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Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

versión impresa ISSN 0874-6885

Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher  no.36 Lisboa dic. 2016

 

PIONEIRAS

Maria da Conceição Moura Borges - KUKAS - Uma nuvem que desaba em chuva

Elisabeth Évora Nunes *, Isabel Baltazar*

Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais, Faces de Eva - Estudos sobre a Mulher

ibaltazar@fcsh.unl.pt


 

 

 

A designer de joalharia de autor em Portugal chama-se Kukas, nome artístico de Maria da Conceição de Moura Borges, uma mulher singular que nasceu a 5 de Maio de 1928, na Quinta de Santa Marta, na Beira Baixa, no interior de Portugal. Passaria a sua vida em Lisboa. Embora tenha nascido com a paixão pelas artes, também pensou estudar Direito, por sentir em si “a ideia, perfeitamente metafórica de fazer justiça no mundo”. Esse desejo de justiça estaria ligado ao equilíbrio representado pela beleza das artes, que seria o caminho escolhido para tornar o mundo mais justo, porque mais harmonioso, se integrasse o desenvolvimento das artes como forma exemplar de um aperfeiçoamento humano integral. Para Kukas, a vida é movimento e a sua forma de falar é vida, expressa nas suas mãos, que se viram e reviram, desenhando formas quais jóias em criação permanente. A conversa tranquila e agradável reflecte essa harmonia que conjuga a palavra com o gesticular expressivo. Ela própria confessa: “senti-me sempre habitada por formas. Estou sempre a ver formas. Não vejo nada que não pense em recriar”. Tudo à sua volta é motivo de inspiração.

História de uma vocação

A origem do despertar desta vocação artística de Kukas está ligada à sua história de vida. Órfã desde cedo, foi muito influenciada pelas tias que tinham uma grande actividade cultural. Mas a paixão pelas artes é inata. Com um sentido estético singular e uma criatividade fora de série, esta mulher estava preparada pelo destino para fazer um percurso absolutamente singular nas artes portuguesas. Tudo começou com um anel que fez para oferecer a uma tia, ou melhor, desde criança que brincava com as mãos irrequietas e moldava arames de garrafas de champanhe para fazer abat-jours para a casa de bonecas. O seu talento revelou-se cedo: “sempre fui muito atenta às formas e sempre gostei de modelar, de usar as mãos, de recortar, de todas essas coisas que se fazem quando somos crianças. Nunca me aborrecia enquanto miúda. Nem hoje me aborreço, não sei o que é isso. Tenho sempre que fazer, estou sempre ocupada. Moldar, fazer, criar sempre foi algo de instintivo, de congénito”. As suas aptidões naturais foram sendo desenvolvidas na vida e na escola. Em 1940, ingressou no Colégio de Santa Maria, em Torres Novas, e, anos mais tarde, entrou no Liceu Rainha Dona Filipa de Lencastre, em Lisboa. Na capital, frequentou também o Colégio Parisiense e o Colégio Académico, mostrando sempre o seu talento para as artes, muito particularmente, para o sentido da cor e da harmonia cromática. Ao realizar um Curso de Educação Familiar, Kukas estudou história da arte e cerâmica, começando a fazer peças totalmente diferentes dentro desta área, vendendo tudo o que fazia, mas não era um campo que a satisfizesse, embora tenha sido importante para o contacto com a matéria. Frequentou aulas particulares de desenho com o pintor e gravador José Júlio. Estudou também na Sociedade de Gravura e teve aulas de escultura com o escultor Martins Correia. Em 1961, terminou o curso de decoração de interiores na École Supérieure des Arts Modernes, em Paris, e recebeu várias propostas de trabalho naquela cidade, entre as quais, trabalhar numa loja de decoração. Desejando regressar a Portugal, recusou por razões afectivas. No ano seguinte, começou a trabalhar em decoração de interiores o que, apesar de lhe permitir o sustento, a foi desmotivando gradualmente. Experimentou técnicas de pintura em seda e cerâmica, desenvolvendo trabalhos que apresentava e vendia na loja da pintora Menez, na rua Nova do Almada, no Chiado.

A influência de Paris

Depois de uma viagem a Paris decidiu estudar na capital francesa. Como ela própria reconhece “ na altura, Portugal era muito limitado e o que se fazia não passava do estado embrionário, especialmente do ponto de vista artístico”. Em Paris, frequentou as aulas de desenho de modelo na Galeria La Grande Chaumière e fez um estágio de Educação pela Arte no Museu do Louvre, onde conheceu o pintor Marc Chagall, que a convidou para a inauguração da sua grande retrospectiva, em Paris. Visitou a exposição Jóias Pré-Colombianas, a qual terá pesado no seu interesse pela joalharia, revelando-lhe a nobreza técnica e emotiva, para lá dos sentidos ostentatórios. Durante a sua estadia em Paris, encontrou-se regularmente com outros artistas portugueses aí residentes, nomeadamente Lourdes Castro, René Bertholo, João Vieira e José Escada. Fascinada por tudo o que via e por tudo o que vivia numa descoberta permanente motivada pela sua grande curiosidade. Frequentava galerias, visitava todos os museus e muitas exposições. Foi no percurso de casa para a escola que Kukas descobriu no Boulevard de Saint-Germain, a Galerie du Siècle, uma galeria que tinha jóias de carácter nórdico. Lembra-se perfeitamente desse que seria um marco histórico para a sua carreira: “já nessa altura, os nórdicos eram muito depurados e imunes ao novo-riquismo que imperava nas jóias em Portugal – era um show-off de materiais que não se preocupava com a natureza da forma. Foi uma inspiração muito forte e um complemento da escola. Acho que em Paris, mais do que a formação propriamente dita, recebi muitos estímulos. E isso, às vezes, é o mais importante”.

Uma Imaginação Criadora

Kukas nasceu com uma imaginação criativa extraordinária, desenvolvida ao longo da vida. É muito curiosa a forma como ela se descreve: “para mim, a imaginação é uma bobine que nunca pára de rodar. Criar tem um carácter obsessivo: olho seja para o que for e começo a ver a recriação daquela forma numa jóia ou num objecto. Acho que é algo que acontece a todos os criativos”. Tudo inspira Kukas. De uma simples conversa à contemplação da natureza, não há limites para a sua imaginação, inspirada em tudo o que vê, ouve e sente: a luz do Tejo que entra pela janela da casa na Encosta do Castelo, em Lisboa, um livro que lê, uma notícia do mundo à sua volta, ou, simplesmente a própria imaginação criadora: uma pintura, uma obra arquitectónica ou um artista. A esse propósito reconhece que foi influenciada, por exemplo, por “Braque, Picasso, Kandinsky e também Morandi e as suas naturezas-mortas muito estáticas. Sim, porque para mim há naturezas-mortas dinâmicas e outras estáticas, tudo é diferente, rico e inspirador”.

Esta imaginação é sentida pela própria como natural e intrínseca à sua forma de ser e foi sempre desenvolvida na vida e na academia. Os mestres sempre lhe reconheceram essa capacidade inata, por exemplo, no carácter arrojado de fazer anéis quadrados, impensáveis à época, porque todos pensavam na impossibilidade ergonómica de os usar. Este pioneirismo passa pelo entendimento de a jóia ser uma arte de trânsito e foi distinguida por isso pelos seus professores. Todos admiravam essa imaginação, um imenso sentido cromático e uma capacidade extraordinária de romper com padrões clássicos e inovar.

Embora Kukas tenha sido sempre uma artista pluridisciplinar, ficou marcada como pioneira na joalharia, nos anais do Design em Portugal. Foram as jóias que lhe trouxeram reconhecimento a nível nacional. As razões deste protagonismo estão ligadas à decisiva capacidade de inovar e criar um mundo novo na área da joalharia.

Foi uma mulher arrojada e apostou na inovação porque as suas jóias desafiam a lógica e a imaginação. Como reconhece a própria: “as minhas peças têm uma superfície linear, onde depois inscrevo elementos decorativos, como pedras, ou um tratamento diferente feito na própria peça. O meu maior objectivo é fazer com que a jóia passe deixe de ser um elemento convencional tradicional, que geralmente representa uma ostentação de riqueza, e se torne num objecto que tenha um valor por si mesmo como peça artística”. E assumindo com determinação esse novo significado artístico das jóias, como obras de arte afirma: “desejo que a minha jóia seja arte de trânsito, que tenha uma função humana, mediadora entre a pessoa que a usa e o mundo exterior em que ela vive”.

Kukas escolhe como materiais de eleição para as suas jóias, a platina e a prata e combina-os com pedras que tenham transparência, interpenetração de espaço e luz. Também aqui é pioneira: “nunca foi o valor das pedras que me fascinou. Posso usar uma pedra modesta mas linda. Gosto especialmente das semipreciosas como os cristais-de-rocha, as pedras da lua e os quartzos”. Esta mulher desafia todas as convenções artísticas e sociais para ser ela própria, uma artista criadora. E nesta criação, tudo é inovação, desde os materiais às formas e aos tamanhos, porque também estes últimos não são convencionais e rompe a tradição: “desde que a peça seja estudada para ser ergonómica não há que ficar preso ao eterno chavão de que as pessoas pequenas não podem usar peças grandes. Nunca fui de usar jóias pequenas, detesto miniaturas”. Em síntese, esta artista nunca ficou presa a modas nem a criar para agradar ou para comercializar a todo o custo. Resistiu a concessões à moda porque sempre achou que a jóia era intemporal. Por isso, desafiou o seu tempo, criando novas formas e deixando a sua marca.

A Exposição no Museu do Design e da Moda (MUDE)

Kukas sempre gostou de mostrar a sua arte como forma de comunicar com os outros, na sua maneira afável e atenta a todos os pormenores do mundo à sua volta e das pessoas no seu mundo. Privilegiou sempre as exposições, sendo de destacar as da Bienal de Arte de São Paulo e do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, no Brasil, ambas em 1977, e na Europália em 1991. A última foi no Museu do Design e da Moda (MUDE), de 14 de Outubro de 2011 a 19 de Fevereiro de 2012, com uma mostra que reuniu peças suas e de colecções de 76 coleccionadores. Foi uma oportunidade única para conhecer em profundidade o trabalho de uma artista ímpar no panorama nacional.

A exposição intitulou-se KUKAS. Uma nuvem que desaba em chuva e reuniu 171 peças – maioritariamente jóias, incluindo também pequenos objectos, como por exemplo jarras, todos desenhados entre 1960 e 2010. Foram os anos sessenta e setenta que marcaram o corte epistemológico com a concepção tradicional de joalharia e levaram Kukas a protagonizar em Portugal esta arte, fazendo com que as suas peças, espalhadas por muitos coleccionadores, não tenham passado despercebidas.

Nesta exposição estiveram presentes jóias de muitas tipologias: brincos e anéis, alfinetes, colares ou gargantilhas, botões de punho, pulseiras, caixas, jarras e floreiras. Esta variedade revela a versatilidade de Kukas e a grande imaginação criadora aplicada à joalharia. A sua arte é ampla e combina diferentes tipos de peças também em tempos e espaços diferentes, o que demonstra a riqueza e qualidade do seu trabalho. Nesta exposição, como pode ver-se pela observação do catálogo que a registou para a história, Kukas estabelece relações entre diferentes tipos de peças, de diferentes épocas até à actualidade, conseguindo dialogar com peças diferentes, mas todas expressão de uma beleza ornamental que as concilia sublinhando as suas afinidades. Kukas teve a grande habilidade de conjugar as diferentes linguagens e idiossincrasias das épocas da sua vida, estabelecendo relações e conseguindo uma harmonia ao longo de todo o seu percurso. Esta unidade na diversidade artística é o resultado da conjugação de uma expressividade extraída de linguagens diferentes, com formas geométricas distintas.

O espaço expositivo organizado por Mariano Piçarro resultou numa feliz conjugação de peças diferentes ao longo da história desta artista, que merecerá o reconhecimento de diferentes gerações. Aqui foi mostrado um espólio de uma vida, um tesouro partilhado com os outros, um tesouro que precisa de ser bem guardado porque, como bem afirma António Alçada Baptista, “as jóias da Kukas são como o sol, o vento, a força das marés e os adormecidos fulgores da alma humana, fazem parte daquelas pequenas fontes de energia alternativa da qual – dizem- depende, para já, a nossa sobrevivência e, por isso, o futuro do universo”. Maria Helena Vieira da Silva também dizia que olhava todos os dias para o seu anel feito por Kukas, mesmo quando, aos 80 anos, já não o podia usar por deformação das mãos. Uma prova bem fundada de que esta exposição foi feita de peças vivas e que continuam a ter vida nas mãos dos coleccionadores.

Das Jóias do novo-riquismo a um Design das jóias

 Kukas assumiu sempre o corte epistemológico com a concepção tradicional da joalharia portuguesa que é visível na escolha dos materiais e das formas. Cristina Filipe, a curadora, artista e directora do departamento de joalharia da Arco, que Kukas apelidou de sua “Poirot”, reconhece a joalharia quase arqueológica de Kukas, feita de seixos e fósseis: “este era o modo de Kukas se libertar de todos os clichés da época”. Conversando com Kukas, confirmamos este desejo de se libertar de toda a superficialidade, pois, como ela própria afirma “a joalharia estava numa onda de novo-riquismo, era o casaco de vison e o colar de pérolas. A ideia de imitação e a da aparente riqueza, com muitas pedras de todas as cores mas com ausência total de design”. Cristina Filipe, responsável por toda a investigação histórica que acompanhou a exposição, não hesita em salientar o pioneirismo de Kukas no Design das Jóias: “as formas que encontrava para traduzir as ideias que a assolavam compulsivamente eram o resultado de uma depuração formal, de um rigor e atenção muito próprios das preocupações base do design desde o início da sua carreira”. A expressão Design era um termo pouco usado e conhecido na primeira metade do século XX, como reconhece Kukas: “quem falava em Design na época era o Sena da Silva, o António Garcia, o Daciano Costa e mais meia dúzia de pessoas ligadas à arte e à arquitectura”. Esta pioneira quis romper com o estabelecido, como confessa a brincar, para se situar na contemporaneidade. Kukas quer fazer jóias do seu tempo e para as pessoas do seu tempo. Muito influenciada pelos nórdicos, cujo trabalho e estímulo encontrou em Paris, quis rasgar convencionalismos e inventar formas novas com materiais, também eles, diferentes da tradição. Também ela se pretende livre de todas as escravidões, até do tempo: “o horário é uma escravidão. Quando estamos à beira de uma descoberta, corta para a hora de almoço e perde-se a dinâmica daquele tempo. É como o pôr-do-sol, daí a um bocadinho já lá não está”. É preciso ser livre de todas as amarras para criar e viver.

Kukas lembra-se de muitos coleccionadores das suas jóias, que não quer citar para não privilegiar uns em detrimento de outros, pessoas com quem faz a sua própria história: “encontro histórias minhas porque as situo numa época da minha vida. Podemos estar mais ligados afectivamente às pessoas para quem as fazemos”. É neste mundo de afectos que as jóias criadas por Kukas acabam por representar um tempo e uma história para a artista, mas também para os coleccionadores: “há pessoas que me diziam que as minhas peças eram elementos desinibidores em ambientes em que estavam menos à vontade ou algo hostis, porque se desencadeava sempre uma conversa a propósito delas”. A escola desta artista é uma escola de valores diferentes, porque sempre valorizou os materiais pela componente artística e não pelo valor fiduciário: “não desprezo o valor material, gosto imenso de platina, por exemplo, de ouro branco, mas nunca fiz concessões e optei sempre pelo valor artístico. Sou a antigestora de mim própria”. Foi a primeira artista a expressar-se plasticamente através de jóias. Kukas teve sempre presente a ideia de joalharia de autor porque todas as peças tinham um cunho de individualidade que lhes desse um reconhecimento, uma alma própria, um cunho de criatividade que as identificasse num mundo globalizado, para a autora um mundo desumanizado.

Embora tenha reeducado o uso e o olhar sobre a joalharia e criado uma legião de coleccionadores das suas jóias, num culto que tem passado ao longo de gerações, Kukas não fez escola. Só em 1978 abriu o primeiro curso de joalharia em Portugal, na Arco. Kukas acabaria por reeducar o olhar dos ourives que lhe realizam as peças, como atesta Cristina Filipe. Encontrou um caminho original no mundo estanque do Design dos anos 50 e 60, em Portugal, como a própria reconhece: “mais tarde, o termo vulgarizou-se, mas as pessoas não sabiam sequer o que isso significava. Para mim, o Design é o estético aliado ao funcional; são indissociáveis”.

Peças que continuam a nascer da imaginação criadora de Kukas que não deixa de criar e também de sonhar. Como a própria admite, resta-lhe um sonho: “o meu ideal agora era encontrar um mecenas que me financiasse uma exposição de homenagem à pintura e à arquitectura, as artes que mais admiro. São aquelas que me causam a maior da emoção estética”. Entretanto, continua a fazer peças por encomenda a partir da sua casa junto ao Castelo de São Jorge. Também visita a gaveta onde tem as suas pedras - os cristais e o quartzo-, cuja transparência sempre apreciou. E a ver o Tejo, vai pensando e criando maquetas de coisas, mesmo que não saiam da sua imaginação. Viver é Criar. Criar é Viver.

A olhar o mundo com olhos de ver

Esta pioneira continua cheia de jovialidade, apesar dos 88 anos que só o arquivo de identificação consegue atestar. Ao fim de mais de 50 anos de carreira, Kukas continua “habitada por formas”. A sua aparência engana-nos e parece mais jovem, porque a sua alma não deixou que as marcas do tempo lhe retirassem imaginação criativa que torna o seu espírito de uma leveza tão grande como as formas das suas jóias. Como ela própria confessa “senti-me sempre seduzida e atenta às formas, descobrindo-lhes o sentido criativo e lúdico, num exercício de poder de síntese. Encontrar harmonia, sem recorrer a excessos, tanto na palavra, no som ou no traço, é coisa que muito admiro. Tentei sempre esta ética/estética no meu trabalho, em que privilegio a fase mais depurada, mais geométrica, mais linear. Trabalhei sempre em independência e liberdade e assim me manterei até ao fim do caminho”. Após mais de 50 anos de trabalho, com duas lojas próprias, a artista tem dificuldade em escolher as suas jóias favoritas. Com um sorriso meigo, lembra-se do colar da nuvem que desaba em chuva e que acabaria por dar nome à exposição, onde se sente a grandeza da imagem criadora da autora e a poesia dos gestos e formas do quotidiano. Kukas foi sempre gratificada pelos afectos, porque sempre existiu uma ligação entre a jóia e quem a usa, e lembra uma expressão de Madalena Cabral em resposta à pergunta: “continuas a usar e a gostar do teu anel? Eu? Eu durmo com ele!”.