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Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

versión impresa ISSN 0874-6885

Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher  no.34 Lisboa  2015

 

ENTREVISTAS

Margaret Mussoi Luchetta Groff

 

 

Maria José Remédios e Natividade Monteiro

A Margaret é uma defensora da igualdade e da paridade e liderou na Itaipu o programa de Equidade de Género, levando a empresa a destacar­‑se internacionalmente pelas oportunidades concedidas às mulheres no acesso aos lugares de topo. Fale­‑nos do projecto que implementou e que trouxe grandes mudanças às mulheres que ali trabalham.

 

A Itaipu é uma empresa binacional que pertence ao Brasil e Paraguai e que abastece 17% de energia elétrica consumida no Brasil. É uma empresa que, por sua natureza, tem mais homens, engenheiros em todas as áreas, já que é uma grande usina hidroelétrica. É uma empresa mais masculina e, consequentemente, mais machista. Eu sou empregada de carreira na Itaipu e vivi todas essas fases da empresa, desde a sua construção até a completa operação da usina e tivemos muitas dificuldades – como mulher – de ascender aos cargos do topo de carreira.

Em 2003, iniciámos um programa de equidade de gênero na Itaipu. A empresa foi uma das protagonistas nesse assunto no Brasil.

Em 2005, foi implantado um comitê de equidade de gêneros na empresa e consolidada a forma de inserir o tema na gestão, inclusive, no plano estratégico e nos programas da Entidade. Também neste mesmo ano, a Itaipu passou a participar do programa do Selo de Pró­‑Equidade de Gênero e raça do governo brasileiro, liderado pela Secretaria de Politica para Mulheres do Brasil, participando das cinco edições do Selo Pro­‑Equidade de Gênero e Raça.

Em 2010, ao conhecer a plataforma dos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs, sigla em inglês para Women´s Empowering Principles), a empresa foi uma das primeiras a contribuir para a sua divulgação no Brasil.

Em 2011, a Itaipu foi uma das pioneiras na implantação da Política de Equidade de Gênero, aprovada pelos Conselhos de Administração e Diretorias Executivas da hidroelétrica dos dois países (Brasil e Paraguai). Em sete anos do programa, a Itaipu dobrou o número de mulheres em cargos de liderança e já virou um caso de sucesso no Brasil, saímos de 10% para 20%.

Nosso programa de equidade de gênero, que já tem 12 anos, atua em três perspectivas: corporativa, comunidade e institucional. Nos últimos 10 anos, a Itaipu Binacional tem realizado investimentos significativos para a inclusão das mulheres como protagonistas da economia local e, mais recentemente, incentivando a inclusão das mulheres no desenvolvimento da tecnologia, pesquisa e inovação. Também continuamos a fortalecer as relações institucionais com o governo e o setor privado no sentido de avançar na equidade de gênero no Brasil e trabalhar com instituições internacionais que promovem o desenvolvimento sustentável, principalmente as Nações Unidas.

 

O seu empenho em prol da cultura da igualdade de género no ambiente de trabalho foi reconhecido com o galardão “Negócios pela Paz”, atribuído pelo Comité dos Prémios Nobel da Paz e da Economia. Que significado confere a este prémio para si própria e para o Brasil?

Em 2013, tive a honra de ser reconhecida pelo Oslo Business for Peace Award 2013, como líder no desenvolvimento de ações de equidade de gênero no âmbito corporativo. Esse reconhecimento fez com que eu me comprometesse ainda mais com a causa me tornando uma das grandes entusiastas pelo tema.

O prêmio concedido pelo Comitê de vencedores do Prêmio Nobel da Paz e de Economia foi um reconhecimento a minha liderança em açōes de equidade de gênero, não só na Itaipu mas principalmente com instituições e grupos em que atuo. Participo também do grupo de lideranças nos WEPs da ONU Mulher e Pacto Global das Nações Unidas, plataforma para as empresas desenvolverem ações de incentivo do empoderamento das mulheres. Também participo como fundadora e conselheira do Espaço das Mulheres Executivas do Paraná, MEX­‑PR, que tem o objetivo de fortalecer as relações empresarias e desenvolver ações de empoderamento das mulheres.

É muito gratificante saber que fui a primeira brasileira a receber esse prêmio e a primeira mulher na América Latina. Portanto, significa muito para mim e para a minha empresa, Itaipu Binacional, e também para o Brasil. Ao mesmo tempo, aumentou o meu compromisso e me motivou a continuar com mais responsabilidade, desenvolvendo ações que promovam o crescimento sustentável dos negócios, inserindo e promovendo as mulheres para a inclusão social e empoderando as mulheres no ambiente corporativo.

 

A Margaret empenhou­‑se na criação do Prémio WEPs (Women's Empowerment Principles) Brasil que visa o empoderamento das mulheres e reconhece as empresas com melhores práticas na equidade de género. Fale­‑nos das razões que sustentaram esta ideia e do grau de envolvimento da Itaipu e empresas associadas a este galardão, com a chancela da ONU Mulheres e do Pacto Global?

Ao longo do tempo, no desenvolvimento de ações de equidade de gênero, fui tendo a convicção que as empresas podem ser realmente um grande veiculo para promover a equidade. Que as empresas devem se preocupar com a equidade de gênero – valorizar a diversidade é ter mais qualidade e melhores resultados.

Na nossa avaliação, foi muito produtiva a realização do Prêmio WEPs Brasil 2014, porque conseguimos sensibilizar diretamente um número relevante de empresas, 186, que participaram do processo de auto avaliação; empresas de todos os tamanho (pequenas, médias e grandes), e das diversas regiões do Brasil. Temos acompanhado as empresas vencedoras do prêmio e muitas tem implementado ou melhorado suas ações voltadas para a equidade de gênero, bem como têm feito a adesão aos princípios dos WEPs.

Atualmente, estamos processando a edição do Prêmio WEPs Brasil 2016, cuja premiação ocorrerá em março daquele ano.

 

O acesso das mulheres aos cargos mais elevados nas empresas é uma preocupação transversal a muitos países. Em Portugal, a secretária de Estado da Igualdade desafiou as empresas cotadas na Bolsa a aderir a práticas de maior equidade. A Margaret pensa incentivar, também, os parceiros portugueses da Itaipu a instituir um prémio idêntico ao que idealizou para o Brasil?

O Prêmio WEPs Brasil incentiva as empresas a participar e incentivar seus fornecedores a participar também. O site http://www.premiowepsbrasil.org tem todas as informações para as empresas sobre o tema e também um road map que possibilita a outros países implementar o prêmio.

 

As previsões apontam para daqui a 80 anos a concretização da verdadeira equidade de género. Em sua opinião, que iniciativas e medidas poderão acelerar o processo?

Faz­‑se necessário uma mudança de cultura.

É importante destacar que o crescimento e o poder das empresas estão nas mãos dos homens, assim como o poder da família está na mão das mulheres, todos nós fomos criados nesta cultura. Hoje, a realidade é outra, as mulheres precisam estar no mercado de trabalho, elas também exercem o papel de provedoras da família e, portanto, devem ter a oportunidade de participar das decisões.

Se precisamos empoderar as mulheres para chegarmos ao desenvolvimento sustentável, temos que mudar o comportamento das pessoas, isto é mudança de cultura. Eu tenho a convicção que as empresas têm um importante papel nesta mudança e devem implementar ações concretas contribuir com estas mudanças.

Se tivermos uma participação de mulheres mais expressiva em cargos de liderança certamente mudaremos essa realidade.

Na minha opinião, de imediato, faz­‑se necessária uma reflexão consistente para encontrar alternativas e agilizar o processo, não devemos esperar 50 anos. Por exemplo, ao colocarmos em discussão a possibilidade de cotas para as empresas, já passaremos a acelerar essa reflexão. Minha posição não é favorável a cotas, mas se precisar, porque não?

 

A sensibilidade para as questões de género e a determinação em lutar contra os “tectos de vidro” que impedem as mulheres de aceder aos cargos com poderes de decisão foram adquiridos no ambiente familiar ou devem­‑se a experiências de vida?

Isto faz parte da nossa história, da nossa educação. Como a maioria dos altos cargos nas empresas são exercidos pelos homens, sempre é mais fácil para eles escolher um homem, que está mais próximo deles, para ser chefe do que ir prospectar uma mulher para a chefia. Também faz­‑se necessário que as mulheres mostrem mais suas competências no ambiente de trabalho para que elas possam ser vistas e escolhidas. E que as mulheres que estão no poder também valorizem e promovam outras mulheres.

 

A tecnologia e as preocupações ambientais também combinam com a igualdade de género. Fale­‑nos dos projectos que está a desenvolver com os parceiros portugueses na área da mobilidade eléctrica.

Itaipu Binacional e Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel (CEIIA), com sede em Portugal, formaram uma parceria para desenvolver novas soluções para a mobilidade eléctrica com base em fontes renováveis. O programa, chamado MOB­‑I, também tem nas suas ações avançar a participação feminina no desenvolvimento de tecnologias amigas do ambiente. Desde o início, o projeto busca manter 50% de mulheres nos cargos de liderança e incentivou os fornecedores para incorporar ações de empoderamento das mulheres em suas operações. A parceria MOB­‑I promove estágios e oportunidades de aprendizagem, incentivando as mulheres jovens em escolas secundárias e universidades locais para serem desenvolvedoras e atoras na tecnologia e inovaçao.

 

Que palavras gostaria de dirigir às mulheres portuguesas, empenhadas na igualdade de direitos e oportunidades no acesso aos poderes de decisão política, económica e financeira, de forma a construir sociedades mais justas e mais preocupadas com o futuro das pessoas e do planeta.

O empoderamento das mulheres é fundamental para alcançarmos o desenvolvimento sustentável, tanto que está presente em todos os objetivos do desenvolvimento sustentável, em aprovação pelos chefes de Estado nas Nações Unidas. É nosso entendimento que o equilíbrio de gênero somente acontecerá com fortes investimentos em projetos bem estruturados e qualificados, que executem a real inclusão econômica e social das mulheres, com gestão transparente e monitorada por indicadores.

Destaco para as mulheres em Portugal, que são líderes nesta temática, que depende muito mais de nós mulheres esta mudança, portanto, devemos buscar ocupar cargos de liderança e ajudar a empoderar outras mulheres. E também já sabemos que é fundamental inserir os homens para evoluir na equidade de gênero, pois um mundo mais equilibrado é melhor para mulheres e homens. Convoco todos os homens de Portugal a aderir ao movimentoHe for She e a se engajar nesta causa, acessando o site http://www.heforshe.org .

A mobilização das mulheres, a busca da superação e a persistência no desenvolvimento de ações é que possibilitará alcançar a meta da ONU Mulheres de um planeta 50 50 em 2030.