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Ex aequo

Print version ISSN 0874-5560

Ex aequo  no.39 Lisboa June 2019

https://doi.org/10.22355/exaequo.2019.39.12 

ESTUDOS E ENSAIOS

 

«Cada um no seu canto!»: Olhares de jovens do ensino profissional sobre homossexualidade e masculinidade*

‘Each one in their place!’: The view on homosexuality and masculinity of young people undergoing professional training

«Chacun dans son coin!»: Regards de jeunes de l’enseignement professionnel sur homosexualité et masculinité

 

Nicolas Martins da Silva** e Sofia Marques da Silva***

** Mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Endereço eletrónico: nicolasmartinsds@gmail.com. ORCID: http://orcid.org/0000-0001-8288-3174

*** Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto; CIIE – Centro de Investigação e de Intervenção Educativas – FPCEUP. Endereço eletrónico: sofiamsilva@fpce.up.pt. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2688-1171

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RESUMO

Este artigo resulta de uma investigação que mobilizou métodos quantitativos e qualitativos para compreender processos de construção social da homossexualidade em contexto escolar. Considera-se que este é um contributo no âmbito dos estudos sobre homossexualidade em contexto educativo na medida em que se realiza num contexto de formação profissional, realidade menos abordada nestes estudos. Procura-se – tendo como enquadramento teórico conceitos como sexualidade, heteronormatividade e homofobia – discutir as perspetivas de diferentes jovens, rapazes e raparigas, sobre homossexualidade na sociedade e em contexto escolar, dirimindo questões como o preconceito, tipificação de comportamentos e importância da abordagem das sexualidades por parte da escola.

Palavras-chave: Jovens, homossexualidade, heteronormatividade, homofobia, ensino profissional.

 

ABSTRACT

In this article, we study processes of social construction of homosexuality in an educational context, employing both quantitative and qualitative methods. Our research attempts to fill a gap in the existing literature on homophobia and homosexuality by focusing on the neglected area of professional training. We employ the concepts of sexuality, heteronormativity and homophobia to analyse the perspectives of young boys and young girls regarding homosexuality at school and society at large, prejudice, stereotypes and the role of sexual education.

Keywords: Young people, homosexuality, heteronormativity, homophobia, professional training.

 

RÉSUMÉ

Cet article résulte d’une recherche qui a mobilisé des méthodes quantitatives et qualitatives pour comprendre les processus de construction sociale de l’homosexualité dans le contexte scolaire. On considère qu’il s’agit d’une contribution dans le cadre des études sur l’homosexualité en contexte éducatif dans la mesure où elle est réalisée dans un contexte de formation professionnelle, une réalité peu abordée dans ces études. On cherche, en tenant comme encadrement théorique des concepts comme sexualité, hétéronormativité et homophobie, à discuter les perspectives de différents jeunes garçons et jeunes filles sur l’homosexualité dans la société en général et en contexte scolaire, en éclaircissant des sujets tels que les préjugés, la typification des comportements et l’importance de l’approche à la sexualité par l’école.

Mots-clés : Jeunes, homosexualité, hétéronormativité, homophobie, enseignement professionnel.

 


 

Introdução

A definição do conceito de sexualidade é fundamental para a compreensão de preconceitos em torno da homossexualidade. Com efeito, se a sexualidade representa uma dimensão essencial no processo de construção da identidade dos/as jovens (Pais 2012), é também verdade que a evolução histórica deste conceito, como Foucault procurou explicar, demonstra que os processos de construção do mesmo se fazem numa dimensão histórica (Foucault 1994a). É, aliás, na dualidade que se estabelece entre as perspetivas essencialista e a do construtivismo social que se organiza essa mesma construção.

O essencialismo caracteriza-se por analisar a sexualidade de um ponto de vista biológico, encarando-a como realidade trans-histórica e intrínseca ao indivíduo (Garton 2009). Relaciona-se, assim, com o desejo e as necessidades individuais (Weeks 2001). Os construtivistas sociais, entre os quais Foucault, procuraram desmontar esta visão essencialista sobre a sexualidade baseada na biologia, ressaltando os perigos do discurso em torno do natural (Birke 2002) produzidos por uma visão etnocêntrica do moralmente desejável (Richardson e Seidman 2002). Assim, nesta última perspetiva, a sexualidade é entendida enquanto dispositivo histórico (Foucault 1994a), isto é, reproduzida por um discurso que aloja o poder (Louro 1997), tornando a sexualidade uma construção social. É, aliás, neste sentido que Louro define sexualidade, destacando-a como «invenção social, uma vez que se constitui historicamente, a partir de múltiplos discursos sobre o sexo […] discursos que regulam, normatizam, que instauram saberes, produzem verdades» (2001a, 11-12). Segue-se, neste lugar, a perspetiva construtivista, na medida em que se entende que a inscrição de discursos sobre o sexo, ou seja, as aparelhagens, influenciam a economia das sexualidades (Foucault 1994a), construindo socialmente conceitos e, mais ainda, perpetuando uma reiteração de saberes e de normas que se constroem temporalmente através da linguagem (Butler 1990), «locus de produção das relações que a cultura estabelece entre corpo, sujeito, conhecimento e poder» (Meyer 2003, 16). Essa construção e reiteração dão origem a uma lógica binária hierarquizada onde, por um lado, se entende, dentro das sexualidades, a heterossexualidade enquanto orientação sexual normal, dominante, naturalizada e referência para todos (Louro 2001b) e, no polo oposto, mas marginal, a homossexualidade enquanto situação desviante (Sedgwick 1990; Britzman 1996), numa lógica reproduzida diacronicamente. Neste sentido, entende-se que se está perante um paradigma heteronormativo que, como Reingardé (2010) destaca, se caracteriza pela afirmação da heterossexualidade enquanto orientação sexual dominante e normativa que é reproduzida socialmente, nomeadamente nas políticas ou nos média.

As questões de género são também fundamentais para o estudo que aqui se procura apresentar. Aliás, as questões da sexualidade tiveram, ao longo da história, uma íntima relação com as discussões em torno das questões do género, havendo até uma profunda confusão que tem origem na nossa linguagem e nas nossas práticas (Louro 1997). Vários autores destacam, à semelhança do conceito de sexualidade e de homossexualidade, o caráter socialmente construído do género. Entende-se género enquanto realidade que se constrói sobre corpos sexuados (Louro 1997), ou seja, a inscrição no corpo, «terreno fértil para as modernas e subtis micro-práticas da vida quotidiana» (Fonseca 2007, 139), de comportamentos esperados e estereotipados. O corpo é, assim, materializador de comportamentos de género que encetam uma performance que é veiculada e reproduzida pelo poder (Butler 1993a; Goellner 2003; Pereira 2009). À semelhança da lógica da sexualidade, nas questões de género é reproduzida a lógica binária, entre masculinidade e feminilidade, num paradigma também ele heteronormativo que hierarquiza os géneros (Jackson 2006), como aliás Carrito e Araújo também defendem: «a polarização masculinidade versus feminilidade, em categorias homogéneas e reificadas, aparece essencial a uma ordem de género que garante uma posição dominante de alguns homens sobre outros e sobre as mulheres» (2013, 141). Assim, de uma pessoa se espera, porque socialmente instituído, que seja, por um lado, heterossexual e, por outro, masculina/feminina, reproduzindo-se assim não só uma orientação sexual dominante, mas também comportamentos tipificados que se coadunem com o sexo biológico inscrito sobre o corpo (Garton 2009), como referimos até aqui. A diferenciação de género surge como um aglomerado de processos que procuram marcar diferenças entre pessoas, sendo o género uma categoria criada como ponto de referência para comportamentos esperados e associados a esse género (Pereira 2009).

O conceito de homofobia torna-se, neste contexto, importante porque resultado da heteronormatividade. Como afirma Borrillo, a homofobia é

a hostilidade […] contra aquelas e aqueles que, supostamente, sentem desejo ou têm práticas sexuais com indivíduos de seu próprio sexo. Forma específica do sexismo, a homofobia rejeita, igualmente, todos aqueles que não se conformam com o papel predeterminado para seu sexo biológico (Borrillo 2010, 34).

Deste modo, esta não se circunscreve, conforme o étimo, a uma phobia perante orientação sexual diferente, neste caso a homossexualidade. Ela é também uma violência de género (Santos 2013), na medida em que é resultado de uma hegemonia que tipifica os comportamentos de género e que «repele» comportamentos «obtusos » ao patriarcado heterossexual, isto é, todos os comportamentos que se afastem de uma masculinidade/feminilidade relacionada com a heterossexualidade (Butler 1993b) e que constroem, nesta sequência, o cidadão dogmaticamente ideal (Habermas 1995). Pascoe (2013) destaca, aliás, que a homofobia surge, muitas vezes, como resposta a masculinidades alternativas e não necessariamente a uma identidade homossexual. Epstein, O’Flynn e Telford referem claramente que «a homofobia endémica nas escolas e dirigida em particular a jovens rapazes que apresentam uma masculinidade alternativa deixa claro que a heterossexualidade é de facto compulsória » (2000, 132). Se relembrarmos Foucault, facilmente percebemos que esta estreita ligação está historicamente inscrita. O filósofo destaca os aphrodisiae, atores cujos papéis são distintos. Ao homem era vinculada uma imagem de sujeito ativo e à mulher de sujeito passivo. Aquele que não lutava para dominar os seus desejos e prazeres era considerado um passivo moral e, portanto, feminino, «aquele que se deixa arrastar pelos prazeres que o atraem» (Foucault 1994b, 100). Nesta sequência, o mesmo autor destaca o conceito de effeminatus, a construção da imagem do homossexual ou do invertido, criada com uma «aura repulsiva» (1994b, 25), ou seja, a figura do homossexual aliada a uma feminilidade que o torna um transgressor do seu papel sexual (1994b) e, por isso, atenta contra a sua função reprodutora. Esta ideia é retomada por Pierre Bourdieu (2001) que destaca a sacralização da feminização do masculino, na medida em que esta desvirtua, à semelhança do que Foucault destaca, os papéis sexuais e sociais associados ao género. Neste sentido, a abjeção (Kristeva 1980) é potenciada, em primeira instância, por um desvio comportamental de género que se afaste dos comportamentos de género esperados. Assim, como Jackson (2006) destaca, ser gay torna-se muitas vezes «normal» desde que não desalinhe o ethos dos ideais heteronormativos.

Deste modo, uma atitude homofóbica, reflexo de um poder heterossexual(izante), perpetua uma construção de identidades sexuais e de género socialmente construídas e esperadas, entre a heterossexualidade e as expressões de género hegemónicas, e que perpetuam normas comportamentais rígidas e específicas (Costa, Oliveira e Nogueira 2010). Uma atitude homofóbica, reflexo do poder heterossexual (heteronormatividade), surge assim como consequência negativa dos estereótipos de papel de género (António et al. 2012), que marginalizam quem que se afaste da performatividade que esse papel lhes impõe e hierarquizam os géneros (Jackson 2006; Carrito e Araújo 2013). A homofobia é, assim, uma manifestação de abjeção não só a uma orientação sexual diferente, mas também se manifesta perante manifestações e comportamentos que se distanciem do género esperado. Por isso, as masculinidades hegemónicas – porque procuram estabelecer um cânone coerente e natural (Epstein, O’Flynn e Telford 2000) que afaste comportamentos heterodoxos – criam tensões entre os comportamentos esperados e os comportamentos concretos, levando à subordinação e ao medo da homossexualidade (Connell e Messerschmidt 2013), bem como de todos os comportamentos que se afastem dessa forma hegemónica.

Este estudo, que mobilizou metodologias qualitativas e quantitativas, procurou compreender as dinâmicas da construção do conceito de homossexualidade e, ainda, entender as perceções de jovens formandos/as sobre a necessidade de estas questões serem abordadas em contexto escolar. No presente artigo, focar-nos- -emos na análise e discussão dos resultados obtidos junto de jovens formandos e formandas de Cursos de Aprendizagem com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos, centrando-nos nas diferenças encontradas entre perceções de jovens rapazes e de jovens raparigas no que à construção da homossexualidade diz respeito.

 

Percurso Metodológico

O presente artigo resulta de uma pesquisa sobre perceções de jovens do ensino profissional sobre homossexualidade em contexto escolar, que teve lugar num centro de formação profissional do distrito do Porto, entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016. No estudo, utilizaram-se metodologias qualitativas e quantitativas, numa abordagem explanatória sequencial (Creswell 2003). Num primeiro momento, foram distribuídos inquéritos por questionário a todos/as os/as formandos/as, dos cursos de Educação e Formação de Adultos, Formação Modular, e de Aprendizagem e, em seguida, foram dinamizadas sessões de grupos de discussão focalizada junto de jovens do escalão etário entre os 15 e os 24 anos, formandos/as dos Cursos de Aprendizagem, foco primordial da presente investigação.

Num momento inicial, procurou-se esclarecer no Centro de Formação a natureza da investigação para garantir a autorização e prosseguir com o consentimento informado dos jovens participantes do estudo. Foram garantidas as condições necessárias para o decorrer da investigação, nomeadamente estreitando relações entre investigadores e a coordenação do Departamento Pedagógico do centro, pessoa responsável por lecionar algumas disciplinas. Os momentos iniciais revelaram alguma dificuldade de contacto com a população, ao que se associava uma frequência volátil dos/as formandos/as, dada a natureza do contexto de educação.

Numa primeira etapa, foram distribuídos inquéritos por questionário a cinco turmas do Curso de Aprendizagem (que compreendem os/as formandos/as mais jovens) a duas turmas de Educação e Formação de Adultos e a uma turma de Formação Modular, num total de 130 respondentes. Optou-se pelo questionário porque este facilita a obtenção de dados que dificilmente poderiam ser obtidos de outro modo e possibilita a comparação de alguns padrões, aferindo as especificidades de um determinado grupo (Ghiglione e Matalon 1997). Na segunda etapa, atendendo aos resultados obtidos no inquérito, foram realizadas duas sessões de grupos de discussão focalizada apenas entre os/as jovens inquiridos/as, entre os 15 e os 24 anos, num total de dois momentos e envolvendo um total de 16 jovens. Procurou-se criar grupos homogéneos no que à faixa etária diz respeito e heterogéneos no que diz respeito ao sexo e às turmas. Entendeu-se que discutir homossexualidade em contexto escolar poderia ser condicionado pelo receio dos/as jovens em assumir uma posição clara perante os seus pares. Embora não tenham sido inquiridos/as quanto à sua orientação sexual, assume-se que sejam maioritariamente heterossexuais.

Para a dinamização dos grupos de discussão focalizada, foram criados dois grupos entre 8 a 10 elementos, bem como preparado um guião para orientar os/as participantes (Kvale 2007). Procurou garantir-se o bom funcionamento das sessões, mantendo um posicionamento neutral de modo a não influenciar a discussão e as respostas. As sessões tiveram início com uma apresentação de todos/as, assim como com a explicação do guião, que se dividia em três tópicos concretos (Perceções sobre homossexualidade, experiências escolares no que à Educação Sexual diz respeito, lugares [e/ou vazios] da homossexualidade em contexto escolar). A opção pelos grupos de discussão focalizada deveu-se à possibilidade de se obter perceções diversificadas que resultam de uma interação grupal (Amado e Ferreira 2014).

Importa destacar que a formulação das questões e dos tópicos dos grupos de discussão focalizada foi objeto de uma reflexão profunda. Com efeito, muitas vezes, a visão sobre homossexualidade pressupõe, para aquele que a analisa (de um ponto de vista heteronormativo), uma superioridade moral (Epstein, O’Flynn e Telford 2002). Não se pretendeu confinar o homossexual e a homossexualidade a uma categoria estanque e subordinada a uma orientação sexual universal e universalizante (Sedgwick 1990). Porque a linguagem reforça muitas vezes essa hierarquização (Derrida 1972; Louro 2001b), poderá, à primeira vista, parecer que a formulação das questões é ela mesmo, ainda que de forma inconsciente, resultado dessas forças. Cabe ressalvar, no entanto, que, quando nos referimos à «homossexualidade» e ao «homossexual», fazemo-lo propositadamente procurando tão-somente destacar o objeto de pesquisa.

Os dados quantitativos foram analisados recorrendo ao SPSS. Optou-se, por um lado, por uma análise estatística descritiva, onde procurámos aferir as frequências e, por outro lado, por uma análise inferencial (Martins 2011), onde se atentou nos resultados quanto à faixa etária e, ainda, quanto ao sexo do/a respondente. Recorreu-se ainda ao teste do Qui-Quadrado no SPSS, para associação entre a faixa etária dos/as respondentes e o seu sexo. Desta análise resultaram os gráficos que apresentamos no presente artigo. No que concerne aos dados qualitativos, procurou- se, recorrendo à análise de conteúdo, categorizar e organizar os dados (Bardin 2006). Este processo deu origem a seis categorias, duas das quais serão o objeto principal da parte dos resultados – «Perspetivas juvenis sobre as sexualidades» e «Visões sobre a abordagem de diferentes contextos às sexualidades». Os resultados, obtidos através da aplicação dos métodos mistos, serão interpretados de seguida.

É ainda fundamental destacar que as questões éticas foram tidas em conta no decurso da investigação e da recolha de dados, nomeadamente garantindo a participação livre e voluntária, o consentimento informado, o anonimato, as autorizações necessárias junto do centro de formação e dos/as encarregados/as de educação para a realização dos momentos de recolha de dados, mas também no cuidados como se recolheram dados e de como escrevemos sobre a realidade que conhecemos.

 

Descortinando as perceções dos/as jovens em relação à homossexualidade: uma aproximação à masculinidade em confronto

Os processos de construção da sexualidade produzem-se através do discurso, que, como vimos, manieta significados (Butler 1990; Louro 2001a). A homossexualidade surge retratada socialmente enquanto orientação sexual menorizada, num polo, para além de oposto, inferior, submerso em relação à heterossexualidade, orientação do campo de referência, porque «natural». Esta bipolarização, reflexo de um ímpeto de superioridade existencial e moral, circunscreve o homossexual a uma categoria afastada e homogénea (Adam 2002; Roseneil 2002). A heteronormatividade pressupõe, então, um paradigma que se produz e reproduz socialmente, alimentando-se das narrativas que se vão criando em torno da homossexualidade e que gravitam em torno de uma «narrativa master» que legitima a heterossexualidade (Epstein e Sears 1999). Por outro lado, as questões de género não são alheias a isto e, como vimos, elas (não só enquanto agentes, mas também enquanto resultado) são também motor de uma construção da homossexualidade percecionada enquanto desvio de um comportamento social (género) e sexual (orientação sexual). A homofobia, realidade que resulta deste paradigma, é não só, como se adiantou, um medo de uma orientação sexual distinta, mas também uma fobia a esses «desvios » comportamentais que distorcem os géneros reificados. Neste pano de fundo, procurou-se perceber as perceções destes jovens sobre homossexualidade.1

Com efeito, quando questionados/as sobre a sua posição em relação à homossexualidade (questão 4), os/as inquiridos/as revelaram, numa análise genérica, um posicionamento de certo modo positivo, como demonstra a Figura 1:

 

 

Se atentarmos no primeiro grupo, 59 em 98 respondentes selecionaram «respeito », 25 selecionaram «é indiferente», 4 «não me sinto confortável», 3 «não compreendo », 6 «não tenho opinião» e 1 «é indiferente/respeito». Esta distribuição destaca a frequência da resposta «respeito», o que traduz um olhar de aceitação em relação à homossexualidade (59 dos/as 98 inquiridos/as). Compreende-se, por outro lado, que as opções «respeito» e «indiferença» não concretizam um posicionamento claro, pelo que poderemos estar perante aquilo que podemos considerar como «tolerância». Este resultado pode levar tanto a julgar tratar-se de um posicionamento no campo das hierarquizações, como, por outro lado, pensar-se que, para eles/as, esta seria uma «não-questão», na medida em que não teriam preconceito. Além disso, à resposta «indiferença», os/as inquiridos/as poderão ter-lhe dado o valor de «não me diz respeito», na medida em que as sexualidades se circunscrevam à intimidade e privacidade dos sujeitos (Britzman 1996; Weeks 2001). Neste sentido, entende-se como importante apresentar informações que auxiliem a compreensão das respostas a esta questão. Ora, na questão 6 do questionário, foi perguntado aos/às respondentes quais as suas reações se um conhecido/a assumisse a sua homossexualidade:

 

 

 

Da leitura deste gráfico, verifica-se que a distribuição das respostas é bastante semelhante às respostas dadas na pergunta anteriormente apresentadas. Daqui poderá ser concluído a grande incidência da resposta «apoio» e «indiferente», seguindo a mesma lógica da questão anterior, enquanto enunciação e/ou confirmação de uma visão positiva em relação à homossexualidade. Perante as perceções globais dos/as jovens, foi evidente que, não obstante uma visão generalizada que preconizava o respeito ou a indiferença, a incidência de respostas «não compreendo» (3 respostas em 98) e «não me sinto confortável» (4 respostas em 98), na questão 4, e «afastamento», na questão 6 (8 respostas em 98 inquéritos), deixava uma indicação que era importante analisar, dada a similitude obtida nas frequências em ambas as respostas.

Deste modo, considerou-se relevante analisar as respostas atendendo ao sexo dos/as jovens, respostas essas apresentadas nas Figuras 3 e 4 que se seguem e que analisaremos em conjunto:

 

 

 

Analisando as Figuras 3 e 4 ao lado, há uma grande discrepância entre sexos nas diferentes hipóteses de resposta (às duas questões), sendo que, no caso das jovens raparigas, «respeito» e «apoio» surgem destacadas com maior intensidade quando comparadas com os jovens rapazes, em que, não obstante o que referimos anteriormente – são inegáveis os olhares «positivos» –, existe uma maior frequência das outras respostas, tornando menos expressiva a diferença de frequências nessas outras respostas às duas questões. Na verdade, a maior expressividade das respostas «negativas» nos jovens rapazes deixa entender que este grupo preconiza um maior distanciamento em relação à homossexualidade. Como se pode verificar, a frequência de respostas «não compreendo» e «não me sinto confortável» à pergunta 4, «qual a sua perceção em relação à homossexualidade?», e a frequência de «afastamento» à questão 6 fundamentam esta análise. Todas as respostas «negativas » que obtivemos na questão 4 foram de jovens rapazes. Por outro lado, à questão 6, das 8 respostas que obtivemos que referiam um afastamento como resposta a um conhecido que assumisse a sua homossexualidade, 7 foram de rapazes e apenas 1 de uma rapariga. Estas discrepâncias, atentando a esta amostra, levam-nos a concluir que, de facto, a perceção dos rapazes em relação à homossexualidade se mostrou diferente da das raparigas. Na verdade, compreendemos o mesmo aquando dos grupos de discussão focalizada, em que verificámos que algumas reações de rapazes vão, de certo modo, ao encontro dos resultados obtidos na análise dos questionários:

Rui: Eu não acho piada a nenhuma delas… (Formando num Curso de Aprendizagem, 18 anos)

Eu: O que é que o Vítor acha?

Vítor (descontraído, com ar de gozão e um pouco entediado): Oh, não acho piada a nenhuma delas mas lá está, é a sexualidade que escolheram, não tenho nada contra isso nem nada, não tenho nada a dizer (Formando num Curso de Aprendizagem, 18 anos).2

Vítor e Rui, que «não acham piada a nenhuma delas» (referindo-se à homossexualidade e à bissexualidade), são dois jovens com 18 anos. A sua irreverência, que se materializa numa atitude desafiante em relação aos formadores e à aprendizagem, leva-nos ao que José Machado Pais (1993) categorizou como «alunos baldas». As suas reações deixam entender um afastamento imediato a um outro abjeto, retomando o conceito de Kristeva (1980), porque diferente, numa postura de distanciamento perante uma identidade sexual monoliticamente construída. A recusa em falar sobre o assunto e a própria postura denotam um espírito masculinizado que sente, de certo modo, que falar sobre o assunto poderá resultar na perda dessa masculinidade que performatizam (constantemente e, assim, quebrar as barreiras que os colocam num lugar seguro, o da [sua] dominação masculina) (Bourdieu 2001; Connell e Messerschmidt 2013).

No questionário, os/as inquiridos/as foram também confrontados/as com a legitimidade da escola na abordagem das questões da homossexualidade, em que lhes era perguntado, entre outras, se esta deveria ser um lugar onde estas temáticas deveriam ser exploradas. Para esta análise, importa, uma vez mais, analisar as discrepâncias que foram verificadas quanto ao sexo dos participantes, enriquecendo a discussão que estamos a fazer.

A Figura 5 mostra que os rapazes deram todas as respostas «discordo totalmente » e a maior parte das respostas «não concordo nem discordo». No que à incidência das respostas «concordo plenamente», percebe-se que este consenso é mais generalizado entre as raparigas do que entre os rapazes. Esta foi também uma conclusão a que chegaram diversos autores em várias investigações, como é o caso de Lynda Measor (2004), que destacou que o género influencia a resposta dos adolescentes ao sexo e à sexualidade; e de Lambert et al. (2006) e de Carlos Gonçalves Costa, João Manuel de Oliveira e Conceição Nogueira (2010), que concluíram que os rapazes têm uma visão mais negativa em relação à homossexualidade do que as raparigas. Além disso, se atentarmos aos grupos de discussão focalizada na sua globalidade, percebe-se que a abertura das raparigas para desenvolver o tema, bem como o reconhecimento da importância da abordagem da [homo]sexualidade nas escolas é maior do que nos rapazes, que, em grande maioria [não todos], entenderam que discutir estes assuntos é «uma treta».

 

 

 

Quando a homossexualidade confronta a masculinidade: A feminização do homossexual, figura de exuberância [culturalmente] hiperbolizada

A construção discursiva da homossexualidade, numa lógica reprodutiva, constitui uma realidade que os/as jovens destacaram ao longo dos grupos de discussão focalizada. Retomando o contributo de Foucault, compreende-se que as aparelhagens produzem significados e uma imagem do sujeito homossexual enraizada numa visão de que a homossexualidade é encetada através de uma transgressão de um género tipificado.

Rui: Há sempre aquela coisa da bicha… Quando pensamos, pensamos sempre numa bicha, acho que é um bocado isso, e também o gozo vem daí… O gozar, eu acho que as mulheres, as mulheres lésbicas não sentem tanto o gozo como os homens, porque eu, eu penso, eu, quando era mais novo, pensava num gay, pensava numa bicha, aquelas com manias, tiques… eu acho que é por aí que as pessoas gozam… (Formando num Curso de Aprendizagem, 19 anos, 1.º ano).

O contributo do Rui demonstra uma visão reproduzida de uma imagem construída em torno do homossexual, relembrando aquilo que Foucault referia como o retrato típico do homossexual como invertido (1994b). Aliás, como deixa entender, esta é uma imagem que tinha enquanto criança, o que destaca a construção social da homossexualidade que está assente em representações sociais que se reproduzem diacronicamente e que influenciam a estruturação dos nossos pensamentos (Oliveira 2004), em narrativas que se constroem e reproduzem com o tempo (Epstein e Sears 1999). Esta imagem traz à memória o que era referido como a diabolização do homossexual, numa espécie de construção de um homossexual bom e de um outro que erra duplamente, porque transgressor de uma doxa. Neste sentido, o homem homossexual «peca» duplamente: ele é transgressor dos valores reprodutivos, a transgressão de uma sexualidade «normal» e, por outro, é transgressor de um género tipificado (Silva 2017).

Aliás, a própria designação do homossexual enquanto «bicha» deixa antever que essa construção social da homossexualidade se estrutura numa feminização de uma identidade que se pretende, a priori, masculina. A imagem da «bicha» surge aqui enquanto resultado de uma heteronormatividade que marginaliza aqueles que se afastam do cânone patriarcal e que, por isso, dão origem ao medo, numa (homo)fobia que é, como referimos, [também] uma abjeção a comportamentos socialmente estranhos ao corpo [sexo] sobre o qual se inscreveu o género (Borrillo 2010), como aliás se denota na seguinte nota de terreno resultado de uma observação aquando da distribuição dos questionários, que demonstra, no discurso de Paulo, uma aura repulsiva (Foucault 1994b) perante «as bichas»:

O «Paulo» entrou no discurso e admitiu não gostar de bichas e que reagiria mal se «uma bicha se fizer a mim, me tocar nas pernas ou assim». «Cada um no seu canto!» (Nota de Terreno 26, registada aquando da distribuição do inquérito por questionário à turma 2 de Cursos de Aprendizagem-1.º ano).

Aliás, a reflexão sobre a confusão criada entre género e orientação sexual (Louro 1997) foi afunilada ao longo dos grupos de discussão focalizada, quando os jovens procuravam refletir sobre os preconceitos em relação à homossexualidade, num discurso que, quase automaticamente, se debruçava sobre a homossexualidade masculina e, mais concretamente, sobre a figura da «bicha»:

Ernesto: No assunto das mulheres, o facto de as mulheres não sentirem tanto gozo como os homens, isso deve-se também pela sociedade, e a história ainda não mudou. As mulheres sempre foram o elo mais fraco, sempre foram as sensíveis, e isso, tipo, o homem, não, o homem sempre foi o macho, o forte… e um homem ser mais fraco neste caso que uma mulher sente muito mais o abuso e o bullying que a mulher… (Formando num Curso de Aprendizagem, 20 anos).

Natália: Eu acho que a feminilidade num homem não deveria ser uma ofensa. Muitas vezes é que, por isso, uma grande ofensa é ir buscar a feminilidade num homem, isso é ofensivo para mim como mulher (Formanda no 1º ano num Curso de Aprendizagem, 19 anos).

Ernesto vai mais longe, ao explicitar aquilo que considera ser uma visão histórica dos comportamentos esperados e, por isso, estereotipados (Butler 1990; Meyer 2008) de cada indivíduo conforme o seu sexo (ou seja, a construção do género e a sua confusão com o sexo), indo ao encontro das figuras do ativo moral (masculino), porque forte, resistente, e do passivo moral (feminino), porque frágil, sensível aos prazeres (Foucault 1994b). A atribuição de características femininas ao homem categoriza-o enquanto figura desviante (o que não é macho3). De facto, como Natália destaca, a busca da feminilidade no homem (gender-bashing) enquanto ofensa é atribuir-lhe características associadas a esse género-insulto (Silva 2017), ou seja, numa visão de que a feminilidade (uma vez mais, socialmente construída e homogeneizada) o enfraquece moralmente, numa visão hierarquizada que inferioriza a feminilidade e a associa a comportamentos negativos (Amâncio 1994; Jackson 2006). Deste modo, para além de uma visão da homossexualidade (masculina) enquanto transgressora dos papéis de género, destaca-se aqui (porque influencia na construção da imagem do homossexual) a hierarquização de géneros, relembrando assim o contributo de Butler (1993a), que destaca que a matriz heteronormativa não só manieta a performatividade do género como contribui para a sua hierarquização, sendo configurada por uma sociedade cujas masculinidades se constroem num patriarcado heterossexual (Butler 1993b; Santos 2013).

Outros contributos de jovens, na sequência desta visão hierarquizante dos géneros e a sua associação a comportamentos-tipo demonstram aquilo que estes/ as jovens acreditam ser a maior facilidade na «aceitação» de um casal homossexual de duas raparigas/mulheres do que dois rapazes/homens:

Paulo: Eu acho que na sociedade em que nós estamos as pessoas que são hétero discriminam mais os homens, ou seja os gays, do que as lésbicas. Eu acho que até muitos rapazes acham piada as raparigas se envolverem umas com as outras. Aos rapazes já não acham piada (Formando num Curso de Aprendizagem, 1.º ano, 17 anos).

António: É bem mais fácil a aceitação de duas mulheres. É sexy. É considerado sexy... é algo atraente de ver (Formando num Curso de Aprendizagem, 1.º ano, 19 anos).

Jorge: Porque vivemos numa sociedade machista… Tudo o que nós fazemos, o que os homens fazem, é por causa da mulher, o sexo oposto. Publicidade que passa na televisão. Nos vivemos sobre a mulher… (Formando num Curso de Aprendizagem, 1.º ano, 21 anos).

O que Paulo, António e Jorge procuram destacar, mesmo que em grupos de discussão focalizada diferentes, é o que a literatura avança, conforme fomos analisando ao longo do artigo: a mais fácil aceitação de um casal de mulheres homossexuais é fruto de uma transgressão mais suave e, por isso, tolerada. Quando António destaca o erotismo presente numa relação homossexual entre duas mulheres, enaltece uma realidade que vai ao encontro da reflexão: Porque considerado sexy pelo homem, este é um comportamento que não fere, porque não invertido, retomando o adjetivo de Foucault, princípios de dominação masculina hegemónicos, como Bourdieu (2001) e Connell & Messerschmidt (2013) preconizam e, por isso, não é repelido para «o seu canto!».

 

Considerações finais

Com este artigo, espera-se que tenha sido aqui construído um contributo pertinente para a produção de conhecimento no campo das sexualidades, dando voz a jovens de contextos sociais e educativos muitas vezes ignorados sobre homossexualidade e homofobia e as suas perceções (e até mesmo manifestações, quer na linguagem verbal, quer não verbal) sobre heteronormatividade e homofobia. Com efeito, percebeu-se que, em dois prismas que não se anulam, o género influencia fortemente as perceções sobre homossexualidade, seja aquele que perceciona (rapaz ou rapariga), seja aquele que é percecionado (rapaz homossexual ou rapariga homossexual).

Com efeito, por um lado, a perceção dos/as jovens difere conforme o sexo dos inquiridos, estando associada à masculinidade um maior «afastamento» como resposta à afirmação da homossexualidade (Jackson 2006) e à sua abordagem em contexto escolar (Measor 2004). Por outro lado, o modo como são construídas as imagens sobre homossexualidade – ainda muito enraizadas e consequentes dos papéis de género que impõem comportamentos predefinidos (Butler 1990), numa sobreposição dos polos, em que a um género subordinante se subordina um subordinado (Amâncio 1994; Jackson 2006) – leva-nos a concluir que a homofobia é também, e de forma mais expressiva, uma forma de abjeção (Kristeva 1980) a identidades sexuais heterodoxas, numa lógica que reproduz a subculturalização das margens (Louro 2003) e consequente menorização da homossexualidade (Sedgwick 1990; Britzman 1996) perante a heterossexualidade, graal do paradigma heteronormativo cujo étimo se constrói a partir de si.

Em suma, «cada um no seu canto!» é a materialização, no discurso (e, em simultâneo, resultado de discursos e produtor de «outros discursos») desta visão dicotómica e estanque numa lógica desproporcional, onde, perante um centro, gravita uma margem que se pretende, para lá de distante, periférica, isto é, uma visão que multiplica as diferenças e marginaliza as margens dentro da própria margem.

 

 

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Endereço Postal

FPCE – Universidade do Porto, Rua Alfredo Allen, 4200-392 Porto, Portugal.

 

Nicolas Martins da Silva

Licenciado em Línguas Literaturas e Culturas, Mestre em Ensino de Línguas, Mestre em Ciências da Educação, Pós-Graduado em Educação – Administração de Organizações Educativas e candidato ao Programa Doutoral de Ciências da Educação da FPCEUP. Tem como interesses de investigação a diversidade e a Educação para a Cidadania. É membro da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação e integrou associações LGBTI.

 

Sofia Marques da Silva

Doutorada em Ciências da Educação, Professora Auxiliar da FPCEUP e membro do CIIE (Centro de Investigação e Intervenção Educativas). Desenvolve investigação no campo educacional, tendo como interesses, entre outros, as culturas juvenis, questões de género e diversidade. É atualmente Diretora da revista científica Ethnography and Education e Coordenadora do Eixo 1 (Inclusão) da Iniciativa Nacional Competências Digitais e.2030 – Portugal INCoDe.2030 –, tendo também coordenado diversos projetos de investigação e de intervenção na área das Ciências da Educação.

 

 

Artigo submetido em 15 de maio de 2018 e aceite para publicação a 11 de fevereiro de 2019.

 

 

NOTAS

* Este trabalho foi realizado no âmbito do Mestrado em Ciências da Educação, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, tendo sido orientado pela Professora Doutora Sofia Marques da Silva e apresentado à Faculdade em novembro de 2017, com o título «Para lá das Aparelhagens: Perceções de jovens do ensino profissional em relação à homossexualidade em contexto escolar».

1 Como referimos, foi essencial compreender estes olhares para melhor entendermos as suas perceções sobre a homossexualidade em contexto(s) escolar(es).

2 Este excerto é representativo de algumas reações de jovens rapazes nos dois momentos de discussão focalizada.

3 A figura do macho poderá ser entendida aqui sob dois prismas: em primeiro lugar, o macho enquanto divisão biológica (male), cuja função, em primeira instância e numa dimensão puramente animal, é a função reprodutiva; por outro lado, a figura do macho na gíria popular, ligada à masculinidade exacerbada e à conquista. De qualquer das maneiras, estas duas visões representam o poder das representações sociais na normatização de uma orientação sexual (a heterossexual) bem como na hegemonia, mesmo que simbólica, do género masculino. A feminização do homem constitui, assim, um desafio à sua dominação masculina (Bourdieu 2001).

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