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Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

versão impressa ISSN 0874-6885

Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher  no.34 Lisboa  2015

 

NOTA DE ABERTURA

Nota de abertura

Isabel Henriques de Jesus

 

Numa época em que os confrontos mundiais são muito evidentes, em que a paz, a partilha e a união parecem ideais arcaicos e já fossilizados em mentes cada vez mais raras – utópicos – clamam alguns, apresentarmos mais este número da nossa Revista Faces de Eva reveste­‑se de um forte simbolismo que gostaríamos de realçar. Como pode uma publicação sobre mulheres, resultante do esforço de muitas mulheres, mas também de alguns homens, contribuir para o apaziguamento dos ódios remanescentes, dos conflitos abertos, das crispações sangrentas?

Conhecer o/a outro/a, ouvir­‑lhe a voz, a "sua" voz, encontrar pontos de confluência, apesar das diferenças, pode ser um pequeníssimo oásis no meio de um imenso deserto, árido como palavras que nada dizem, olhares que se não cruzam, sentimentos que se evitam, ou emoções que irrompem em poças de sangue tão inúteis como desprezíveis.

Sabemos que as mulheres são diferentes entre si, numa mesma família, local, país ou continente, como são diferentes em outras geografias, culturas e religiões. Haverá um denominador comum que as posiciona numa categoria de género pela qual são reconhecidas, apesar de estarmos conscientes de que falamos de um modelo binário, assente em sistemas de significação, historicamente liderados pelos homens. Tradicionalmente, atribui­‑se às mulheres um papel de união, de promoção da paz, de mediação de conflitos que, mesmo se resultante de uma construção social que se reproduz, pode ser apropriado como um bem, como um sinal de valor positivo e inscrevê­‑lo na história das mulheres concretas, cujas acções influenciam o rumo dos acontecimentos. Mas isso não é apanágio exclusivo das mulheres, e não é nossa pretensão inscrever nesta nota qualquer espécie de preeminência que funcione como mimetismo simétrico do que sempre repudiámos como sendo a auto­‑atribuída superioridade masculina. Para além disso, as características mencionadas não têm que ser vistas como "virtudes femininas", empurrando as mulheres para a inclusão num estereótipo muito útil aos homens, mas inibidora da demanda das mulheres pela liberdade de escolha e diligências individuais ou colectivas. Seriam, antes, "virtudes civilizacionais", apropriadas por mulheres e por homens e inscritas na tal "utopia" hoje, aparentemente, depreciada.

O que aqui nos interessa é a possibilidade de troca, de nos darmos mutuamente a conhecer, através desta revista que, ao longo dos seus 17 anos de existência, sempre evidenciou as mulheres no domínio público, no conhecimento dos seus feitos, nas suas formas de vida, cuja riqueza foi, muitas vezes, proporcional à deliberada ocultação das suas obras. Pela segunda vez, escolhemos uma mulher oriunda de um país muçulmano como capa da Revista. Nesta busca da "outra", pretendemos alargar o espaço, definindo­‑o como coexistência múltipla e diversa, onde as vozes se inter­‑relacionam em discursos colaborativos. Em vez de fechar, de nos fecharmos, queremos abrir vias, tão amplas quanto possível, para mundos religiosos e culturais que nos permitam trocas saudáveis e respeitadoras das diferenças. Acreditamos no poder da cultura e da ciência como veículos de suporte à sabedoria, essa sim, capaz de elevar as criaturas humanas a estádios em que a paz e a liberdade sejam valores indestrutíveis. Para tal, é necessário ver para além do visível e descobrir o que está oculto. A poesia, melhor do que os discursos caprichados, fá­‑lo com a simplicidade de uma epifania: "Revolução isto é: descobrimento/ Mundo recomeçado a partir da praia pura/ Como poema a partir da página em branco/ (...)." (Sophia de Mello Breyner).

 

O número 34 da Revista Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher revela, com pesar, o desaparecimento de Marília Viterbo de Freitas, investigadora e colaboradora de longa data do grupo de investigação de que a Revista é um elemento integrante. Prestamos­‑lhe toda a nossa gratidão e homenagem pelo sentido de responsabilidade e pelo espírito de equipa que sempre demonstrou, mesmo quando o partilhava com uma actividade profissional intensa e prolífera ou, quando, já um pouco limitada nas suas capacidades físicas, não deixava de comparecer e de demonstrar afecto e entusiasmo pelo projecto Faces de Eva. Muito obrigada, Marília!

 

 

Nota: O actual número, apesar de já ter sido aceite para integrar a plataforma SciELO – o que muito nos orgulha – não está ainda disponível aos utilizadores da mesma, esperando que o processo fique concluído o mais rapidamente possível.