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Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

versão impressa ISSN 0874-6885

Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher  no.34 Lisboa  2015

 

DIÁLOGOS

Mulheres e Maçonaria

Fátima Pires e Mery Ruah

 

Comecemos por nos apresentar..

Fátima Pires

Sou presidente do Conselho Nacional da Federação Portuguesa da Ordem Maçónica Mista Internacional “LE DROIT HUMAIN” – O Direito Humano – ou seja, pertenço a uma Ordem Maçónica Mista Internacional, a qual afirma a igualdade do Homem e da Mulher.

De acordo com os Regulamentos pelos quais nos regemos, ao proclamar “LE DROIT HUMAIN”, a Ordem pretende que as Mulheres e os Homens venham a beneficiar em toda a terra, de forma igual, da justiça social numa humanidade organizada em sociedades livres e fraternas.

Composta de franco­‑maçons, homens e mulheres fraternalmente unidos, sem distinção de ordem racial, étnica, filosófica ou religiosa, a Ordem impõe a si própria, para alcançar este objectivo, um método ritual e simbólico graças ao qual os seus membros edificam o seu Templo à perfeição e à glória da Humanidade.

Respeitando a laicidade, todas as crenças referentes à eternidade ou à não eternidade da vida espiritual, os seus membros procuram, antes de mais, realizar na terra, e para todos os seres humanos, o máximo de desenvolvimento moral, intelectual e espiritual, condição primeira da felicidade que é possível cada indivíduo alcançar numa Humanidade organizada fraternalmente.

 

Mery Ruah

Grã­‑mestra da Grande Loja Feminina de Portugal (GLFP) desde Setembro 2012, termino o meu mandato após as próximas eleições do dia 19 de setembro de 2015.

A GLFP, potência Maçónica Simbólica, soberana, independente, praticando o Rito Escocês Antigo e Aceito, é uma Federação de Lojas autónomas que trabalham em qualquer dos Ritos reconhecidos pela Obediência.

Liberdade, Igualdade e Fraternidade é a sua divisa, pelo que rejeita qualquer ato de discriminação, ódio ou violência contra quem quer que seja, indivíduo ou grupo de indivíduos, a pretexto da sua origem, etnia, religião ou qualquer outro argumento. Todavia, e sempre que os princípios de Liberdade, de Tolerância, de Laicidade, de Respeito pelos outros e por si próprio forem ultrajados ou a República for ameaçada, a GLFP deve assumir publicamente a palavra na defesa dos valores humanistas que regem a Maçonaria.

Na sua Declaração de Princípios, está expressa a sua fidelidade às leis do país e à não intervenção em nenhuma controvérsia respeitante a questões políticas ou confessionais.

 

O projecto maçónico e as mulheres (contributo para a sua realização)

Fátima Pires

A Maçonaria é uma Ordem Universal e, pese embora o dever de respeitar a liberdade de cada um poder optar por uma Ordem Maçónica só feminina ou só masculina, por ser precisamente Universal, no meu entender, deve ser constituída por Homens e Mulheres livres e de bons costumes.

Sendo a Maçonaria formada por um conjunto de pessoas de bons costumes, idóneas e preocupadas com o bem da humanidade em geral, as mulheres não só fazem parte como são um contributo válido, para que o leque de assuntos e trabalhos seja mais alargado, cumprindo a sua função de um dos pólos da humanidade.

Os homens e as mulheres estão cada vez mais a par e passo e ambos possuem, ao mesmo nível, os conhecimentos necessários para fazer a sociedade progredir.

Verifica­‑se que um novo ciclo se deu: aquele que equiparou as mulheres aos homens para serem mais do que isso, para se assumirem neste momento histórico, como Seres Humanos, iguais em direitos, em deveres, em interesses e em responsabilidades na sociedade.


Mery Ruah

A Grande Loja Feminina de Portugal é fiel à Tradição Maçónica no estrito respeito e cumprimento do Ritual e no estudo do Simbolismo. Todas nos consideramos Irmãs, a fraternidade não nasce das afinidades mas sim do facto de cada homem ou cada mulher, seja qual for a sua origem, religião, sexualidade, ser nosso Irmão ou nossa Irmã na Humanidade. Este clima de confiança permite construir uma igualdade que não depende nem do sucesso social nem do berço, mas sim deste compromisso livremente assumido.

A Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, valores tão caros à Maçonaria Universal, têm vindo a perder o seu significado no mundo que nos rodeia, pelo que a Grande Loja Feminina de Portugal trabalha nas suas Lojas e fora delas para que estes princípios de ética e liberdade se mantenham vivos neste século XXI. Cabe à Maçonaria, cadinho das Liberdades e dos Princípios Éticos, sair em defesa dos Direitos Humanos e demonstrar que as teorias anti maçónicas, tão em voga nos tempos atuais, não têm qualquer fundamento.

 

Separação das mulheres dos homens na Maçonaria. O porquê do não e o porquê do sim.

Fátima Pires

No meu entender, como já referi, não deve haver a separação das mulheres dos homens na Maçonaria, embora respeite a liberdade de cada ser humano na sua escolha.

A Maçonaria Mista é a mais próxima à Maçonaria Universal, pois, sendo formada por homens e mulheres, que trabalham em conjunto, pelo que a considero assim, mais justa, mais perfeita e mais equilibrada.

Os homens e as mulheres têm características diferentes, é certo, mas que se completam e se complementam ainda melhor se caminharem, lado a lado, pensando, e, construindo novos rumos.

A Maçonaria Mista é aquela que cumpre o verdadeiro princípio maçó­nico da Igualdade.

Por isso, ressalvados o direito e a liberdade de escolha de cada um, para mim, nos dias de hoje, uma divisão entre homens e mulheres na Maçonaria não faz sentido. Quero com isto dizer que nos devemos unir e, de forma mista, contribuirmos todos para o bem­‑estar social, para uma maior igualdade e uma maior fraternidade.


Mery Ruah

A Grande Loja Feminina de Portugal, criada por mulheres para mulheres, está atenta e vigilante quanto à sua evolução e destino. As mulheres maçonas são mulheres como as outras, sem qualquer elitismo. São mulheres inseridas na sociedade, vindas de toda a origem cultural, sem idade determinada, solteiras, casadas, mães, estudantes, profissionalmente ativas ou reformadas, mas que possuem em comum um olhar mais consciente sobre elas mesmas e sobre o mundo, além de uma vontade de participar na organização social ou política da Cidade ou do Estado.

No fundo, todas as mulheres maçonas aspiram a ser mulheres livres. Libertas de preconceitos e de influências lutam pela dignidade do ser humano, pela laicidade, pela igualdade de direitos na família e na saúde, nas oportunidades de trabalho, nas retribuições salariais.

Considerando o momento atual em que vivemos, marcado pelo receio, pela exclusão e fragilidade, a Mulher, ser resiliente, deve unir­‑se para que não haja regressão no caminho que muitas mulheres antes de nós encetaram. As Lojas femininas são pois um local privilegiado para as mulheres poderem desenvolver as suas ideias, exprimir a sua palavra de mulher, tentando chegar ao limite da sua exigência ética, porque uma maçona é uma mulher normal, só que muito mais exigente.

Temos plena consciência que o homem é o outro polo da humanidade, sabemos quão enriquecedor é trabalhar em Templo com Irmãos de outras Obediências, mas o Homem e a Mulher são seres distintos e como tal, sentem, pensam e vivenciam de forma diversa o que lhes é dado a experimentar, na especificidade da riqueza de cada um dos seus géneros.