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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto

versão impressa ISSN 1645-0523

Rev. Port. Cien. Desp. v.8 n.3 Porto dez. 2008

 

Tempos de exclusão, eliminação e destruição[1]

 

Jorge Olímpio Bento

Universidade do Porto, Faculdade de Desporto, Portugal

 

 

RESUMO

O mundo está sendo estruturado por uma minoria, sem quaisquer escrúpulos no tocante ao destino que reserva para as outras pessoas: a inevitabilidade da exclusão. É isto que é encenado, de modo exemplar, pelos diversos tipos de reality shows que as cadeias de televisão divulgaram em toda a parte. Não espanta que a maioria dos indivíduos se sinta ameaçada por medos que tornam a vida uma dura e amarga luta para não ser descartado para o caixote do lixo.

Este ambiente é alimentado pela modelação da sociedade segundo os ditames do consumo. Ademais tem reflexos no vocabulário ‘reformista’, que entrou na Universidade pela mão do ‘Processo de Bolonha’; e está associado à transformação da educação superior numa área de negócio, muitas vezes desonesto.

Tudo junto contribui para a degradação da democracia e da liberdade e mostra a banalidade e racionalidade do mal contemporâneo e dos seus agentes. O regresso ao obscurantismo é evidente.

É contra isto que a educação e a formação, os professores e intelectuais humanistas se devem levantar, sabendo que a tarefa é ingente, todavia sem alternativa.

Palavras-chave: medos, exclusão, sociedade de consumo, vocabulário ‘reformista’, racionalidade do mal contemporâneo, obscurantismo

 

 

ABSTRACT

Times of exclusion, elimination and destruction [2]

The world is being structured by a minority without any scruples regarding the destiny that awaits for other persons: the inevitability of exclusion. This is what it’s staged, so exemplary, by the several types of reality showsthat television networks spread everywhere. It is not surprising that most individuals feel threatened by fears that make life a hard and a bitter struggle not to be discarded to the dustbin.

This environment is fed by the moulding of society according to the dictates of consumption. Moreover, it has reflexes in the "reformist" vocabulary, which entered the University by the hand of the 'Bologna Process', and is associated to the transformation of higher education in an area of business, often dishonest.

All of this together contributes to the degradation of democracy and freedom and shows the banality and rationality of the contemporary evil and its agents. The return to the obscurantism is obvious.

It is against this that education and training, teachers and humanist intellectuals should raise, knowing that the task is enormous, however without alternative.

Key-words: fears, exclusion, society of consumption, "reformist” vocabulary, rationality of the contemporary evil, obscurantism

 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

 

NOTAS

[1] Estas reflexões apoiam-se em várias obras de Zygmunt Bauman, nomeadamente: GLOBALIZAÇÃO: As consequências humanas, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1999; IDENTIDADE – Entrevista a Benedetto Vecchi, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2005; VIDAS DESPERDIÇADAS, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2005; VIDA LÍQUIDA, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007; MEDO LÍQUIDO, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2008.

[2] These reflections rely on several works of Zygmund Bauman, namely: GLOBALIZAÇÃO: As consequências humanas, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1999; IDENTIDADE – Entrevista a Benedetto Vecchi, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2005; VIDAS DESPERDIÇADAS, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2005;  VIDA LÍQUIDA, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007; MEDO LÍQUIDO, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2008.

[3] A disfunção mais potencialmente explosiva do mercado neoliberal actual não é a exploração, típica da economia capitalista, mas sim a exclusão. É esta que origina os casos mais evidentes da polarização social, do aprofundamento da desigualdade e do aumento da miséria e humilhação. (Zygmunt Bauman, IDENTIDADE – Entrevista a Benedetto Vecchi, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2005, p. 47).        [ Links ]

[4] Há um ditado das gentes trasmontanas que se aplica bem a esta conjuntura; reza o seguinte: “O céu é de quem o ganha; e o mundo de quem mais arrebanha.” Os arrebanhadores estão em alta.

[5] Mário Soares, ex-Presidente da República, acentua que estamos perante a mais grave de todas as crises: “crise moral, crise de valores ou melhor da falta deles, a negação da ética, (...), crise civilizacional, (...) a impunidade da corrupção, (...) numa sociedade individualista, egoísta e consumista, por excelência, em que conta, acima de tudo, o dinheiro – como supremo valor.” (Diário de Notícias, Lisboa, 21.10.2008)

[6] E, porque a voz dorida desses homens e mulheres não é ouvida, entregam-se à mudez, à apatia, à descrença e ao desespero, não surpreendendo que muitos vejam na “promessa fundamentalista de ‘renascer’ num novo lar cordial e seguro (...) uma tentação à qual é difícil de resistir”. Na ausência de uma alternativa de certo preferida, a “terapia fundamentalista (...) parece sedutoramente simples”. (Ibidem, p.53-54).

[7] Há programas (p. ex., The Weakest Link) em que nem todos são eliminados; salva-se um, o vencedor, todos os outros são descartáveis. É como o lema “vence ou morre” e as dicotomias “vitória-derrota” e “sucesso-insucesso” que conhecemos e criticamos no desporto, mas vigoram no contexto social. Só há lugar para o vencedor; os restantes são todos metidos no lote dos derrotados e excluídos. (Ver Zygmunt Bauman, MEDO LÍQUIDO, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2008, p. 42-43).

[8]Ibidem, p. 36-44.

[9] Zygmunt Bauman, VIDA LÍQUIDA, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007, p. 16-18.

[10] O corpo (consumista, consumidor e consumido) também é distintivo, objecto e alvo de interesse da sociedade de consumo. Como tal é palco da incentivada e incessante reformulação da identidade, alimentada pela exploração do capital de inseguranças e medos constantemente agitados. Consequentemente a insana busca ou jihad pela imagem, forma, condição e aptidão corporais ideais - nunca de todo atingidas e atingíveis - desperta enorme fervor e encaixa, de maneira perfeita, na lógica do mercado. Urge separar as águas: uma coisa é a saúde, outra é a doença da obsessão. O corpo tornou-se auto-télico, a imagem um deus, as rugas uma contravenção, a gordura um pecado mortal, a celulite um descaso, a dieta uma religião e a exercitação (sobretudo a musculação) um ritual de penitência e expiação. O bom senso parece ser perdido à medida que cresce a obstinação dos adultos em fabricar a eterna juventude e em livrar-se ou evitar o aparecimento dos estigmatizados sinais de velhice. Ora isto não é natural. Tudo convida a gastar tempo, esforço e recursos com o artificial; nada sobra para investir na cultura e sabedoria da vida. De resto o cultivo hodierno do corpo segue e desvirtua a linha aberta pela ciência da modernidade. É expressão do aprofundamento da destruição do sagrado e do eterno. A preocupação com o agora e a absolutização da máxima carpe diem não deixa lugar para o transcendente; retalha os grandes problemas e conduz à concentração em assuntos de menor escopo, que podemos abordar, tentar controlar e resolver e não se estendem aparentemente para além da nossa existência. Ademais, na voracidade da mudança e no golpe mortal desferido no valor da durabilidade, a longevidade corpórea da nossa existência surge como a única identidade com expectativa da vida crescente. É, pois, mais rentável investir na vida corpórea individual do que em “causas eternas”. Isto é, tudo o que não seja investir no prolongamento da vida individual “parece um mau investimento”. Caiu em desuso o projecto de construção da ponte entre a brevidade da nossa vida e a eternidade do universo, árdua e laboriosamente empreendido durante milénios em todos os contextos culturais. Deste jeito é também abandonada a reflexão filosófica acerca a ideia da verdadeira felicidade, resultante da associação dos nossos actos e práticas a ‘coisas’ maiores e mais duradoiras do que a vida corpórea – e que esta não contém. (Ver Zygmunt Bauman, IDENTIDADE – Entrevista a Benedetto Vecchi, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2005, p. 80-82).

[11] Mutatis mutandis, tem inteiro valimento na conjuntura actual a máxima do poeta latino Ovídeo (43 a.C.-18 d.C.): “Enquanto fores feliz contarás muitos amigos; quando o tempo se tornar nublado estarás só”.

[12] Zygmunt Bauman, IDENTIDADE – Entrevista a Benedetto Vecchi, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2005.

[13] Zygmunt Bauman, VIDA LÍQUIDA, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007, p. 48. Falta criar uma designação em latim para o modelo de homem que, além de passar de produtor a consumidor, parece ter conveniência, necessidade e prazer em prescindir da construção da identidade, em se despir de qualidades e desprender de vínculos e compromissos, tradicionalmente aceites e valorizados.

[14] Zygmunt Bauman define enfaticamente e a preceito: “A liberdade das pessoas em busca de identidade é parecida com a de um ciclista; a penalidade por parar de pedalar é cair, e deve-se continuar pedalando para manter a postura ereta. A necessidade de continuar na labuta é um destino sem escolha, já que a alternativa é apavorante demais para ser considerada”. (Zygmunt Bauman, VIDA LÍQUIDA, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007, p. 47).

[15] Porventura este descalabro e queda no abismo da inumanidade não são estranhos à extraordinária, eufórica e fervorosa mobilização em torno do fenómeno Barack Obama, ao enorme grau de expectativas e confiança nele depositadas. Poderá ele corresponder e ser factor das tão almejadas alteração, correcção e transformação deste curso do mundo do nosso descontentamento? Nada mente a uma esperança, se o não vir da sua concretização e da certeza, que nela mora, nos dói muito. Resta-nos redobrar de vigilância e acção, aderir à crença e partilhá-la persuasivamente, para tentarmos sair do horrendo buraco negro criado pelo desregulado e necrótico mercado neoliberal e financeiro.

[16] Zygmunt Bauman: VIDA LÍQUIDA, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007, p. 10.

[17] Apetece evocar Rui Barbosa (1849-1923), eminente tribuno brasileiro: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

[18] As transcrições são excertos do texto Se os tubarões fossem homens, disponível na internet.

[19] O espartilho ideológico da conjuntura é tão eficaz e sub-reptício que até mesmo académicos movidos pelos melhores intuitos humanistas elaboram programas de actividades corporais referenciadas à saúde, destinados a adultos e idosos, visando que estes os cumpram em casa e não ‘necessitem’ de frequentar o espaço público. Sem se darem conta, caem na esparrela e ajudam a enfunar as velas da destruição das instituições sociais com vento neoliberal.

[20] O Processo de Bolonha pode ser visto a partir de várias posições. Uma coisa é vê-lo em abstracto: merecem concordância geral os princípios e fins nele genericamente enunciados e confessados. Outra coisa é apreciar as motivações subliminares e inconfessáveis e a concretização do processo caso a caso, em função da pertença do analista a uma determinada área; esta, com a respectiva especificidade de saberes e convicções e de afinidades com o modelo de desenvolvimento económico em vigor, condiciona obviamente a visão, sempre parcial do avaliador. ‘Bolonha’, na versão portuguesa e com o pacote de medidas, leis e ‘reformas’ que o governo adicionou ao processo, é a cereja no topo do bolo servido em três dulcíssimas e complementares variantes: Bulonha, uma bula em que tudo é determinado, prescrito e imposto de fora, hierarquizando e distinguindo as áreas académicas com diferentes soluções no tocante à extensão da formação obrigatória, desconsiderando e asfixiando assim algumas (p. ex., as sociais e humanas) com um apertado garrote orçamental; Borlonha, uma borla que isenta os estudantes de um esforço e empenhamento por aí além e o Estado do devido investimento financeiro; Burlonha, uma burla em todos os capítulos, ao serviço de uma agenda oculta no plano económico e de uma pobreza cultural e espiritual, conveniente aos suseranos desta hora. Admito que outra seja a leitura de alguém ligado às bio-tecnologias; contudo espera-se que os especialistas destas áreas aceitem também a parcialidade da sua visão e não repitam festivamente as frases do pensamento único ditadas pelo mercado neoliberal, sem regulação e controle de espécie alguma, sem transparência e um pingo de ética e responsabilidade humana e social.

[21] Nesses documentos a palavra ‘educação’ é substituída por ‘aprendizagens”. Porque será? Os motivos são óbvios: a ‘educação’ é uma atribuição do Estado, compete a este garanti-la; as ‘aprendizagens’ inscrevem-se na lista de obrigações e responsabilidades dos indivíduos, são eles que as devem adquirir ao longo da vida, se quiserem ter sucesso e não ser atirados pela borda fora. Está assim aberto o caminho para um novo e lucrativo comércio.

[22] Mas então o Processo de Bolonha não pode impulsionar perspectivas e medidas superiores? Eis a resposta de Manuel Ferreira Patrício: “Parece-me que, até este momento, as instituições estão mais preocupadas com a sua sobrevivência do que com o que devem ser os seus objectivos lidimamente académicos. Por isso as perspectivas e medidas indiciam mais o propósito de atrair clientes do que o de promover formas e métodos de saber e saber-fazer dignos do qualificativo de superiores”. (In itinerários – revista de educação, 2ª. Série, nº. 6, Junho de 2008, p. 215, Instituto Superior de Ciências Educativas, Odivelas).

[23] Henry A. Giroux e Susan Searls Giroux, Take Back Higher Education (Palgrave, 2004). (Ver Zygmunt Bauman, VIDA LÍQUIDA, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007, p. 21).

[24] Este panorama leva Wojciechowski a afirmar que os únicos cursos, permitidos a instituições de duvidosa credibilidade, deveriam ser os de odontologia, sob a condição de que os respectivos professores venham a tornar-se pacientes nos consultórios e clínicas a abrir futuramente pelos seus ex-alunos. (In: Zygmunt Bauman, VIDA LÍQUIDA, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007, p. 157).

[25] Há, porventura, algum exagero nestas formulações. Carreguei propositadamente nas tintas, tendo plena consciência de que exagerar é, muitas vezes, a única maneira de alertar. Todavia há razões e justificações de sobra para a denúncia e o alerta.

[26] Richard Rorty, “The humanistic intellectuals: eleven theses”, in Philosophy and Social Hope, Penguin, 1999. (Ver Zygmunt Bauman, VIDA LÍQUIDA, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007, p. 22).

[27] Ibidem, p. 22.

[28] Ibidem, p.164.

[29] Ibidem, p. 166-167.

[30] Felizmente, pouco a pouco, surgem sinais de denúncia e revolta e vão-se erguendo em alto e bom som, no campo da política, vozes reprovadoras da desfiguração e modelação economicistas que têm sido impostas às Universidades. Por exemplo, Manuel Alegre, deputado do partido do governo, é particularmente incisivo e duro: “Universidades não são unidades de produção (…) não servem para formar quadros para satisfazer as necessidades das empresas ou a economia de mercado”. (Ver Diário de Notícias, 12.11.2008)

[31] Hannah Arendt, Eichmann in Jerusalem, Viking, 1963. (Ver Zygmunt Bauman, MEDO LÍQUIDO, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2008, p. 81-84).

[32] A ética do cuidado de si e dos outros, postulada pelo filósofo Martim Heidegger (1889-1976), incita cada um em particular e o Estado em geral a cumprir a sua parte, no tocante à melhoria da vida pessoal e social. Hoje o Estado neoliberal liberta-se desse preceito. Paradoxalmente, o indivíduo é cada vez mais responsabilizado pelo seu destino, mas a responsabilidade e a culpa individuais pelo mal-estar social e os agravos sofridos pelos outros são ofuscadas e depositadas na conta da lógica do sistema.

[33] Zygmunt Bauman, IDENTIDADE – Entrevista a Benedetto Vecchi, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2005, p. 52.

[34] O dito terramoto – na verdade um cataclismo idêntico ao que hoje se designa por tsunami – que devastou Lisboa, em 1755, constituiu um abalo no pensamento europeu e ficou indelevelmente ligado à elaboração de traves mestras e ideais do Iluminismo e Humanismo. A filosofia moderna seguiu, no estabelecimento da sua função, o padrão inerente à actuação e preocupação do Marquês de Pombal, primeiro-ministro português na época: erradicar os males produzidos por mãos humanas. (Ver Zygmunt Bauman, MEDO LÍQUIDO, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2008, p. 80).

[35] Obviamente não é espectável que os políticos e governos sejam infalíveis; mas não é demais exigir e esperar que sirvam o bem e o interesse públicos, sejam honestos, vinculados à verdade e propensos a assumir responsabilidades.

[36] Zygmunt Bauman, MEDO LÍQUIDO, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2008, p. 84-86.

[37] Mais uma vez é pertinente lembrar Bertold Brecht e o poema, de sua autoria, Escuta Zé Ninguém: “Primeiro vieram buscar os comunistas./Não disse nada, pois não era comunista;/depois, vieram buscar os judeus. Nada disse, pois não era judeu;/…/Agora, vieram buscar-me a mim,/e quando isso aconteceu, não havia mais ninguém para protestar.”

[38] Zygmunt Bauman, VIDA LÍQUIDA, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007, p. 91-105.

[39] Zygmunt Bauman, GLOBALIZAÇÃO: AS CONSEQUÊNCIAS HUMANAS, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1999, p. 11.

[40] Numa crónica intitulada A maldição dos intelectuais, inserta no jornal Público de 12.11.2008, p. 40, Rui Tavares pergunta e responde: “Que deve um intelectual fazer? (...) Se quiser fazer vingar as suas ideias, terá de lutar por elas nos seus próprios termos. (...) Se acredita que as ideias são importantes como causa, deveria também acreditar que elas são importantes como resultado. Está no seu interesse criar um ambiente em que as ideias, mesmo as mais complexas, sejam acarinhadas”.

[41] Segundo Charles Handy, as comunidades virtuais, além de tornarem mais difícil para a pessoa a questão da substância da identidade pessoal e de chegar a um acordo com o próprio eu, não podem ser um substituto válido de “sentar-se a uma mesa, olhar o rosto das pessoas e ter uma conversa real”. A isto acresce, segundo Andy Hargreaves, a extinção da introspecção. “Defrontadas com momentos de solidão em seus carros, na rua ou nos caixas de supermercados, mais e mais pessoas deixam de se entregar a seus pensamentos para, em vez disso, verificarem as mensagens deixadas no celular em busca de algum fiapo de evidência de que alguém, em algum lugar, possa desejá-las ou precisar delas”. (Zygmunt Bauman, IDENTIDADE – Entrevista a Benedetto Vecchi, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2005, p. 31-32).

[42] Zygmunt Bauman, MEDO LÍQUIDO, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2008, p. 95.

[43] Zygmunt Bauman, VIDA LÍQUIDA, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007, p. 23.