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Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.13 no.1 Lisboa  2012

 

Adaptação portuguesa da escala de medida de manifestação de bem-estar psicológico com estudantes universitários– EMMBEP

Portuguese adaptation of the psychological well-being manifestation measure scale with a sample of college students – EMMBEP

 

Sara Monteiro, José Tavares, Anabela Pereira

Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal

Contato:smonteiro@ua.pt

 

RESUMO

O objectivo do presente estudo foi a tradução, adaptação transcultural e estudo psicométrico da “Échelle de Mesure des Manifestations du Bien-Être Psychologique (ÉMMBEP)” para o contexto Português. O processo de adaptação transcultural do instrumento utilizou o método de tradução-retrotradução, seguido de um estudo piloto (n = 16), em que se avaliaram aspectos como compreensão e pertinência das questões, facilidade e tempo de preenchimento. Posteriormente, realizou-se o estudo psicométrico (n = 487) em instituições de ensino superior portuguesas. A escala inclui 25 itens distribuídos por cinco sub-escalas: felicidade, sociabilidade, controlo de si e dos acontecimentos, envolvimento social, auto-estima e equilíbrio, para além de um resultado global ou bem-estar total. Os resultados do presente estudo demonstram boas propriedades psicométricas e uma estrutura e propriedades idênticas às da versão original.

Palavras-chave Bem-estar, Estudantes universitários, Estudo de adaptação

 

ABSTRACT

This study aimed the translation, cross-cultural adaptation and psychometric study of the psychological well-being manifestation measure scale for the Portuguese context. The cross-cultural adaptation process included the forward-backward translation method, followed by a pilot test (n = 16), through which aspects as pertinence and comprehension of the items, facility and time of fulfillment were evaluated. This step was followed by the psychometric study of the scale (n = 487) at Portuguese higher education institutions. The scale contains 25 items measuring five sub scales: happiness, sociability, control of self and events, social involvement, self-esteem and balance, more a total score. Results of the present study exhibit metric properties similar to the original version.

Keywords- Well-being, College students, Adaptation study

 

Após a II Guerra Mundial, a psicologia focou grande parte da sua atenção na patologia, com base num modelo de doença para a compreensão do comportamento humano, o que conduziu a uma negligência de conceitos positivos, de que são exemplo o optimismo, a esperança, a felicidade e o bem-estar (Seligman, 2002; Seligman & Csiksentmihalyi, 2000). Estes anos de existência de uma psicologia dedicada fundamentalmente à perturbação psicológica mostraram claramente a possibilidade de se intervir de forma a melhorar as vidas de indivíduos com perturbação, com intervenções remediativas, individuais e colectivas, eficazes e cientificamente validadas (Seligman, Steen, Park, & Peterson, 2005). No entanto e sabendo que a ausência de doença não constitui, por si só, felicidade ou bem-estar (Diener & Lucas, 2000), o foco na doença e na patologia esquece o estudo e avaliação de um número importante de indivíduos.

Assim, com base nos trabalhos pioneiros de Rogers (1951), Maslow (1954, 1962), Jahoda (1958), Erikson (1963, 1982), Vaillant (1977), Deci e Ryan (1985) e Ryff e Singer (1996), entre muitos outros, os psicólogos dedicados ao estudo da psicologia positiva têm reunido esforços para aumentar o conhecimento acerca de como, porquê e em que condições as experiências positivas (como emoções positivas, bem-estar, felicidade, esperança, alegria), as características positivas individuais (como carácter, forças e virtudes) e as instituições positivas (como organizações baseadas no sucesso e potencial humano) florescem (Seligman et al., 2005).

Neste contexto, reconhece-se que a saúde mental não deve ser unicamente avaliada a partir de reacções negativas como a depressão ou ansiedade. É consensual que a integração de medidas de emoções positivas e de satisfação com a vida e consigo mesmo é essencial no sentido de captar um retrato mais completo da saúde mental de determinado indivíduo (Diener, 1994).

O bem-estar é uma área de estudo extremamente ampla, cuja investigação realizada reflecte diferentes conceptualizações teóricas e operacionalizações do conceito (Novo, 2003). Apesar destas diferenças, é consensual que a origem do conceito reside na discussão filosófica e científica entre o hedonismo e a eudaimonia como objectivos de vida, discussão esta que conduziu respectivamente a duas correntes de pensamento que orientam os modelos actuais de bem-estar (Keyes, Shmotkin, & Ryff, 2002; Lent, 2004; Ryan & Deci, 2001; Ryff & Keyes, 1995; Waterman, 1993) – o bem-estar subjectivo (BES) (subjective well being) e o bem-estar psicológico (BEP) (psychological well being).

A perspectiva hedónica reside fundamentalmente no princípio da acumulação do prazer e evitamento da dor, pelo que a visão predominante é a de que o bem-estar consiste na avaliação subjectiva da felicidade e diz respeito às experiências de prazer e sofrimento (Kahneman, Diener, & Schwarz, 1999). O modelo actual de bem-estar que sustenta tais orientações teórico-empíricas denomina-se de BES. Apesar da multiplicidade de estudos realizados no âmbito desta perspectiva, esta tem sido alvo de várias criticas, essencialmente no que respeita ao seu carácter teórico-conceptual e empírico restrito (Compton, 2011; Ryff & Keyes, 1995; Waterman, 1993).

É neste contexto que a perspectiva eudaimónica surge como uma perspectiva mais abrangente, na medida em que se centra no funcionamento psicológico positivo e no desenvolvimento de valores como a auto-realização, o crescimento pessoal e o florescimento humano (Keyes, 2002, 2003, 2004, 2005; Ryan & Deci, 2001; Ryff, 1989a, 1989b, 1989c, 1995; Ryff & Keyes, 1995; Ryff & Singer, 1998a, 1998b; Waterman, 1993). O modelo actual de bem-estar que suporta as orientações teóricas decorrentes da perspectiva referida denomina-se de BEP e foi proposto por Carol Ryff (Ryff, 1989a, 1989b, 1989c, 1995). De acordo com a autora, o bem-estar pode ser identificado a partir dos recursos psicológicos que o indivíduo dispõe (processos cognitivos, afectivos e emocionais) que são globalmente descritos a partir de seis dimensões centrais ao funcionamento psicológico positivo: aceitação de si, relações positivas com os outros, domínio do meio, crescimento pessoal, objectivos de vida e autonomia. As seis dimensões deverão ser encaradas como componentes do próprio bem-estar e não como contribuindo para o bem-estar.

Ambas as tradições consideram valores humanistas que elevam a capacidade do indivíduo para avaliar o que lhe proporciona bem-estar na vida (Keys et al., 2002). Não obstante, no contexto de avaliação, o BES possibilita identificar o quão satisfeita ou feliz está a pessoa e em que áreas da sua vida tal se verifica, enquanto o BEP salienta o quão satisfeita e feliz a pessoa se sente em determinados domínios psicológicos e também os recursos psicológicos de que esta dispõe (Ryff, 1989b).

No que se refere à existência de instrumentos de avaliação do bem-estar psicológico em contexto nacional e que seja do nosso conhecimento, existem dois trabalhos de tradução e adaptação independentes (Ferreira & Simões, 1999; Novo, Duarte-Silva, & Peralta, 1997) da versão de 84 itens das Psychological Well-being Scales (PWBS; Ryff, 1989b; Ryff, 1995) e, mais recentemente, um trabalho de adaptação da versão de 18 itens das PWBS, realizado por Fernandes, Vasconcelos-Raposo e Teixeira (2010), sendo que nenhum destes trabalhos foi conduzido especificamente com estudantes universitários.

Sabe-se que os estudantes universitários são vulneráveis a um leque alargado de ameaças ao seu bem-estar. Por exemplo, problemas de saúde física decorrentes do consumo de álcool (Clements, 1999; Roche & Watt, 1999), tabaco e drogas ilícitas (Webb, Ashton, Kelly, & Kamali, 1996), assim como o envolvimento em comportamentos sexuais de risco (Brown & Vanable, 2005). Questões psicológicas como o stress e problemas de ansiedade (Eisenberg, Gollust, Golberstein, & Hefner, 2007; Pereira, 1997; Pereira & Williams, 2001), baixa auto-estima (Robins, Trzesniewski, Tracy, Gosling, & Potter, 2002), insatisfação corporal e perturbações de comportamento alimentar (Drewnowski, Yee, Kurter, & Krahn, 1994, Kurth, Krahn, Nairn, & Drewnowski, 1995, Mintz & Betz, 1988, Yager & O'Dea, 2008), são também comuns neste grupo.

Neste contexto, a adaptação de um instrumento de avaliação do bem-estar psicológico em estudantes universitários assume pertinência. Assim, o presente trabalho pretende dar a conhecer o trabalho de adaptação de um instrumento de avaliação do bem-estar psicológico, a Échelle de Mesure de Manifestations du Bien-Être Psychologique (EMMBEP; Massé et al., 1998), numa amostra de estudantes universitários, para contexto nacional.

 

MÉTODO

Participantes

Participaram 487 estudantes universitários, 96 do género masculino (19.71%) e 391 do sexo feminino (80.29%), com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos (M = 22.15; DP = 3.04), provenientes de diversas instituições de ensino superior: Universidade de Aveiro (31.30%), Universidade de Coimbra (23.30%), Universidade Lusíada do Porto (20.80%), Instituto Politécnico da Guarda (7.40%) e Instituto Politécnico de Castelo Branco (17.10%) e de diversos cursos.

Material

A Échelle de Mesure des Manifestations du Bien-Être Psychologique (ÉMMBEP; Massé et al., 1998) que, na versão portuguesa, denominaremos de Escala de Medida de Manifestação de Bem-Estar Psicológico (EMMBEP) (Anexo 1) é uma escala de resposta tipo likert de 5 pontos, que vai desde 1 (Nunca) a 5 (Quase sempre), constituída por um total de 25 itens, dividida em seis sub-escalas: auto-estima (4 itens), equilíbrio (4 itens), envolvimento social (4 itens), sociabilidade (4 itens), controlo de si e dos acontecimentos (4 itens) e felicidade (5 itens).

Quanto mais elevado for o total obtido – dado pela soma das pontuações de todos os itens – maior será o bem-estar psicológico percebido.

Os estudos psicométricos efectuados na versão original (Massé et al., 1998) revelaram níveis adequados de consistência interna para a nota global (a = .93), e para as seis sub-escalas consideradas, com valores de alpha de Cronbach entre .71 (envolvimento social) e .85 (felicidade).

Procedimento

Depois de concedida autorização pelos autores do questionário, procedemos à sua tradução e adaptação, de acordo com a metodologia que se descreve de seguida: a) tradução do questionário para o idioma Português; b) retroversão para a língua Inglesa por um tradutor independente; c) comparação das duas versões do questionário, discussão e correcção das eventuais diferenças existentes entre elas; e d) aplicação da versão final de consenso à população alvo - estudo piloto (n = 16). Após o preenchimento da escala, os indivíduos foram questionados sobre: compreensão e pertinência das questões, facilidade e tempo de preenchimento. Todos os respondentes referiram boa compreensão e aceitação das questões apresentadas. O tempo médio de realização foi de 5 minutos.

A EMMBEP foi posteriormente submetida a uma aplicação mais alargada, com vista à análise da sua aplicabilidade à população Portuguesa, cujos resultados servem de objecto de estudo do presente trabalho.

Para recolha da amostra, foi utilizado um método de amostragem por conveniência. A escala foi administrada em contexto de sala de aula, depois de fornecidas as instruções de preenchimento e obtenção do consentimento informado.

 

RESULTADOS

No que diz respeito aos resultados, referimo-nos primeiramente à análise da distribuição dos itens da escala. Em seguida, apresentamos os resultados referentes à dimensionalidade e consistência interna e concluímos com alguns contributos da análise factorial confirmatória.

Análise da distribuição dos itens

Os resultados da análise de distribuição das respostas aos 25 itens que integram a EMMBEP apresentam-se no Quadro 1. Os resultados da análise descritiva reportam-se à variabilidade e às medidas de tendência central dos itens (valores mínimos e máximos, 1.º e 3.º quartis, valores de moda e mediana).

 

Quadro 1 - Análise da distribuição das respostas aos itens da EMMBEP

 

Os resultados da análise descritiva evidenciam uma distribuição bastante adequada dos itens em estudo, com os valores mínimos e máximos a oscilarem entre 1 e 5 (os valores extremados da distribuição) em todos os itens (excepto no item 6). Os valores da moda e da mediana oscilaram entre 3 e 4 na quase totalidade dos itens. Apenas 3 dos 23 itens apresentaram valores máximos extremos (itens 6, 12 e 13). Os valores para o 1.º quartil oscilaram entre 3 e 4 e os valores para o 3.º quartil oscilaram entre 4 e 5 (os itens 6, 9, 12, 13, 14, 15 e 16 apresentam o valor máximo). Os resultados sugerem assim uma maior concentração das respostas dos sujeitos da amostra junto dos valores mais elevados da distribuição.

Dimensionalidade e consistência interna

Para o estudo da validade interna recorremos ao modelo da análise factorial exploratória (método de Análise em Componentes Principais – ACP), com rotação oblíqua e especificação de factores (cf. Quadro 2).

 

Quadro 2 - Resultado da análise factorial da EMMBEP

 

Com base nos critérios contemplados na apreciação das soluções factoriais, a solução seleccionada corresponde a uma estrutura de seis factores distintos, responsáveis por 65.62% da variância total. A estrutura final define-se por seis factores que traduzem: felicidade (Factor I), sociabilidade (Factor II), controlo de si e dos acontecimentos (Factor III), envolvimento social (Factor IV), auto-estima (Factor V) e equilíbrio (Factor VI).

O Factor I (felicidade), responsável por 17.03% da variância total, é constituído por 8 itens, que se relacionam com o sentimento de felicidade (exemplo de item: “Senti-me bem, em paz comigo próprio”).

O Factor II (sociabilidade), responsável por 11.60% da variância total, é constituído por 4 itens, que dizem respeito a aspectos de sociabilidade (exemplo de item: “Relacionei-me facilmente com as pessoas à minha volta”).

O Factor III (controlo de si e dos acontecimentos), responsável por 11.28% da variância total, é constituído por 3 itens, que se relacionam com sensação de controlo de si e dos acontecimentos (exemplo de item: “Fui capaz de enfrentar situações difíceis de uma forma positiva.”).

O Factor IV (envolvimento social), responsável por 8.83% da variância total, é constituído por 3 itens e diz respeito a aspectos de envolvimento e motivação (exemplo de item: ”Tive objectivos e ambições”).

O Factor V (auto-estima), responsável por 8.52% da variância total, é constituído por 4 itens e está relacionado com a auto-estima (exemplo de item: “Senti que os outros gostavam de mim e me apreciavam”).

O Factor VI (equilíbrio), responsável por 8.362% da variância total, é constituído por 3 itens e relaciona-se com a sensação de equilíbrio (exemplo de item:”A minha vida foi bem equilibrada, entre as minhas actividades familiares, pessoais e académicas”).

Em seguida, procedemos à comparação dos itens das soluções factoriais de Massé et al. (1998) e por nós encontrada. Embora a estrutura factorial obtida na versão portuguesa não tenha replicado, na totalidade, a estrutura factorial original, é de salientar a elevada concordância e similaridade verificada, quer relativamente à estrutura subjacente do instrumento, quer quanto à inclusão da maioria dos itens nos factores obtidos. Efectivamente, as diferenças existentes resumem-se ao facto de os itens 5, 12 e 20 se incluírem, no nosso estudo, no factor felicidade, enquanto no estudo original se distribuíam pelos factores equilíbrio, envolvimento social e controlo de si e dos acontecimentos, respectivamente. De qualquer forma e dada a descrição dos itens (item 5: “Senti-me emocionalmente equilibrado”, item 12: “Senti-me bem a divertir-me, a fazer desporto e a participar em todas as minhas actividades e passatempos preferidos” e item 20: “Estive bastante calmo”), a sua inclusão no factor felicidade pareceu-nos apropriada.

Definidos os factores e os itens que os integram, apresentamos, de seguida, os resultados da análise de consistência interna (correlações item-total corrigido, alpha de Cronbach e validade convergente - discriminante do item). No Quadro 3 apresentamos os resultados item a item em termos de coeficiente de correlação do item com o total da subescala (coeficiente corrigido) e o contributo do item para o alpha da sub-escala.

 

Quadro 3 - Análise da consistência dos itens da EMMBEP

 

Através da análise do Quadro 3, podemos constatar que as correlações item-total corrigido variaram entre .36 (item 6) e .78 (item 22), havendo portanto homogeneidade dos itens constituintes da escala. Relativamente à contribuição de cada item para o valor de alpha de Cronbach, é possível referir que, em relação aos factores felicidade, sociabilidade, controlo de si e dos acontecimentos e auto-estima, os itens contribuíram de forma mais ou menos igual para o valor de alpha de Cronbach, já que as diminuições dos valores foram relativamente comparáveis à medida que os itens foram individualmente removidos da escala. No que diz respeito aos factores envolvimento social e equilíbrio, há que salientar que a remoção dos itens 11 e 6 implica um aumento significativo no valor de alpha de Cronbach. Apesar disso, optou-se por manter os itens na escala, por serem relevantes do ponto de vista teórico e dado o número reduzido de itens constituintes das subescalas a que pertencem.

Os valores de alpha de Cronbach encontrados para os factores e para a nota global da escala são na sua maioria muito adequados, uma vez que variam entre .67 (envolvimento social) e .89 (felicidade).

Apresentamos em seguida os dados relativos à validade convergente - discriminante dos itens da EMMBEP. Os resultados são apresentados no Quadro 4.

 

Quadro 4 - Validade convergente-discriminante dos itens da EMMBEP

 

A observação do Quadro 4 mostra que, na maioria dos itens, o índice de discriminação é superior a 20 pontos entre a magnitude da correlação com a escala a que pertence e a magnitude do valor da correlação com as outras escalas. De salientar que, no caso dos itens 1, 2, 3 e 4, com especial ênfase para o item 1 (“Senti-me confiante”), o poder discriminativo deste em relação à escala a que pertence – auto-estima – e à felicidade é muito baixo.

No que se refere às correlações entre a nota da escala total e as notas das sub-escalas que compõem a EMMBEP, verifica-se que, de entre todas as sub-escalas, é a felicidade que se destaca como sendo aquela que melhor explica o bem-estar psicológico (r2 = .85), sendo seguida pela sociabilidade (r2 = .61), controlo (r2 = .59) e auto-estima (r2 = .58). Com menor poder explicativo, encontramos o envolvimento (r2 = .42) e o equilíbrio (r2 = .40).

Contributos da análise factorial confirmatória

De acordo com Massé et al. (1998), a EMMBEP foi construída como uma escala de seis factores, pelo que utilizámos a metodologia de equações estruturais num modelo confirmatório de ordem 1 com 25 variáveis observadas e 6 variáveis latentes ou factores (felicidade, sociabilidade, controlo de si e dos acontecimentos, envolvimento social, auto-estima e equilíbrio).

Foram calculados os coeficientes estandardizados dos itens referentes aos vários factores verificando-se que todos eles são significativos (p < .001), evidenciando-se a estrutura de seis factores. Apenas um item (item 6) apresenta valor inferior a .50 (cf. Quadro 5).

 

Quadro 5 - Coeficientes de regressão e % da variabilidade explicada dos itens da EMMBEP

 

No que diz respeito à felicidade, todos os itens são indicadores fortes deste factor. O item 12 é o que apresenta o valor mais baixo (26.52%) e o item 22 é o que apresenta o valor mais elevado (68.56%) de variabilidade explicada. Relativamente à sociabilidade, este factor reflecte-se em todos os itens de forma evidente, explicando desde 43.03% do item 15 a 66.59% do item 13. O mesmo se verifica com o controlo de si e dos acontecimentos, que explica desde 60.68% do item 19 a 72.93% do item 17. Em relação ao envolvimento social, verificamos que este também se reflecte em todos os itens. O item 11 é que apresenta o valor mais baixo (27.88%) e o item 10 é o que apresenta o valor mais elevado (51.55%). Relativamente à auto-estima, verificamos também que todos os itens são indicadores fortes deste factor, sendo que o item 2 apresenta o valor mais baixo (43.82%) e o item 1 apresenta o valor mais elevado (68.72%) de variabilidade explicada. Finalmente, em relação ao equilíbrio, constatamos que o item 6 não é um indicador forte do factor, apresentando um coeficiente de regressão de .49. O factor reflecte-se, no entanto, de forma evidente nos itens 7 e 8, que apresentam 47.47% e 73.27% de variabilidade explicada, respectivamente.

Utilizámos como indicadores de consistência interna (com base na metodologia das equações estruturais) o alpha de Cronbach, a fiabilidade composta (F.C.) e a variância extraída (V.Ext) (cf. Quadro 6). Todos os valores estão próximos ou acima dos desejáveis (α  > . 60, F.C. > . 70 e V.Ext. > . 50). Os valores mais baixos verificam-se ao nível da variância extraída dos factores envolvimento social e equilíbrio.

 

Quadro 6 - Indicadores de consistência interna (com base na metodologia das equações estruturais) da EMMBEP

 

No sentido de aumentar a compreensibilidade acerca da validade discriminante dos factores (Fornell & Larcker, 1981), procedemos à comparação das variâncias extraídas de cada factor com o quadrado do correspondente coeficiente de correlação (r2) entre os factores (cf. Quadro 7). Verificámos que as variâncias extraídas superam o valor de r2 no que diz respeito à sociabilidade, ao controlo de si e dos acontecimentos, ao envolvimento social, à auto-estima e ao equilíbrio. Desta forma, podemos afirmar que existe validade discriminante, isto é, cada um destes constructos está a avaliar conceitos distintos. Em relação à felicidade essa distinção não é tão evidente, especialmente, com os factores controlo de si e dos acontecimentos e auto-estima.

 

Quadro 7 - Correlações quadráticas entre os factores da EMMBEP

 

Os índices de ajustamento do modelo de 6 factores indicam globalmente um ajustamento aceitável do modelo (Chi-square = 810.57; RMSEA = .07, CFI = .91, GFI = .87, NFI =.87).

 

DISCUSSÃO

 

Com a análise da distribuição dos itens, o estudo da dimensionalidade e consistência interna e os contributos da análise factorial confirmatória, tivemos como objectivo analisar as características psicométricas da EMMBEP, instrumento desenvolvido com a finalidade da operacionalização do constructo de bem-estar psicológico.

 A este propósito, salientamos que o instrumento analisado possui características psicométricas adequadas em termos de validade e fidelidade. De forma concordante com a versão original, obtivemos uma estrutura de seis factores: felicidade, sociabilidade, controlo de si e dos acontecimentos, envolvimento social, auto-estima e equilíbrio, responsáveis por 65.62% da variância total. A análise factorial confirmatória efectuada confere apoio a esta estrutura de seis factores do instrumento, sendo que este modelo demonstra um ajustamento aceitável aos dados. No que se refere à consistência interna, verificámos que os valores encontrados para os diversos indicadores analisados (alpha de Cronbach, fiabilidade composta e variância extraída) estão próximos ou acima dos desejáveis. Os factores envolvimento social e equilíbrio são os que exibem os valores de consistência interna mais reduzidos, ainda que aceitáveis.

A EMMBEP apresenta-se assim como um instrumento adequado para avaliar o bem-estar psicológico em estudantes universitários. Todavia, é de referir que os estudos psicométricos apresentados foram realizados junto de apenas uma amostra, impondo-se nova aplicação junto de outra amostra, de acordo com as recomendações de Almeida e Freire (2007). Adicionalmente, recomenda-se a realização de estudos futuros em que se avalie a fidelidade teste-reteste da EMMBEP, bem como a validade convergente com outras medidas.

 

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Recebido em 5 de Abril de 2010/ Aceite em 12 de Fevereiro de 2011

 

Anexo 1