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Psicologia, Saúde & Doenças

Print version ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.18 no.3 Lisboa Dec. 2017

https://doi.org/10.15309/17psd180305 

Aspectos sociocognitivos da obesidade: estereótipos do excesso de peso

Sociocognitive aspects of obesity: overweight stereotypes

Carolina Torres de Lima1, Diana Ramos-Oliveira 1, Cleverton Barbosa2

 

1Universidade Católica de Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil. (carolina.nutricionista@live.com(diana.oliveira@ucp.br)

2Faculdade Arthur Sá Earp Neto, Rio de Janeiro, Brasil. (cleverton.mb@outlook.com)

 

Endereço para Correspondência

 

RESUMO

Além das consequências diretas para a saúde física, a obesidade também reflete as condições psicológicas e sociais dos indivíduos. A presente revisão teve como principal objetivo explorar a temática dos estereótipos e sua relação com a obesidade e sobrepeso. A pesquisa foi conduzida nas bases de dados BVS e PubMed e a estratégia de busca restringiu-se aos artigos em inglês e português, publicados entre 2005-2015. Os descritores utilizados foram “estereótipos”, “obesidade”, “sobrepeso” e seus respectivos termos em inglês. Foram excluídos os estudos em que a população não fosse adulta, revisões bibliográficas, literatura cinzenta, resumos de congresso, editoriais e livros. Ao final do processo de seleção, 27 artigos compuseram esta revisão. Embora bastante tratado em nível internacional, o assunto é pouco estudado no Brasil. Os resultados demonstram que os profissionais de saúde estão entre as fontes de preconceito e que os estereótipos influenciam de maneira negativa o tratamento da obesidade. Os estereótipos mais frequentemente atribuídos aos obesos foram “preguiçosos”, “sem força de vontade” e “pouco atraentes”. Conclui-se que há a necessidade de reduzir os estereótipos a partir de estratégias educativas que enfatizem a complexa etiologia da obesidade, integrando os currículos e os programas de treinamento clínico.

Palavras-chave: estereótipos, cognição social, obesidade, sobrepeso

 

ABSTRACT

In addition to the direct consequences for physical health, obesity also reflects the psychological and social conditions of individuals. This review aimed to explore the theme of stereotypes and their relation to obesity and overweight. The research was conducted on the BVS and PubMed databases, and the search strategy was restricted to articles in English and Portuguese, published between2005-2015. The keywords used were "stereotypes", "obesity", "overweight" and their terms in Portuguese. Studies in which the population was not adult, literature reviews, grey literature, conference abstracts, editorials and books were excluded. At the end of the selection process, 27 articles were included in this review. Although fairly treated at international level, the topic is poorly studied in Brazil. The results showed that health practitioners are among the sources of bias, and stereotypes influence negatively the treatment of obesity. The stereotypes most frequently attributed to obese were "lazy", "lack of willpower" and "unattractive". It is concluded that there is a need of reducing stereotypes starting from educational strategies that emphasize the complex etiology of obesity, integrating curricula and clinical training programs.

Keywords: stereotypes, social cognition, obesity, overweight

 

Mundialmente, as causas de mortalidade apresentaram diferentes cenários ao passar dos anos, sendo caracterizadas em certo momento por doenças infecciosas e posteriormente por doenças crônico-degenerativas. Essa mudança de foco deu origem à chamada transição epidemiológica, além de evidenciar uma queda geral na mortalidade com um aumento nos casos de morbidade (Pereira, Alves-Souza, & Vale, 2015).

A transição epidemiológica no campo da nutrição aborda modificações no perfil de morbi-mortalidade, dando origem a chamada transição nutricional. Esta foi primeiramente caracterizada pela dissipação da desnutrição intermediária, também conhecida como kwashiorkor, seguida do desaparecimento do marasmo nutricional, onde se observou também a diminuição do impacto gerado por doenças infecciosas, dando espaço para o surgimento do binômio sobrepeso/obesidade na população (Batista-Filho & Rissin, 2003).

As tendências da transição nutricional que vêm ocorrendo desde o século passado, apontam para uma dieta mais ocidentalizada, rica em gorduras (particularmente as de origem animal e trans), açúcares e alimentos refinados, e reduzida em carboidratos complexos e fibras. Este fator, incorporado ao aumento do sedentarismo, converge para a ampliação no número de casos de obesidade em todo o mundo, bem como os casos de morbidade e mortalidade associados. Dentre as morbidades associadas ao aumento da adiposidade é possível citar Diabetes Mellitus tipo II, hipertensão arterial sistêmica, doenças cardiovasculares, neoplasias, disfunções endócrinas, cálculo na vesícula biliar, artrites e câncer (Francischiet al., 2000).

A obesidade é uma síndrome de etiologia complexa que envolve múltiplos fatores, como biológicos, culturais ambientais, genéticos e psicológicos. Este último, em especial, vem sendo frequentemente explorado por estar associado com a maneira com que indivíduos acima do peso lidam com esse problema, além da sua relação com o tratamento (Raynor & Champagne, 2016).

Estereótipos tomam um importante papel na psicologia social e podem ser definidos como sistemas de crenças socialmente compartilhadas a respeito das características homogêneas de indivíduos de uma determinada categoria social, cujos fundamentos são encontrados nas teorias explicativas a respeito dos fatores que determinam os padrões de conduta. De acordo com Pereira, Modesto, e Matos (2012)

(...) eles cumprem a dupla função de organizar a realidade social e fornecer elementos de justificação e de legitimação dos arranjos sociais e passamos a considerá-los como sistemas de crenças socialmente compartilhados que se referem a padrões comuns de conduta ou a homogeneidade entre membros de um ente social e que são elaborados com base em teorias que se sustentam em arrazoados de natureza intencional ou em teorias explicativas causais.

Segundo Segal, Cardeal, e Cordás (2002), a presença de atitudes e estereótipos negativos em relação à obesidade principalmente por parte de médicos e demais profissionais de saúde já foi descrita anteriormente. Além do primeiro aspecto, de cunho moral e ético, há outros aspectos de grande importância: a percepção destas atitudes e estereótipos por parte do paciente obeso faz com que ele relute em procurar ajuda adequada à sua condição; os médicos podem estar menos interessados em tratar pacientes com excesso de peso, acreditando serem eles pessoas com pouca força de vontade e que provavelmente se beneficiarão menos de aconselhamento.

Devido à dificuldade dos profissionais de saúde, em especial do profissional nutricionista em abordar a situação de forma mais completa faz-se necessário uma ampliação dos conhecimentos psicossociais relativos à alimentação e nutrição, bem como dos fatores desencadeadores e mantenedores da obesidade. Buscando identificar quais os estereótipos da população em geral sobre os indivíduos obesos, bem como compreender os efeitos que os estereótipos da obesidade exercem no cotidiano das pessoas portadoras dessa doença, justifica-se a realização desse trabalho.

A partir deste estudo, se torna possível conhecer melhor os estereótipos da obesidade, possibilitando traçar metas e planos futuros para um tratamento mais eficaz com menos influência dos estereótipos negativos. A presente pesquisa objetivou conhecer os estereótipos relacionados à obesidade e ao sobrepeso, assim como sua influência no tratamento desses indivíduos.

 

MÉTODO

Realizou-se uma revisão bibliográfica com a finalidade de mapear e sintetizar os achados das pesquisas disponibilizadas na literatura científica. A estratégia de busca nas fontes de dados restringiu-se aos artigos em inglês e português, publicados nos últimos 10 anos (2005-2015). A revisão foi realizada durante o período de outubro a dezembro de 2015. Os descritores utilizados foram estereótipos, obesidade, excesso de peso, sobrepeso, stereotypes, obesity e overweight. Para tanto foram utilizados os operadores booleanos OR e AND combinados entre si para tornar possível o rastreamento dos artigos mais adequados ao tema. As combinações utilizadas foram ((obesidade) OR excesso de peso) OR sobrepeso) AND estereótipos e ((obesity) OR overweight) AND stereotypes), considerando todos os campos das publicações.

As bases de dados constituíram-se da Biblioteca Virtual em Saúde - BVS (a qual abrange LILACS, IBECS, MEDLINE, Biblioteca Cochrane, SciELO, entre outras) e PubMed. Esta escolha justifica-se por serem importantes bases de dados internacionais na área médica, além de fornecer livre acesso.

Foram excluídos os estudos em que a população não fosse adulta (<18 anos), revisões bibliográficas, literatura cinzenta (teses, dissertações de mestrado e monografias), resumos de congresso, editoriais e livros.

Foram analisados os seguintes dados:

Autor e Ano;

Tipos de estudo;

Amostragem;

Objetivos;

Instrumentos (Apenas os instrumentos utilizados para investigar os estereótipos);

Após a busca nas bases de dados e a leitura criteriosa dos títulos, resumos e palavras-chave de todas as publicações foi feita uma nova seleção, na qual foi verificado se os estudos objetivaram analisar os estereótipos da obesidade ou atitudes em relação aos mesmos através da leitura do texto completo, os dados extraídos foram tabulados de forma descritiva.

 

RESULTADOS

Inicialmente, esta busca nas duas bases de dados encontrou 182 artigos ao todo, após a aplicação dos filtros “data de publicação” e “idioma”, foram exibidos 114 resultados. A busca detalhada encontra-se apresentada no Quadro 1.

 

 

A partir dos resultados das pesquisas, foi realizada a 1a etapa da seleção que corresponde à leitura criteriosa dos títulos. Nesta etapa foram excluídos 67 artigos, por conterem títulos repetidos ou que fugissem completamente do tema. Após leitura criteriosa dos títulos, 47 artigos foram selecionados para a 2a etapa que, por sua vez, abrange à leitura dos resumos. Nesta etapa foram excluídos 18 artigos, os quais não atendiam integralmente aos critérios de inclusão: (1) doze por não pesquisarem os estereótipos referentes ao peso; (2) três por se tratarem de revisões sistemáticas da literatura; (3) três por serem estudos com menores de 18 anos.

Vinte e nove artigos foram mantidos para a 3a etapa, leitura do texto completo. Após a conclusão desta etapa, foram eliminados 2 artigos por não estarem de acordo com o objetivo deste trabalho. Não foram incluídos artigos após o período de buscas. O fluxograma de triagem dos artigos é apresentado na Figura 1.

 

 

Os dados extraídos dos estudos incluídos nesta revisão foram tabulados de forma descritiva e estão apresentados no Quadro 2.

 

DISCUSSÃO

Os estudos, de maneira geral, derrubam as hipóteses que a pressão social exercida pelos estereótipos negativos do peso, alimentada e difundida pela mídia, pela sociedade, e até mesmo pelos familiares, pode motivar os indivíduos a se empenharem para perder peso (Carels et al., 2011; Carels et al., 2013; Puhl, Moss-Racusin, & Schwartz, 2007; Puhl, Moss-Racusin, Schwartz, & Brownell, 2008; Russell & Carryer, 2013; Rivera & Paredez, 2014;Schwartz, Vartanian, Nosek, & Brownell, 2006). Em outras palavras, é demonstrado que as atitudes anti-obesidade servem como uma barreira para o sucesso na perda de peso.

Considerando o período dos artigos incluídos nesta revisão, o interesse científico pela temática vem crescendo desde o ano de 2005 (Puhl, Schwartz, & Brownell, 2005), com um aumento no ano de 2011 (Agerström & Rooth, 2011; Carels et al., 2011; Roberts et al., 2011; Vroman & Cote, 2011), e um grande crescimento deste interesse no ano de 2014 (Black, Sokol, & Vartanian, 2014; Harper & Carels, 2014; Kim & Jarry, 2014; Puhl, Latner, Kling, & Luedicke, 2014; Puhl, Luedick, & Grilo, 2014; Rivera & Paredez, 2014), onde houveram mais publicações relacionando o excesso de peso e os estereótipos.

Muitas pesquisas tiveram como foco estudantes e profissionais de saúde (Carels et al., 2013; Domoff et al., 2012; Harper & Carels, 2014; Poustchi, Saks, Piasecki, Hahn, & Ferrante, 2013; Puhl, Latner, Kling, & Luedicke, 2014; Puhl, Luedick, & Grilo, 2014; Puhl, Schwartz, & Brownell, 2005; Roberts et al., 2011; Vroman & Cote, 2011; Waller, Lampman, & Lupfer-Johnson, 2012) as quais evidenciaram que o preconceito em relação ao peso é comum até mesmo entre aqueles que deveriam se manter menos suscetíveis a tais julgamentos. Esse dado está de acordo com o encontrado por Phelan et al. (2015), por exemplo, relataram que muitos profissionais de saúde têm fortes atitudes negativas e estereótipos sobre as pessoas com obesidade. Há evidências consideráveis de que tais atitudes influenciam a percepção pessoal, o julgamento, o comportamento interpessoal e a tomada de decisões. Essas atitudes podem afetar os cuidados que esses profissionais prestam. Experiências ou expectativas negativas podem gerar estresse, desconfiança e baixa adesão ao tratamento pelos pacientes com obesidade. O estigma pode reduzir a qualidade dos cuidados para pacientes com obesidade, apesar das melhores intenções dos profissionais de saúde para prestar cuidados de alta qualidade, portanto, estereótipos não ajudam obesos a emagrecerem, e os profissionais de saúde devem mudar sua mentalidade, uma vez que a visão negativa pode influenciar o interesse em tratar o paciente, bem como prejudicar a procura desses pacientes aos serviços de saúde. Os autores ressaltam também a possibilidade da implementação de diversas estratégias de intervenção potenciais que podem reduzir o impacto do estigma da obesidade na qualidade do atendimento.

Para enfrentar eficazmente a epidemia de obesidade e melhorar a saúde pública, é essencial desafiar os pressupostos sociais comuns que perpetuam os estereótipos de peso, e priorizar discussões do impacto dos estereótipos no discurso nacional sobre a obesidade. Estereótipos negativos são conferidos frequentemente aos obesos (Puhl & Heuer, 2010). A partir dessa revisão, pôde-se concluir que o estereótipo mais frequentemente atribuído as pessoas com obesidade ou sobrepeso foi “preguiçoso”, seguido, em ordem decrescente, dos estereótipos “sem força de vontade”, “pouco atraentes”, “pouco inteligentes”, “compulsivos”, “desmotivados”, “gulosos”, como tendo “má higiene pessoal”, “auto-permissivos”, “descontrolados”, “inativos”, “inseguros”, “frustrados”, “estúpidos” e “indisciplinados” (Carels et al., 2013; Puhl, Latner, Kling, & Luedicke, 2014; Puhl, Luedicke, & Grilo, 2014; Puhl, Moss-Racusin, & Schwartz, 2007; Puhl, Moss-Racusin, Schwartz, & Brownell, 2008; Roberts et al., 2011; Russell & Carryer, 2013; Schwartz, Vartanian, Nosek, & Brownell, 2006). Em contrapartida, o estudo que examinou e descreveu os auto-estereótipos de pessoas obesas (Puhl, Moss-Racusin, Schwartz, & Brownell, 2008) encontrou com maior frequência os adjetivos “atraentes”, “bons”, “ativos”, “disciplinados” e como tendo uma “alimentação saudável”. Tal fato sugere que estudos que identifiquem os auto-estereótipos (estereótipos na visão dos estigmatizados e não dos estigmatizadores), devem explorar melhor esta questão.

Um estudo exploratório recente, realizado em âmbito nacional, corrobora esses achados. Seu objetivo foi identificar as atitudes de nutricionistas em relação às crenças sobre características atribuídas às pessoas obesas, fatores de desenvolvimento e a obesidade em si. Os participantes (n = 344; 97,1% mulheres) foram contatados via conselho profissional e responderam à pesquisa online. As questões do estudo foram adaptadas de trabalhos internacionais com as respostas analisadas por frequência de concordância. As respostas indicaram forte estigmatização da obesidade e preconceito contra o obeso, atribuindo características como: guloso (67,4%), não atraente (52,0%), desajeitado (55,1%), sem determinação (43,6%) e preguiçoso (42,3%). Dentre os principais fatores listados como “causas” da obesidade estavam: alterações emocionais e de humor, vício ou dependência de comida, e baixa autoestima. Os autores observam que essa temática deve ser mais pesquisada uma vez que tais atitudes estão presentes mesmo em profissionais envolvidos no tratamento de pacientes obesos; também para discussão e formação ampla sobre os significados da obesidade, e tratamento mais individualizado e humanizado para pacientes obesos (Cori, Petty, & Alvarenga, 2015).

Em outra revisão atual, cujo objetivo foi rever sistematicamente estudos nos últimos 3 anos que avaliassem o estigma no contexto da obesidade e dos distúrbios alimentares (incluindo transtorno de compulsão alimentar, bulimia nervosa e anorexia nervosa) foi ressaltado que os dados sobre o estigma de peso substanciam a influência única deste sobre desajustes psicológicos, comer patológico e estresse fisiológico. Pesquisas futuras devem examinar a associação do estereótipo relacionado com distúrbios alimentares e saúde física e emocional, bem como o seu papel em cuidados de saúde e resultados do tratamento. Estudos longitudinais suplementares relativos à avaliação como o estigma de peso influencia a saúde emocional e transtornos alimentares podem ajudar a identificar estratégias de enfrentamento adaptativas e melhorar o atendimento clínico dos indivíduos com obesidade e transtornos alimentares (Puhl & Suh, 2015).

Dentre os artigos analisados, os que discutiram sobre as possíveis causas atribuídas à obesidade (Puhl, Luedicke, & Grilo, 2014; Puhl, Schwartz, & Brownell, 2005) verificaram suposições simplistas de que a obesidade é apenas causada por comportamentos como comer em excesso ou a falta de força de vontade. Estas crenças sobre a etiologia da obesidade podem influenciar no fato dos obesos serem tradicionalmente responsabilizados por sua condição. Embora, claramente fatores comportamentais estejam envolvidos no aumento da prevalência, a interação entre diversos outros fatores, como os genéticos e ambientais, também é fundamental. Nesse sentido, Puh e Suh (2015) destacam que as atribuições de responsabilidade pessoal promovem culpa e mais estigmatização desses indivíduos.

Os instrumentos mais utilizados para acessar os estereótipos de peso foram inicialmente as escalas criadas pelos próprios autores para seus estudos (Black, Sokol, & Vartanian, 2014; Malloy, Lewis, Kinney, & Murphy, 2012; Mussweiler, 2006; Rivera & Paredez, 2014; Ruggs, Hebl, & Williams, 2015; Schwartz, Vartanian, Nosek, & Brownell, 2006; Vartanian, Thomas, & Vanman, 2013). Cada escala possuía suas particularidades, de acordo com o propósito dos autores. As mesmas foram elaboradas com base em diferentes aspectos, desde os estereótipos mais comuns em uma população alvo, até aqueles mais relatados em outros estudos.

OImplicit Association Test (IAT), foi o segundo teste mais utilizado pelos autores (Agerström & Rooth, 2011; Carels et al., 2011; Domoff et al., 2012; Hinman, Burmeister, Kiefner, Borushok, & Carels, 2015; Schwartz, Vartanian, Nosek, & Brownell, 2006; Waller et al., 2012) para investigar os estereótipos. O IAT mede a força das associações entre os conceitos, por exemplo, negros, homossexuais, obesos, e avaliações, como bom e ruim ou estereótipos tais como preguiçosos e desajeitados. A ideia principal é que os seres humanos têm mais facilidade para criar uma resposta quando os itens estreitamente relacionados compartilham a mesma chave de resposta. Em outras palavras, se um indivíduo tem uma preferência implícita por pessoas magras em relação à pessoas obesas, ele relaciona mais rapidamente palavras como "obeso" e "ruim" quando comparado com uma combinação "obeso" e "bom".Este teste também pode ser moldado de acordo com as características e o objetivo de cada estudo (Greenwald, Mcghee, & Schwartz, 1998).

O terceiro instrumento mais utilizado pelos autores (Carels et al., 2011; Domoff et al., 2012; Harper & Carels, 2014; Kim & Jarry, 2014; Puhl, Schwartz, & Brownell, 2005) foi o Obese Persons Trait Survey (OPTS). Ele foi construído e validado por Puhl, Schwartz e Brownell (2005) em seu estudo. O instrumento possui 20 estereótipos, sendo dez negativos (preguiçosos, indisciplinados, gulosos, auto-permissivos, como tendo má higiene pessoal, sem força de vontade, pouco atraentes, insalubres, inseguros e lentos) e dez positivos (honestos, generosos, sociáveis, produtivos, organizados, simpáticos, extrovertidos, inteligentes, calorosos e bem-humorados).

Mesmo que as escalas para avaliação de estereótipos contivessem traços positivos que pudessem ser atribuídos aos indivíduos estudados, os mesmos não apresentaram menção significante, afirmando desta forma que estereótipos negativos são mais comumente atribuídos a indivíduos acima do peso.

Outro fato que merece destaque é que, embora a literatura internacional esteja documentando repetidamente a prevalência e as implicações negativas dos estereótipos em relação ao peso, o assunto é pouco estudado no Brasil, visto que nenhum artigo nacional compôs a fonte documental da presente revisão.

Vinte e sete artigos compuseram esta revisão da literatura. A partir da presente revisão é possível concluir que estigmatização da obesidade é generalizada, prejudicial e ameaça valores essenciais de saúde pública. Considerando as elevadas taxas de sobrepeso e obesidade em todo o mundo, ao ignorar os estereótipos negativos ligados ao peso, a comunidade de saúde pública ignora o sofrimento substancial de muitas pessoas. Os estereótipos mais frequentemente atribuídos às pessoas com obesidade ou sobrepeso foram “preguiçosos”, “sem força de vontade”, “pouco atraentes”, “pouco inteligentes”, “compulsivos”, “desmotivados”, “gulosos”, como tendo “má higiene pessoal”, “auto-permissivos”, “descontrolados”, “inativos”, “inseguros”, “frustrados”, “estúpidos” e “indisciplinados”.

Os instrumentos mais utilizados pelos autores para acessar os estereótipos foram criados ou adaptados pelos mesmos para atender as necessidades de cada estudo, porém, o IAT e OPTS foram os instrumentos de avaliação mais comuns. A maioria destes possuía em sua estrutura estereótipos positivos e negativos.

Os estereótipos negativos, tal como o estigma e o preconceito provindos deles, influenciam de maneira negativa o tratamento de pessoas acima do peso, de modo a desmotivar estes indivíduos, resultando no reluto ao tratamento. Portanto, estratégias educativas que enfatizem a complexa etiologia da obesidade (por exemplo, os contribuintes biológicos, psicológicos, culturais e genéticos que fogem do controle pessoal) podem reduzir os estereótipos de peso entre os estudantes das áreas da saúde, devendo integrar os currículos e os programas de treinamento clínico.

Os resultados do presente estudo indicam que mais pesquisas longitudinais, com foco nos auto-estereótipos de pessoas acima do peso devem ser realizadas, pois existe uma lacuna, principalmente no que diz respeito à literatura nacional. Apesar de o estudo derrubar as teorias de que estereótipos lançados acerca destes indivíduos aumentam a motivação, muitas outras questões ainda precisam ser analisadas para que haja o entendimento de como o estigma podem influenciar no tratamento de indivíduos acima do peso. Existe também a necessidade da criação de intervenções efetivas para a redução das atitudes negativas e o preconceito provindo destes estereótipos, principalmente por parte de estudantes e profissionais das áreas da saúde e outros membros envolvidos no cuidado, ajudando dessa forma a melhorar a qualidade de vida e dos cuidados prestados aos indivíduos acima do peso.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para Correspondência

UCP – Campus Benjamin Constant (BC), 213, Centro – Petrópolis, RJ. CEP: 25.610-130. E-mail: carolina.nutricionista@live.com

 

Recebido em 26 de Dezembro de 2016

Aceite em 26 de Setembro de 2017

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