónica na educação contemporânea brasileira e conclui, socorrendo-se de Freire, que a educação dos jovens e adultos, face ao neoliberalismo, só será fator de mudança social se tiver como base a construção de uma nova identidade educativa e docente, guiada pela ética e pela justiça social.

O professor Julio Hurtado, da Universidade de Valencia (Reformas Educativas y Profesionalización Docente: el Plan Bolonia) encerra a primeira parte, mostrando os aspectos mais relevantes que Bolonha trouxe ao sistema educativo espanhol no que diz respeito à formação de professores.

O primeiro artigo da segunda parte é de Alícia Villar Aguilés da Universidade de Valência, Formas Emergentes de Incorporación y de Vinculación del Estudiantado en el Sistema Universitario. A autora analisa nele uma nova forma de vinculação dos estudantes à universidade, a que ela chama ubiquação.

Adriana Valéria Santos Diniz, da Universidade Federal de Rio Grande do Norte, num artigo intitulado Transición o Transiciones? Una Aproximación conceptual a partir del Contexto de Educación Superior, conclui que a maioria dos alunos não tem uma progressão linear na transição escolar, mas experimentam vários tipos de transições que têm em conta não só a vontade individual, mas também as oportunidades reais que surgem ao estudante.

Emília Maria da Trindade Prestes, da Universidade Federal da Paraíba, e Diet-mar K. Pfeiffer da Universidade de Munique, em Os Adultos e o Ensino Superior. O Caso da Universidade Federal da Paraíba, Brasil, analisam a problemática que a abertura do E.S. aos alunos adultos levanta.

Maria Eulina Pessoa de Carvalho e Glória Rabay da Universidade Federal da Paraíba, no artigo Gênero e Carreiras Universitárias em 50 Anos na Universidade Federal da Paraíba, examinam o caso de uma universidade brasileira, comparando os dados da distribuição dos estudantes por sexo e curso de 1961 a 2011. Concluíram as autoras que o feminismo tem pouca expressão nas instituições académicas brasileiras, devido à falta de uma política adequada.

O primeiro artigo da terceira parte é da autoria de Maria Neves Gonçalves e de José Viegas Brás da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Inti-tula-se Fenomenologia das Representações: a Universidade de Coimbra nos alvores do Século XX. Aí se analisa, à luz da fenomenologia, as várias representações que, nos inícios do século XX, se configuravam sobre a Universidade.

Finalmente, Francesc J. Hernàndez i Dobon da Universidade de Valência, em Verba Educationis Manent: un Glosario, tece uma profunda análise sobre a evolução dos conceitos relacionados com a educação.

A riqueza e originalidade destra obra reside sobretudo na pluralidade de abordagens que proporciona ao leitor/investigador sobre diversas realidades políticas, organizacionais e administrativas da educação superior, a partir de um olhar sociológico plural sobre a universidade enquanto organização educativa complexa e multifacetada. É, sem dúvida, um trabalho de referência, cuja leitura se re-vela intelectualmente estimulante, pela plêiade de investigadores (portugueses, brasileiros e espanhóis) que, compulsando quadros teóricos, epistemológicos e conceptuais diversos, analisam, discutem e interrogam-se sobre a importância das instituições de educação superior num tempo de incerteza crescente, num cenário de transformações constantes e num contexto crise (de valores, da escola,…). A reflexão acerca da dimensão social da universidade e do impacto que a globalização exerce sobre ela suscita, pois, a necessidade de redefinir o(s) seu(s) significado(s) e o(s) seu(s) papel(eis).

É uma obra essencial para os cientistas sociais que queiram (re)interrogar a importância da universidade num mundo globalizado, e reequacionar o seu papel para a emancipação e coesão social. Terminemos com a voz dos organizadores: “La universidad es un actor relevante para construir y anticipar escenarios alternativos, encaminados a logar una mayor equidad y cohesión social. Sin embargo, para que la universidad sea realmente transformadora, tiene que estar dispuesta a transformarse a sí misma, tiene que ser ella misma una institución abierta a la formación y al aprendizaje, una institución que aprenda desde el compromiso y para el compromiso social “(p.11).