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Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças v.10 n.2 Lisboa  2009

 

Escala de motivação: adaptação e validação da Motivation Scale (M.S.) de Rempel, Holmes & Zanna.

José de Abreu Afonso & Isabel P. Leal

ISPA, Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde

 

RESUMO: O objectivo deste estudo é a adaptação e a validação para a população portuguesa da Motivation Scale, de Rempel, Holmes e Zanna (1985). Enquadra-se e define-se o conceito de motivação, considerando-se a motivação intrínseca, a motivação extrínseca e a motivação instrumental, que viso integrar a construção da escala, bem como o seu impacto nas relações conjugais.

Os participantes foram 436 sujeitos, 218 casais, 152 casados, 66 em união de facto. Para a nossa amostra, a sensibilidade dos itens demonstrou ter características discriminativas. Quanto à validade, a análise factorial pelo método KMO foi de 0,95 para a sub escala de motivos pessoais e 0,95 para a escala de motivos do parceiro, permitindo o recurso a análises factoriais confirmatórias de componentes principais com rotação obliqua, que não confirmaram uma estrutura tripartida. No que respeita à fidelidade, recorreu-se ao Alpha de Cronbach que nos 2 factores e nos totais das escalas foram superiores aos encontrados pelos autores na sua estrutura tripartida. Obtivemos assim uma escala final constituída por duas sub escalas: sub-escala de motivação intrínseca e sub-escala de motivação extrínseca.

Palavras-chave: Motivação, Conjugalidade, Motivação intrínseca, Motivação extrínseca.

 

Motivation Scale: adptation and validation of motivation scale by Rempel, Holmes & Zanna.

ABSTRACT: The aim of this study is to validate the Motivation Scale (Rempel, Holmes and Zanna; 1985) for the Portuguese population. A theoretical model of motivation and its dimensions, namely the intrinsic, extrinsic, and instrumental motivation, is presented, as well as its impact on the couple relationship. A sample of 436 participants, 218 couples (152 married, 66 living together) were included in the study. The results of the factor analysis by the KMO method, using oblimin rotation, produced a meaningful solution of two factors: (1) the intrinsic motivation subscale and (2) the extrinsic motivation subscale. This structure was different from the original version with three factors. The reliability of the factors was tested through the use of Cronbach Alpha which was 0.95 for the personal reasons subscale and 0.95 for the partner reasons subscale. The Cronbach alpha coefficient for the total scale was higher than the original scale in their tripartite factorial structure.

Keywords: Motivation, Conjugality, Intrinsic motivation, Extrinsic motivation.

 

O presente artigo consiste na adaptação e a validação para a população portuguesa da Motivation Scale, de Rempel, Holmes e Zanna (1985), aqui designada por Escala de Motivação (E:M).

A Motivação é aquilo que move as pessoas para agir, pensar e desenvolver-se. Apesar de os processos de motivação poderem ser estudados do ponto de vista dos mecanismos cerebrais e fisiológicos, há uma grande parte da motivação humana que é função de variáveis sócio-culturais que influenciam não só o que as pessoas fazem, mas também o modo como se sentem quando agem, assim como com as consequências dos seus actos (Deci e Ryan, 2008). Na abordagem deste conceito, assinalam-se duas tendências fortes no início do século XX: o comportamentalismo por um lado e a psicanálise por outro, ambas enraizadas numa perspectiva que via os impulsos biológicos como origem das necessidades humanas. A abordagem à motivação expandiu-se rapidamente, ultrapassando o âmbito da biologia. Uma das tendências viu o indivíduo como o centro da sua própria motivação enquanto outra, sob influência do paradigma do condicionamento operante, se focou nas recompensas externas e seu papel na motivação (Mayer, Faber e Xu, 2007). Temos aqui claramente uma antevisão dos actuais conceitos de motivação intrínseca e motivação extrínseca que constituem o cerne do instrumento que apresentamos.

Desde os anos 30 até à actualidade, as escalas foram-se tornando mais especializadas e sensíveis ao contexto. Mayer, Faber e Xu, (2007) estudaram 75 anos de medição da motivação e agruparam os testes que recensearam em grupos. O nosso questionário é uma das escalas focadas no self e no seu papel sobre a motivação.

O que medem os testes de motivação? Poderíamos pensar que todas as escalas de motivação medem motivos, mas de facto não é assim. Podem medir a sua dinâmica, o self como motivador, ou ainda aspectos para-motivadores como os valores. O nosso instrumento corresponde ao grupo dos que medem a dinâmica da motivação, ou como os motivos estão integrados na vida mental dos indivíduos. Resta a questão de como é que os testes a medem, isto é, como acedem às diferentes manifestações da motivação. Na verdade, a forma como um instrumento mede o motivo é tão importante como o conteúdo motivador em si. As motivações manifestam-se de diversas formas na personalidade. Assim, o método usado pelas escalas é uma via directa e acede ao auto conceito consciente, questionando directamente a pessoa. As escalas de auto-julgamento são usadas para determinar a internalidade ou autodeterminação de um motivo.

Considera-se que a motivação pode ser intrínseca ou extrínseca. A propósito destes conceitos centrais, Decy e Ryan (2008) dizem-nos que a motivação intrínseca implica determinado comportamento, porque a actividade em si própria é interessante e satisfaz espontaneamente. Alguém intrinsecamente motivado envolve-se numa acção pelos sentimentos positivos que ela proporciona. Por outro lado a motivação extrínseca implica que o envolvimento numa actividade leva a consequências que estão separadas dela. É o que acontece, por exemplo, quando se age para obter uma recompensa ou evitar a punição Story, Hart, Stasson e Mahoney (2009) concluíram que os sujeitos intrinsecamente motivados não só se envolvem mais prazerosamente em pensamento trabalhoso, como estão mais predispostas ao auto-reforço e á regulação dos seus comportamentos. A motivação intrínseca está também mais associada a maior auto-eficácia e expectativas de sucesso. Muitos autores consideram estes dois tipos de motivação como extremos de um mesmo conceito enquanto outros consideram estar intrinsecamente ou extrinsecamente motivado como duas coisas bastante distintas. No entanto, numa série de situações é bem possível que se esteja motivado de ambas as maneiras. É ainda de salientar que a maior parte dos comportamentos podem ser interpretados reflectindo qualquer orientação nos motivos. O elemento crítico é, na atribuição de motivos, a interpretação dada ao acontecimento ou comportamento (Rempel, Holmes e Zanna, 1985).

 

MOTIVAÇÃO E CONJUGALIDADE

Motivação Intrínseca, Motivação Extrínseca e Motivação Instrumental.

A ideia que as pessoas são motivadas para formar e manter ligações interpessoais é antiga. Na psicologia, é um pensamento veiculado de muitas maneiras, por exemplo por Freud, com os motivos derivados das pulsões e da relação precoce, Maslow, ao falar de “amor e necessidade de pertença” colocando-os a meio da sua pirâmide de necessidades, Bowlby, com a teoria da vinculação, bem como muitos outros autores, sublinham Baumeister e Leary, (1995). Podemos dizer que os seres humanos são fundamentalmente motivados por uma necessidade de pertença, ou seja, um desejo de formar e manter relações interpessoais duradouras. Mas, tal como Seligman, Fazio e Zanna (1980) comentam, a razão pela qual alguém se sente atraído especificamente por uma pessoa e não por outra qualquer, é uma questão que se mantém intrigante e cuja resposta tem muitas vezes sido dada em termos de quais os benefícios que os indivíduos se proporcionam reciprocamente.

É importante distinguir as recompensas intrínsecas das extrínsecas. Motivos extrínsecos para se manter ligado estão relacionados com recompensas recebidas dos outros fora da relação, mas mediadas pelo envolvimento com o parceiro, por exemplo o estatuto social e respeito, acesso a novas actividades e oportunidades, as ligações sociais e as de negócios. Motivos intrínsecos são definidos como um conjunto de recompensas directamente mediadas pela relação com o parceiro. Quando intrinsecamente motivado o sujeito está envolvido numa relação íntima pelo prazer das actividades de dia-a-dia do casal. Por outro lado, se a motivação é extrínseca, ela refere-se a actividades relacionadas com propósitos instrumentais como a obtenção de consequências positivas ou o evitamento de resultados negativos. (Blais, Sabourin, Boucher e Vallerand 1990).

Uma dificuldade reside na especificação se uma recompensa ou motivação é, de facto, intrínseca ou extrínseca. Mas, claramente, interessam-nos aqui as percepções dos indivíduos e não o facto de as recompensas serem realmente intrínsecas ou extrínsecas. Um dos aspectos centrais da teoria da atribuição é explicitado por Bem (1972), referido por Seligman, Fazio e Zanna (1980): as pessoas percebem que estão intrinsecamente motivadas para um comportamento na medida em que as contingências externas de reforço estão ausentes. Muitos trabalhos sobre a satisfação em várias tarefas mostram que no comportamento sob contingências de reforço externas salientes, se enfraquece a atribuição a razões intrínsecas, mesmo quando esse comportamento está ligado a razões apontadas inicialmente como intrínsecas.

Através do desenvolvimento de objectivos interdependentes e da identificação empática, a felicidade do parceiro torna-se parte do sistema de recompensas do sujeito. Formas intrínsecas de motivação reflectem muitas vezes a evidência de que duas pessoas se vêem com um casal Como diz Lerner (1977), citado por Rempel Holmes e Zanna (1985), têm uma relação de identidade.

Assim, o indivíduo pode estar motivado largamente pelas recompensas interpessoais recebidas do parceiro, ou, por outro lado, a relação pode ser valorizada, justamente porque é recompensadora para ambos. No primeiro caso temos motivos instrumentais que distinguimos do segundo caso, o dos motivos intrínsecos. Na primeira hipótese, os motivos servem uma série de recompensas mais ou menos explícitas que os parceiros providenciam um ao outro, como sejam, serviços directos, bens, elogios, sexo, apoio. O comportamento na relação é sobretudo um meio para um fim e governado pelas regras da troca social. Em contraste, recompensas mais associadas a atribuições intrínsecas incluem a partilha de prazer em actividades conjuntas, demonstrações recíprocas de afecto, um sentimento de proximidade, envolvimento social como casal, o calor e a alegria associados com satisfazer as necessidades do parceiro. A distinção conceptual entre motivação intrínseca e motivação instrumental não é nova na literatura sobre relações próximas. Clark e Mills (1979), por exemplo, citados por Rempel Holmes e Zanna (1985) distinguem entre troca e relações comunais, aludindo a esta diferença.

Como sublinham Aimé e colaboradores (2000), uma vez que as relações conjugais apelam a processos de interdependência é pertinente no plano conceptual tomar em conta os estilos de motivação de cada um dos parceiros e a sua influência recíproca. Os variados estados de motivação que descrevemos não são vistos como independentes uns dos outros. Se as razões extrínsecas são particularmente salientes, a forca percebida dos motivos instrumentais e intrínsecos diminui. Similarmente, atribuições a motivos instrumentais enfraquecem o recurso a explicações intrínsecas Motivos intrínsecos são, por hipótese, os mais fortemente relacionados com o amor e a felicidade porque reflectem melhor preocupações não egoístas e cuidado com outrem sem expectativas explícitas de ganho pessoal (Rempel Holmes e Zanna, 1985).

Blais, Sabourin, Boucher e Vallerand (1990) esquematizam o modelo de motivação no casal da seguinte forma : O estilo individual de motivação do sujeito para manter a ligação influencia o seu comportamento de relação íntima; os comportamentos relacionais de ambos os parceiros influenciam a percepção dos comportamentos adaptativos do casal; estas percepções individuais têm por sua vez um impacto na felicidade com a relação. A percepção que ambos, o sujeito e o parceiro, estão envolvidos na relação porque ela vale por si é necessária para que sentimentos de amor ocorram, de acordo com Kelley (1979), citado por Rempel e colaboradores (1985) que também observaram que o amor e a satisfação se correlacionam positivamente com a motivação intrínseca. Ainda verificaram uma congruência entre a motivação do próprio e a que ele atribui ao seu parceiro. Assim, a percepção das suas motivações influencia a percepção que se tem das motivações do par. Há pois uma tendência congruente nas atribuições. Seligman e colaboradores (1980) demonstraram também que os membros de um casal que estão com o seu parceiro por razões extrínsecas referem menos amor quando comparados com os que o fazem por motivação intrínseca.

 

MÉTODO

Participantes

A Amostra é constituída por 436 sujeitos, 218 casais, 152 casados e 66 a viverem em união de facto. A caracterização da amostra é apresentada nos quadros 1 e 2 e 3.

 

Quadro 1

Caracterização dos Sujeitos da Amostra relativamente à Idade

 

Quadro 2

Caracterização dos Sujeitos da Amostra relativamente às habilitações literárias

 

Quadro 3

Caracterização dos Casais relativamente ao Tempo de Duração da Relação, Existência de Filhos e Número de Filhos

 

Relativamente à idade em termos médios existe uma diferença de 3 anos entre os dois sexos, as mulheres ligeiramente mais novas, com idades entre os 20 e os 73 anos, sendo a média (arredondada) de 42 anos e nos homens a idade a variar entre os 19 e os 76 anos sendo a média de 45 anos.

Relativamente às habilitações literárias elas são elevadas em ambos os sexos predominando o ensino secundário e a licenciatura.

Os casais que estão casados, estão juntos há mais tempo do que os casais que vivem em união de facto. Os casados estão juntos em média há 20 anos, enquanto os que vivem em união de facto estão juntos em média há 7 anos, sendo a dispersão em torno da média deste último grupo bastante elevada. Relativamente à existência de filhos também se verifica diferenças entre os dois grupos. Enquanto a maioria dos casados têm filhos (89%), essa percentagem nos casais que vivem em união de facto é de apenas 36%. Quanto ao número de filhos este é mais elevado no grupo dos casados (média de 2 filhos, sendo a dispersão bastante elevada, dado haver 4 casais com mais de 3 filhos), enquanto que no grupo que vive em união de facto a média é de um filho (a esmagadora maioria tem 1 filho, havendo apenas 4 casais que têm mais do que 1 filho).

 

Material

A escala da motivação é constituída por 24 itens, sendo a escala de resposta de 9 pontos. A escala deve ser respondida duas vezes segundo perspectivas diferentes: por um lado a motivação pessoal, por outro a perspectiva que se tem da motivação do parceiro. Rempel, Holmes e Zanna (1985) encontraram para as duas escalas 3 factores : I = Intrínseco, R=Instrumental e E = Extrínseco.Os Alphas de Cronbach dos factores variam entre 0,69 e 0,82 revelando uma boa consistência interna.

Os autores construíram os itens da escala de motivação em conformidade com as orientações teóricas. Foi a teoria que serviu de base também à classificação inicial dos itens em sub-escalas. O facto da amostra usada por Rempel, Holmes e Zanna (n= 94) não ser suficientemente grande para garantir a estabilidade dos resultados para efectuar determinados procedimentos estatísticos nomeadamente a análise factorial levou-os a utilizar critérios conservadores para decidir quando um item era reclassificado .

 

CARACTERÍSTICAS PSICÓMETRICAS DO INSTRUMENTO PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA

No sentido de se validar a escala da motivação para a população portuguesa, depois da fase da tradução, passou-se a escala a 436 sujeitos, 219 casais, tentando assim ultrapassar algumas das limitações em termos de procedimentos estatísticos que os autores referiram pelo facto da sua amostra ser pequena (n = 94).

 

Sensibilidade

Um primeiro estudo efectuado à sensibilidade dos itens, revela que estes são discriminativos, dado não se ter verificado uma concentração de respostas acima de 35% em qualquer das categorias de resposta.

 

Validade de constructo

A validade de constructo foi estudada recorrendo-se a Análises factoriais. Foi utilizado o método “medida da adequação da amostragem de Kaiser-Meyer-Olkin” proposta por Kaiser (1970) e Kaiser & Rice (1974) no sentido de averiguar se os nossos dados eram viáveis em termos de utilização de uma análise factorial. O KMO obtido para os dados referentes aos itens dos motivos pessoais foi de 0,954 e para os itens referentes aos motivos do parceiro de 0,952.

 

Validade factorial

Os excelentes resultados encontrados permitiram o recurso a análises factoriais confirmatórias de componentes principais com rotação obliqua. As análises factoriais não confirmaram uma estrutura factorial tripartida, dado em ambas as escalas, apenas dois factores registarem “eigenvalues” superiores a 1. Assumiu-se assim uma estrutura com dois factores tornando-se a submeter a matriz dos dados a análises factoriais.

 

Quadro 4

Eigenvalues e Variâncias Explicadas dos três factores extraídos nas Análises Factoriais Confirmatórias

 

Na escolha dos itens para cada factor seguiu-se os critérios de Rempel, Holmes e Zanna (1985): 1º - Coeficiente de saturação (“Factor Loading”) superior a 0,40 num factor 2º - A diferença entre os coeficientes de saturação dos dois factores ter um valor igual ou superior a 0,10.

Na Análise factorial relativa aos motivos pessoais constatou-se que embora o item 1 tenha um coeficiente de saturação no factor 1 ligeiramente abaixo de 0,40 (0,379 – ver quadro 7), o factor loading é bastante mais baixo no factor 2 (0,144), além disso observando o coeficiente de correlação deste item com o total do factor 1 constatamos que é superior a 0,30 (0,347 – ver quadro 5). Como tal optou-se por não se eliminar este item, e inclui-lo no factor 1. A estrutura factorial para escala motivos pessoais está representada no quadro 8, devendo o item 1 ser incluído no factor 1.

 

Quadro 5

Análise Factorial de Componentes Principais com Rotação Obliqua

 

Para a escala Motivos do parceiro a estrutura factorial encontrada foi bastante semelhante à da escala motivos Pessoais, apenas se propõe a exclusão do item 3 que revelou factores loadings muito semelhantes nos dois factores (0,56 e 0,57 – ver quadro 6), sendo portanto considerado um item ambíguo. A estrutura factorial da escala Motivos do Parceiro pode ser observada no quadro 6.

 

Quadro 6

Análise Factorial de Componentes Principais com Rotação Obliqua

 

Além das Análises factoriais efectuaram-se também correlações dos itens com o total do factor a que pertencem, averiguando se as correlações eram superiores a 0,30, facto esse comprovado para as duas escalas como se pode observar nos quadros 7 e 8.

 

Quadro 7

Correlação entre os Itens que compõem cada Factor com o Total desse Factor – Escala Motivos Pessoais

 

 

 

Quadro 8

Correlação entre os Itens que compõem cada Factor com o Total desse Factor – Escala Motivos do Parceiro

 

Fidelidade

O estudo da Fidelidade da escala foi feita através da avaliação da consistência interna dos itens, recorrendo-se ao Alpha de Cronbach. Os Alphas dos 2 factores e dos totais das escalas variam entre 0,87 e 0,96 (ver quadro 9), sendo bastante superiores aos encontrados pelos autores da escala na sua estrutura factorial tripartida.

 

Quadro 9

Alphas de Cronbach para as Duas Escalas

 

DISCUSSÃO

Não se confirma para a realidade portuguesa a existência dos três factores da escala original.

Um deles aparece claramente diferenciado, considerando-se pois a existência da sub-escala de motivação extrínseca, à qual mantemos a designação e que inclui recompensas mais ou menos explícitas que os parceiros providenciam um ao outro, recompensas recebidas dos outros fora da relação.

Por outro lado, surge no nosso estudo um factor que soma itens da sub-escala intrínseca com itens da sub-escala instrumental.

É verdade que nos resultados da análise dos autores originais um padrão hierárquico relativamente ordenado de resultados emergiu, dando suporte á existência de um modelo com três componentes. Os seus resultados apoiam a ideia que motivos intrínsecos e instrumentais correspondem a diferentes categorias, com diferentes implicações. Mas houve uma excepção a este padrão: sentimentos de amor nas mulheres estavam tão ligados com motivações instrumentais como com as motivações intrínsecas. Por várias razões, as mulheres parecem ter uma visão mais global das relações dependendo menos exclusivamente que os homens das implicações românticas da atribuição intrínseca. Também parece também haver uma menor distinção entre intrínseco e instrumental quando o indivíduo faz atribuições a si próprio. O que a um observador pode parecer uma motivação extrínseca, surge muitas vezes para o próprio como um motivo intrínseco. Os autores da escala consideram que esta orientação intrínseca pode estar a servis interesses próprios. A auto-estima pode ser reforçada pela ideia que as acções do sujeito são motivadas por motivos centrados no outro No entanto, Rempel e colaboradores (1985) também têm em conta que alguém interagindo com um parceiro, terá frequentemente sentimentos positivos essencialmente privados mais acessíveis ao self que aos outros. Assim, o que é interpretado pelos outros de uma maneira, pode ser percebido pelo próprio à luz destes sentimentos privados e interpretado como intrínseco.

Como nos recordam os próprios Rempel, Holmes e Zanna (1985) a percepção dos motivos instrumentais é complexa porque pressupõe uma série de mensagens. Atribuições instrumentais são aquelas em que as recompensas são vistas como constituindo fins de serviço ao próprio, obtidos via relacionamento. Neste sentido, uma lógica de desvalorização levaria à questão de quão valioso o relacionamento continuaria se as recompensas deixassem de existir. Também enfatizaria as trocas sociais e diminuiria as atribuições de amor. (Clark & Mills, 1979; Holmes, 1981; Kelley, 1979). Mas, ao mesmo tempo, a atribuição de motivos instrumentais também contêm informação positiva sobre a relação. Sugerindo que alguém é motivado pelas recompensas providenciadas pelo parceiro, há o reconhecimento implícito que este parceiro é valioso e se gosta dele. Assim, se o parceiro é olhado positivamente pela sua aparência, espírito ou sensibilidade, estas atitudes validam o valor da pessoa como alguém que se pode amar. Nesse sentido, é auto-afirmativa.

Acreditar que o parceiro está motivado pelas recompensas instrumentais que o sujeito providência, quer por outro lado dizer que esse parceiro está na relação porque o sujeito tem características com valor. As consequências de ver um comportamento com o instrumental na origem, são largamente uma questão de que mensagem é mais saliente. A atribuição de uma motivação instrumental pode reforçar sentimentos de amor e ligação ao parceiro apesar de a ligação geral com o amor ser moderada devido à influência oposta da lógica de desvalorização (Holmes e Zanna, 1985).

Optamos então por designar este 2º factor por sub-escala de motivação intrínseca, uma vez que ela inclui recompensas directamente mediadas pela relação como parceiro. O instrumento toma assim a seguinte forma final (quadro 10).

 

Quadro 10

Itens finais e respectivas sub-escalas

 

 

REFERÊNCIAS

Aimé, A.; Sabourim, S. ; Valois, P. (2000). L’appariement des styles de motivation et 1’evo-lution de la satisfaction conjugale. Revue canadienne des sciences du comportement, 32 (3),178-186.

Baumeister, R. F.; Leary, M. R. (1995). The Need to Belong: Desire for Interpersonal Attachments as a Fundamental Human Motivation. Psychological Bulletin,117 (3), 497-529.

Blais, Sabourin, Boucher, & Vallerand (1990). Toward a Motivational Model of Couple Happiness. Journal of Personality and Social Psychology, 59 (5) 1021-1031.

Deci, E. L.; Ryan, R.M. (2008). Facilitating Optimal Motivation and Psychological Well-Being Across Life’s Domains. Canadian Psychology, 49, (1) 14 – 23.

Kaiser, H.F. (1970). A second generations litttle Jiffy. Psychometrika, 35: 401-415.         [ Links ]

Kaiser, H. F.& Rice, J. (1974). A little Jiffy Mark IV. Educational and Psychological Measurement, 34: 111-117.

Mayer, J. D.; Faber, M. A.; Xu, X. (2007). Seventy-five years of motivation measures (1930– 2005): A descriptive analysis. Motiv. Emot.., 31:83–103.

Pestana, M.H. & Gageiro, J.N. (2000). Análise de dados para Ciências Sociais. A complementaridade do SPSS. 2º ed.. Lisboa: Edições Sílabo.

Rempel, J.K.; Holmes J.G.; Zanna, M.P. (1985). Trust in Close Relathionships. Journal of Personality and Social Psychology, 49 (1) 95–112.

Seligman, C.; Fazio, R.H.; Zanna, M.P. (1980). Effects of Salience of Extrinsic Rewards on Liking and Loving. Journal of Personality and Social Psychology, 38, (3) 453-460.

Story, P.A.; Hart, J.W.; Stasson, M.F.; Mahoney, J.M. (2009). Using a two-factor theory of achievement motivation to examine performance-based outcomes and self-regulatory processes. Personality and Individual Differences 46, 391–395.

 

ESCALA DE MOTIVAÇÃO

(Rempel.; Holmes & Zanna, 1985; Afonso & Leal, 2008)

 

Diga em que medida as seguintes razões têm um papel importante na vossa relação.

TENHO UMA RELAÇÃO COM O /A MEU PARCEIRO/A PORQUE

 

Ponha-se no lugar do/a seu parceiro/a e diga em que medida ele/a acredita que as seguintes razões têm um papel importante na vossa relação. Por outras palavras, responda ao questionário como achar que o/a seu parceiro/a responderia

COMO IMAGINO QUE O/A MEU PARCEIRO/A RESPONDERIA

 

 

Recebido a 5 de Abril de 2009 / Aceite a 13 de Julho de 2009

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