SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.5 número3A modelação do jogo em Futsal: Análise sequencial do 1x1 no processo ofensivoA educação física e concepções higienistas sobre raça: uma reinterpretação histórica da educação física brasileira dos anos de 1930 índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista Portuguesa de Ciências do Desporto

versão impressa ISSN 1645-0523

Rev. Port. Cien. Desp. v.5 n.3 Porto set. 2005

 

O alpinismo: Uma experiência no (pelo) corpo

 

Ana L. Pereira

Universidade do Porto, Faculdade de Desporto, Portugal

 

RESUMO

A sociedade ocidental caracteriza-se pelo monopólio da visão sobre os demais sentidos, provocando um incremento na valorização da imagem corporal. Mas, para além de ser uma sociedade mediática, valoriza-se a auto-realização e auto-expressão, objectivos possíveis de concretizar no tempo livre e lazer. É sobre o alpinismo, uma actividade física de lazer e que encerra riscos que colocam a integridade física em causa, que este estudo incide. Perante a possibilidade de ocorrerem acidentes que adulteram o corpo do alpinista e o afastam da imagem preconizada pela sociedade, é de questionar a valorização que este confere ao corpo. Assim, os objectivos deste trabalho foram compreender os sentidos expressos e atribuídos ao alpinismo e compreender as representações do corpo em alpinistas. Para isso foram efectuadas entrevistas semi-estruturadas a vinte alpinistas, tendo essas entrevistas sido submetidas à análise de conteúdo. Através do processo hermenêutico para as categorias criadas, podemos considerar que para os alpinistas deste estudo o corpo é um locus de expressão do valor da estética e o dever um valor essencial para um corpo disciplinado. Esta valorização do dever está subordinada aos valores hedonísticos inerentes à própria actividade, os quais não estão subordinados a nenhum valor que o prazer da conquista. Finalmente, o corpo é percebido pela sua funcionalidade, sendo inclusive menos bem tratado desde que o objectivo se concretize.

Palavras-chave: corpo, alpinismo, valores.

 

ABSTRACT

High-altitude climbing: a body experience

The western society shows an image monopoly, which evidences as a result an enhancement in the valorization of body appearance. Even though, we live in a society that also valorizes self-expression and self-realization, aspirations that can be accomplished in leisure time. This paper is about climbing, a leisure and physical activity that entails some risks that may put physical integrity in cause. In this way, since accidents are frequent and may alter climbers’ image and lay them far from the ‘perfect’ body, one can question about the values climber attributes to his body. Thus, our goals were: to understand the feelings expressed by climbing and the representation and valorization of the body among the alpinists. Our data was collected through twenty in-depth interviews conducted with climbers. Such interviewswere submitted to content analysis. Through a hermeneutic process of the main categories, we can say that for these climbers body is an expressionlocus for aesthetic. Duty is considered as a fundamental value to obtain a disciplined body. This duty valorization is subordinated to hedonism, which is an inherent value in climbing. Finally, the body is perceived by its functionality and it may even be poorly treated if necessary when one wants to get the top of the mountain.

Key Words: body, climbing, values.

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

REFERÊNCIAS

1. Bardin L (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70        [ Links ]

2. Baudrillard J (1991). Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio d'Água        [ Links ]

3. Berbaum E (1998). Sacred Mountains of the world. Los Angeles: University of California Press        [ Links ]

4. Bouet M (1968). Signification du sport. Paris: Éditions Universitaires        [ Links ]

5. Bourdieu P (1989). O poder simbólico. Lisboa: Difel        [ Links ]

6. Bragança de Miranda J (2002). Teoria da Cultura. Lisboa: Edições Século XXI        [ Links ]

7. Cunha e Silva P (1997). Anatomias contemporâneas. In Câmara Municipal de Oeiras (ed.). Anatomias contemporâneas. O corpo na arte portuguesa dos anos 90 . Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras, 49-165        [ Links ]

8. De Léséleuc E (1997). Le plaisir du vide. Approche psychanalytique des relations aux vertiges chez les gripeurs et les alpinistes. Corps et Culture 2: 31-44        [ Links ]

9. Elias N, Dunning E (1992). A busca da excitação. Lisboa: Difel        [ Links ]

10. Foucault M (1995). Vigiar e punir. Rio de Janeiro: Petrópolis        [ Links ]

11. Fuster i Matute J, Agurruza B (1995). Riesgo y actividades físicas en el medio natural: un enfoque multidimensional. Apunts (41): 94-107        [ Links ]

12. Garcia R (1993). O desporto no universo mítico-religioso: os modelos existenciais revelados pela corrida maratona. Dissertação de Doutoramento. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto        [ Links ]

13. Garcia R (1996). Programa e relatório de Antropologia do Desporto. Relatório e programa de disciplina. Provas de Associado. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto        [ Links ]

14. Garcia R (1998). Lição de Síntese. Elaborada para a obtenção do título de Agregado no 6º grupo de disciplinas da FCDEF.UP. Lição de Síntese. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto        [ Links ]

15. Garcia R (1999). Da desportivização à somatização da sociedade. In A. Graça (ed.). Contextos da Pedagogia do Corpo. Lisboa: Livros Horizonte, 115-163        [ Links ]

16. Ghiglione R, Matalon B (1993). O inquérito. Teoria e prática. Oeiras: Celta Editora        [ Links ]

17. Hessen J (1980). Filosofia dos valores. Coimbra: Arménio Amado, Editor, Sucessor (5ª ed.)        [ Links ]

18. Hochachka PW (1998). Mechanism and evolution of hypoxia-tolerance in humans. J Exp Biol 201 ( Pt 8) 1243-1254        [ Links ]

19. Hultgren H (1997). High Altitude Medicine. California: Hultgren Publications         [ Links ]

20. Kincheloe J, McLaren P (2000). Rethinking critical theory and qualitative research. In Y. Lincoln (ed.). Handbook of qualitative research. California: Sage Publications, Inc, 279-313        [ Links ]

21. Laverty S (2003). Hermeneutic phenomenology and phenomenology: a comparison of historical and methodological considerations. International Journal of Qualitative Methods 2 (3): 1-29        [ Links ]

22. Le Breton D (1999). L'Adieu au Corps. Paris: Éditions Métailié        [ Links ]

23. Le Breton D (2000). Passions du risque. Paris: Éditions Métailié (éd. mise à jour)        [ Links ]

24. Le Breton D (2002). La sociologie du corps. Paris: Presses Universitaires de France (5e ed.)        [ Links ]

25. Lewis N (2000). The climbing body, nature and the experience of modernity. Body and Society VI (3-4): 58-80        [ Links ]

26. Lipovetsky G (1994). O crepúsculo do dever. A ética indolor dos novos tempos democráticos. Lisboa: Publicações Dom Quixote        [ Links ]

27. Loewenstein G (1999). Because it is there: the challenge of mountaineering. Kyklos 52 (3): 315-344        [ Links ]

28. Loewenstein G, Hsee C, Weber E, Welch N (2001). Risk as feelings. Psychological Bulletin 127 (2): 267-286        [ Links ]

29. Maffesoli M (2001). O eterno instante. O retorno do trágico nas sociedades pós-modernas. Lisboa: Instituto Piaget        [ Links ]

30. McCarthy J (2002). A theory of place in North American mountaineering. Philosophy & Geography 5 (2): 179-194        [ Links ]

31. Merleau-Ponty M (1994). Fenomenologia da percepção. S. Paulo: Martins Fontes (2ª ed., 2ª tiragem, 1996)        [ Links ]

32. Moura Ferreira P (2003). Comportamentos de risco dos jovens. In J. Pais (ed.). Condutas de risco, práticas culturais e atitudes perante o corpo. Oeiras: Secretaria de Estado da Juventude e Desportos, Celta Editora, 41-166        [ Links ]

33. Natalier K (2001). Motorcyclists' interpretations of risk and hazard. Journal of Sociology 37 (1): 65-80        [ Links ]

34. Ortner S (1997). Thick resistance: death and the cultural construction of agency in Himalayan mountaineering. Representations 59: 135-162        [ Links ]

35. Patrício M (1993). Lições de Axiologia Educacional. Lisboa: Universidade Aberta        [ Links ]

36. Queirós P (2002). O corpo na Educação Física. Leitura axiológica à luz de práticas e discursos. Dissertação de Doutoramento. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto        [ Links ]

37. Resweber J-P (2002). A Filosofia dos Valores. Coimbra: Almedina        [ Links ]

38. Rocchetta C (1993). Hacia una teología de la corporeidad. Madrid: Ediciones Paulinas        [ Links ]

39. Stebbins R (1982). Serious leisure: a conceptual statement. Pacific Sociological Review 25: 251-272        [ Links ]

40. Vala J (1986). A análise de conteúdo. In J. Madureira Pinto (ed.) Metodologia das Ciências Sociais. Porto: Edições Afrontamento, 101-128        [ Links ]

41. Williams T, Donnelly P (1985). Subcultural production, reproduction and transforming climbing. Int. Rev. for Soc. of Sport 20 (1-2): 3-17        [ Links ]

42. Young K, Mcteer W, White P (1994). Body talk: male athletes reflect on sport, injury, and pain. Sociology of Sport Journal 11: 175-194        [ Links ]

 

CORRESPONDÊNCIA

Ana Luísa Pereira

Faculdade de Desporto

Universidade do Porto

Rua Dr. Plácido Costa, 91

4200-450 Porto

Portugal

analp@fcdef.up.pt