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Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

versión impresa ISSN 0874-6885

Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher  no.34 Lisboa  2015

 

ESTUDOS

Assia Djebar (1936­‑2015). Uma voz insubmissa da Argélia

Eva–Maria von Kemnitz1

Coordenadora do projecto Dicionário dos Orientalistas de Língua Portuguesa


RESUMO

Assia Djebar, falecida no corrente ano uma das mais conceituadas escritoras argelinas magrebinas e francófonas é praticamente desconhecida em Portugal exceptuando uma única tradução para português: Uma Mulher sem Sepultura (2008) que todavia não pode aspirar para representar, nem caracterizar uma carreira literária de 50 anos. A sua multifacetada obra, em parte autobiográfica centra­‑se na mulher argelina e é através dela, dos seus silêncios e da tradição oral de que foi guardiã, que a Escritora reescreve a história do seu país, tanto no passado como no presente revelando a profunda consciência identitária.

Palavras­‑chave: literatura argelina e magrebina; francofonia; mulher arge­lina; tradição oral; identidade.

 

RÉSUMÉ

Assia Djebar, Algérienne, décédée en 2015, considérée comme la plus grande romancière du Maghreb est presque inconnue au Portugal où seulement un de ses ouvrages La Femme sans Sépulture, fut traduit en 2008, mais qui ne peut pas caractériser une carrière littéraire de 50 ans. Son écriture, partiellement autobiographique, centré sur la femme algérienne, fait découvrir une autre histoire de l'Algérie ancienne et actuelle, racontée à travers les silences et la tradition orale, apanage des femmes, en révélant la conscience de l'identité nationale.

Mots­‑clefs: littérature algérienne et maghrébine; francophonie; femme al­gérienne; tradition orale; identité.

 

Vida e obra de Assia Djebar

A apresentação da vida e da obra de Assia Djebar, de verdadeiro nome Fatima Zohra Imalayen2 é indissociável das várias fases da história do seu país, desde a tardia época colonial, uma violenta guerra da inde­pendência (1954­‑1962), os anos da (re)construção da identidade nacional, os “anos de chumbo” do terror islamista (1991­‑2000) e a fase seguinte de formação de novas realidades políticas e sócio­‑culturais.

Foi uma escritora prolífica, tendo enveredado por vários géneros literários, desde o jornalismo, a novela, o conto e o romance. Foi também cineasta, tendo obtido notoriedade em todas essas áreas. Além disso, exerceu docência em várias universidades.

O enfoque recorrente da sua escrita recai sobre a mulher argelina e é através dela que Assia Djebar conta a história, passada e presente, da sociedade argelina, marcada pelos séculos de violência, opressão, espo­liação e humiliação desde o início da invasão e ocupação francesas até à reconquista da independência (1830­‑1962) e, que no período seguinte não poupou o país de novas provações. É considerada uma porta­‑voz da causa feminina, opondo­‑se a todas as formas de opressão, quer origina­das pelo colonialismo, quer pelo modelo patriarcal da sociedade em que as mulheres, pela reclusão que lhes é imposta, não têm voz, nem visibili­dade.

Em função das suas origens absorveu influências da cultura berbere e árabe e através dos seus estudos ficou impregnada também da língua e cultura francesas, o que confere às suas obras uma amplitude e riqueza incomparáveis.

Por opção, expressou­‑se em Francês, um traço específico da sua escrita, aliás apanágio de vários escritores da sua geração. A língua do coloni­zador tornada "um botim de guerra" como lhe chamou um outro escritor argelino, Kateb Yacine. A questão de língua, ligada à questão de identi­dade perpassa, praticamente, todas as suas obras.

Esta dualidade cultural marca a sua obra literária permitindo que o olhar sobre a Argélia seja filtrado e, de certo modo, moldado pela língua que emprega na sua escrita, concedendo­‑lhe uma maior liberdade de expressão.

Gradualmente, ao longo dos 50 da sua carreira, a obra de Assia Djebar foi­‑se impondo nos meios literários, ganhando reconhecimento internacional, traduzido pela atribuição de vários prestigiosos prémios tais como The Neustadt International Prize for Literature (1996), referido frequente­mente como um "Nobel de Literatura americano", e, no ano seguinte, do Prémio Margarite Yourcenar. Em 2005, foi eleita membro da Académie Française, sendo a primeira escritora de todo o Magrebe distinguida com essa honra. Em 2010, o seu nome foi apresentado como candidata ao Prémio Nobel de Literatura, mas não chegou a ser seleccionada.

Através de numerosas traduções, em mais de 20 línguas, as suas obras tornaram­‑se conhecidas noutros contextos linguísticos e culturais. Em Portugal, apenas um dos seus romances foi traduzido, A Mulher sem Sepultura (2008)3, não tendo beneficiado a Autora do "efeito Prémio Nobel" como aconteceu com o escritor egípcio Naguib Mahfuz ou o turco Orhan Pamuk, cujas obras na quase totalidade foram traduzidas. No Brasil, a Autora é conhecida apenas, que saibamos, através da tradução do seu primeiro romance La Soif4.

 

Percurso pessoal e profissional

Recorrendo, em primeira instância, ao seu percurso pessoal e profis­sional, poderemos melhor compreender e perspectivar a sua obra, em muitos momentos autobiográfica, em que o "eu" individual é alargado ao "eu" colectivo. Nos seus textos está patente o desafio de como conciliar duas tradições culturais diferentes, uma centrada na oralidade e a outra, na escrita. Desta dualidade e subjacente conflitualidade ou contradição, a Escritora constrói suas referências identitárias que transpõe para a narra­tiva histórica e, simultaneamente, ficcionada sobre o seu país e a sua so­ciedade.

Oriunda de um meio tradicional, todavia, por decisão do seu próprio pai, professor numa escola francesa, Fatima Zohra vai frequentar uma escola francesa a nível primário e liceal, completando a sua educação numa escola corânica. Em 1955, é admitida na Ecole Supérieure Normale de Sèvres, onde inicia os estudos universitários. O seu percurso académico é perturbado pela deflagração da guerra da independência em finais de 1954, que faz com que, ao se solidarizar com a greve dos estudantes ar­gelinos em França, em 1956, tome a decisão de não se apresentar aos exames. É nessa fase que escreve os seus primeiros romances: La Soif (1957) e, no ano seguinte, Les Impatients.

Em 1958, já casada, segue caminho do exílio, para a Tunísia. Foi aí que pôde completar os estudos superiores, obtendo o diploma em História. Nessa época, trabalhou também como jornalista para o jornal argelino El Moujahid, órgão da Frente Nacional de Libertação. Os anos 1959­‑1962, passou­‑os em Rabat, ensinando História na universidade local. Com a independência do seu país, em 1962, regressa a Argel, onde se torna a primeira mulher a exercer docência na Universidade de Argel.

A Argélia vive, então, um tempo de euforia, de muitas expectativas e de um trabalho de toda a nação em prol do seu país, finalmente, inde­pendente. Um dos aspectos marcantes dessa fase é a profunda transformação da sociedade, inclusive no sector da cultura, com a crescente arabização e islamização, em particular, a partir dos anos 70. Nessa perspectiva, segue a pedagogia do movimento reformista de Ben Badis (1889­‑1940), assente no paradigma de que "Argélia é o meu país, o Islão a minha religião e o Árabe é a minha língua" . Nesse contexto, Assia Djebar interroga­‑se sobre a pertinência de continuar a escrever em Francês. Nos anos 1966­‑1974, vive em Paris, dedicando­‑se quase exclusivamente à vida familiar. Regressa a Argel em 1974, mas é forçada a abandonar o ensino da História por esta cadeira ter passado, entretanto, a ser ministrada exclusivamente em Árabe e a Escritora passa a leccionar a literatura francesa e semiologia do cinema no departamento francófono da Universidade de Argel. Procura encontrar no cinema uma alternativa para se exprimir de forma que as suas competências deficientes no Árabe literário não constituam entrave. Estreia­‑se como cineasta com as seguintes obras: La Nouba des femmes du Mont Chenoua (1977) e La Zerda ou les chants de l'oubli (1979).

Após esta incursão no terreno da sétima arte, decide­‑se pela escrita como sua principal actividade e opta, consciente e definitivamente, pelo uso da língua francesa que lhe permite dizer coisas que por pudor ou respeito à tradição nunca diria em Árabe e, simultaneamente usando a "língua do outro" poderá lançar livremente um olhar crítico de um observador de fora e, ao mesmo tempo, do interior da sociedade que descreve e analisa. Como a própria declarou numa entrevista: " Considero que desde 1980 (demorei, como podem ver) sou escritora de língua francesa, reconciliada comigo mesma e assumindo a inevitável dicotomia que consiste em viver numa língua, em estar imersa da língua das mães – a língua de origem, a língua materna – e, no entanto, em escrever na língua do outro" (Cahiers d'études maghrébines, 1990: p. 75).

Em 1981, casa pela segunda vez, com um poeta argelino e estabelece, de novo, residência em Paris.

Inicia também uma nova fase intensa da escrita com uma novela Les Femmes d'Alger dans leur Appartement (1980), seguido do romance ficcionado de cariz autobiográfico: L'Amour, la fantasia (1985), que abrem uma sequência de escrita continuada.

Em 1995, Assia Djebar é nomeada Directora do Centre for French and Francophone Studies na Louisiana State University, cargo que ocupou até 2001, passando, na altura, para New York University, na qual, em 2002, obteve a posição de Silver Chair Professor of French and Francophone Studies. Assume­‑se, então, como nómada intelectual, partilhando a sua vida entre Paris e os Estados Unidos.

Obteve doutoramento em literatura pela Université Paul Valéry / Montpellier III, em 1999. Obteve ainda doutoramentos honoris causa pelas Universidades de Concordia em Montreal e pela de Viena d'Áustria. Foi membro da Académie Royale de Langue et et de Littérature Françaises de Bélgique.

Faleceu em Paris, porém os seus restos mortais, conforme o seu desejo, repousam em Cherchel, sua cidade natal.

 

Análise da obra de Assia Djebar

Neste panorama da sua trajectória, procederemos à analise da sua multifacetada obra, o que permitirá melhor captar a mensagem que a Escritora quis transmitir e, em seguida, avaliar a sua relevância no contexto argelino e também no mais alargado à região do Magrebe.

Ao escrever o seu primeiro romance, La Soif (1957), a Escritora adopta um pseudónimo, Assia Djebar, com o intuito de não criar embaraço à Família. A sua escolha era "Djebbar", um dos atributos de Deus que significa intransigente. Por lapso, escreveu "Djebar", que tem significado algo diferente, designando "a que cura" . O nome próprio adoptado, Assia, designa uma flor e pode significar também "a que consola" .

No primeiro romance, La Soif, e no seguinte, Les Impatients (1958), escritos na efervescência dos seus 20 anos, a Escritora aborda problemas existenciais de duas jovens argelinas insatisfeitas, que contestam os valores tradicionais, procurando emancipação ao se lançarem em fúteis aventuras amorosas. Bem aceites pela crítica francesa, comparando­‑a com Françoise Sagan, o que permitiu uma estreia editorial com sucesso, não tiveram a mesma aceitação no seu país de origem, antes pelo contrário, foram duramente criticadas. Teremos, contudo, que ter presente seu carácter "revolucionário" no sentido de expor a intimidade, falar abertamente dos sentimentos e dos desejos. Numa entrevista, mais tarde, a Escritora comentou:

 

Venho de um meio puritano e na vida quotidiana continuo a me comportar pelas normas desse meio. Nos meus livros, custa­‑me falar de amor. No entanto me parece importante fazê­‑lo, não à maneira provocante do erotismo moderno mas sem falso pudor. Se meu marido não me tivesse encorajado para abordar essa questão nas minhas obras, creio que nunca o teria conseguido.5

 

A experiência de exílio vivida pela Escritora, em Tunis, onde, no contexto da guerra da independência da Argélia, teve ocasião de se inteirar dos problemas da imigração argelina naquele país, inspirou­‑a para escrever Les Enfants du nouveau monde (1962) e, mais tarde, Les Alouettes naïves (1967), nos quais abordou a luta pela independência, focando a participação de mulheres e mostrando como esta luta nas duas vertentes, patriótica e feminista, se entrelaçam. No segundo romance, escrito cinco anos mais tarde, as mulheres retratadas mostram­‑se frustradas a verem ser­‑lhes recusado pelo estado independente da Argélia, o seu estatuto emancipado e participante na sociedade, conquistado através do esforço de guerra.

Escreve ainda um volume de poesias Poèmes pour l'Algérie Heureuse (1969) e é co­‑autora de uma peça de teatro Rouge l' aube .

Depois da publicação de Les Alouettes naïves, a Escritora interrompe, todavia, por mais de um decénio a sua carreira literária, voltando à cena em 1978, desta vez, como cineasta.

Apresenta­‑se como a autora do guião e encenadora do filme La Nouba des femmes du Mont Chenoua, durante as Jornadas Cinematográficas de Cartago, na Tunísia. No ano seguinte, em 1979, o filme, elogiado pela originalidade e pela beleza das imagens, foi apresentado no Festival de Veneza, tendo ganhado o Prémio da Federação Internacional de Críticos de Cinema. Trata­‑se de um documentário ficcionado cujo objectivo é devolver a memória às mulheres que lutaram na guerra da independência, baseado numa exaustiva recuperação da história oral com o intuito de reconstruir através de uma dialética passado­‑presente a identidade de um povo que sofreu a colonização.

 

"Donc, à ce moment­‑là mon sujet de recherche est devenu: quel rapport peut­‑on faire entre le rôle des femmes et la mémoire? Qu'est­‑ce que c'est l'Histoire? Est­‑ce l'histoire non scientifique qui se transmet de femme en femme, les légendes que racontent les femmes?“6.

 

A acção gira em torno do regresso de uma engenheira argelina após longos anos de exílio e do reencontro com a sua sociedade de origem.

 

Só se pode conceber uma cultura nos países antes colonizados através de uma pesquisa das raízes. Ora somos uma sociedade cortada de suas raízes ao nível da memória. Entre 1871 e 19307, há um buraco. Durante todo esse período a Argélia ficou muda; só permaneceu a voz das mulheres. Evidentemente esta ideia da história oral transmitida pelas mulheres não é nova mas eu quis visualizá­‑la.8

 

Quão vital terá sido essa procura das raízes, corrobora­‑o o título Escavar a fonte (Gerlach, 1997), que uma das cooperantes estrangeiras, médica, a trabalhar na Argélia durante dez anos a seguir à independência, deu ao livro que escreveu sobre o longo e doloroso processo de reconstrução desse país.

A Escritora opta por uma forma tradicional de nouba, uma espécie de canto, recorrendo à tradição oral expressa em Árabe dialectal.

O seu segundo filme, La Zerda ou les chants de l'oubli (1982), constitui um documentário sobre o período colonial do Magrebe, igualmente dedicado a reabilitar a memória das mulheres e o seu papel na sociedade, porém, este último não tenha alcançado o mesmo sucesso de La Nouba.

Antes mesmo do lançamento do seu segundo filme, Assia Djebar já tinha retomado a escrita, em Francês, com a publicação de Femmes d'Alger dans leur Appartement (1980 ), um conjunto de dez contos, divididos cronologicamente entre o "ontem" e o "hoje" . O título está inspirado num quadro de Eugène Delacroix, que empresta também o nome a um dos contos desse volume.

Estes contos resultaram de entrevistas realizadas com diversas mulheres nos anos 1958­‑1978, o tempo suficientemente longo, e abarcando dois períodos históricos distintos para que a Escritora possa constatar que entre o tempo da criação do quadro e a situação actual, a situação das mulheres argelinas pouco evoluiu, não obstante o seu contributo muito relevante para a libertação do país, mas sem o reconhecimento efectivo por parte da sociedade masculina. Assim, por trás desse título anódino, a Escritora tece uma severa crítica à situação da mulher argelina. Decorridas quase duas décadas após a independência, a situação da mulher revela pouca ou nenhuma evolução em relação à geração das mulheres, jovens militantes de guerra que naturalmente esperavam uma mudança significativa. Algumas das personagens, são como a própria Escritora, mulheres emancipadas, exercendo profissões – tendo conquistado espaços, até há pouco, reservados aos homens. Todavia, elas são uma minoria. A Escritora faz uma reflexão quase dolorosa sobre a situação que é vivida pela maioria das mulheres, enclausuradas, dependentes do pai, do marido ou de um irmão. O êxodo rural para as cidades que acompanhou a acelerada industrialização do país, retirou à mulher alguns dos tradicionais espaços de liberdade como um pátio, um terraço ou um jardim de casa, estando agora confinadas em espaços exíguos de pequenos apartamentos dos subúrbios. Antigas "heroínas" do tempo da guerra reconduzidas à sua subalternidade.

Nessa concepção do romance histórico, Assia Djebar está próxima da abordagem seguida pelo historiador Jacques Le Goff que encara o processo de escrita como modo “de interrogar os silêncios da história” .

A vivacidade e a maestria de linguagem, bem como a transmissão de complexa situação de mulheres no período pós­‑colonial, onde a desigualdade entre homens e mulheres se acentuou foram muito elogiadas. Esses mesmos aspectos são evocados em Une éducation algérienne. De la révolution à la décénie noire (2007), da autoria da jurista, defensora da causa feminina e dos Direitos Humanos, sua compatriota, Wassyla Tamzali9.

Com as três obras que se seguiram, formam, no conjunto, uma espécie de quarteto, um fresco vivo da sociedade argelina em mudança: L'Amour, la fantasia (1985), Ombre Sultane (1987) e Vaste est la prison (1994). Todas prosseguem temática de desigualdade entre homens e mulheres, constituindo um misto de elementos históricos e autobiográficos, de mito e de ficção.

O romance L'Amour , la fantasia (1985) é considerado, por muitos, o mais empolgante e belo pois remexe com toda história do país, tanto passada como recente. É história da Argélia contada no feminino, na tradição das contadoras de histórias, por várias vozes de mulheres, umas ficcionadas, outras reais, sendo uma delas a da própria Autora, contada porém, não na primeira, mas na terceira pessoa. A relevância da mulher argelina é exaltada pelo seu papel na resistência ao invasor e, o seu valor enquanto depositária e transmissora da memória colectiva do seu povo.

A história de um país, reduzido durante 132 anos à condição da colónia e mantido, assim, através de uma brutal repressão, tem que ser contada de novo pelo seu povo, agora livre. Durante essa longa noite colonial foi principalmente a oralidade que serviu de transmissão da memória colectiva que Assia Djebar designa como " palavra plural ".

 

… qu'il ne faut pas mépriser tout ce qu'il y a comme histoire orale, y compris la poésie et la légende, parce que tous les peuples qui ont été dépossédés de leur culture brutalement n'ont pu la récupérer que par la littérature.

 

Alors, je dis que c'est parce que je suis dedans mais, en même temps, j'ai la langue française qui me permet cette liberté. Donc, je trouve que maintenant, même par rapport à ma propre histoire, la langue française m'a apporté quelque chose de plus.10

 

Em parte, os materiais coligidos para a produção do filme La Nouba des femmes du Mont Chenoua, serviram­‑lhe para rescrever a história da conquista da Argélia (1830­‑1847), cotejando a visão dos dois lados, através dos relatos das campanhas militares, da correspondência particular e da historiografia francesas com a visão local, argelina, maioritariamente conservada através da oralidade.

L'Amour, la fantasia , ao lado de Vaste est la Prison (1995), que revisita a história da Antiguidade tardia, numa mistura de registo histórico, de ficção e de mito, evocando entre outros, a figura de Santo Agostinho, muito estimado por Muçulmanos da Argélia11, situam­‑se entre as obras de Assia Djebar que suscitaram mais elogios e, simultaneamente, despertaram o interesse dos estudiosos do género e dos estudos coloniais.

O seu sétimo romance, Ombre Sultane, é publicado em 1987. Nele a Escritora narra a história de duas mulheres, cujas vidas, que desenrolando­‑se nos tempos actuais, se entrelaçam pelo facto de ambas serem mulheres do mesmo homem. Aparentemente opostas, uma representa uma mulher emancipada, enquanto a outra representa o tipo de mulher "tradicional", no entanto, a Escritora, desde logo, faz a advertência de que uma é a sombra da outra: "Isma, Hajila: arabesque de noms entrelacés. Laquelle des deux, ombre, devient sultane, laquelle, sultane des aubes, se dissipe en ombre d'avant midi”(Djebar, 1987, p. 9)

É uma condenação da poligamia, do enclausuramento da mulher. O véu é encarado como um símbolo de opressão feminina, implicando o seu uso não só a interdição de olhar e de ser olhada, como também a da escolha do seu próprio destino. Mas além de denunciar essa situação, o livro mostra também como essas mulheres, ligadas por uma certa amizade decorrente da participação nos mesmos rituais, entre outros o do hammam, engendram uma estratégia de solidariedade buscando uma emancipação possível.

Ombre Sultane obteve um enorme sucesso em França e de imediato foi apresentado na prestigiada Feira Internacional do Livro de Frankfurt, em 1989, onde ganhou o Prémio Literatura, o que contribuiu para uma ainda maior projecção da Escritora na Alemanha. Com efeito, Cahier d'études maghrébines, publicação de língua francesa da Universidade de Colónia, dedicou à Assia Djebar um dossier especial na sua edição de Maio de 1990.

Muito embora, fisicamente, longe do seu país, Assia Djebar não deixou de acompanhar o devir e os problemas com as quais se debatia a Argélia dividida entre a maioria da sociedade e os islamistas, nos chamados "anos negros" (1991­‑2001).

Em 1991, sai Loin de Médine. Este livro não tem como palco a sua Argélia natal. Recuando no tempo e no espaço, fala das mulheres árabes, Muçulmanas e não Muçulmanas, na Arábia, no tempo do Profeta, marcado pelo advento do Islão, e na época seguinte, a dos seus quatro sucessores. Tem por objectivo restituir o lugar na sociedade que foi sonegado às mulheres e que tem sido ocultado. São vozes femininas que o contam, sendo um eloquente testemunho da relevância da posição social da mulher, da sua participação na vida social e, mesmo nas revoltas daquela época, e que a subsequente interpretação do texto corânico por homens, tem esvaziado, gradualmente, desse legado e dessa memória, legitimando, assim, o sistema patriarcal.

Este livro oferece duas leituras, uma, a do processo histórico em si e, a outra, actual, um contraponto à ideologia do islamismo radical que subjuga ainda mais a mulher. Não poderemos esquecer que o confronto entre as duas facções antagónicas na Argélia, deu início, em 1991, a uma sangrenta guerra civil que ceifou muitas vidas de cidadãos defensores da liberdade, principalmente, de intelectuais e de mulheres profissional­mente activas.

É também um antídoto à lavagem de cérebros mediática que apresenta o Islão na actualidade, como um todo, redutor e coercivo, quando, na verdade, mostra apenas o comportamento de uma minoria cujo impacto é ampliado de forma desproporcionada.

O romance Loin de Médine partilha, aliás, a perspectiva esboçada pela socióloga marroquina Fatema Mernissi, no seu estudo Le Harem politique. Le Prophète et les femmes (1987), onde está esgrimida a luta pela igualdade da mulher nos moldes decorrentes da revelação corânica.

Le blanc de l'Algérie (1996) é o mais politizado dos seus livros. É um requiem, dedicado a três amigos próximos, assassinados nos anos 90. Ao evocá­‑los, a Escritora evoca o uso comum da língua francesa: “Mes amis me parlaient en langue française, auparavant; chacun de trois, en effet, s'entretenait avec moi en langue étrangère: par pudeur ou par austérité”(Djebar, 1996: p. 15). Neste livro, a Escritora presta homenagem também a outros mortos, na sua maioria, intelectuais argelinos francófonos assassinados pelos islamistas. O pluralismo era algo que os radicais islamistas pretendiam erradicar, e naturalmente, a outra língua que dava acesso a uma outra maneira de ver e entender o mundo estava na mira deles e, por conseguinte, a todos os que através dela puderam alimentar o seu pensamento, formulando ideias críticas. Constitui simultaneamente uma acusação por essas irreparáveis perdas, avaliando o muito pesado custo social para se manter a unidade do país naquele período de deriva e de terror.

Em 1997, a Escritora publica a novela Oran, langue morte e o romance Les Nuits de Strasbourg, este último recebido com atitude mista, tanto por parte do público como por parte da crítica literária. Todavia, a linguagem empregue e a sensibilidade estética terão compensado a quase ausência de acção.

Mais tarde, vieram: La femme sans sépulture (2002), La disparition de la langue française (2003) e Nulle part dans la maison de mon père (2007).

O único romance da Escritora, conhecido do público português através da tradução, La Femme sans sépulture, evoca uma heroína da resistência, Zoulikha, presa e torturada por militares franceses, em 1959, e nunca mais vista, uma mulher sem sepultura. A sua história é contada através das vozes dos que a conheceram de perto e estimaram.

La disparition de la langue française realiza­‑se sob o signo do fenómeno linguístico entendido como um dado primordial do questionamento identitário, histórico e pessoal, adquirindo a língua francesa o estatuto de tema principal. No contexto conjuntural da Argélia dos anos 90, a língua francesa desempenha um novo papel de cariz político, sendo veículo de conceitos não expressos na língua árabe. Por isso, afirma a Escritora: "Écrire en français, tel que le projette Berkane [nome da personagem principal] tient, dès lors, du défi et de la résistance faces aux dérives meurtrières du purisme arabo­‑musulman; un garde­‑feu contre la folie univoque et simpliste des «fous de Dieu»"(Djebar, 2003: p. 154). O “desaparecimento da língua francesa” afigura­‑se, pois, como uma ameaça de homogeneização forçada do país, extirpando o pluralismo do pensamento e das referências culturais e políticas.

Nulle part dans la maison de mon père (2007), o último romance da Escritora persegue a incessante busca de si própria, interrogando­‑se através de memórias dispersas e fragmentadas do passado. Em todos os seus livros, os elementos autobiográficos estão presentes, mas parecem dissimulados numa visão da sociedade como um todo, expressando as preocupações gerais comuns. Nesta obra, Assia Djebar procede a uma subtil introspecção e afunila a expressão para uma voz singular, reformulando a sua experiência de escrita num movimento circular, indo buscar episódios dos seus trabalhos anteriores de modo a construir uma visão mais verdadeira de si própria. Os três capítulos do livro correspondem a três fases da vida aí descritas, a infância (“Éclats d'enfance”), a adolescência (“Déchirer l'invisible”) e a idade adulta (“Celle qui court jusqu'à la mer”). Sabendo que autobiografia não é um género literário tradicional da literatura árabe, Nulle part dans la maison de mon père ilustra, de forma bem elucidativa, a dificuldade de quebrar o tabu, de se revelar, de se "descobrir" perante si e perante os outros e muito embora Assia Djebar escreva em Francês, é uma argelina muçulmana que fala das realidades do seu país e da sua sociedade. A revelação de si própria transforma–se numa libertação. Oiçamos este pungente testemunho:

 

Je me suis engloutie à force de m'être tue.

Tue? Disons même “emmurée”! Devant le fiancé—époux? Devant les autres, mais quels autres? […]

Se taire devant soi­‑même: ce fut le plus grave (Djebar, 2007: p. 207).

 

É um testemunho precioso e único, referente aos anos 40, 50 e 60 da Argélia, onde se faz sentir a emergência da mulher a caminho da emancipação e da modernidade, e em que a Escritora teve o privilégio de ser uma das pioneiras.

Por todas as razões, formais de cronologia e as específicas de conteúdo, este livro poderá ser considerado o “testamento literário” de Assia Djebar. É um legado que deixa, para ser redescoberto na medida em que vier a ser lido e relido.

 

Reflexões finais

Em guisa de conclusão interrogamo­‑nos o que é possível acrescentar à escrita de Assia Djebar além do que ela própria já tenha dito?

Ficam­‑nos imagens belas, numa elegante fluidez plástica da língua francesa, dominada com maestria e arte. Ao mesmo tempo é uma escrita densa, sufocante e pesada, marcada pelo sofrimento que parece não ter fim, pela revolta e dor.

É um convite imperativo para uma reflexão sobre a Argélia, e subsequentemente, também sobre outras vivências num contexto de guerra e de conflicto prolongado.

Faz nos pensar nas reflexões de Marc Ferro, esboçadas em Le Ressentiment dans l'histoire (2007), onde o autor se debruça sobre a violência na história, nos seus antecedentes e no seu mortífero impacto, dedicando longas páginas ao caso da Argélia.

Esta pesada herança de violência parece assombrar ainda hoje a Argélia. O recente filme documentário sobre Argel actual, intitulado « La ville blanche», inclui um testemunho de uma jovem enfermeira africana a trabalhar aí, dizendo « les Algériens ont besoin d'amour ». É um diagnóstico lúcido de quem vem de fora e constata esta carência acumulada, resultado da guerra, violência, sofrimento e humiliação que se conjugam ao longo da história do país, deixando profundas cicatrizes que não saram.

Interrogamo­‑nos se as interpretações da obra de Assia Djebar por parte da crítica e dos estudiosos, situando­‑a quase exclusivamente no âmbito de colonial and gender studies, não tornam demasiado redutora a leitura e o entendimento da sua obra?

A sua escrita situa­‑se na convergência da literatura, da história e da história da cultura, abarcando igualmente elementos autobiográficos. Constitui, por isso, uma esclarecedora introdução à Argélia actual e à sua complexa problemática, uma “chave” para a sua compreensão.

Assia Djebar exemplifica a trajectória de uma mulher profissionalmente activa e de sucesso, cujo número tem crescido exponencialmente, um sinal inequívoco da evolução da sociedade argelina. Na cultura, na diplomacia há muitas mulheres que têm chegado aos lugares do topo da carreira. Nas Forças Armadas as mulheres ocupam, actualmente, cerca de 30% dos efectivos.

A Argélia tem sabido reconstruir a sua identidade e herança histórica. O facto de as três principais cidades argelinas terem podido protagonizar o papel de Capital Árabe de Cultura Islâmica: Argel (2007), Tlemcen (2011) e Constantina (2015), e o das comemorações do Cinquentenário da Independência, celebrada em 2012, traduzem o êxito alcançado.

A questão da identidade, relacionada com a questão da língua, mereceu a Assia Djebar uma atenção redobrada ao longo dos anos. Num depoimento apresentado em 2007, na sede da UNESCO, em Paris, a Escritora sublinhou a importância de expor o seu pensamento em Francês por um "dever de memória" à sua própria cultura:

 

Depuis au moins 20 ans, dira­‑t­‑elle, dans mon travail d'écriture sur la mémoire visuelle du Maghreb, comme pareillement en littérature, j'ai compris que l'occulté, l'oublié de mon groupe d'origine, devait être ramené à la clarté, précisément dans la langue française. Dans cette langue, dite de l'autre, je me trouvais habitée d'un devoir de mémoire, d'une exigence de réminiscences d'un passé mort arabo­‑berbère, le mien.12

 

A obra de Assia Djebar divulgada mundialmente através de numerosas traduções, está paradoxalmente, no seu país, nos países do Magrebe e no Mundo Árabe–Islâmico, acessível apenas às elites francófonas e à diáspora magrebina no Ocidente, não permitindo porém que a sua voz, muitas vezes emprestada a outros que permaneceram silenciosos por medo, timidez ou outra razão qualquer, tenham acesso a ela na sua língua materna. Em relação ao seu último livro, Nulle part dans la maison de mon père, vimos, recentemente, uma referência de que teria sido publicado /traduzido? em Árabe, mas, por ora, não nos foi possível confirmar esta notícia.

A obra de Assia Djebar foi pautada por uma busca e um questionamento incessante acerca da identidade argelina, impregnada de um desejo profundo de se conhecer a si própria e ao seu país, experimentando os diversos média, desde a escrita até à imagem, com a mesma paixão e total dedicação.

Assumindo, desde sempre, o papel de escritora e de cineasta, mas nunca de uma socióloga ou de historiadora, embora pela formação académica a tenha sido, Assia Djebar oferece uma visão da Argélia e da sua cultura numa perspectiva de mestiçagem cultural, para além de divisões reductoras e empobrecedoras. Não obstante isso, a sua obra poderá ser lida à luz de várias disciplinas das ciências humanas, cada uma delas facultando um contributo importante, conforme o mostram os títulos das dissertações académicas e livros que a sua obra inspirou.

 

Referências bibliográficas:

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Notas

1Mestre em Filologia Oriental (Estudos Árabes e Islâmicos) pela Universidade de Varsóvia (1976); Curso de Conservadora de Museu pela Escola Superior de Belas Artes, Lisboa (1990); Pós­‑graduação em Gestão das Artes, Instituto Nacional de Administração, Oeiras (1991); Doutorada em História e Teoria das Ideias pela Universidade Nova de Lisboa(2006) – Tese: “O Orientalismo em Portugal no contexto europeu e no das relações luso­‑magrebinas (sécs. XVIII e XIX)" . Docente de vários cursos de pós­‑graduação e de Mestrado no âmbito de Estudos Árabe­‑Islâmicos e no de Estudos sobre Mulheres do Mundo Árabe­‑Islâmico. Colaboradora de Faces de Eva desde 2002. Coordenadora do Instituto de Estudos Orientais da Universidade Católica Portuguesa (2012­‑2014). Actualmente, coordena o projecto Dicionário dos Orientalistas de Língua Portuguesa. Interesses de investigação: Orientalismo; relações culturais entre a Europa e o Mundo Islâmico, em especial com o Magrebe e com a Turquia Otomana; problemática do genero nas sociedades árabo­‑islâmicas; pensamento político do Islão; património e artes islâmicas.

230 de Junho de 1936, Cherchel – 6 de Fevereiro de 2015, Paris, oriunda de uma família tradicional.

3 Publicado pelo Circulo de Leitores. No original: La femme sans sépulture (2002).

4 A Sede (1958). Belo Horizonte: editora Itatiaia.

5 Entrevista concedida a Raymond François em Dialogues, n.º 39, Setembro/Outubro de 1967.

6“An Interview with Assia Djebar: Un entretien avec Assia Djebar”, 2002, vol. 6, 256­‑258.

7 O ano de 1871 coincide com a última grande revolta armada, a de Mokrani e, simultaneamente com a aceleração do processo da colonização do país para compensar a derrota da França face à Alemanha.

8 Entrevista realizada por Josie Fanon, Demain l'Afrique , nº 1, Setembro de 1977, cit.in Soares, V.L. (1998), 24.

9 Wassyla Tamzali esteve em Portugal em 2013. Veja­‑se a entrevista publicada em Faces de Eva, nº 32, pp. 125­‑132.

10“An Interview with Assia Djebar: Un entretien avec Assia Djebar”, op. cit.

11 O Haut Conseil Islamique da Argélia, sob os auspícios de Docteur Cheikh Bouamrane Chikh, organizou, em 2001, um Colóquio Internacional dedicado ao legado deste pensador, teólogo e precursor do diálogo civilizacional, nascido em solo argelino.

12 Le Monde , 2 mars 2007.