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Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.17 no.1 Lisboa abr. 2016

 

Desafios da psicologia da saúde num mundo em mudança

Número da Revista dedicado ao 11º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde

Sónia F. Bernardes1, & Maria Luísa Lima1

 

1 Departamento de Psicologia Social e das Organizações & Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-IUL), do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL)

 

O presente número temático visa apresentar e divulgar os trabalhos premiados e/ou que se destacaram pela sua qualidade na 11ª edição do Congresso Nacional de Psicologia da Saúde (CNPS), que decorreu no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) entre os dias 26 e 29 de Janeiro de 2016 (http://11cnps.iscte-iul.pt/). É, portanto, um número temático que vem no rescaldo da organização de um evento do qual muito nos orgulhamos de ter organizado.

Sendo o CNPS um evento clássico no panorama científico nacional, organizado de forma regular e sistemática nos últimos 20 anos, foi para nós uma honra e um prazer aceitar o convite da Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde (SPPS) para organizar a sua 11ª edição. Foi o apoio do ISCTE-IUL mas, sobretudo, o envolvimento de grande parte dos membros do grupo de investigação Health for All (H4A; Centro de Investigação e Intervenção Social/CIS-IUL; http://www.cis.iscte-iul.pt/Research.aspx?Lang=pt&id=18) que nos permitiu aceitar este convite com a convicção de que poderíamos organizar este evento com a qualidade merecida. O investimento estratégico da nossa universidade na área da Saúde refletiu-se nos inúmeros apoios institucionais recebidos, que passaram pela cedência dos espaços mas também pela utilização dos serviços de comunicação, imagem e organização de eventos, não esquecendo o apoio do Mestrado em Psicologia Social da Saúde. Contudo, foi a dedicação e profissionalismo com que todos os membros da Comissão Organizadora (incluindo membros da SPPS e do H4A) abraçaram este desafio que o permitiu levar a bom porto.

Foi com muita satisfação que, nesta edição do CNPS, contámos ainda com o apoio científico da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), cujo Bastonário, Prof. Doutor Telmo Batista, muito nos honrou com a sua presença na cerimónia de abertura. Salientamos ainda, que este evento, ao ter sido acreditado pela OPP contribuiu diretamente para promover o acesso do/as psicólogo/as à especialidade de Psicologia da Clínica e da Saúde, o que muito nos apraz.

”Desafios da Psicologia da Saúde num Mundo em Mudança" foi o tema deste congresso. Vivemos atualmente numa sociedade que enfrenta grandes desafios, tais como, o rápido envelhecimento populacional, o aumento da prevalência de doenças crónicas decorrentes de estilos de vida não saudáveis, a exacerbação dos fluxos migratórios, a deterioração da empregabilidade e condições de trabalho, a crescente dificuldade dos serviços de saúde em darem resposta às necessidades. Perante estes desafios, que têm o potencial de afetar muito negativamente a saúde das populações, qual o papel do/as Psicólogo/as da Saúde? Como podemos nós, Psicólogo/as da Saúde, ajudar a construir uma sociedade mais saudável e resiliente à mudança? Como podemos ajudar as pessoas a envelhecer melhor, a terem estilos de vida mais saudáveis, a gerir mais autonomamente as suas doenças? Como podemos ajudar a construir locais de trabalho mais saudáveis ou serviços de saúde mais inclusivos, sensíveis à diversidade cultural ou centrados no paciente? As linhas temáticas do 11º CNPS ao refletirem estes desafios que enfrentamos, pretenderam organizar a apresentação e discussão dos trabalhos em torno destas e de muitas outras questões.

O 11º CNPS contou com a presença de mais de 400 participantes, sendo um terço destes provenientes do Brasil, Espanha, Angola ou Chile. Entre os portugueses, destaca-se a presença de participantes provenientes de todos os distritos nacionais e/ou afiliados nas mais diversas instituições de ensino superior responsáveis pela formação de Psicólogo/as (da Saúde) em Portugal.

O programa científico caracterizou-se não só pela quantidade de trabalhos apresentados, mas também pela sua diversidade temática; incluiu 479 trabalhos, dos quais 36% organizados em Sessões Temáticas Orais, 34% em Simpósios Orais, 23% em Sessões Temáticas Escritas e 7% em Simpósios Escritos. Para assegurar a qualidade e diversidade dos trabalhos apresentados pudemos contar com o apoio e divulgação da Comissão Científica do Congresso que integrava 86 Psicólogo/as da Saúde, portuguese/as e brasileiro/as, provenientes de 32 instituições diferentes. A Comissão Científica incluía ainda um grupo mais restrito de 21 membros, que coordenaram as áreas temáticas do congresso, e que foram responsáveis pela seleção dos resumos. Para além dos inúmeros trabalhos apresentados, não podemos deixar de salientar o/as nosso/as conferencistas convidado/as, de elevado mérito e reconhecimento nacional e internacional. As suas intervenções salientaram a diversidade das áreas temáticas e níveis de análise na Psicologia da Saúde contemporânea: (1) no âmbito das abordagens mais clássicas, Hein De Vries (Universidade de Maastricht) e Pedro Teixeira (Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa) salientaram o papel de fatores individuais e sociocognitivos na mudança de comportamentos de saúde; (2) salientado a importância dos contextos interpessoais, Luísa Barros (Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa) abordou a temática da parentalidade e sua relação com a saúde infantil; (3) Maria Palacin Lois (Universidade de Barcelona) e Julie Barnett (Universidade de Bath) chamaram a atenção para os fenómenos de pertença grupal e das identidades sociais na gestão de doenças crónicas e, finalmente (4) Sílvia Silva (ISCTE-IUL) apresentou uma reflexão sobre as necessidades, tendências e desafios da Psicologia Ocupacional da Saúde. Para além das suas conferências, todos o/as nosso/as convidados aceitaram participar numa atividade inovadora no nosso congresso - o café com conferencista - que proporcionou a alguns estudantes de doutoramento uma oportunidade para discutir os seus trabalhos com o/as especialistas convidados/as num ambiente informal e acolhedor.

O congresso estava organizado em 11 áreas temáticas, incluindo domínios mais tradicionais da Psicologia da Saúde (como Promoção de estilos de vida saudáveis, Dor e doenças crónicas, Stress, coping e auto-regulação, Prestação de cuidados e serviços de saúde, Relações sociais e saúde, Processos positivos e resiliência, Métodos e técnicas de avaliação em saúde) ou focados em grupos específicos (Saúde em crianças e adolescentes, Envelhecimento e saúde, Saúde, cultura e minorias). Mas o programa científico procurou também apostar na inovação abrindo áreas temáticas dedicadas a problemas emergentes, como Ambientes saudáveis e sustentáveis, Inovação em saúde: e-health e m-health, Perceção e comunicação de riscos em saúde e Saúde ocupacional e riscos psicossociais. Para caraterizar os temas mais presentes no programa deste congresso, fizemos uma análise às palavras incluídas nos títulos das comunicações livres e dos simpósios que constam do programa.

O Quadro 1 mostra os substantivos mais frequentes e a Figura 1 a sua representação enquanto nuvem de palavras.

 

 

 

 

Gostaríamos de salientar o enfoque positivo das temáticas abordadas, que é tradicional em Psicologia da Saúde. Como se pode ver na Quadro 1, palavras como saúde, vida, qualidade, bem-estar e promoção são bem mais frequentes do que doentes, pacientes, risco, dor ou cancro. Também é de notar uma grande importância dada quer à investigação (com palavras como estudo, avaliação) mas também à intervenção (com palavras como programa, intervenção) – o que torna este congresso um espaço de diálogo entre a academia e a prática. Apraz-nos também a saliência da palavra Brasil (N=14), que corresponde à importância que tem a participação neste Congresso dos nossos colegas do País-Irmão. E finalmente, gostaria de notar que a palavra social se encontra entre as 15 mais referidas. Este facto não é certamente alheio à organização deste congresso pelo H4A do CIS-IUL, ligado a uma das instituições mais conhecida de formação em Psicologia Social em Portugal - o Departamento de Psicologia Social e das Organizações do ISCTE-IUL (Lima, Castro, & Garrido, 2003). A Psicologia da Saúde neste Departamento tem uma existência muito ativa e consistente, mas relativamente recente. A perspetiva que adotamos da Psicologia da Saúde tem privilegiado sempre uma dimensão social, o que se refletiu nas comunicações propostas a este congresso, tornando-o mais diverso e aberto às questões sociais na saúde.

Neste evento continuámos uma importante tradição dos Congressos Nacionais de Psicologia da Saúde: os prémios científicos a trabalhos apresentados. O Professor José Luís Pais Ribeiro, coordenou a Comissão de Prémios, que teve a difícil tarefa de selecionar os trabalhos que mais se salientaram no Congresso e que constituem o Prémio Investigador de Mérito (destinado a galardoar investigadores em geral) e o Prémio Jovem Investigador de Mérito (destinado a galardoar investigadores que tenham obtido o grau de mestre há menos de dois anos). Para além do valor simbólico deste prémio, que corresponde ao reconhecimento da comunidade científica da qualidade da pesquisa realizada, os trabalhos premiados são publicados neste número e deste modo divulgados a um público mais vasto, após o processo de revisão por pares. Os treze trabalhos agora divulgados incluem pesquisas sobre temas associados à adaptação à doença e à qualidade de vida (na diabetes, HIV, obesidade infantil e hidrocefalia), à saúde mental de populações específicas (profissionais de saúde, estudantes universitários, jovens vitimizados, jovens mães) mas também perspetivas inovadoras na avaliação em saúde (como o uso de realidade virtual ou de medidas personalizadas de avaliação). É um conjunto de pesquisas que marcará certamente de forma muito positiva a nossa comunidade científica.

Gostaríamos de lembrar duas outras iniciativas inovadoras deste congresso: os workshops pré-congresso e a inclusão no programa do lançamento de livros recentes de congressistas. Os workshops pré-congresso que disponibilizámos proporcionaram aos participantes a oportunidade de desenvolverem competências associadas à investigação (como o de Revisão sistemática de literatura e a meta-análise; Preparação de propostas para financiamento europeu e a Gestão de uma carreira em investigação) e à intervenção em Saúde (Mindfulness; Desenvolvimento e avaliação de intervenções em saúde), sob orientação de especialistas nestas temáticas. No final da sessão de abertura do congresso foi possível dialogar com as autoras dos cinco livros lançados no congresso: Ciclo de vida da mulher (Rudnicki, Ramos, Patrão, & Pimenta, 2015), Promoção da parentalidade positiva (Pereira, Goes & Barros, 2015), Psicologia Social da Saúde (Lima, Marques, Bernardes, & Pereira, 2016), InMAMAgroup (Torres, Araújo, Pereira, & Monteiro, 2015) e Terapia breve de apoio e expressividade emocional para mulheres com cancro da mama (Brandão & Matos, 2015). Esta iniciativa mostrou que a comunidade de psicologia da saúde é muito dinâmica, e que trabalha afincadamente para divulgar em Portugal a pesquisa e a intervenção que produz.

Em suma, a 11a Edição do CNPS parece-nos ter constituído um espaço promotor da partilha ativa de conhecimento científico, facilitador do processo de transferência de conhecimento para a prática do/as profissionais de saúde e de uma construção coletiva de soluções inovadoras e criativas para os desafios atuais que se colocam aos Psicólogo/as da Saúde, mas também à sociedade em geral. O elevado grau de satisfação reportado pelos 120 participantes que responderam ao nosso questionário de avaliação do evento (M=8,14/10; DP=1,28), mostra que a participação neste evento foi uma experiência muito positiva e vivida como uma mais-valia por muitos dos seus participantes.

A Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde tem conseguido, ao longo de mais de 20 anos, manter este espaço de diálogo e de partilha que junta profissionais, académico/as e estudantes no domínio da Psicologia da Saúde. Este congresso foi mais uma demonstração da vitalidade desta área em Portugal, ao qual temos o maior orgulho de estar ligadas, uma vez que pensamos que contribuiu não só para a formação dos futuros profissionais neste domínio, mas também para a divulgação da investigação que se realiza em português sobre os processos psicológicos e comportamentais associados à saúde, à doença e à prestação de cuidados de saúde.

 

REFERÊNCIAS

Brandão, T., & Matos, P.M. (2015). Terapia breve de apoio e expressividade emocional para mulheres com cancro da mama: Manual de intervenção em grupo. Porto: FPCEUP. [Tradução da obra original].         [ Links ]

Lima, M.L., Castro, P., & Garrido, M. (2003). Identidade e diversidade na Psicologia Social – para a história da disciplina em Portugal. In M.L. Lima, P.Castro, & M. Garrido (Orgs.) Temas e Debates em Psicologia Social (pp. 11-36). Lisboa: Livros Horizonte.         [ Links ]

Lima, M.L., Marques, S., Bernardes, S.F., & Pereira, S. (2016). Psicologia Social da Saúde: Invstigação e Intervenção em Portugal (Vol. 2) . Lisboa: Sílabo.         [ Links ]

Pereira, A.I., Goes, A.R., & Barros, L. (2015). Promoção da parentalidade positiva: Intervenções psicológicas com pais de crianças e adolescentes. Vialonga: Coisas de Ler.         [ Links ]

Rudnicki, T., Ramos, C., Patrão, I., & Pimenta, F. (2015). Ciclo de vida da mulher: intervencão cognitivo-comportamental na saúde e na doenca. Novo Hamburgo: Sinopsys.         [ Links ]

Torres, A., Araújo, F., Pereira, A., & Monteiro, S. (2015). InMAMAgroup: Programa de intervenção de grupo para mulheres com cancro da mama – Manual técnico e prático. Lisboa: CEGOC.         [ Links ]

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