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Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.18 no.3 Lisboa dez. 2017

https://doi.org/10.15309/17psd180320 

Formulário de avaliação da relação Adaptação e validação do RRF de K.E. Davis para a população Portuguesa

Relationship rating form adaptation and validation for the Portuguese population

José de Abreu Afonso 1 & Isabel Leal 1,2

 

1ISPA- Instituto Universitário.

2William James Center for Research (jaa@ispa.pt) (ileal@ispa.pt)

 

Endereço para Correspondência

 

RESUMO

O artigo apresenta a adaptação e validação para a população portuguesa da Relathionship Rating Form (RRF) de K. E. Davis (1996), criada para medir a amizade, as relações românticas e o amor. A noção de amor aqui usada deriva de um corpo empírico e conceptual radicado na Psicologia Descritiva. Entende-se o amor como um conceito prototípico na sua natureza. A construção do instrumento sustenta-se num caso paradigmático ou ideal que foi desenvolvido incorporando todos os aspectos relevantes que um caso real de amor deve ter. Participaram no estudo 444 sujeitos, 222 casais heterossexuais. Para a nossa amostra, a sensibilidade dos itens demonstrou ter características discriminativas. A validade de construto foi estudada através de análise fatorial confirmatória de componentes principais com rotação oblíqua. No que respeita à fidelidade, recorreu-se ao Alpha de Cronbach. A análise fatorial para a nossa população não confirmou a estrutura original. Chegámos a uma estrutura final também de sete fatores, mas não coincidente com a encontrada por Davis em 1996. Designámos os fatores encontrados por: 1-Sucesso e Satisfação Geral; 2-Desilusão Amorosa; 3- Cuidado Mútuo; 4-Compromisso; 5-Fascinação; 6-Conhecimento; 7- Coerção. No fator 1 incluímos as seguintes sub-escalas: Respeito/Auto-Estima; Comunicação Honesta e Íntima; Erotismo/Desejo; Satisfação; Manutenção; Aceitação. No fator 2 considerámos as sub-escalas de Desconfiança/Desapontamento; Desrespeito/Deslealdade; Tensão/Ambivalência. No fator 3 tivemos em conta as sub-escalas de: Auxilio; Defesa; Dar o Máximo. O fator 4 integra as sub-escalas de Prazer; Confiança; Exclusividade e Projecção no futuro.

Palavras-chave: relação conjugal, amor, relação romântica, amizade

 

ABSTRACT

This article consists on the validation of the Relationship Rating Form -RRF (Davis, 1996) - an instrument that measures friendship, romantic relationships and love - for the Portuguese population. The concept of love used on this research is developed from the empirical and conceptual body of descriptive psychology. The construction of the scale is based on a prototypical or ideal case, which includes the relevant features that a real case of love should reveal. The results of the factor analysis by the KMO method, using oblimin rotation, produced a meaningful solution of seven factors (but not quite coincident to those that Davis and his colleagues obtained in the US in the middle 90's): 1-Success/Global Satisfaction; 2- Love disillusion; 3-Care for Partner's Well-being; 4-Commitment; 5- Fascination 6-Knowledge; 7-Coercion. Factor 1 includes the following sub-scales: Respect/Esteem; Mutual Confiding/Intimacy; Sexual Desire; Satisfaction; Maintenance; Acceptance. Factor 2 includes the subscales of Distrust/Disappointment; Disrespect/Disloyalty; Tension/Ambivalence. Factor 3 includes Assistance, Championing and Give the Utmost sub-scales. In factor 4 we contemplate the Enjoyment; Trust/Confiding; Exclusiveness and Projecting in the Future sub-scales. The reliability of the factors was tested through the use of Cronbach Alpha.

Keywords: couple relationship, love, romantic relationship, friendship

 

Nas últimas décadas, o interesse pelas relações próximas arrastou o aumento da investigação sobre o amor romântico. Desenvolveram-se as teorizações e surgiram vários instrumentos de medida.

O amor é vulgarmente visto como o mais profundo e significativo dos sentimentos, ocupando uma posição proeminente nas produções artísticas humanas desde sempre. A maioria das pessoas experimentou-o, mesmo que ocasionalmente. Na atual cultura ocidental a sua associação com a ideia de conjugalidade faz a ligação entre o indivíduo e a estrutura mais básica da sociedade (Rubin, 1970). Se considerarmos que o amor pode ser conceptualizado e medido independentemente numa perspectiva de validação de construto, teremos de defini-lo, assim como chegar ás suas relações com outras variáveis. Uma assumpção inicial para cumprir esta tarefa é assumi-lo como a atitude de uma pessoa relativamente a alguém particular. Isto implica um ponto de vista mais vasto que o que vê o amor como uma emoção, uma necessidade, ou um conjunto de comportamentos. A ligação a um objeto particular sugere que podem existir importantes elementos comuns entre as diversas variedades de amor, por exemplo o filial, o marital, o fraternal, ou o amor por Deus.

Como nos recordam Bergner, Davis, Saternus, Walley, e Tyson (2013), para articular um conceito, a tradição na psicologia, desde o trabalho de Rosch (1973) e Mervis e Rosch (1981), tem seguido duas vias. A mais antiga, dar uma definição, é a essencialista, colocando as condições universais necessárias e suficientes para o uso correcto do termo. A segunda, observada na maioria dos conceitos do mundo real, não pode ser formalmente definida porque não há um único aspecto que todas as instâncias desses conceitos tenham em comum (Mervis & Rosch, 1981). Faltam-lhe as condições universais necessárias e suficientes para uma definição formal, mas, em contrapartida, há semelhanças que tornam possível a estruturação de um protótipo. Estas semelhanças justificam o uso do termo numa determinada ocasião.

Berenger et al., (2013) anotam que a posição recente da literatura sobre relações próximas é que o amor é um conceito prototípico na sua natureza. Isto para o amor em geral e para os seus diferentes subtipos, tais como o amor romântico, o amor companheiro, o amor compassivo. Esta posição é bem articulada na ideia de que as controvérsias à volta do significado do amor, e a correspondente diversidade na literatura científica de definições conceptuais e operacionais é devida à possibilidade de as pessoas vulgares reconhecerem instancias do amor (não conformes com algumas definições formais) pela semelhança familiar com um exemplar prototípico.

. A noção de amor aqui usada deriva de um corpo empírico e conceptual radicado na Psicologia Descritiva. Esta concepção foi validada por Davis e Tood (1985) como enraizada no conjunto de distinções prototípicas que a maioria das pessoas faz quando distingue relações românticas de outro tipo de relações, ou da amizade.

Davis e Todd (1985) esclarecem: ao mesmo tempo que os cognitivistas desenvolviam a ideia de protótipos, a Psicologia Descritiva desenvolvia a concepção de caso paradigmático, para representar um fenómeno comportamental central na vida do dia a dia, mas resistente a uma representação formal. O procedimento de caso paradigmático é um método para determinar e distinguir os casos genuínos daqueles que desejamos excluir. Há dois passos fundamentais: o primeiro tem duas partes – pegar num caso verdadeiro do fenómeno e identificar aquelas características que são pertinentes para a sua categorização como caso; o segundo passo consiste na generalização da lista de características – uma série de transformações é levada a cabo tal como apagar uma dada característica do rol. Com efeito, uma transformação é qualquer mudança na lista que produza outros casos do fenómeno A transformação pode prosseguir até que se tenham gerado todos os casos de interesse, e apenas esses casos. É necessário sublinhar que a lista não é a das condições necessárias e suficientes para aplicação do termo ou conceito em causa, por exemplo o amor. Isso seria demasiado idealista e restritivo. O caso paradigmático arquetípico é um caso sem constrangimentos por limitações pessoais ou por factos. Quando estes constrangimentos se fazem sentir o amor encontrado na vida real poderá diferençar-se do caso ideal, não só em grau, mas até ao ponto de não ter uma ou mais características do elenco do arquétipo.

A transformação é então a mudança de uma ou mais características do paradigma que resulta num caso que ainda serve de exemplo, algumas vezes como caso limite. A mais simples transformação é a eliminação de uma característica, mas o caso mais útil é uma redução significativa no seu grau ou valor. Outra transformação possível é a especificação de um dado domínio do caso (Davis & Todd, 1985).

A partir deste corpo teórico, que sustenta a construção do instrumento que propomos adaptar, um caso paradigmático ou ideal foi desenvolvido, incorporando todos os aspectos relevantes que um caso real de amor deve ter. Usar um protótipo pode ser útil porque nos oferece um padrão a partir do qual podemos observar os amantes e as relações de amor reais. Ainda que raramente vejamos o preenchimento de todas as condições numa relação concreta, a sua existência permite-nos perceber o que está faltando num dado relacionamento (Beste, Bergner, & Nauta, 2003).

Neste trabalho apresentamos a adaptação e validação para a população portuguesa de “The Relationship Rating Form (RRF): A Measure of the Characteristics of Romantic Relationships and Friendships”, que aqui denominamos Formulário de Avaliação da Relação (FAV), criado por Davis (1996) para medir a amizade, as relações românticas e o amor. Uma palavra ainda para justificar o interesse da tradução, adaptação e validação para a população portuguesa do RRF. Como assinalam Beste et al., (2003) a formulação de amor usada neste questionário poder ser útil aos terapeutas familiares como um modelo diagnóstico para avaliação de relacionamentos, permitindo, por exemplo, evidenciar áreas de fraqueza e determinar áreas de força em relações, ou mostrar em que zona um indivíduo pode ter limitações na sua capacidade de amar.

Será também mais um instrumento posto à disposição dos investigadores portugueses que se dedicam ao estudo das relações próximas e das relações amorosas.

 

MÉTODO

Participantes

Participaram no presente estudo 444 sujeitos, 222 casais heterossexuais, 157 casados e 65 a viverem em união de facto. A recolha de dados foi realizada em diversos serviços públicos e privados de Lisboa e zonas circundantes, utilizando-se um sistema de “bola de neve”, durante 18 meses. O estudo foi aprovado pela comissão de ética do ISPA –IU e todos os participantes deram o seu consentimento informado

 

 

Como se verifica no Quadro 2 o tempo de união dos casais que estão casados é superior ao dos casais que vivem em união de facto: os casados estão juntos em média há 21 anos, enquanto os que vivem em união de facto coabitam em média há 7 anos. A dispersão em torno da média deste último grupo é bastante elevada. Relativamente à existência de filhos também se verificam diferenças entre os dois grupos: a maioria dos casados tem filhos (88,5%), sendo essa percentagem de apenas 35,4% nos casais que vivem em união de facto.

 

 

O número de filhos é mais elevado no grupo dos casados (média de 2 filhos, sendo a dispersão bastante elevada, dado haver 4 casais com mais de 3 filhos). Já no grupo que vive em união de facto a média é de um filho (a grande maioria tem 1 filho, havendo apenas 4 casais que têm mais do que 1 filho: 3 casais com 2 filhos e 1 casal com 3 filhos).

Material

Questionário Sócio-demográfico: visou recolher uma quantidade alagada de informação sociológica sobre a amostra, permitindo a sua caracterização.

The Relationship Rating Form (RRF): A Measure of the Characteristics of Romantic Relationships and Friendships (Davis, 1996): A escala RRF é composta por 65 itens organizando-se em 7 escalas, 6 das quais, constituídas por sub-escalas (Quadro 3).

 

 

As características das relações românticas medidas pelo instrumento correspondem a cada uma das escalas globais que são: 1.“Viability”, 2.“Intimacy”, 3.“Passion”, 4.“Care”, 5.“Gobal Satisfaction”, 6.“Conflit/Ambivalence” 7.“Commitment”. As sub-escalas, por sua vez, medem 20 facetas das relações. Assim, a Escala Global “Viability” abrange três sub-escalas distintos: “Acetptance/Tolerance”, “Respect” e “Trust”, a Escala Global “Intimacy” organiza-se nas dimensões “Confiding” e “Understanding”, a Escala Global “Passion” inclui “Fascination”, “Exclusiveness” e “Sexual Intimacy”, a Escala Global “Care” engloba “Giving the utmost”, “Championing” e “Assistance”, a Escala “Global Satisfaction” abarca “Success”, “Enjoyment”, “Reciprocity” e “Esteem”, a Escala Global “Conflit/Ambivalence” mede precisamente as duas facetas contidas no seu nome. A Escala Global “Commitment” é a única que não tem sub-escalas. Há ainda 10 itens que não se integram nestas sete Escalas Globais: “Maintenance” (3 itens), “Coercion” (2 itens) e “Equality” (1 item) (Quadro 2).

A resposta é dada em 9 pontos: 1 - Nada, 2 – Muito Pouco, 3 – Pouco/Raramente, 4 – Levemente/Não Frequentemente, 5 – Razoavelmente, 6 – Bastante, 7 – Muito, 8 – Muitíssimo/Quase sempre, 9 – Completamente/extremamente.

Estudo original (Davis, 1996)

Os autores estudaram ao nível da fidelidade, a consistência interna da escala utilizando para isso o Alpha de Cronbach. Estudaram também a estabilidade temporal usando o método teste/reteste. Os Alphas das escalas globais variam entre 0,73 e 0,90 e os coeficientes de correlação do teste reteste entre 0,68 e 0,82. Os alphas das sub-escalas são quase todos superiores a 0,60 e os que não são aproximam-se desse valor.

Diversos aspectos da validade foram explorados. Davis (1996) cita vários estudos: a validade de conteúdo foi explorada usando amostras de estudantes que ajuizavam o grau em que os itens cabiam nas definições conceptuais pretendidas, procedimento semelhante ao usado no estudo português. Grupos de pessoas avaliaram o grau em que as relações com os seus amigos, amantes, esposos, ou parceiros tinham as características referidas no RRF (Davis & Todd, 1985). Expectativas das diferenças entre amigos e amantes em aspectos como o grau de intimidade, o grau de fascínio, os sentimentos de exclusividade, e o desejo de intimidade sexual foram suportadas pela investigação. Estudos adicionais trataram da traição da amizade e das suas consequências para o relacionamento. Davis (1996), refere trabalhos que exploraram o uso das características do relacionamento como medida do suporte social percebido citando Brown (1983) bem como outros estudos evidenciando que as escalas globais prevêem a estabilidade longitudinal da satisfação e do relacionamento (Davis, Todd e Denneny, 1988).

 

 

Procedimento

Validação do Instrumento para a População Portuguesa

Após o processo de tradução/retroversão/tradução, A RRF foi preenchida pelos 444 participantes no estudo.

A validade de constructo foi estudada recorrendo-se a Análises Fatoriais. Foi utilizado o método “medida da adequação da amostragem de Kaiser-Meyer-Olkin” proposta por Kaiser (1970) e Kaiser e Rice (1974) para verificar se era viável usar uma análise fatorial nos nossos dados. Ainda que não exista um teste rigoroso para os valores de KMO. O KMO obtido foi de 0,969, o que permitiu o recurso a análise fatorial exploratória de componentes principais com rotação obliqua.

Usámos os fatores distinguidos pela análise ortogonal, retendo a solução para sete fatores, pedindo-se depois a alunos universitários e a pessoas comuns que indicassem quais os conceitos relevantes por trás dos itens, solicitando uma pequena narrativa. Usamos também este procedimento com psicoterapeutas. Seguindo a proposta de K. Davis (Comunicação Pessoal, 26.10.2009), não quisemos deixar os resultados finais baseados apenas na análise fatorial. Decidimos, no fator 1 agrupar os itens em subescalas, procedendo do mesmo modo para os fatores 2, 3 e 4. Os critérios que presidiram a reunião dos itens em subescalas foram conceptuais e clinicamente relevantes, de acordo com a nossa experiência e a de colegas psicoterapeutas, de ambos os géneros e com uma prática clínica mínima de 10 anos de terapia de casais, que connosco reuniram e discutiram o agrupamento dos itens. Além disto, muitas correspondiam, grosso modo, a subescalas já existentes na RRF original. O passo seguinte será avaliar a validade de conteúdo, à semelhança do que Davis fez nos Estados Unidos e, mais uma vez, passar os conjuntos de itens a estudantes universitários e outras populações, solicitando-lhes os conceitos por detrás dos agrupamentos. A partir daí os conceitos serão afinados e manter-se-ão os que passarem por esta prova.

 

RESULTADOS

No sentido de se averiguar a consistência interna para as escalas originais da RRF na população portuguesa, recorreu-se ao Alpha de Cronbach (Quadro 5 e 6).

 

 

 

 

 

 

O fator 1 (Quadro 8) é composto por 17 itens com factors loadings a oscilar entre 0,49 e 0,74 e os coeficientes de saturação com o total do fator a variar entre 0,52 e 0,87.

 

 

O fator 2 (Quadro 9) é composto por 10 itens com factors loadings a oscilar entre -0,52 e -0,74 e os coeficientes de saturação com o total do fator a variar entre 0,59 e 0,79.

 

 

O fator 3 (Quadro 10) é composto por 8 itens com factors loadings a oscilar entre 0,55 e 0,69 e os coeficientes de saturação com o total do fator a variar entre 0,72 e 0,87.

 

 

O fator 4 (Quadro 11) é composto por 8 itens com factors loadings a oscilar entre 0,50 e 0,61 e os coeficientes de saturação com o total do fator a variar entre 0,71 e 0,83.

 

 

O fator 5 (Quadro 12) é composto por 3 itens com factors loadings a oscilar entre 0,50 e 0,67 e os coeficientes de saturação com o total do fator a variar entre 0,41 e 0,49.

 

 

O fator 6 (Quadro 13) é composto por 3 itens com factors loadings a oscilar entre 0,50 e 0,71 e os coeficientes de saturação com o total do fator a variar entre 0,57 e 0,64.

 

 

O fator 7 (Quadro 14) é composto por 2 itens com factors loadings de 0,70 e 0,76 e os coeficientes de saturação de 0,76. Apesar de ter apenas 2 itens este fator tem uma elevada consistência interna (Alpha de Cronbach de 0,85).

 

 

DISCUSSÃO

Como mostram os Quadros 5 e 6, os Alphas das setes escalas globais são todos superiores a 0,80 e das subescalas são todos superiores a 0,60.

A análise fatorial não confirmou uma estrutura fatorial com 7 fatores coincidente com a encontrada pelo autor. A variância explicada pelo total dos fatores é de 64,69% e o estudo da consistência interna feita aos fatores encontrados revelou Alphas elevados (acima de 0,80) e aceitáveis (entre 0,63 e 0,77 - ver Quadro 5).

Na escolha dos itens para cada fator seguiu-se os seguintes critérios: 1º - Coeficiente de saturação (“Factor Loading”) superior a 0,50 num fator (Costello & Osborne 2005) 2º - A diferença entre os coeficientes de saturação dos dois fatores ter um valor igual ou superior a 0,10. Além das Análises fatoriais efetuaram-se também correlações dos itens com o total do fator a que pertencem, usando o critério de valores superiores a 0,40 (Costello & Osborne 2005) . Os itens que se propõe eliminar (ver Quadro 7) não saturam em nenhum fator acima de 0,50 ou saturam em mais do que um fator acima de 0,50 tendo uma diferença de factor loading inferior a 0,10.

Fazemos, de seguida, a descrição de cada um dos factores que compõem a escala final

O Factor 1 - Sucesso e Satisfação Geral - (Quadro 8), inclui os itens correspondentes as subescalas:

Respeito e Autoestima (Itens 7, 8, 51,52): compreende o respeito pelo parceiro, tê-lo em conta e considera-lo digno do nosso apreço. Envolve uma consideração básica pelo outro que desenvolve a sua autoestima.

Comunicação Honesta e Intima (Itens 13, 40, 41, 59): relaciona-se com a partilha de experiências e de sentimentos positivos ou negativos. Implica uma sensação de poder confiar abertamente no outro, poder comunicar francamente acerca de questões profundas.

Erotismo/Desejo (Itens 22, 29): encerra sentimentos de prazer erótico e de desejo pelo parceiro.

Satisfação (Itens 42, 43, 44, 46): inclui sentimentos ou sensações agradáveis de satisfação e desfrute da relação.

Manutenção (Itens 60,61): envolve comportamentos de aperfeiçoamento, manutenção, sustentação e preservação do relacionamento.

Aceitação (Item 1): constituída por um item refere-se à aceitação do outro como ele é, não lhe transmitindo a sensação que se gostaria que ele fosse outra pessoa.

O Fator 2 (Quadro 9), reúne os sentimentos mais negativos sobre o parceiro refletindo uma multiplicidade de formas de ele dececionar, não cumprir as expectativas e deixar o outro sentindo-se armadilhado tenso ou tratado injustamente. Mostra dificuldades de comunicação e presença de sentimentos negativos relacionados com a desconfiança, a falta de compreensão e a sensação de ser pouco cuidado pelo par. Designamos este fator por Desilusão Amorosa e consideramos a existência das seguintes subescalas:

Desconfiança/Desapontamento (Itens 4, 11, 15,16): diz respeito à dúvida e à deceção por falta daquilo com que se contava.

Desrespeito /Deslealdade (Itens 6, 12, 54, 58): relaciona-se com sentimentos de traição e falta de respeito.

Tensão/Ambivalência (Itens 18, 55): refere-se a estados de tensão na relação.

Os itens do Fator 3 (Quadro 10) remetem para a confiança mútua, para a perceção do cuidado e sacrifício pessoal do parceiro que promove sentimentos de poder contar com ele. Na verdade, o fator é um conjunto claro de diferentes maneiras de mostrar apoio/sustentação e cuidado por um par, que serão altamente significativas para ele.

O cuidado mútuo e o interesse pelo bem-estar do outro referem-se, num casal, a um investimento pessoal forte no bem-estar recíproco. Esta característica das relações amorosas mostra como cada um se importa genuinamente e está disposto fazer esforços pessoais, quando necessário, para promover a felicidade do parceiro. O indivíduo não está apenas dando para receber, não está a fazer tudo isto para ganhar algo, mas porque a felicidade e bem-estar do companheiro lhe importam genuinamente. Este fator reflete, em suma, o “Care for Partner's Well-being” (Bergner et al., 2013), que nós designamos por Cuidado Mutuo.

Consideramos a existência de 3 subescalas:

Dar o Máximo (Itens 32, 33, 34): relaciona-se com o dar-se ao parceiro até ao limite máximo.

Defesa (Itens 35, 36 e 37): ligado com o apoio, a proteção e a defesa.

Auxilio (Itens 38 e 39): associado com a ajuda, o socorro.

Os sentimentos nucleares deste conjunto de itens são de cuidado e compromisso, companheirismo, confiança na continuidade da relação e exclusividade. Designamos este fator (Fator 4 – Quadro 11) por Compromisso.

Consideramos as subescalas:

Prazer (Item 47): liga-se ao desfrute da presença do outro e do prazer que proporciona.

Confiança (Itens 9, 14, 49): relaciona-se com a perceção de se poder contar que o outro não violará a relação.

Exclusividade (Item 25): envolve a ideia de que a relação é única.

Projeção no futuro (Itens 62, 64, 65)

O conjunto de itens do Fator 5 (Quadro 12) relaciona-se com os sentimentos de não conseguir tirar o outro do pensamento. Reflete a vontade de passar por cima das faltas do parceiro espelhando a fascinação, uma espécie de encanto que pode perturbar a razão, retratando a grande influência e o deslumbramento que o outro exerce no sujeito. Designamo-lo por Fascinação.

Os itens do Fator 6 (Quadro 13) espelham a intimidade no casal, referindo-se ao conhecimento pessoal e da história de vida do parceiro. Este fator toma a designação de Conhecimento.

O Fator 7 (Quadro 14) é composto por dois itens coincidem com o que Davis (1996) encontrou para a escala “Coersion”: Remetem para ações de uso de poder, coação e falta de respeito pela vontade do outro. Mantivemos a designação original, denominando o fator de Coerção.

Cotação

A resposta a cada item é dada numa escala de 1 a 9. Para cada sub-escala deverá ser feito o somatório dos itens, dividindo-se pelo respectivo número do total de itens. (por exemplo para o fator 1, que tem 17 itens, devem somar-se esses 17 itens e dividir o somatório por 17). Obtém-se assim para todos os fatores um score a variar entre 1 e 9. Quanto mais elevado o score encontrado maior o “sentimento” referente aquele aspeto.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para Correspondência

Rua Jardim do Tabaco, nº34, 1149-041 Lisboa, Portugal. Telf.: +351 218811700. e-mail: jaa@ispa.pt

 

Recebido em 30 de Outubro de 2010 / Aceite em 09 de Outubro de 2017

 

ANEXO

FORMULÁRIO DE AVALIÇÃO DA RELAÇÃO (Davis (1996); Abreu-Afonso & Leal (2017))

Por favor, assinale a sua escolha:

Instruções: Abaixo encontrará questões acerca da relação com o seu cônjuge, companheiro(a) ou namorado(a) Para responder às questões escolha a opção que melhor reflecte os seus sentimentos sobre a sua relação com essa pessoa.

 

 

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