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Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças v.10 n.2 Lisboa  2009

 

Estudo da escala de depressão, ansiedade e stresse para crianças (EADS-C)

Isabel P. Leal1, Rita Antunes1, Telma Passos1, J. Pais-Ribeiro2, & João Maroco1

1Instituto Superior de Psicologia Aplicada

2Universidade do Porto

 

RESUMO: A escala de ansiedade, depressão e stresse foi desenvolvida no contexto do modelo tripartido com vista a melhorar a discriminação entre depressão e ansiedade. Ela foi desenvolvida para indivíduos adultos, partindo de conceitos teóricos associados à composição de cada uma das dimensões.

Numa tentativa de verificar o seu comportamento numa população adolescente, ela foi preenchida por 361 indivíduos pré-adolescentes e adolescentes, estudantes do Ensino Básico, com idades compreendidas entre os 8 e os 15 anos, dos quais 208 eram raparigas e 153 rapazes, que constituíram uma amostra de conveniência.

Os resultados obtidos, se sugerem que pode ser interessante nesta população, carecem entretanto de mais estudos da sensibilidade da escala.

Palavras-chave: Depressão, Ansiedade, Stresse, Crianças.

 

A study of depression, anxiety and stress scale - children (EADS-C)

ABSTRACT: The anxiety, stress and depression scale was developed in a context of a tripartite model and its objective was to improve the differentiation between depression and anxiety. It was developed for adults and based on theoretical concepts associated with each of the three dimension's characteristics.

In an attempt to verify its performance involving an adolescent population, it was applied to 361 pre-adolescents and adolescents who were elementary and high school students an were aged between 8 and 15 years old. This was a convenience sample, with 208 girls and 153 boys.

The results obtained suggest that although this scale might be of importance to this population, further studies are needed to evaluate the scale's sensitivit

Keywords: Depression, Anxiety, Stress, Childrens.

 

Os conceitos de Ansiedade, Depressão e Stress dizem respeito a um conjunto de sentimentos e emoções que envolvem o ser humano na sua globalidade (Hetem & Graeff, 2004). Ansiedade e Depressão tendem a exibir elevada associação, pelo que se desenvolveu o modelo tripartido. Watson, Clark, Weber, Assenheimer, Staruss, e McCormick, (1995), e Watson, Weber, Assenheimer, Clark, Staruss, e McCormick, (1995) salientam a evidência de que a ansiedade e depressão são difíceis de diferenciar empiricamente. Numa investigação anterior, Clark e Watson (1991), propõem um modelo tripartido em que os sintomas de ansiedade e depressão se agrupam em três estruturas básicas. Uma primeira estrutura que designam por distress ou afecto negativo, inclui sintomas relativamente inespecíficos, que são experimentados tanto por indivíduos deprimidos como ansiosos, mais humor deprimido e ansioso, assim como insónia, desconforto ou insatisfação, irritabilidade e dificuldade de concentração. Estes sintomas inespecíficos são responsáveis pela forte associação entre as medidas de ansiedade e depressão. Para além deste factor inespecífico a ansiedade e a depressão constituiriam as outras duas estruturas, com a tensão somática e a hiperactividade como específicas da ansiedade, e a anedonia e a ausência de afecto positivo como relativamente específicas da depressão.

A operacionalização do modelo tripartido levou à construção de medidas tais como a escala aqui em estudo, a Depression Anxiety Stress Scale (DASS) de Lovibond e Lovibond (1995). Esta escala, teoricamente, propõe-se cobrir a totalidade dos sintomas de ansiedade e depressão, que satisfaça padrões elevados de critérios psicométricos e faça uma discriminação máxima entre os constructos ansiedade e depressão. O estudo factorial desta escala apresenta um novo factor que incluía os itens menos discriminativos das dimensões ansiedade e depressão e que os autores designam por Stresse: estes itens incluem dificuldades em relaxar, tensão nervosa, irritabilidade e agitação.

A Escala de Ansiedade, Depressão e Stresse (EADS) é a versão portuguesa do Depression Anxiety Stress Scale, de Lovibond e Lovibond (1995) adaptada por Pais Ribeiro, Honrado e Leal (2004a). Esta escala foi concebida por Lovibond e Lovibond (1995) com o objectivo de discriminar a totalidade dos sintomas de ansiedade e depressão. Os mesmos autores, ao realizarem estudo factorial desta escala verificaram a existência de um novo factor que incluía os itens menos discriminativos das duas dimensões, a ansiedade e depressão. Este novo factor foi denominado de “Stresse”, a que correspondiam os itens dificuldades em relaxar, tensão nervosa, irritabilidade e agitação.

A EADS é constituída por 21 itens que se distribuem por três dimensões com sete itens cada: Depressão, Ansiedade e Stresse. A escala foi desenvolvida a partir da teoria e os itens incluídos em cada dimensão propõem-se avaliar aspectos teoricamente inclusivos da dimensão: nomeadamente, a Depressão engloba: Disforia (um item); Desânimo, (um item); Desvalorização da vida (um item); Auto-depreciação (um item); Falta de interesse ou de envolvimento (um item); Anedonia (um item); Inércia (um item). A Ansiedade abrange: Excitação do Sistema Autónomo (três itens); Efeitos Músculo Esqueléticos (um item); Ansiedade Situacional (um item); Experiências Subjectivas de Ansiedade (dois itens). O Stresse inclui: Dificuldade em Relaxar (dois itens); Excitação Nervosa (um item); Facilmente Agitado/Chateado (um item); Irritável/Reacção Exagerada (dois itens); Impaciência (um item), (Pais Ribeiro, Honrado & Leal, 2004b).

A resposta é dada numa escala tipo Likert, em que o indivíduo avalia a extensão em que experimentaram cada sintoma durante a última semana, numa escala de quatro pontos de gravidade ou frequência: “não se aplicou nada a mim”, “aplicou-se a mim algumas vezes”, “aplicou-se a mim de muitas vezes”, “aplicou-se a mim a maior arte das vezes”, a que correspondem valores de “0” a “3”. A escala fornece três notas, uma por cada dimensão, determinadas pela soma dos resultados dos sete itens. Assim sendo, o mínimo é “0”e o máximo “21”, correspondendo as notas mais elevadas a estados afectivos mais negativos. Os itens da EADS de 21 itens foram seleccionados de modo que possa ser convertida nas notas da escala completa de 42 itens multiplicando a nota por dois.

Pais Ribeiro, Honrado e Leal (2004b), referem que após ter sido inspeccionada a consistência interna através do Alfa de Cronbach, os resultados para a EADS foram respectivamente de 0,85 (0,93 na versão de 14 itens) para a escala de depressão, de 0,74 para a de ansiedade (0,83 na versão de 14 itens) e de 0,81 para a de stresse (0,88 na versão de 14 itens).

O objectivo do presente estudo é estudar a versão da EADS para crianças e pré-adolescentes.

 

MÉTODO

Participantes

Participaram 361 indivíduos pré-adolescentes e adolescentes, estudantes do Ensino Básico, com idades compreendidas entre os8eos15 anos, dos quais 208 foram raparigas e 153 rapazes, que constituíram uma amostra de conveniência.

 

Material

Conceptualmente a escala é a mesma que para os adultos. No entanto, dado que os participantes são mais novos do que os dos estudos de validação, os itens foram revistos para serem compreensíveis para este grupo. O cognitive debriefing realizado com um grupo de indivíduos com estas características levou à alteração da formulação de alguns itens de modo a que a validade de conteúdo de cada item se mantivesse mas se tornasse mais facilmente compreensível. As diferenças consistem na inclusão, à frente de alguns itens, de um exemplo que ajude a esclarecer o sentido da frase que constitui o item. (ver anexo)

Esta escala foi desenvolvida a partir da teoria: por esta razão assumimos uma perspectiva conservadora que se propunha respeitar a perspectiva teórica e, por isso, mantivemos a estrutura original da escala: Assim inspeccionámos as relações entre itens e dimensões, reproduzindo os procedimentos dos estudos anteriores desde o original até à versão de adaptação portuguesa.

A versão final, que denominámos, Escala de Ansiedade, Depressão e Stresse para Crianças (EADS-C) é constituída por três sub-escalas, com sete itens cada, apresentados em anexo.

A escala foi aplicada em sessões colectivas e individuais, assegurando-se o seu preenchimento individual e garantindo a total confidencialidade e anonimato. A escala pode ser também ser aplicada individualmente, em contexto clínico. O tempo de aplicação dura entre5 e 8 minutos.

 

RESULTADOS

A escala foi submetida a uma análise em componentes principais (ACP), com rotação Promax (que é uma rotação oblíqua que permite uma correlação entre as dimensões) forçada a três factores. A solução encontrada explica 44, 76% da variância total e apresenta os resultados expostos no quadro 1.

 

Quadro 1

Cargas dos itens nos componentes para uma solução de três dimensões

 

A inspecção do quadro 1 mostra que nem todos os itens apresentam uma carga componencial adequada na dimensão a que pertencem: se considerarmos o valor de 0,35 como fronteira, há um item nas dimensões ansiedade e outro na stresse que não alcança esse valor. Por outro lado a carga em seis dos 21 itens é superior noutro componente à daquele a que pertence. Em alguns dos outros itens a diferença da carga componencial em diversas dimensões é baixa.

A inspecção da consistência interna para as três dimensões mostra os seguintes valores

Para o Stresse, o alfa de Cronbach é igual a 0,74, com correlações item dimensão, corrigida para sobreposição, variando entre 0,36 e 0,56 a maioria acima de 0,40. Nenhum item, se retirado aumentava a consistência interna. Para a Depressão a consistência interna é de 0,78, com a com correlações item dimensão, corrigida para sobreposição, variando entre 0,37 e 0,65 a maioria acima de 0,40. Nenhum item, se retirado contribuía para aumentar a consistência interna. Para a Ansiedade o alfa de Cronbach é igual a 0,75, com correlações item dimensão, corrigida para sobreposição, variando entre 0,38 e 0,58 a maioria acima de 0,40. Nenhum item, se retirado aumentava a consistência interna.

 

DISCUSSÃO

A escala EADS-C, depois de acrescentar esclarecimentos que decorrem do cognitive debriefing de modo a facilitar a interpretação por este grupo etário, é prática e de aplicação rápida em crianças e pré-adolescentes. Apresenta uma estrutura semelhante à versão para adultos embora os valores das cargas dos itens na dimensão seja menos discriminativa do que em adultos. Quando observamos a estrutura de cada dimensão através da consistência interna verificamos, não só que o valor do alfa de Cronbach é adequado, como todos os itens contribuem para incrementar essa consistência. Dividindo os participantes por grupos de idade entre crianças mais novas (9 a 11 anos), com as mais velhas (12-15 anos), não encontramos diferenças estatisticamente significativas. O mesmo ocorre quando comparamos os grupos por género.

Sharp, e Lipsky (2002) explicam que avaliar variáveis deste tipo em crianças é especialmente difícil devido às suas limitações literária, mas que se torna possível a partir dos 7 anos com um nível de literácia de, pelo menos, 6 anos, o que no caso presente não é verdade para o grupo mais novo. Por esta razão estas medidas devem ser usadas com cuidado com estes grupos mesmo depois do ajustamento que foi feito aos itens.

O estudo aqui apresentado sugere que a escala será provavelmente aplicável a pré-adolescentes devendo, no entanto, a partir dos dados aqui obtidos, recomendar-se mais estudos de sensibilidade da escala.

 

REFERÊNCIAS

Clark, L., & Watson, D. (1991). Tripartide model of anxiety and depression: Psychometric evidence and taxonomic implications. Journal of Abnormal Psychology, 100 (3), 316-336.

Graeff, F. G. & Hetem, L. A. B. (2004) Diagnóstico Diferencial. In Hetem, F. G. & Graeff L. A. B. (Eds), Transtornos de Ansiedade (pp191-205). Rio de Janeiro: Atheneu. Lovibond, P., & Lovibond, S. (1995). The structure of negative emotional states: Comparison of the depression anxiety stress scales (DASS) with the Beck Depression and Anxiety Inventories. Behaviour Research and Therapy, 33(3), 335-343.

Maroco, J. (2007). Análise estatística com utilização do SPSS (3.ª Edição). Lisboa: Edições Sílabo.

Pais Ribeiro, J., Honrado, A. & Leal, I. (2004a). Contribuição para o estudo da adaptação portuguesa das escalas de Ansiedade, Depressão e Stress de Lovibond e Lovibond. Psychologica, 36, 235-246.         [ Links ]

Pais Ribeiro, J., Honrado, A. & Leal, I. (2004b). Contribuição para o estudo da adaptação portuguesa das escalas de ansiedade, depressão e stress (EADS) de 21 itens de Lovibond e Lovibond. Psicologia, Saúde e Doenças, 5 (2), 229-239.

Sharp, L., & Lipsky, M. (2002).Screening for Depression Across the Lifespan: A Review of Measures for Use in Primary Care Settings. American Family Physician, 66 (6),1001-1008.

Watson, D., , L., Weber, K., Assenheimer, J., Staruss, M. & McCormick, R. (1995a). Testing a tripartide model: II. Exploring the symptom structure of anxiety and depression in student, adult, and patient samples. Journal of Abnormal Psychology, 104 (1), 15-25.

Watson, D., Weber, K., Assenheimer, J., , L., Staruss, M. & McCormick, R. (1995b). Testing a tripartide model: I. Evaluating the convergenct and discriminant validity of anxiety and depression symptom scales. Journal of Abnormal Psychology, 104 (1), 3-14.

 

 

ANEXO

EADS-C – 21

Por favor lê cada uma das afirmações abaixo e assinala 0, 1, 2, ou 3 para indicar quanto cada afirmação se aplicou a ti durante a semana passada. Não há respostas certas ou erradas. Não leves muito tempo a indicar a resposta em cada afirmação.

 

Recebido em 22 de Maio de 2009 / Aceite em 28 de Julho de 2009

Contactar para E-mail: jaa@ispa.pt